terça-feira, 16 de dezembro de 2014




Fernando Liguori


Texto retirado da apostila da Oficina de Meditação, edição 2013.


Bhrāmarī significa aquilo que pertence à abelha (ou besouro), no que se refere ao seu som. A técnica recebe este nome porque sua execução é acompanhada por um zumbido semelhante ao de uma abelha (Haṭhapradīpikā, II: 68). Este prāṇāyāma é praticado em conjunto com a ṣaṇmukhī-mudrā, explicada logo abaixo. Isso intensifica o efeito do zumbido. Na Gheraṇḍasaṃhitā (V: 78-79), contudo, bhrāmarī denota um dos sons internos que espontaneamente se tornam audíveis através da prática contemplativa do prāṇāyāma em um local calmo e tranqüilo. É utilizado no nāda-yoga para despertar a consciência dos sons psíquicos. A vibração deste prāṇāyāma produz um efeito calmante na mente e no sistema nervoso, diminuindo o vāta agravado.

Técnica 1: Método básico
Sente-se de preferência em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. A coluna vertebral deve estar ereta, a cabeça no prolongamento da coluna e as mãos descansando sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Feche os olhos e descanse todo o corpo por algum tempo.
Os lábios devem permanecer fechados e os dentes levemente separados durante toda a prática. Isso faz com que a vibração sonora seja escutada e sentida de maneira distinta pelo cérebro.
Eleve os braços lentamente e flexione os cotovelos, trazendo às mãos de encontro às orelhas. Use o dedo indicador ou o médio para fechar os ouvidos.
Foque a consciência no centro da cabeça, onde ājñā-cakra está localizado e mantenha o corpo absolutamente estável.
Inspire pelas narinas. Expire lentamente de forma controlada, fazendo um profundo e contínuo zumbido semelhante ao de abelhas.
Este zumbido deve ser regular, modulado e contínuo durante toda a expiração. O som deve ser suave e agradável, fazendo reverberar a parte frontal do crânio.
Ao final da expiração, as mãos podem ser mantidas na posição ou retornar aos joelhos até a próxima execução.
A inspiração e expiração devem ser prolongadas e controladas.
Isso é uma execução. Repita de cinco a dez vezes.

Técnica 2: Com ujjāyī-prāṇāyāma
A inspiração pode ser executada pela contração da garganta em ujjāyī-prāṇāyāma. Nesta técnica o zumbido pode ser produzido tanto na inspiração quanto na expiração.

Técnica 3: Com jālaṃdhara-bandha
Uma vez que o método básico tenha sido dominado, jālaṃdhara-bandha pode ser incorporado em conjunto com a retenção interna do ar.
Após inspirar, execute jālaṃdhara-bandha.
Não force ao executar a kumbhaka, um ou dois segundo é o suficiente.
Desfaça jālaṃdhara-bandha, feche os ouvidos e expire executando o zumbido da abelha.
Repita de cinco a dez vezes.
Quando esta técnica for executada com conforto, ujjāyī-prāṇāyāma pode ser integrado durante a inspiração.
Nota prática: Se você estiver sentado em nāda-ānusandhāna-āsana não será necessário executar jālaṃdhara-bandha.

Técnica 4: Com jālaṃdhara e mūla-bandha
Após a inspiração, retenha a respiração e execute jālaṃdhara e mūla-bandha.
Desfaça primeiro mūla e depois jālaṃdhara-bandha, feche os ouvidos e expire executando o zumbido da abelha.
Ujjāyī-prāṇāyāma pode ser executado durante a inspiração.

Técnica 5: Nāda-ānusandhāna-āsana & bhrāmarī-prāṇāyāma
Sente-se em cócoras sobre uma manta enrolada. Coloque os pés bem apoiados no solo, os joelhos elevados e os cotovelos apoiados sobre os joelhos. Feche os ouvidos com os dedos polegares e deixe os outros dedos tocando a cabeça.
Essa posição dá bastante estabilidade sem esforço algum quando se pratica por um longo período de tempo.
Nesta técnica, respire como acima indicado ao executar bhrāmarī-prāṇāyāma.
Consciência: Físico - durante a prática, mantenha sua consciência na reverberação do som dentro da cabeça. Espiritual - no bindu-visarga-cakra.
Nota prática: Nāda-ānusandhāna-āsana é uma variação para a prática de bhrāmarī-prāṇāyāma, cujo objetivo é o aprofundamento no nāda. É uma prática preparatória para nāda-yoga, sistema que utiliza as sutis vibrações sonoras internas para conectar o praticante com sua verdadeira natureza.

