segunda-feira, 3 de março de 2014




Yoga Cūḍāmaṇi Upaniṣad

A Jóia da Coroa do Yoga

Um estudo sobre Kuṇḍalinī Yoga

Fernando Liguori


आसनं प्राणसंरोधः प्रत्याहारश्च धारणा।
ध्यानं समाधिरेतानि योगाञ्गानि भवन्ति षट्॥२॥

āsanaṃ prāṇasaṃrodhaḥ pratyāhāraśca dhāraṇā |
dhyānaṃ samādhiretāni yogāñgāni bhavanti ṣaṭ ||2||

Tradução

Āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e samādhi são os seis membros do Yoga.


Comentário

Para o praticante que está estabelecido na prática do Yoga, uma prática contínua «abhyāsa» é necessária.[1] É a repetição, a prática constante que promove a constante evolução no caminho espiritual. O Yoga de Patañjali contém uma ferramenta para evolução constante, o que ficou conhecido com aṣṭāṅga-yoga ou o Yoga de Oito Membros. O Yoga proposto pela Yogacūḍāmaṇi-upaniṣad foi considerado pelos mestre modernos como kuṇḍalinī-yoga. Diferente do pātañjala-yoga, o kuṇḍalinī-yoga começa diretamente com a prática, descartando os yamas e niyamas do pātañjala-yoga.[2] O kuṇḍalinī-yoga é uma parte integral do sistema tântrico onde é considerado que através da prática o nível de consciência aumentará e a disciplina se tornará parte natural do dia-a-dia e não padrões forçados de comportamento, o que causa supressão e culpa.

Portanto, as instruções do kuṇḍalinī-yoga, que formam o tema principal desta upaniṣad, começam com āsana. Os seis membros do kuṇḍalinī-yoga mencionados neste mantra são:

1. Āsana: regulação prânica através de posturas físicas

Os āsanas começam como a base do kuṇḍalinī-yoga por conta de seus efeitos no sistema prânico. Eles ajudam a regular e equilibrar a energia em todo o sistema eliminando bloqueios nos canais prânicos e estimulando os cakras localizados ao longo da coluna espinhal. O acúmulo de toxinas, tensões ou rigidez em qualquer parte do corpo causa bloqueios energéticos que desequilibram todo o sistema. Os āsanas são designados a sistematicamente remover essas obstruções, preparando o corpo para o despertar dos prāṇas, cakras e a kuṇḍalinī.

Existem duas categorias de āsanas: dinâmicas e estáticas. No contexto desta upaniṣad, bem como outros textos que tratam de práticas avançadas, āsanas são as mais adequadas a meditação. Patañjali definiu āsana como postura no qual o corpo é capaz de permanecer estável ao mesmo tempo em que confortável por um longo período de tempo. Para se tornar proficiente no sādhanā, o corpo deve permanecer estável, confortável e livre de tensão. Ao sādhaka é requerido manter-se em um estado de harmonia física para que a mente possa ser unidirecionada sem distração externa alguma.

De acordo com a filosofia do Yoga, o corpo físico é uma manifestação da consciência. É uma cristalização dos padrões kármicos (comportamentais) criados pela mente. Assim, a chave para o trabalho com o corpo é entender a consciência por trás dele, que geralmente nos passa desapercebida. Isso requer que pratiquemos āsanas atentos não apenas nas tecnicidades das posturas, mas também nos estados mentais e emocionais que eles criam dentro de nós.

A Āyurveda compartilha essa teoria do Yoga. Vê o corpo como uma manifestação dos doṣas, que não são apenas fatores físicos da consciência, mas também prânicos e psicológicos. Nós não podemos olhar para o impacto dos āsanas nos doṣas em um nível puramente físico, mas também devemos considerar os efeitos psicológicos.

O Yoga vê os āsanas não apenas como posturas estáticas, mas como condições energéticas, que por sua vez são manifestações da consciência. A energia e a atenção que colocamos na postura é tão importante quanto a postura em si. Nós podemos ver isso na vida diária, em que, como nos sentimos em um plano psicológico, determina a maneira como nos movemos no plano físico. Padrões de sentimentos e de energia em longo prazo determinam a forma e o ritmo do corpo.

Āsana como estrutura física

No nível mais básico, um āsana é uma postura física, um tipo de gesto corporal. Na prática de āsana nós colocamos o corpo em uma posição que tenha um resultado e uma mensagem específica, dependendo da forma que ele cria com o corpo. Cada āsana tem seu próprio efeito natural. Posturas sentadas proporcionam estabilidade na coluna. Algumas proporcionam flexibilidade atrás das pernas. Como a maioria das posturas sentadas gera um estímulo parassimpático, elas criam uma influência agradável e calmante. Posturas em pé elevam a força e a energia em geral. Extensões tendem a nos excitar (estímulo simpático), aumentam a extensão da coluna e criam força nos músculos que elevam o tronco. Posturas de relaxamento equilibram e acalmam as energias criadas pelas práticas de āsana. Todos os āsanas, em grupos ou individualmente, têm suas arquiteturas próprias.

No entanto, como todos os corpos não possuem a mesma estrutura, a experiência de um āsana irá variar dependendo da constituição, flexibilidade e condições orgânicas do indivíduo. O efeito do āsana é uma combinação da estrutura do āsana, que é igual para todo mundo, e a estrutura corporal própria da pessoa, que irá variar não apenas entre indivíduos, mas também ao longo tempo.

Āsana como energia prânica

O corpo físico é um veículo para nossas energias internas, que são definidas por prāṇa. Āsanas são um veículo pelo qual o prāṇa é direcionado. Um āsana não é meramente uma estrutura física, mas uma condição energética. Āsanas expressam uma qualidade de energia, e mesmo posturas para aquietar podem conter por trás uma condição mental e prânica dinâmica. Esse fato dá a todos os āsanas certa neutralidade em seus efeitos energéticos, neutro exatamente como um veículo em si, com o objetivo de sua viagem dependendo do motorista. O āsana é como o carro com o prāṇa sendo sua força motriz. Não é apenas uma questão de ter o veículo certo, mas também movê-lo no sentido certo. O impulso do prāṇa por trás do āsana é tão importante quanto o próprio āsana.

Isso significa que, dependendo de como nós direcionamos nosso prāṇa, o mesmo āsana pode nos levar a diferentes lugares. Por exemplo, uma postura sentada executada com um forte prāṇāyāma pode ter um efeito bastante energético, enquanto com uma respiração comum vai nos aquietar ou mesmo nos colocar para dormir. A energética prânica de um āsana depende de alguns fatores, incluindo o quão rápido fazemos a postura, o grau de força que usamos e, sobretudo, como respiramos durante o āsana. De fato, o objetivo da prática de āsana é acalmar o corpo para então podermos trabalhar o prāṇa. O prāṇa se manifesta quando o corpo está imóvel. Esta é a importância das posturas sentadas para desenvolver o curador interior.

O prāṇa, a energia vital, permeia todo o corpo, fluindo por caminhos definidos chamados nāḍīs, sendo responsável pela manutenção de toda atividade celular no indivíduo. A rigidez corporal deve-se ao bloqueio do prāṇa e subsequente acúmulo de toxinas. Quando prāṇa começa a fluir, as toxinas são removidas do sistema, assegurando a saúde do corpo inteiro. Como o corpo se torna flexível, posturas que pareciam impossíveis se tornam de fácil execução. A firmeza e a graça no movimento se desenvolvem. Quando a quantidade de prāṇa é aumentada a um grau elevado, o corpo assume determinadas posturas por si só, é quando āsanas, mudrās e prāṇāyāmas ocorrem espontaneamente.

