segunda-feira, 5 de maio de 2014




Fernando Liguori


[A prática do haṭha-yoga,* em sua forma clássica, opera fundamentalmente através do prāṇa, visando canalizar e conter esta força vital, progressivamente aumentando a duração do tempo em que ela permanece retida no corpo sutil. Através da kumbhaka (retenção do prāṇa) e da mudrā (selamento, i.e. o ato de conter o prāṇa), o haṭha-yogin se esforça em intensificar o calor interno, despertando assim a kuṇḍalinī-śakti. Na medida em que seu poder serpentino ascende através de suṣumna-nāḍī, o haṭha-yogin fixa sua consciência em seu som sibilante (nāda), o que leva sua mente a ser absorvida e suportada pelo estado silencioso da identidade com Brahman. Neste texto iremos abordar uma esquecida prática do haṭha-yoga denominada nāda-ānusandhāna, o cultivo do som interior. Esta prática aparece na quarta lição (caturthopadeśa) da Haṭhapradīpikā como a meditação que leva ao último objetivo do Yoga, o samādhi, total absorção cognitiva.]

मुक्तासने स्थितो योगी मुद्रां सन्धाय शाम्भवीम्
शृणुयाद्दक्षिणे कर्णे नादमन्तास्थमेकधीः

muktāsane sthito yogī mudrāṁ sandhāya śāmbhavīm
śṛṇuyāddakṣiṇe karṇe nādamantāsthamekadhīḥ

O yogī, sentado em muktāsana, concentrado em śāmbhavī-mudrā, deverá ouvir atentamente o nāda que soa em seu ouvido direito.

Haṭhapradīpikā, IV: 67

Palavras iniciais

Brahmānanda em seu comentário da Haṭhapradīpikā, o Jyotsnā, descreve o processo do haṭha-yoga nos termos de uma gradual cessação da atividade humana ordinária. Os āsanas (posturas) engendram o controle sobre o corpo físico, capacitando o praticante a assumir uma postura estável por um longo período de tempo. Pela execução da kumbhaka, o haṭha-yogin regula e, eventualmente, contém o fluxo do prāṇa em seu interior, o que, em contra partida, facilita a concentração requerida para silenciar os vṛttis da mente. Do ponto de vista haṭha, é aumentando e prolongando a duração de kumbhaka que se atinge os estágios finais do aṣṭāṅga-yoga, i.e. pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e saṃprajñāta-samādhi (Jyotsnā, IV: 11). Eventualmente, diz Brahmānanda, até mesmo as atividades de buddhi [o mais refinado aspecto da mente] se tornam estáveis e o que permanece é o puruṣa apenas (idem).

A quarta lição da Haṭhapradīpikā contém instruções, em palavras bem claras, sobre a fusão da mente com o prāna. Esse processo é denominado como laya, estado no qual a percepção das dualidades fenomênicas cessa. A expiração e a inspiração ficam suspensas, um estado conhecido como kevala kumbhaka (suspensão absoluta do processo respiratório) que ocorre naturalmente, o que, por conseguinte, suspende os processos cognitivos do pensamento e as atividades mentais. Na Haṭhapradīpikā (IV: 31-34), Śrī Svātmārāma Yogīndra diz: Quando a inspiração e a expiração cessam, o desfrute dos sentidos é aniquilado, ocorre a imobilidade e imutabilidade, o yogī atinge laya. Todos os desejos proeminentes são findos definitivamente e se permanece imóvel. Laya torna-se acessível, que é apenas vivenciado, não há palavras que explique. Onde há visão, laya ocorre e controla os eternos órgãos dos sentidos. Os dois elementos, śakti e jīva, partem invisíveis para laya. [...] Mas qual a característica de laya? Laya é quando as vāsanās não retornam, é o lugar do esquecimento. Mais a frente, falando sobre o poder do nāda sobre a mente (IV: 91-92), ele diz: O ferrão afiado do nāda pode efetivamente controlar o elefante furioso de manas quando quer passear no jardim dos prazeres dos objetos dos sentidos. Quando manas se despediu de sua natureza caprichosa e foi agrilhoada pelo nāda, então citta torna-se totalmente imóvel como um pássaro sem asas. Quando a mente se funde com prāna, o estado de laya é obtido, resultando no cidānanda ou mokṣa, diz a Haṭhapradīpikā (IV: 30).

