terça-feira, 20 de maio de 2014



Pañca Makāra Sādhanā


Swāmi Niranjanānanda Saraswatī


Texto retirado do livro «On The Wings of Swan», Volume I, Yoga Publications Trust, 2012.


Se o Yoga faz parte integral do Tantra, por que a Haṭha-yoga-pradīpikā condena a utilização do vinho, carne, peixe e cópula enquanto que outros textos tântricos dizem que estas substâncias são essenciais na obtenção das siddhis?

O Yoga faz parte sim do Tantra. Nessa tradição fala-se muito dos 5Ms ou pañca-makāra-sādhanā: mādya (vinho), matsya (peixe), mudrā (grãos tostados), mansa (carne) e maithunā (cópula orientada). Mas isso não deve ser interpretado literalmente. Os textos dizem que ao beber vinho uma pessoa se torna auto-realizada. Neste caso, todo bêbado no mundo deveria ser um mestre iluminado. Se comendo carne uma pessoa pode se tornar auto-realizada, quer dizer que a maioria da população mundial já se iluminou, com exceção do povo da Índia, é claro. Se o intercurso sexual fosse o método mais eficaz de se obter a iluminação, então cedo ou tarde todos nos estaremos auto-realizados. Mas infelizmente essa não é a realidade. Assim, temos de rever ou ao menos repensar sobre o significado de peixe, vinho, carne, grãos e cópula. Existe um simbolismo por trás disso e vou falar sobre ele brevemente.

Este tipo de sādhanā foi proibido no Yoga porque não sabemos o correto procedimento para executá-lo. Sem um sistema apropriado não é possível progredir corretamente na vida espiritual. Um exemplo: já que citou a Haṭha-pradīpikā, você deve estar ciente que nela existe uma descrição completa do amṛta, que goteja do bindu-visarga-cakra para o viśuddhi, lalana e depois maṇipūra-cakra. Este amṛta é conhecido como madhu. No Tantra, não se trata de beber o vinho ou licor externo, mas sim o licor interno ou amṛta, que goteja do bindu-visarga-cakra.

Na Haṭha-pradīpikā também é mencionado que existem dois peixes que se movimentam pelo rio do corpo. Se você estuda Yoga, então sabe que iḍā e piṅgalā, os canais de energia solar e lunar, também são chamados de Gaṅga e Yamunā. Estes são os dois rios dentro do corpo na forma de fluxo energético. Estes dois peixes que nadam nestes rios são os movimentos da energia. Comer peixe então significa uma prática completa de prāṇāyāma, quer dizer, a interrupção da inspiração e expiração, ou seja, a kumbhaka.

É sob essa perspectiva que devemos compreender o conceito de tantra-sādhanā dos 5Ms. Sugiro uma leitura da Haṭha-pradīpikā com uma mente mais crítica.

Tradução livre de Fernando Liguori.

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