Āsana como pensamento e intenção

Āsana não é apenas estrutura e energia, mas também um reflexo de pensamento e intenção. Nós poderíamos definir āsana como uma forma-pensamento do exercício. Os efeitos do mesmo āsana irão depender de nossa mente estar clara ou nublada, e nossas emoções estarem calmas ou turbulentas. Podemos executar um āsana com precisão técnica, mas nosso estado mental é que realmente determinará o quão libertador o āsana é para nossa consciência.

Nosso estado mental se reflete em nossa respiração. Quando a mente está calma, a respiração está calma. Quando a mente está transtornada, a respiração está transtornada. Portanto, a energética da mente e do prāṇa caminham juntas. Enquanto nós podemos mudar o efeito do prāṇa em um āsana pela respiração, também podemos mudar os efeitos mentais de um āsana por meio da concentração e meditação. Um āsana deve ser um tipo de meditação em forma ou movimento. E assim sendo, nós devemos sempre colocar nossas mente em um espaço sagrado de silêncio, observação e desapego durante a prática do Yoga.

Se nossa consciência não está envolvida durante o āsana, então nossa prática permanece em um nível superficial. Prāṇa segue a energia da intenção, e postura corporal é o resultado disso. O tipo de postura que as pessoas têm reflete como elas colocam suas atenções na vida e o que comumente fazem. É, por isso, que tantos de nós estamos corcundas hoje em dia. Nossa principal postura é sentar-se à mesa, no carro ou no sofá da sala. Isso coloca nossa energia fora de nós e, então, nossa energia interna entra em colapso e se esvai.

Em suma, portanto, o efeito estrutural do āsana é o primeiro fator. O modo como energizamos o āsana com o prāṇa é o segundo. Isso inclui como nós movimentamos através do āsana e respiramos nele. Nosso estado mental é o terceiro fator. A principal regra na prática de āsana é manter a mente calma, controlada e interessada, pois assim não perdemos o foco da prática. Devemos considerar todos os três fatores para um exame ayurvédico dos āsanas. Todos esses fatores estão inter-relacionados. O doṣa frequentemente possui a chave para o estado estrutural, prânico e emocional de uma postura.

Āsana e kuṇḍalinī

O propósito último do Yoga é despertar a kuṇḍalinī-śakti, a energia de evolução no homem. Ao praticar āsanas, os cakras são estimulados e a energia gerada é distribuída pela kuṇḍalinī por todo o corpo. Aproximadamente, trinta e cinco āsanas atendem a este propósito: bhujaṃgāsana para o mūlādhāra-cakra, sarvāṅgāsana para o viśuddhi, śīrṣāsana para o sahasrāra etc. Os outros āsanas regulam e purificam as nāḍīs, facilitando a condução do prāṇa ao longo do corpo. O maior objetivo do haṭha-yoga é criar equilíbrio entre as atividades vitais, o processo do prāṇa e as forças mentais. Uma vez que isso tenha sido alcançado, os impulsos gerados passam a despertar a suṣumṇā-nāḍī, o caminho central na coluna, pelo qual a kuṇḍalinī-śakti se eleva até o sahasrāra-cakra, iluminando assim o mais alto centro de consciência humana.

Āsanas dinâmicos e estáticos

Práticas dinâmicas envolvem movimentos corporais energéticos. São destinadas para desenvolverem os músculos, criar flexibilidade, aumentar a circulação, soltar os músculos e juntas, relaxar os bloqueios energéticos e remover a estagnação de sangue em diversas partes do corpo. Estes āsanas tonificam a pele e os músculos, fortalecem os pulmões, encorajam o movimento dos sistemas digestivo e excretor. Práticas dinâmicas são especialmente úteis para iniciantes, diminuem tamas encorajando o crescimento de rajas e desaceleram o processo do kapha agravado, aumentando pitta e vāta. Posturas dinâmicas incluem a série pawanmuktāsana, sūrya-namaskāra, candra-namaskāra, paścimottānāsana e halāsana dinâmicos etc.

Āsanas estáticos são executados por praticantes intermediários e avançados ou por pacientes com vāta e pitta agravados. Eles têm um efeito sutil e poderoso no corpo energético (prāṇamaya-kośa) e na mente (manomaya-kośa). São praticados com pouco ou nenhum movimento, o corpo frequentemente permanece em uma postura por alguns minutos. Estes āsanas proporcionam um massageamento suave nos órgãos internos, nas glândulas e nos músculos, bem como relaxam os feixes nervosos que percorrem o corpo. Os āsanas estáticos têm como objetivo essencial promover a tranqüilidade mental, preparando o praticante para as mais elevadas técnicas de Yoga como a meditação, por exemplo. Posturas executadas desta maneira têm o poder de provocar a abstração mental (pratyāhāra).

Āsana, prāṇāyāma e pratyāhāra

Na execução do sādhanā, embora a prática siga etapas, os processos estão completamente integrados. A execução de posturas estáticas, como mencionado acima, recebe o nome de āsana-pratyāhāra. É uma prática poderosa capaz de introverter os sentidos. É a abstração das percepções externas e o foco nas experiências internas, na medida em que elas aparecem na consciência. O prāṇāyāma é, em si, uma prática de pratyāhāra. Sua execução produz o estado de paz e relaxamento necessário para que a mente se introverta. Todavia, a realização do prāṇāyāma segue etapas, como veremos abaixo. A primeira etapa ou estágio é a consciência do prāṇa. Isso nós conseguimos pela execução de posturas dinâmicas como a saudação ao sol (sūrya-namaskāra), pela respiração psíquica, conhecida como ujjāyī-prāṇāyāma etc.

2. Prāṇāyāma: expansão prânica através da regulação da respiração

Existe uma conexão sutil entre a respiração, o prāṇa e a mente. Por essa razão, os antigos yogīs inicialmente instruíam os aspirantes no controle das funções respiratórias na tentativa de dirigirem as forças mentais e o despertar da energia prânica. A maestria no prāṇāyāma ocorre em três estágios: i. consciência da respiração; ii. manipulação ou controle da respiração; iii. expansão do prāṇa.[3]

No estágio preliminar da prática do prāṇāyāma a consciência da respiração é ampliada e a respiração torna-se regular e rítmica. Na medida em que a respiração é sincronizada, o fluxo de energia é harmonizado e a mente torna-se pacífica. Quando essa consciência inicial foi alcançada, a inspiração «pūraka», a expiração «rechaka» e a retenção «kumbhaka» são desenvolvidas através de outras técnicas. Neste caminho os canais de energia são purificados e equilibrados, preparando o sistema para o despertar prânico. O controle da respiração leva a expansão do prāṇa, que a culminação do prāṇāyāma.