Na disciplina do haṭha-yoga, segundo as instruções de Śrī Svātmārāma Yogīndra, é importante compreender que as práticas preliminares de prāṇāyāma (kumbhaka) são um meio efetivo de preparo para uma perfeita execução de nāda-ānusandhāna. Na verdade, prāṇāyāma é a técnica do haṭha-yoga – par excellence, e seu aspecto mais importante, a chave de todo o processo, é a kumbhaka. De acordo com a filosofia haṭha, o yogī experiente é capaz de controlar o ciclo respiratório e aumentar o volume do alento dentro de si, de maneira que possa suspendê-lo por horas a fio. Isso ele faz com a intenção de reter o prāṇa na profundeza mais recôndita de seu Ser – a suṣumnā-nāḍī – abrindo o infinito reservatório da kuṇḍalinī-śakti. Yogīndra discute o prāṇāyāma, o processo de conter a energia vital através da retenção (kumbhaka), na segunda lição (dvirtāyopadeśa) de seus apontamentos.

Nāda-Ānusandhāna

Como falei acima, a kumbhaka é a principal técnica do haṭha para se conter o prāṇa dentro do corpo, instigando o profundo calor interno e excitando a kuṇḍalinī adormecida a sair de seu sono. Enquanto a kuṇḍalinī ascende através da citriṇī-nāḍī e penetra os cakras e granthis, o yogin em profunda introspecção é capaz de escutar um som sutil e interno (nādam-anta) com o ouvido direito – ou seu equivalente sutil (Haṭhapradīpikā IV: 67). O nāda (ou śabda) é considerado ser a própria kuṇḍalinī-śakti manifestada como som ou vibração, tendo como um de seus títulos o termo śabda-brahman (a palavra ou som de Brahman). Na medida em que ela ascende pelo canal axial, seu som se torna incrivelmente mais refinado e a mente do yogin completamente absorvida no sibilo que ela produz.

Anusandhāna, às vezes pronunciada anusaṃdhāna, é traduzida como atingir algo, ter a intenção de, observar ou prestar a atenção. Portanto, a prática de nāda-ānusandhāna (nāda + ānusandhāna) sugere a fixação da atenção no som interior. O propósito final da prática é equivalente ao propósito final proposto no kriyā-yoga de Patañjali, i.e. reduzir e dissolver a turbulência da consciência (citta-vṛtti). O resultado final sendo conhecido como laya (absorção). De acordo com a Haṭhapradīpikā (IV: 66), o número de métodos para se conquistar o estado de laya conforme deliberados por Ādinātha (Śiva) é 1,25 milhões (sapāda-koṭi), nāda-ānusandhāna sendo considerado o mais refinado de todos.

O método envolve sentar-se na postura de liberação (muktāsana, também conhecida como siddhāsana) enquanto se assume śāmbhavī-mudrā, i.e. a concentração no objeto interior (Haṭhapradīpikā, IV: 66). A atenção mental deve estar retraída das informações sensoriais externas, completamente focada no nāda, um processo que é conquistado, segundo a Jyotsnā (IV: 68), fechando os ouvidos com os polegares de cada mão e utilizando os outros dedos para fechar os olhos, as narinas e a boca. Isso implica que, inevitavelmente, ocorra kevala kumbhaka. A mente (citta), diz a Haṭhapradīpikā (IV: 90), deve estar absorta no nāda assim como uma abelha está absorta no trabalho de colher o néctar das flores, não se distraindo com seus perfumes, i.e. as experiências sensoriais externas.

श्रवण पुट नयन युगल घ्राणमुखानां निरोधनं कार्यम्
शुद्ध सुषुम्णा सरणौ स्फुटममलः श्रूयते नादः

śravaṇa puṭa nayana yugala ghrāṇamukhānāṁ nirodhanaṁ kāryam
śuddha suṣumṇā saraṇau sphuṭamamalaḥ śrūyate nādaḥ

Fechando os ouvidos, nariz, boca e olhos, então ouvirá claramente o nāda se movendo na suṣumṇā purificada.