Técnica 6: Praṇava-prāṇāyāna
Todas as técnicas do bhrāmarī-prāṇāyāma podem ser executadas utulizando-se o mantra auṃ no lugar do zumbido da abelha. Na pronúncia, os sons A e U são bem curtos e o Ṃ é longo: m-m-m-m-m-m-m.
Inspire em ujjāyī-prāṇāyāma, ascendendo a consciência pela passagem psíquica espinhal do mūlādhāra ao ājñā-cakra.
Na expiração, o mantra auṃ desce pela passagem psíquica espinhal do ājñā ao mūlādhāra-cakra.
Pratique por quinze minutos.
Ao finalizar, esteja atento aos sons internos.

Técnica 7: Com ṣaṇmukhī-mudrā
Sente-se em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. Se essa posição não lhe for confortável, escolha outro āsana de meditação que lhe seja confortável e coloque uma pequena almofada debaixo do períneo para fazer pressão nessa área.
Mantenha a cabeça e a coluna alinhadas.
Feche os olhos e coloque as mãos sobre os joelhos.
Relaxe todo o corpo.
Dobre os braços à altura do rosto com os cotovelos apontados para as laterais.
Feche os ouvidos com os dedos polegares, os olhos com os indicadores, as narinas com os dedos médios e a boca colocando os dedos anulares e mínimos nos lábios superior e inferior respectivamente.
Abra as narinas, desfazendo a pressão dos dedos médios. Inspire lenta e profundamente, usando a respiração yogī completa.
Ao final da inspiração, feche as narinas com os dedos médios.
Retenha a respiração pelo tempo que for confortável. Na execução, concentre-se na vibração sutil no centro da cabeça e em qualquer imagem que apareça na frente dos olhos fechados.
Depois de algum tempo, desfaça a pressão dos dedos médios, abrindo novamente as narinas e expire. Isso é uma execução. Imediatamente faça uma nova inspiração para começar uma outra execução.
Continue realizando a prática por algumas execuções.
Para finalizar, volte às mãos sobre os joelhos e mantenha os olhos fechados. Lentamente comece a exteriorizar sua consciência, percebendo os sons externos e o corpo físico.
Respiração: Esta técnica produz grandes benefícios quando o yogin é capaz de reter a respiração (kumbhaka) por um longo período de tempo.
Consciência: Sua consciência deve estar principalmente focada no bindu-visarga, mas também pode ser colocada no ājñā ou anāhata-cakra, entretanto, nos momentos iniciais da prática, o mais importante é o recolhimento dos sentidos
Nota prática: Ṣaṇmukhī-mudrā é uma prática usada em nāda-yoga para observação das manifestações internas do som sutil na região de bindu-visarga. No alto da cabeça, na porção posterior, onde os brâmanes hindus deixam um tufo de cabelo, está o ponto conhecido como bindu. A palavra bindu significa ponto ou gota e visarga significa verter gota por gota. Este centro psíquico também é conhecido como soma-cakra. Bindu é o centro do nāda e é utilizado para concentração no som psíquico que se manifesta nesta área. Ṣaṇmukhī-mudrā e bhrāmarī-kumbhaka são praticados com a concentração no bindu-visarga para desenvolver a percepção do nāda.

Esta técnica de fechar os orifícios da cabeça com as mãos chama-se ṣaṇmukhī-mudrā (fechamento das sete portas). A palavra é composta por duas raízes: ṣaṇ que se refere ao número sete e mukhī que significa porta ou faces. Ṣaṇmukhī-mudrā envolve o direcionamento da consciência para dentro, através das sete portas da percepção do mundo exterior, i.e. olhos, ouvidos, narinas e a boca. Esta prática também é conhecida como baddha-yoni-āsana (posição da fonte fechada), devī-mudrā (atitude da grande deusa), pāraṇgmukhī-mudrā (gesto de foco interior) e śāmbhava-mudrā (gesto da equanimidade).
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