Nota: Os três aspectos do prāṇāyāma

1.    Consciência do prāṇa: Existem diferentes estágios da prática que nos possibilitam desenvolver a consciência do prāṇa. O primeiro estágio é a consciência da conexão entre a respiração e o prāṇa em um nível grosseiro, a inspiração e expiração através das narinas. O segundo estágio a consciência da vitalidade que está sendo absorvida pelo corpo a partir do ar que está sendo respirado. O terceiro estágio envolve a consciência da força prânica que se torna ativa, não apenas nas funções grosseiras ou físicas do corpo, mas também nas experiências sutis que a mente e os sentidos estão experimentando. O quarto estágio leva o praticante as profundezas da estrutura energética do corpo, onde ele se torna consciente da essência da energia, a pulsação do prāṇa (prāṇa-spandana).
2.    Prāṇa-nigraha: O segundo aspecto é prāṇa-nigraha, que concerne a manipulação ou controle da respiração em conjunto com as reações físicas e mentais que estão relacionadas a respiração e ao prāṇa. Um exemplo muito bom desta prática são os prāṇāyāmas combinados com bandhas e outras técnicas. Aqui, a sensação de perda do controle sobre as faculdades normais da respiração levam a agitação tanto física quanto mental. Assim, técnicas como nāḍī-śodhana-prāṇāyāma, kapālabhāti, bhastrikā etc. não são, exatamente, técnicas de prāṇāyāma, mas de prāṇa-nigraha. Elas controlam o fluxo de ar dentro do corpo, ajustando os sistemas corporais com o fluxo aéreo, para que dessa maneira não haja desconforto tanto nas experiências físicas quanto mentais.
3.    Expansão do prāṇa: Uma vez que tenha se adquirido controle sobre o processo respiratório junto com as várias funções sutis conectadas a respiração, a expansão do prāṇa começa. Este é o estágio final do prāṇāyāma. A expansão do prāṇa ou a técnica real do prāṇāyāma lida com os três prāṇas principais. No primeiro estágio, o fluxo de prāṇa-vāyu, a energia que se move para cima entre o diafragma e a garganta, é revertido e empurrado para baixo em direção ao plexo solar. No segundo estágio, o fluxdo de apāna-vāyu, a energia que se move para baixo entre o umbigo e o períneo, é revertido e puxado para cima em direção ao plexo solar. No terceiro estágio, prāṇa e apāna se fundem com samāna-vāyu na região do plexo solar.

3. Pratyāhāra: retração dos sentidos

Retraindo os sentidos do campo externo da consciência objetiva para o campo da realidade interior, a mente torna-se capaz de perceber as experiências internas na direção de realizar a essência divina ou a consciência que tudo abrange. Em condições normais a mente encontra-se difusa por questões de realização material. É da natureza da mente ser extrovertida e correr atrás dos desejos e prazeres do mundo. Uma quantidade enorme de energia é gasta em atividades que drenam e fragmentam a mente. A fim de conservar e armazenar a força mental, o aspirante canaliza as tendências mentais e sensoriais de sua personalidade em direção a experiência da consciência interior. Normalmente, a mente segue os sentidos. Em pratyāhāra os sentidos seguem a mente. Quando a maestria sobre os órgãos sensoriais foi obtida através da prática de pratyāhāra, as energias mentais podem ser redirecionadas para o despertar dos cakras e da kuṇḍalinī.

Nota: os quatro aspectos de pratyāhāra

Pratyāhāra é o estágio de entrada na meditação profunda. É o alicerce fundamental de todas as práticas meditativas, formando o substrato de todas elas. É um estágio, uma condição espiritual que se divide em quatro etapas:

1.    Primeiro, nós começamos a desenvolver consciência. A definição clássica de pratyāhāra é a retirada ou abstração dos sentidos. Tem sido dito que assim como uma tartaruga é capaz de recolher todos os seus membros para dentro do casco, da mesma forma o yogī deveria ser capaz de recolher toda extensão dos sentidos e da mente do exterior para o interior. Contudo, se nós aplicamos a lógica comum a este processo, nós iremos entender que não é uma simples questão de se desligar de tudo e se fechar para o mundo exterior. É antes de tudo se tornar consciente do que está acontecendo externamente e como nós estamos reagindo. Então, na primeira etapa de pratyāhāra, os sentidos são plenamente estendidos ao mundo externo, permitindo-nos experimentar sua completa atividade, seja no sentido do tato, paladar, visão, olfato ou audição.
2.    Segundo, nós observamos nossas reações aos estímulos sensoriais. Por exemplo, se surgisse um repentino e agradável aroma de rosas na sala, a maioria de nós faríamos uma profunda respiração e diríamos: Oh! É apenas um cheiro, mas este cheiro desperta muitas reações dentro de nós. Um sentimento, uma expressão, uma lembrança podem estar associados ao sentido do olfato. Logo, muitas reações diferentes se manifestam ao mesmo tempo, ao passo que nós nem mesmo percebemos todas elas. Se sentirmos o cheiro de carne estragada iremos nos levantar, colocar nossa cabeça para fora da janela e dizer yrk! A mesma coisa está acontecendo novamente. Se algo é suave e agradável, temos a sensação de prazer. Se algo é áspero de desagradável, não queremos tocá-lo. Essas são reações comuns, mas ao mesmo tempo são profundas reações aos estímulos sensoriais externos. Na segunda etapa de pratyāhāra, após nós termos expandido nossos sentidos externamente, temos que aprender como manter nosso equilíbrio, como desenvolver imunidade as influências dos sentidos, que são externas por natureza.
3.    Terceiro, nós recolhemos a consciência das experiências externas para as experiências internas dos sentidos. Começamos a ver a conexão que uma experiência sensorial tem com nossa mente interior. Como o cheiro desperta memória? Como um cheiro incita a sensação de prazer ou aversão? O reconhecimento e a percepção do processo mental associado com os sentidos é a terceira etapa de pratyāhāra.
4.    Quarto, nós percebemos e harmonizamos as atividades interiores. Depois de ter reconhecido o que experimentamos interna e externamente, e após termos desenvolvido imunidade, nós começamos a etapa final de pratyāhāra. É a experiência de śūnya, o nada ou vazio, ganhando controle sobre as ações e reações inconscientes dos sentidos e da mente, interrompendo assim suas interações. Śūnya é apenas a transição de um estado de meditação para o outro, da consciência para concentração e a concentração se inicia com dhāraṇā.

4. Dhāraṇā: fixando a mente sobre um único objeto ou uma ideia

Em dhāraṇā, as faculdades da mente, tendo sido devidamente retraídas, são unidirecionadas a um único ponto. A fim de se focar a mente, uma base para concentração é necessária para que ela possa permanecer absolutamente estável. Esta base pode ser um símbolo ou uma ideia. No kuṇḍalinī-yoga, as diferentes passagens psíquicas, os símbolos dos cakras e seus mantras correspondentes são utilizados para este propósito. Mantendo a mente concentrada em um cakra ou um símbolo, a energia inerente naquele centro é despertada. Este é um estágio preparatório para meditações mais avançadas.

Concentração é o unidirecionamento da mente, a habilidade de manter a consciência focada em um ponto, sem oscilar. O aperfeiçoamento da concentração induz a meditação. No estado de concentração, a mente não está consciente do ambiente exterior ou das coisas periféricas que cercam o objeto de concentração.

Por que a concentração profunda e intensa é tão poderosa? Isso pode ser melhor ilustrado pela comparação da mente de uma pessoa normal a uma lamparina. As luzes da lamparina se expandem para todas as direções; a energia que emana do centro da lamparina, do filamento interior, é dissipada, propagando-se em todas as direções. Se você ficar a cinco passos da lamparina poderá ver sua luz, mas não sentirá o seu calor, mesmo que haja um calor intenso no centro da lamparina, no filamento. Da mesma maneira, a mente de uma pessoa comum possui um vasto potencial latente e um incomensurável poder em sua fonte, seu centro, mas este potencial e poder são dissipados em todas as direções. A mente pensa inúmeras coisas continuamente, uma após a outra, sem vivenciar ou se aprofundar em nada do que pensa. Quer dizer, o poder está presente em todas as pessoas, mas ele não é canalizado, direcionado ou mesmo utilizado.