Haṭhapradīpikā, IV: 68.


Ṣaṇmukhī-mudrā

Esta técnica de fechar os orifícios da cabeça com as mãos chama-se ṣaṇmukhī-mudrā (fechamento das sete portas). A palavra é composta por duas raízes: ṣaṇ que se refere ao número sete e mukhī que significa porta ou faces. Ṣaṇmukhī-mudrā envolve o direcionamento da consciência para dentro, através das sete portas da percepção do mundo exterior, i.e. olhos, ouvidos, narinas e a boca. Esta prática também é conhecida como baddha-yoni-āsana (posição da fonte fechada), devī-mudrā (atitude da grande deusa), pāraṇgmukhī-mudrā (gesto de foco interior) e śāmbhava-mudrā (gesto da equanimidade).

Técnica
Sente-se em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. Se essa posição não lhe for confortável, escolha outro āsana de meditação que lhe seja confortável e coloque uma pequena almofada debaixo do períneo para fazer pressão nessa área.
Mantenha a cabeça e a coluna alinhadas.
Feche os olhos e coloque as mãos sobre os joelhos.
Relaxe todo o corpo.
Dobre os braços à altura do rosto com os cotovelos apontados para as laterais.
Feche os ouvidos com os dedos polegares, os olhos com os indicadores, as narinas com os dedos médios e a boca colocando os dedos anulares e mínimos nos lábios superior e inferior respectivamente.
Abra as narinas, desfazendo a pressão dos dedos médios. Inspire lenta e profundamente, usando a respiração yogī completa.
Ao final da inspiração, feche as narinas com os dedos médios.
Retenha a respiração pelo tempo que for confortável.
Depois de algum tempo, desfaça a pressão dos dedos médios, abrindo novamente as narinas e expire. Isso é uma execução. Imediatamente faça uma nova inspiração para começar uma outra execução.
Continue realizando a prática por algumas execuções.
Para finalizar, volte às mãos sobre os joelhos e mantenha os olhos fechados. Lentamente comece a exteriorizar sua consciência, percebendo os sons externos e o corpo físico.
Respiração: Esta técnica produz grandes benefícios quando o yogin é capaz de reter a respiração (kumbhaka) por um longo período de tempo.
Consciência: Sua consciência deve estar principalmente focada no bindu-visarga, mas também pode ser colocada no ājñā ou anāhata-cakra, entretanto, nos momentos iniciais da prática, o mais importante é o recolhimento dos sentidos
Nota prática: Ṣaṇmukhī-mudrā é uma prática usada em nāda-yoga para observação das manifestações internas do som sutil na região de bindu-visarga. No alto da cabeça, na porção posterior, onde os brâmanes hindus deixam um tufo de cabelo, está o ponto conhecido como bindu. A palavra bindu significa ponto ou gota e visarga significa verter gota por gota. Este centro psíquico também é conhecido como soma-cakra. Bindu é o centro do nāda e é utilizado para concentração no som psíquico que se manifesta nesta área. Ṣaṇmukhī-mudrā e bhrāmarī-kumbhaka são praticados com a concentração no bindu-visarga para desenvolver a percepção do nāda.

Estágios do nāda-ānusandhāna

A Haṭhapradīpikā (IV: 69 ss) identifica quatro estágios (avasthā) principais da experiência intrapsíquica que ocorre com a prática do Yoga. Cada um destes estágios é caracterizado pela escuta de uma manifestação particular do nāda. Na medida em que o haṭha-yogin avança por estes estágios sucessivos, um aspecto mais sutil do som é escutado e a absorção da mente se torna mais intensificada. No primeiro estágio, denominado ārambha, termo que se traduz como começar ou iniciar, o brahma-granthi é perfurado na região do anāhata-cakra,[1] o que engendra um estado de bem-aventurança, levando o yogin a experimentar o vazio (śūnya).[2] Simultaneamente, vários sons musicais são percebidos emanando do interior do corpo como o som de guizos (anāhata-dhvani), de onde o cakra do coração deriva seu nome (Haṭhapradīpikā, IV: 70). Ao se iniciar este estado de śūnya, o yogin passa a emanar uma deliciosa fragrância celestial, seu corpo torna-se divinamente radiante (divya-deha) e seu coração completamente cheio de vida e felicidade (saṃpūrṇa-hṛdaya), ensina a Haṭhapradīpikā, IV: 71.

O segundo estágio de nāda-ānusandhāna é nomeado ghaṭa-avasthā, que significa pote [de água] e é caracterizado pela perfuração do viṣṇu-granthi na região do viśuddhi-cakra e pelo escutar ou perceber no centro (suṣumnā) o vazio mais elevado (ati-śūnya) e o ressoar de um timbale (bherī).

O próximo estágio é paricarya-avasthā que se traduz como familiaridade [i.e. compreensão do som], no qual, é dito, o nāda é como o som de um tambor (mardala), sendo emanado de mahā-śūnya (o grande vazio), morada de todas as siddhis, diz a Haṭhapradīpikā, IV: 74, localizada no ponto entre as sobrancelhas. Aqui o rudra-granthi é perfurado e, no quarto estágio, niṣpatti (imobilidade), um som semelhante a uma vina é escutado.

Estes quatro estágios (avasthā) podem ser classificados como diferentes níveis de saṃprajñāta-samādhi, i.e. samādhi com suporte cognitivo, pois o nāda provê um foco de atenção para a mente que, a cada estágio progressivo, testemunha o desvelar de um aspecto mais sutil e refinado (sūkṣma) do som (Haṭhapradīpikā, IV: 84). O nāda também pode ser caracterizado como um veículo que carrega a mente através de sucessivas camadas de auto-identidade até o último estado do som completamente inaudível (niḥśabda) de Parabrahman (o Absoluto Supremo), a realização do mais elevado Ser (paramātman), Haṭhapradīpikā, IV: 101. Este estado final, além do som ou qualquer outro fenômeno, é o asaṃprajñāta-samādhi referido por Vyāsa em seu Yoga-Bhāṣya (I: 1) e outro (anya) estado mencionado por Patañjali em seu Yoga-Sūtra (I: 18) como a condição em que nenhum novo saṃskāra é gerado e onde puruṣa ou ātman reside em sua própria natureza.

Nós podemos ver que pela técnica discutida neste texto, o haṭha-yoga é uma disciplina que compreende em seu escopo os mais elevados ideais do Yoga conforme apresentados nas primeiras Upaniṣads e posteriormente no sistema codificado por Patañjali, assim como nas Upaniṣads do Yoga[3] que apareceram após o período conhecido como Yoga Clássico.

Voltando ao tema central de nosso estudo, a prática de nāda-ānusandhāna está muito associada à execução de bhrāmarī-kumbhaka ou bhrāmarī-prāṇāyāma.

अथ भरामरी
वेगाद्घोष्हं पूरकं भॄङ्ग-नादं भॄङ्गी-नादं रेछकं मन्द-मन्दम |
योगीन्द्राणमेवमभ्यास-योगाछ छित्ते जाता काछिदानन्द-लीला || ६८ ||

atha bhrāmarī
veghādghoṣhaṃ pūrakaṃ bhṝnggha-nādaṃ bhṝngghī-nādaṃ rechakaṃ manda-mandam
yoghīndrāṇamevamabhyāsa-yoghāch chitte jātā kāchidānanda-līlā

A Bhrāmarī. Inspire rapidamente, produzindo o som do zangão. Em seguida, expire fazebdo delicadamente o som da abelha. A prática regular o torna senhor dos yogīs e citta é absorvida em cidānanda.

Haṭhapradīpikā, II: 68


Bhrāmarī-prāṇāyāma

Bhrāmarī significa aquilo que pertence à abelha (ou besouro), no que se refere ao seu som. A técnica recebe este nome porque sua execução é acompanhada por um zumbido semelhante ao de uma abelha (Haṭhapradīpikā, II: 68). Este prāṇāyāma é praticado em conjunto com a ṣaṇmukhī-mudrā, explicada acima. Isso intensifica o efeito do zumbido. Na Gheraṇḍa-Saṃhitā (V: 78-79), contudo, bhrāmarī denota um dos sons internos que espontaneamente se tornam audíveis através da prática contemplativa do prāṇāyāma em um local calmo e tranqüilo.