A ciência produziu o raio laser, algo que na época foi largamente utilizado como entretenimento pela indústria cinematográfica. Para se produzir o laser é necessário que todos os raios de luz estejam alinhados a partir de uma única fonte, de maneira que eles em uníssono vibrem em harmonia na mesma freqüência. A fonte original de onde sai à luz não precisa ser grande, pelo contrário, ela pode ser bem menor que o filamento da lamparina citada acima. Mas se você ficar a cinco passos da fonte do raio laser seu feixe direcional instantaneamente pode abrir um buraco através de seu corpo. Este é o poder da luz concentrada. O pensamento concentrado, embora não abra um buraco em seu corpo, tem um vasto poder. Uma mente concentrada age como um irresistível instrumento de ação. Ela conduz a eficiência em todos os aspectos da vida, é um dínamo que gera vitalidade e entusiasmo em qualquer direção que se projete. Uma mente concentrada é um instrumento de recepção sensitiva, quer dizer, ela se torna receptiva as vibrações elevadas e possui a percepção aguçada. Neste caminho, ela se torna o mecanismo receptor da consciência cósmica, bem-aventurança e conhecimento superior. Normalmente, tudo isso está muito além de uma mente comum, pois esta é constantemente perturbada e distraída pelo contínuo murmúrio interior dos pensamentos. Portanto, a concentração é a chave que abre as portas para os estados elevados de consciência.

A qualidade da mente

Uma mente concentrada é uma mente poderosa e uma mente dissipada é uma mente fraca. Para que você possa desenvolver o poder da mente, necessita primeiro desenvolver a concentração mental. Uma mente que se dissipa facilmente não tem poder. Se seus pensamentos estão dispersivos, eles podem ser unidirecionados através de específicas práticas de concentração. Dessa maneira sua mente se tornará tão poderosa que você poderá até influenciar a mente de outras pessoas e mudar seu próprio caráter, melhorar sua saúde e transformar toda sua vida. Se você possui alguma desordem estomacal, mental ou respiratória, pode modificar seu quadro clínico apenas pelo poder de sua vontade. Como pode desenvolver o poder de sua vontade? O segredo é concentrar a mente em um ponto e ali permanecer sem oscilar. Uma mente forte pode fazer isso.

O que queremos dizer por mente forte? Uma mente forte é aquela que pode tomar suas próprias decisões. Em contraste, uma mente fraca é aquela que decide alguma coisa, mas faz outra. Você diz: a partir de amanhã vou fazer determinada coisa. Mas quando o amanhã chega, você se esquece completamente da decisão. Você continua sempre sendo a mesma pessoa porque sua mente continua sempre se dissipando. Portanto, o poder de transformação da vida está conectado ao poder de concentração da mente. Todos os grandes homens que forjaram seus nomes nos livros da história, sejam eles artistas, escritores, músicos, políticos, estadistas, líderes militares, cientistas ou santos, conquistaram sua posição pela qualidade de suas mentes. Eles não se tornaram grandes pelo capricho da natureza ou por um golpe do destino. Não, eles se tornaram grandes pela qualidade de suas mentes. Eles tinham uma mente forte e concentrada e, portanto, uma mente talentosa.

Se você quer fazer algo ou se tornar alguém na vida, a qualidade de sua mente tem de ser refinada. Se você possui uma baixa qualidade mental, então seu desempenho em todas as esferas da vida será parco, estéril e débil. Se você possui alta qualidade mental, então seu desempenho será correspondentemente elevado em todas as esferas da vida. Para desenvolver uma alta qualidade mental, terá de analisar a si mesmo e seus objetivos, terá de se organizar e dedicar algum tempo a prática de concentração pela manhã e a noite.

Objetos de concentração

A concentração pode ser praticada de várias maneiras. O objeto de concentração pode ser qualquer um dos centros localizados no corpo como o cidākāśa, hṛdayākāśa ou daharākāśa, nos cakras etc. A concentração também pode ser feita nas diferentes partes do corpo, no processo físico, na estabilidade corporal, no relaxamento ou tensão do corpo ou no processo respiratório.

Qualquer objeto pode ser utilizado como foco para concentração. Entretanto, uma vez selecionado o objeto, você deve utilizá-lo dia após dia em sua prática. Ele deve chamar sua atenção, atraí-lo espontaneamente. Para algumas pessoas o objeto aparece por si mesmo em visões, sonhos ou insights intuitivos. Essa é a melhor forma de seleção do objeto, pois é espontânea e está em concordância, na maioria das vezes, com a natureza do indivíduo. Outras pessoas, contudo, terão de encontrar um objeto adequado a sua natureza por conta própria. Para auxiliar essas pessoas, preparamos uma lista de objetos adequados a prática de concentração. Essa lista dá uma ideia de quão vasto o assunto é e quantos objetos podem ser escolhidos para prática. O número é ilimitado e os itens que se seguem são apenas exemplos. Talvez algum dos objetos aqui listados irá atraí-lo de imediato, mas talvez não. Neste caso, você terá de usar sua imaginação nos estágios iniciais da prática até que o símbolo adequado a sua natureza apareça espontaneamente. Isso acontecerá quando você estiver completamente relaxado.

·         Deuses, santos e pessoas: Viṣṇu, Brahma, Śiva, Trimurti, Sītā, Rāma, Rādhā, Kṛṣṇa, Saraswatī, Pārvatī, Gaṇeśa, Hānuman, Lakṣmī, Durgā, Kālī, Varuna, Vāyu, Īndra, Sūrya, Soma, Cristo, Maria, Buda, Lao-Tsé, Milarepa, Naropa, São Francisco de Assis, Swami Sivananda, seu guru, alguma outra deidade ou santo, seu pai, sua mãe, seu marido, sua esposa, seu filho, sua filha, seu amigo, professor ou alguém que o inspire.
·         Objetos sagrados: śiva-linga, tridente, śaligrama, jyoti, cruz, altar, janelas de uma catedral, eucaristia, cálice, candelabro, bola de cristal, sacerdote, estátua de algum santo padroeiro, imagens tântricas, arcanjos, guirlanda de crânios ou a kuṇḍalinī.
·         Lugares sagrados: templos, igrejas, capelas, catedrais, pirâmides, monastérios, santuários, aśrams ou pagodes.
·         Cenários naturais: montanhas, vales, oásis, dunas, selvas, florestas, jardins, flores, chuvas, tempestades, tornados, relâmpagos, oceanos, ondas do mar se chocando contra as escarpas, pôr-do-sol ou montanhas de gelo.
·         Animais: elefante, antílope, leão, tigre, macaco, águia, pavão, borboleta, crocodilo, cobra, cachorro, gato, cavalo ou peixe estrela.
·         Símbolos, elementos e pedras: Terra, Fogo, Água, Ar, Éter, Tamas, Rajas, Sattvas; Aquário, Peixes, Virgem, Libra, Gêmeos, Capricórnio, Sagitário, Escorpião, Leão, Touro, Câncer e Áries; Lua, Marte, Vênus, Saturno, Júpiter, Netuno, Mercúrio, Urânio, Plutão e o Sol; rubi, ônix, ágata, safira, diamante, jaspe, topázio, cristal, ametista, opala, jade, granada, pérola, berilo; liga de peltre, aço, ouro, prata, latão, estanho e cobre.
·         Cores e formas: vermelho, azul, verde, amarelo, índigo, laranja, rosa, preto, branco, púrpura, luz solar, luz lunar, luz do fogo, chama da vela, relâmpago, estrela, hexagrama, retângulo, coração, ovo dourado, bīja-mantra, yantra, diagramas dos cakras, maṇḍalas e nāḍīs.