Técnica
Sente-se de preferência em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. A coluna vertebral deve estar ereta, a cabeça no prolongamento da coluna e as mãos descansando sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Feche os olhos e descanse todo o corpo por algum tempo.
Os lábios devem permanecer fechados e os dentes levemente separados durante toda a prática. Isso faz com que a vibração sonora seja escutada e sentida de maneira distinta pelo cérebro.
Eleve os braços lentamente e flexione os cotovelos, trazendo às mãos de encontro às orelhas. Use o dedo indicador ou o médio para fechar os ouvidos.
Foque a consciência no centro da cabeça, onde ājñā-cakra está localizado e mantenha o corpo absolutamente estável.
Inspire pelas narinas. Expire lentamente de forma controlada, fazendo um profundo e contínuo zumbido semelhante ao de abelhas.
Este zumbido deve ser regular, modulado e contínuo durante toda a expiração. O som deve ser suave e agradável, fazendo reverberar a parte frontal do crânio.
Ao final da expiração, as mãos podem ser mantidas na posição ou retornar aos joelhos até a próxima execução.
A inspiração e expiração devem ser prolongadas e controladas.
Isso é uma execução.


Nāda-ānusandhāna-āsana

Nāda-ānusandhāna-āsana é uma variação para a prática de bhrāmarī-prāṇāyāma, cujo objetivo é o aprofundamento no nāda. É uma prática preparatória para nāda-yoga, sistema que utiliza as sutis vibrações sonoras internas para conectar o praticante com sua verdadeira natureza.

Técnica 1: nāda-ānusandhāna-āsana & bhrāmarī-prāṇāyāma
Sente-se em cócoras sobre uma manta enrolada. Coloque os pés bem apoiados no solo, os joelhos elevados e os cotovelos apoiados sobre os joelhos. Feche os ouvidos com os dedos polegares e deixe os outros dedos tocando a cabeça.
Essa posição dá bastante estabilidade sem esforço algum quando se pratica por um longo período de tempo.
Nesta técnica 1, respire como acima indicado ao executar bhrāmarī-prāṇāyāma.
Consciência: Durante a prática, mantenha sua consciência na reverberação do som dentro da cabeça e no bindu-visarga.

Técnica 2: acrescentando antara-kumbhaka
Inspire lenta e profundamente.
Retenha o ar nos pulmões com a consciência focada no bindu-visarga o quanto for possível.
A expiração deve ser confortável e prolongada para envolver a mente no som reverberado.
Nota prática: A retenção com ar deve ser aumentada gradativamente, de forma ajudar ampliar a introspecção e a concentração. Não force a kumbhaka; no início, um ou dois minutos são o suficiente e, com o aperfeiçoamento da técnica, lentamente a duração pode ser aumentada.

Técnica 3: acrescentando bandhas
Antes de acrescentar bandha nesta prática, lembre-se de que eles devem ser aperfeiçoados individualmente.
Uma vez que antara-kumbhaka seja assimilado, jālaṃdhara e mūla-bandha podem ser incorporados.
A forma completa de jālaṃdhara pode ser realizada se as mãos retornarem aos joelhos entre as execuções. Se as mãos forem mantidas elevadas, fechando os ouvidos, pratique a forma simples.
Inspire suave e prolongadamente.
Pratique jālaṃdhara e mūla-bandha durante a retenção com ar. Desfaça mūla e jālaṃdhara-bandha e expire executando bhrāmarī-prāṇāyāma. Isso é uma execução.
Uma vez que os bandhas possam ser executados com proficiência, aumente a quantidade de execuções.
Nota prática: Não execute bandhas associados a prāṇāyāmas sem a orientação de um professor experiente ou guru.

A prática do nāda-yoga

A prática que se segue é um método de se penetrar nas camadas mais profundas da mente utilizando o som como foco. O Yoga acredita que as diferentes camadas da mente e do corpo são manifestações de um número incontável de sons e vibrações que se permutam e se combinam. Em outras palavras, a mente e o corpo são solidificações do som.