Evite confrontos mentais

Você pode se concentrar em qualquer grande santo, luz, som, cor, forma, pensamento ou qualquer coisa que deseje, mas uma coisa deve estar bem clara: para iniciar sua prática de concentração não é necessário selecionar um símbolo religioso. Às vezes um pensamento que produza grande impressão na sua consciência pode ser usado de forma mais eficaz. Não existe razão para lutar contra a mente. Durante a prática de concentração você pode estar tentando se concentrar em um símbolo religioso, mas sua mente pode não concordar por conta de seus condicionamentos. Quando você tenta se concentrar em algo contrário aos seus condicionamentos mentais, a mente drena sua concentração do objeto escolhido. Contudo, quando você se concentra em coisas ordinárias que não se chocam com seus condicionamentos, não existe distração.

Quando você tenta se concentrar em um símbolo errado, a distração ocorre porque se inicia uma contenda mental. Portanto, é importante que você compreenda que quando se inicia a prática de concentração, deve haver o mínimo de confronto com os condicionamentos da mente. Não há porque lutar contra a própria mente. Quem está lutando com quem? Não existem duas mentes. A consciência é uma, mas por conta da diversidade existem vários vṛttis, quer dizer, padrões mentais. Quando você confronta a si mesmo está criando uma querela entre seus próprios vṛttis, e quando esse confronto se torna intenso, o que ocorre é um ataque esquizofrênico. A maioria dos pacientes mentais são vítimas de suas próprias mentes.

Portanto, se você não está conseguindo se concentrar em nenhum dos símbolos sugeridos acima, então escolha o seu próprio símbolo. O importante é que o símbolo escolhido deve ter uma força de atração que sua mente automaticamente é atraída para ele de forma que se integre completamente nele. Quando a prática caminha nessa direção, então a concentração é facilmente conquistada.

A habilidade de se concentrar

A concentração é explicada na Kaṭha-upaniṣad (2:3:11) por Yama, o Senhor da Morte, a Nachiketas, um jovem buscador:




O firme controle dos sentidos e da mente é o yoga da concentração. Esteja atento a esse yoga pois ele é difícil de se conquistar e fácil de se perder.

A palavra concentração significa unidirecionamento. Assim como nós precisamos de um lápis afiado para escrever ou uma faca afiada para cortar, a mente precisa estar afiada através das práticas de concentração. Nós não podemos cortar com uma faca cega ou escrever com um lápis sem ponta, pois a pressão aplicada se espalha por uma área bem maior. Ela não está concentrada. A importância da mente concentrada no dia-a-dia é vastamente reconhecida, mas a mente ordinária não funciona de maneira concentrada. Ela se dissipa em várias direções e tenta abranger muitos pontos. Portanto, não estamos capacitados a utilizar sequer a mínima fração de nosso potencial, de nosso poder mental.

Nós conhecemos muitas coisas na vida. Sabemos muito sobre nosso trabalho, nossos familiares, a sociedade e o mundo que nos cerca, história, ciência e política, mas não sabemos como controlar e dirigir a mente. O poder da concentração não foi desenvolvido na maioria de nós. Em nossa infância e nos primórdios de nosso crescimento não passamos por um treinamento que pudesse nos auxiliar a controlar e dirigir a mente. Por conta disso, na medida em que crescemos nossa mente se torna mais dissipada enquanto acumula mais tensões, angústias e aborrecimentos. Isso resulta em uma incrível perda de acuidade mental, decisões equivocadas, conduta ineficaz, memória fraca e finalmente a senilidade.
Podemos ser mestres da tecnologia e de tudo o que concerne ao mundo exterior, mas não somos mestres de nossa mente. Às vezes a tecnologia que nos dá controle sobre certas funções mentais nos ilude completamente. Ter controle sobre uma máquina significa que nós podemos ligá-la, significa que podemos ir mais rápido, diminuir a velocidade e até mesmo parar quando for necessário. O mesmo é requerido de uma mente disciplinada. Uma mente disciplinada é aquela que pensa somente quando você quer e sobre o que você decide. Se você quer que ela pense rápido, devagar ou pare de pensar, ela irá fazê-lo imediatamente. Os pensamentos que entram em uma mente disciplinada são rapidamente reconhecidos e direcionados.

Se nós examinarmos a vida dos yogīs, sadhus, saṃnyāsins, santos e místicos, notaremos que eles têm algo em comum. Eles vivem em um estado de concentração intensa, unidirecionada, dedicando-se totalmente ao ideal ou propósito que escolheram como último objetivo de conquista espiritual. Eles ganham controle sobre si mesmos e sobre suas mentes pela prática regular e estável. Através do poder de concentração que possuem, eles gradualmente integram suas mentes a oração ou meditação até que sejam capazes de conquistar um estado de perfeito controle mental. Usualmente, quando conhecemos uma pessoas assim, a primeira impressão é de uma profunda paz interior, estabilidade e auto-controle.

A habilidade de se concentrar é a raiz de todas as boas qualidades no homem e para ser desenvolvida ela requer esforço extremo. Desenvolver uma mente concentrada é mais difícil do que conquistar um bom salário ou um bom emprego. Uma pessoa comum não nasce com a habilidade de se concentrar, portanto é necessário uma mudança na natureza pessoal a fim de se criar algo que antes não existia. É muito diferente do que estudar conceitos filosóficos de livros ou se submeter a várias palestras. A concentração é algo que deve ser praticada e descoberta pessoalmente, dessa maneira os frutos irão aparecer.

O essencial para se desenvolver a concentração é a constância na prática. Contudo, antes de iniciarmos uma prática de concentração, precisamos ter alguma ideia sobre a larga extensão que este estado mental de desenvolvimento cobre. As práticas de concentração e meditação foram codificadas nos textos do Yoga, nos Tantras e nas Upaniṣads. Portanto, o assunto deveria ser estudado e pesquisado nessas fontes para um melhor desenvolvimento. A concentração não é uma prática superficial. Ela envolve um mergulho profundo nas dimensões internas da mente e da consciência. Para isso, precisamos de três coisas: i. método correto; ii. orientação correta; e iii. entendimento correto.

5. Dhyāna: meditação espontânea

Quando as passagens psíquicas e os centros despertam, a energia mental é intensificada. O praticante experimenta um estado de fusão com o objeto de contemplação. Este estado resulta em um fluxo ininterrupto de consciência que se torna expandido e não permanece confinado a uma região ou objeto de percepção. Em dhāraṇā, a consciência é fixada em um ponto. Em dhyāna, o campo da consciência se torna mais amplo e luminoso na medida em que a kuṇḍalinī desperta e o campo energético se expande além de seus limites.

Meditação é algo que todos já ouviram falar, poucos têm alguma concepção sobre o assunto e menos ainda são aqueles que experimentaram verdadeiramente a meditação. Como qualquer outra experiência subjetiva, a meditação também não pode ser descrita por palavras. O leitor deverá procurar seu significado dentro de si mesmo, no silêncio de seu interior. Somente a experiência é real, a descrição ou o assunto em sua inteira complexidade não. Contudo, procuraremos fazer o melhor ao trazer alguma luz sobre o tema.

Deixe-nos primeiro definir o caminho pelo qual a psicologia moderna tem categorizado os diferentes níveis da mente. A mente subconsciente ou inconsciente pode ser dividida em mente inferior, mente mediana e mente superior. A mente inferior está conectada com a ativação e coordenação das funções nos vários sistemas do corpo como a respiração, a digestão, a circulação etc. É a área da mente de onde surgem as necessidades mais instintivas e é desta parte da mente que complexos, medos, fobias e obsessões se manifestam.

A mente mediana é a parte da mente que lida com os dados que utilizamos no estado de vigília. É essa parte da mente que analisa, compara e chega a conclusões em relação aos dados que estão chegando. O resultado desse trabalho na consciência manifesta merece atenção. Esta é a parte da mente que nos dá as respostas que necessitamos. Por exemplo, muitos de nós já nos defrontamos com um problema que não podia ser resolvido na hora, mas pouco tempo depois a resposta simplesmente veio à tona na superfície da mente. Foi à mente mediana que resolveu o problema, liquidando-o sem a nossa consciência. Este é o reino do pensamento racional ou intelectual.

A mente superior é a área da assim chamada superconsciência e ela está sempre em atividade. É a fonte intuição, inspiração, bem-aventurança e das experiências transcendentais. É dessa região da mente que os gênios recebem seus flashes de criatividade. Ela é a fonte do conhecimento profundo.

Nas horas em que nos encontramos no estado de vigília, nos tornamos conscientes de certos fenômenos. Mas temos consciência apenas de uma pequena parte das atividades da mente, usualmente nos domínios da mente mediana. É esta consciência que lhe está permitindo ler estas palavras e estar consciente se seus significados.

Outra parte da mente é o inconsciente coletivo, o qual Carl G. Jung esclareceu a comunidade científica. É nesta parte da mente que temos os registros de nosso passado evolutivo. Ele contém o registro das atividades de nossos ancestrais assim como os arquétipos. É a parte da mente que nos conecta a todos os seres humanos pois é o projeto heliográfico de nosso passado comum.

Por trás de todas essas diferentes partes da mente está o Ser ou a verdadeira essência da existência. É o Ser que ilumina tudo o que fazemos, embora não estejamos conscientes disso. A maioria de nós chega à erronia conclusão de que o ego é o âmago de nosso ser, embora ele seja somente mais uma parte da mente. É o Ser que ilumina até mesmo o ego.

Então, o que acontece quando meditamos? Quando meditamos nos tornamos capazes de retirar nossa consciência das diferentes partes da mente. Normalmente, como enfatizamos anteriormente, nossa consciência está confinada a atividade superficial da mente mediana ou racional. Durante a meditação, nos tornamos capazes de abandonar o excesso do estofo intelectual da mente.

É uma experiência comum nas pessoas que iniciam a meditação é verem imagens grotescas ou se tornarem conscientes de profundos complexos enraizados que não faziam ideia da existência. Os praticantes acabam por perceber que possuem medos e obsessões tão profundos e que jamais se deram conta disso. A razão disso é que a consciência, no momento da meditação, começa a funcionar no nível da mente inferior. A consciência está iluminando os complexos, medos e obsessões. Antes disso, o praticante somente se encontra consciente das manifestações desses complexos profundos na forma de raiva, ira, depressão etc. Uma vez que estes complexos profundamente enraizados sejam confrontados, eles podem ser removidos (veja Cap. 2) e a alegria surge na vida. Também, muitas pessoas se tornam conscientes dos processos internos do corpo somente na hora da meditação. Isso porque a consciência passa a atuar no reino das funções orgânicas.

Os altos estados de meditação são difíceis de serem alcançados sem a remoção dos medos compulsivos que habitam na mente inferior. Neste caso, não é possível experimentar profundos estados meditativos porque estes complexos são tão compulsivos que tomam para si toda a atenção do praticante. Existem muitos lugares onde a consciência pode ir, mas parece que ela é atraída as atividades da mente inferior como ferro é atraído pelo imã. Parece que ela experimenta um deleite perverso ao lidar com os medos, obsessões e ansiedades.

Nos altos estados meditativos, a consciência se desloca para mente superior, a região da superconsciência. A consciência impera sobre o pensamento racional e o praticante vê as inúmeras atividades mais próximas da realidade. O meditador entra na dimensão da inspiração e iluminação. Ele passa a explorar os profundos aspectos e verdades da existência. Uma nova esfera, um novo reino existencial é alcançado, um reino que antes parecia ser impossível de se alcançar, uma invenção da mente.

A Culminação da meditação é a auto-realização. Isso ocorre quando até mesmo a mente superior é transcendida. A consciência deixa de lado a exploração da mente e se identifica com o âmago da existência humana, o Ser. Neste ponto, ela é pura consciência. Quando o meditador alcança a auto-realização, isso significa que ele atingiu a consecução e a conversação com o Ser, a essência primordial de sua existência, identificando toda sua vida, a partir deste momento, com o ponto de vista do Ser e não com o ponto de vista egoísta do ego. Quando ele age a partir do ponto de vista do Ser, o corpo e a mente operam quase que como uma entidade separada. A mente e o corpo deixam de ser reais para ele, pois são meras manifestações do Ser, sua verdadeira identidade. Portanto, a meditação estaria destinada a exploração das camadas mais profundas da mente e, posteriormente, sua transcendência total, culminando na auto-realização.

Meditação passiva & ativa

Existem dois tipos de meditação: passiva e ativa. A meditação ativa é aquela praticada enquanto se executa as atividades triviais do dia-a-dia, caminhar, falar, comer etc. Podemos dizer que este é, de fato, o objetivo do Yoga: nos permitir meditar enquanto estamos envolvidos nas atividades triviais da vida. Isso não quer dizer que as atividades não serão feitas com entusiasmo. Muito pelo contrario: as atividades serão exercidas com muito mais eficiência e energia. A meditação ativa se executa cultivando o discernimento (viveka) e a discriminação (vichara) na construção da autoidentidade ao afirmar-se como indivíduo, testemunhando o universo interno e externo com equanimidade. A atitude discriminativa nas atividades do dia-a-dia, no karma-yoga ou bhakti-yoga, desperta a consciência em todos os níveis da mente. A meditação ativa pode ser desenvolvida também através das técnicas de meditação passiva disponibilizadas adiante.

Executa-se a meditação passiva sentando-se em uma postura por um determinado período enquanto se pratica umas das técnicas meditativas disponíveis nesta apostila. O objetivo é estabilizar a mente sempre agitada e vagante e torná-la profundamente unidirecionada até que a experiência meditativa real ocorra espontaneamente. Ela pode ser dividida em quatro estágios de proficiência:

1.    Fixando a mente em uma prática meditativa, um objeto, um som, a respiração, uma imagem etc. Isso acalma a mente e torna-a introvertida.
2.    Sucesso no primeiro estágio automaticamente leva ao fluxo livre de pensamentos, complexos, visões, memórias etc., do reino inconsciente da mente. É possível agora sondar os aspectos ocultos da personalidade e da mente inferior a fim de remover o conteúdo indesejável.
3.    Quando a mente inferior tiver sido completamente explorada, inicia-se a exploração dos reinos da superconsciência. Aqui a verdadeira meditação começa. O ilimitado armazém de conhecimento e energia dentro de cada um de nós começa a se mostrar espontaneamente. Aqui ocorre a sintonia com o cosmos e todas as coisas criadas.
4.    Eventualmente a mente é transcendida e o meditador atinge a unidade com a Consciência Suprema. O objetivo da auto-realização é alcançado.

Proficiência na meditação passiva automaticamente leva a meditação ativa, pois quanto mais profundo o meditador imergir na mente em sua prática passiva de meditação, mais estará capacitado a viver em um estado meditativo perpétuo, mesmo enquanto realiza os afazeres do dia. Na verdade, quanto mais profundo imergir, mais seu conteúdo secreto se manifestará na superfície da mente na forma dos acontecimentos externos. E na medida em que explora todo o conteúdo da mente, mais poderoso fica. Dessa maneira, a vida, o trabalho, as relações etc., se tornam mais produtivas e o meditador se torna capaz de conquistar coisas que antes acreditava ser impossível fazer.

Eventualmente, a meditação passiva se torna superficial. Isso ocorre na auto-realização. Neste estágio, o indivíduo vive em concordância com os mais profundos valores espirituais que brotam da essência de seu Ser, mesmo podendo se expressar neste mundo. Nessa situação, a pessoa autorrealizada é capaz de viver em harmonia tanto com o mundo espiritual quanto com o mundo material. Na verdade, já não há essa distinção. Neste estágio o que existe é uma contínua e espontânea experiência da meditação ativa.

Os seres humanos têm a tendência de se identificarem com os objetos de percepção. Por exemplo, nós vimos um lindo pôr do sol. Nossa consciência foi tão sobrepujada que nos esquecemos completamente de nós mesmos. Nos esquecemos do fato de que estamos experienciando o espetáculo. Assim, como é que podemos realmente experimentar o regozijo do pôr do sol? O indivíduo, o sujeito, o experienciador se esqueceu de sua natureza pois foi completamente obscurecido pelo objeto de percepção. A consciência se identificou com o objeto e excluiu o sujeito. O leitor deve pensar sobre isso nesse momento: estará você consciente do fato de que está experienciando estas palavras ou estará completamente identificado com elas?

A situação ideal é quando o pôr do sol ou qualquer outro objeto é experienciado sem que se perca a consciência de si mesmo. O meditador deve sentir a experiência objetiva de perceber, vivenciar, experimentar ou, mais adequadamente, de testemunhar. Neste caminho, a experiência espiritual de se experimentar se intensificará; o Ser ou a alma agora conhece, conscientemente, a experiência do objeto. A bem-aventurança do Ser pode agora desvelar-se em resposta a experiência de objetos externos. Antes, a natureza do Ser estava obscurecida pela experiência do objeto, agora o Ser pode brilhar em sua prístina e completa glória.

Isso deve se aplicar a toda existência material. Devemos experienciar os fenômenos externos porque eles fazem parte da vida, mas suplementando a vida externa com a vida interna. Dessa maneira, a vida em todos os seus aspectos pode ser experimentada de maneira muito mais plena. No presente, a maioria de nós vive uma vida quase que completamente extrovertida por conta da ignorância. Não somos capazes de realizar o oceano de bem-aventurança que existe nas profundezas de nosso ser. Um dos objetivos da meditação é tirar a consciência dos enredos externos por um período de tempo e direcioná-la para o interior. O objetivo é experimentar um lampejo da vida interior e conectá-lo com a vida exterior. Essa conexão sempre existiu, mas a grande maioria não se encontra consciente deste fato. A meditação nos torna conscientes dessa conexão, nos levando a profundos estados felicidade espiritual e paz de espírito. A meditação nos torna conscientes da importância da experiência subjetiva, a natureza interna e essencial que é nossa herança.

A meditação é um legado da humanidade. É algo que todos nós deveríamos e somos capazes de experimentar espontaneamente, embora não estejamos podendo experimentar pela maneira como vivemos a vida. Estamos constantemente em um estado de tensão porque não conhecemos nós mesmos, nossa natureza interior. Estamos sempre tentando fazer alguma coisa porque sentimos que devemos fazer, mesmo que seja algo contrário a nossa natureza. Existe um conflito contínuo entre o que somos e o que precisamos. Sempre somos motivados em sermos alguma coisa além daquilo que realmente somos: o Ser. Se conseguirmos fazer uma união entre o que somos e o que precisamos, então a meditação acabará acontecendo.

O conhecimento que todos nós experienciamos é o conhecimento intelectual. Ele deriva da parte racional da mente. Essa é uma forma de conhecimento relativo; não é um conhecimento real! Ele consiste de um campo limitado de fatos e figuras das quais deduzimos teoremas, conceitos e o relacionamento com o meio ambiente. Essa é a forma científica, tecnológica, filosófica e outras formas de raciocínio promovidas pela mente racional. A falácia é que a hipótese original é fundamentalmente adequada em si mesma, embora saibamos que este tipo de conhecimento seja continuamente provado ser errado. A própria ciência nos dá o exemplo: Newton expôs a teoria da gravitação que rapidamente se tornou aceita como verdade. Contudo, poucos séculos depois, Einstein demonstrou através de sua teoria que a gravidade não existe como tal. É claro, isso não se aplica só a ciência; na verdade, isso se aplica a qualquer atividade intelectual que executamos. Qualquer conclusão que venha da mente racional pode ser substituída sob a luz de novas descobertas.

Podemos também experimentar o conhecimento na forma de sensações e emoções. Uma pessoa pode sentir mentalmente a verdade sobre uma ideia; ao mesmo tempo, uma pessoa pode emocionalmente sentir que algo é verdade. Muita gente confunde este tipo de conhecimento com conhecimento intuitivo.

Além do conhecimento intelectual e emocional existe outro tipo de conhecimento. Ele só é alcançado em estados meditativos e é uma forma mais real de conhecimento. É o conhecimento intuitivo que compreende a totalidade da situação. Diferente do pensamento racional que tenta construir uma imagem completa do todo a partir das partes, a intuição diretamente compreende o todo, a totalidade. Ela vem da parte superconsciente da mente, a qual estamos usualmente inconscientes. Este tipo de conhecimento não depende do intelecto ou das emoções, que tendem a colorir ou perverter a forma real de conhecimento. A meditação não depende de projeção pessoal; se precisasse, não seria meditação.

Durante a meditação uma conexão é feita com as regiões mais elevadas da mente associadas com a expansão da consciência, a parte superconsciente da mente ou o campo da consciência ou discriminação, a assim chamada consciência desperta. Essa conexão permite que as elevadas vibrações mentais sejam experienciadas pela consciência do meditador. Essas sutis e elevadas vibrações existem todas ao mesmo tempo, embora não sejam completamente percebidas. Às vezes elas são percebidas, em raras ocasiões, na forma de flashes intuitivos, inspirações, iluminação criativa etc. Estamos usualmente inconscientes destas vibrações, verdades e conhecimento superior por conta das impurezas da mente. Esta forma superior de conhecimento, as vibrações elevadas, desvelam a causa subjacente ou a verdade inata por trás das manifestações corriqueiras que percebemos no dia-a-dia. Os profundos aspectos da vida se revelam durante a meditação.

6. Samādhi: estado transcendental de equanimidade

Neste estágio a consciência torna-se livre da individualidade pessoal mantida nos estágios anteriores, atingindo o estágio da superconsciência. Este estado surge quando a kuṇḍalinī atinge o sahasrāra, o cakra da coroa, no qual se integra ao estado não qualificado e universal. O samādhi é a culminação de todas as religiões, filosofias e sistemas de Yoga. Muitos nomes foram designados a este estágio: auto-realização, liberação, nirvāna, kaivalya, mokṣa etc. Os nomes são vários mas o estado de consciência é o mesmo. É um estado empírico que deve ser realizado pelo aspirante internamente e que não pode ser conceituado ou intelectualizado. É uma experiência de auto-realização e conquista interior.

Total união e os desdobramentos da iluminação

Quando a kuṇḍalinī-śakti chega ao sahasrāra, isto é conhecido como união entre Śiva e Śakti. O sahasrāra é descrito como a morada de uma maior consciência ou Śiva. A união entre Śiva e Śakti marca o início de uma grande experiência. Quando esta união ocorre, o momento da auto-realização ou samādhi começa. Neste ponto o homem individual morre. Não é a morte física, mas a morte da consciência individual ou consciência mundana. É a experiência da morte de nome e forma. Neste momento você não se lembra do Eu, você ou ele. O conhecimento, o conhecedor e o conhecido tornam-se um e o mesmo. O observador, o observado e a observação são fundidos e vistos como um todo unificado. Em outras palavras, não existe uma consciência dupla ou múltipla. Existe apenas uma consciência.

Quando Śiva e Śakti unem-se, nada resta, existe apenas absoluto silêncio. Śakti não permanece Śakti e Śiva não é mais Śiva, ambos são misturados e já não podem ser identificados como duas forças diferentes.

Cada sistema místico e religioso do mundo tem sua própria maneira de descrever esta experiência. Alguns a chamam de nirvāna, outros de samādhi, kaivalya, auto-realização, iluminação, comunhão, o céu e assim por diante. E se você ler os poemas religiosos e místicos e as diversas escrituras das culturas e tradições, encontrará uma ampla descrição do sahasrāra. No entanto, você tem que lê-las com um estado diferente de consciência para compreender as simbologias e terminologias esotéricas.

Pātañjala-yoga, kuṇḍalinī & samādhi

No Yogasūtra de Patañjali você não encontrará a palavra kuṇḍalinī, uma vez que este texto não trata diretamente do kuṇḍalinī-yoga. No entanto, nem todos os santos, ṛṣis ou professores se referiram a kuṇḍalinī com este nome. Kuṇḍalinī é matéria subordinada ao Tantra. Quando Patañjali escreveu o Yogasūtra 2600 anos atrás, foi durante o período de Buda e cerca de quatro séculos antes da era dos grandes filósofos. Nessa época, o Tantra tinha uma péssima reputação na Índia porque os dons da kuṇḍalinī, os siddhis, estavam sendo utilizados de forma abusiva para fins mesquinhos e as pessoas estavam sendo exploradas. Portanto, a terminologia tântrica teve de ser suprimida.

No pātañjala-yoga, a ênfase é colocada sobre o desenvolvimento de um estado chamado samādhi. Samādhi significa consciência supermental. Primeiro vem à consciência sensual, em seguida a consciência mental e, acima desta, a consciência supermental, a consciência de seu próprio Ser. A percepção das formas, sons, tato, paladar, olfato, é a consciência dos sentidos. A consciência do tempo, espaço e objeto é a consciência mental. A consciência supermental não é um ponto; é um processo, um leque de experiências. Assim como o termo infância refere-se a um vasto espaço de tempo, da mesma forma, samādhi não é um ponto específico da experiência, mas uma seqüência de experiências que se elevam de uma fase para outra.

Portanto, Patanjali classifica samādhi em três categorias principais. O primeiro é conhecido como savikalpa-samādhi, isto é, samādhi com flutuação, e tem quatro fases: vitarka, vicara, ānanda e asmitā. A segunda categoria, asaṃprajñāta, é samādhi sem consciência, e a terceira categoria, nirvikalpa, é samādhi sem qualquer variação.

Estes nomes indicam apenas o estado determinado em que sua mente está durante a experiência de samādhi. Não obstante, a erosão da consciência mental não ocorre de repente, a consciência normal não chega a um fim de forma abrupta. Existe um tipo de desenvolvimento de sensibilização e de erosão do outro. A consciência normal desvanece-se e desenvolve a consciência mais elevada e, portanto, há uma interação paralela entre os dois estados.

Onde é que termina a meditação e onde é que o samādhi começa? Você não pode identificar porque existe uma interposição. Onde está o fim da juventude e o início da velhice? A mesma resposta se aplica. E a mesma coisa acontece no samādhi também. Onde é que está o final de savikalpa-samādhi e o início de asaṃprajñāta? Todo o processo ocorre em continuidade, em cada etapa da próxima fusão e transformando-se de uma forma muito gradual. Isto parece lógico quando você considera que é a mesma consciência que está sofrendo a experiência.

No Tantra diz-se que quando a kuṇḍalinī ascende através dos vários cakras, a experiência que a pessoa tem pode não ser transcendental ou divina em si, mas são indicativos da evolução da natureza da consciência. Este é o território do savikalpa-samādhi, por vezes iluminação e, por vezes, escuridão traiçoeira.

Do mūlādhāra até o ājñā-cakra, a consciência está experimentando coisas maiores, mas não está livre do ego. Você não pode transcender o ego na parte inferior dos pontos do despertar. Só quando a kuṇḍalinī chega a ājñā-cakra que começa a transcendência. Este é o lugar onde o ego explode em um milhão de fragmentos e a conseqüente experiência da morte ocorre. Neste ponto savikalpa acaba e começa nirvikalpa. A partir daqui, as energias se fundem e fluem juntas até o sahasrāra, onde se desdobra a iluminação.

No Tantra, o sahasrāra é o ponto mais alto da consciência e no pātañjala-yoga, o ponto mais alto da consciência é nirvikalpa-samādhi. Agora, se você comparar as descrições do sahasrāra e de nirvikalpa-samādhi, notará que são muito parecidas, senão as mesmas. E se você comparar as experiências de samādhi descritas no pātañjala-yoga com as descrições do despertar da kuṇḍalinī, descobrirá que elas também são as mesmas.Ambos os sistemas falam sobre os mesmos tipos de práticas. O pātañjala-yoga é mais intelectual, no seu modo de expressão e está mais em sintonia com a filosofia, e o Tantra é mais emocional na abordagem e na expressão. Essa é a única diferença. Tanto quanto eu posso compreender, o despertar da kuṇḍalinī e o samādhi são a mesma coisa. E se você compreender os ensinamentos de Buda e dos outros grandes santos e mestres, notará que eles também falaram a mesma coisa, mas em diferentes línguas.


Bibliografia

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[1] Veja o artigo Abhyāsa& Vairāgya.
[2] Yamas e Niyamas são códigos de moral e disciplina yogī. Eles abrem o grupo de práticas do patañjala-yoga. O kuṇḍalinī-yoga apresentado nesta escritura começa do āsana. É esperado que o praticante de kuṇḍalinī-yoga tenha atingido proficiência no patañjala-yoga e haṭha-yoga, do contrário não há como ele se desenvolver na prática.
[3] O uso da respiração nas técnicas de prāṇāyāma deve ser esclarecido. A respiração é o meio através do qual adquirimos consciência do movimento prânico, ou seja, a expansão e o relaxamento do prāṇa. Por ser muito difícil se aprofundar na experiência do movimento do prāṇa, inicialmente é necessário utilizar a respiração a fim de se internalizar as faculdades sensoriais, por isso é dito que prāṇāyāma é uma técnica de pratyāhāra. A prática do prāṇāyāma realmente começa quando a consciência prânica envolveu todos os aspectos da mente. Veja a nota Os três aspectos do prāṇāyāma. Veja também o artigo Prāṇa, Prāṇa Nigraha& Prāṇāyāma.

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