Essa prática leva o yogin progressivamente através das manifestações sutis do som. É um excelente exercício para se induzir pratyāhāra (dissociação da mente do ambiente externo e dos sentidos), induzindo o praticante a estados profundos de meditação. Assim como a música cria estados alterados na consciência, o nāda altera o fluxo de percepção interna, penetrando na mente até suas camadas mais sutis.

Prática preliminar de nāda-yoga
Estágio 1: Preparação
Sente-se em nāda-ānusandhāna-āsana.
Mantenhas as costas eretas e a cabeça no prolongamento da coluna.
Feche os ouvidos com os polegares.
Relaxe todo seu corpo e sua mente.
Sinta-se completamente em paz. Encontre dentro de você uma paz silenciosa.
Esteja no presente. Traga a sua consciência integrada para o aqui e o agora.
Corpo, respiração e mente trabalhando em uma só sintonia.
Estágio 2: O zumbido da abelha
Inale profundamente e, enquanto exala prolongadamente, faça o zumbido da abelha.
Mantenha os dentes levemente separados e a boca completamente fechada.
Sinta o zumbido da abelha vibrando por toda sua cabeça, desde sua garganta até o topo.
Prolongue ao máximo sua exalação, de maneira bem suave.
Mantenha sua mente completamente focada na vibração sonora do zumbido da abelha.
Continue esta prática por cinco minutos.
Estágio 3: Percepção interna do som sutil
Agora, pare o zumbido da abelha.
Tente escutar qualquer som sutil internamente, qualquer som.
Ouça profundamente.
Quando identificar o som, você notará que ele se torna mais claro. Se aprofunde nessa concentração.
Mantenha sua mente completamente focada neste som. Escute-o com cuidado (pausa).
Se sua audição for sensível em demasia, você poderá escutar outro som, bem no fundo, atrás do som em que você se concentra.
Ele pode ser bem lânguido, mas ainda sim bem perceptível.
Desfaça a concentração no primeiro som e se concentre no som que emerge atrás dele. Transcenda o primeiro som e experimente percepção calma e tranqüila do segundo som (pausa).
Se você desenvolveu sua sensibilidade e percepção, novamente pode estar escutando um terceiro som, ainda mais sutil.
Desfaça a concentração no segundo som e se concentre completamente neste terceiro som, ainda mais sutil.
Consciência total neste terceiro som. Deixe que ele ocupe toda sua atenção (pausa).
Quando perceber um novo som, ainda mais sutil, dirija sua consciência para ele.
Quanto mais sutil for o som que você perceber, mais profundamente você irá adentrar as profundezas de sua mente.
Estágio 4: Fim da prática
Inspire e expire. Vagarosamente vá trazendo sua consciência para o exterior.
Torne-se consciente de todo seu corpo e do ambiente ao seu redor.
A prática está completa.

Hari Om Tat Sat

Com a prática, esta técnica pode levá-lo diretamente aos estágios mais profundos de meditação. Se nenhum som for escutado nas primeiras vezes que executar a técnica, faça um esforço para não desistir. Com o tempo vem o progresso e você irá transcender os sons exteriores mais grosseiros e até mesmo os sons internos mais sutis.


Notas:

[*] Na tradição Bihar Yoga, não se utiliza sinais diacríticos nas palavras em sânscrito ao produzir um texto. Eles são utilizados somente quando, por exemplo, existe a descrição de um mantra. Nem mesmo na transcrição do devanāgarī para os caracteres romanos coloca-se os sinais diacríticos. Entretanto, neste escrito, optei por utilizá-los.

[1] Em outros textos tântricos como o Ṣaṭ-Cakra-Nirūpaṇa, o brahma-granthi é localizado no mūlādhāra-cakra.

[2] O significado literal de śūnya é vazio, vácuo, livre. Quando o termo é aplicado a um estado intrapsíquico, estas traduções falham em capturar seu verdadeiro significado. Como ākāśa, śūnya é melhor traduzido como uma expansibilidade ou espaço, que carece de um conteúdo individualmente objetivo.

[3] No que concerne as Upaniṣads, é uma má compreensão identificar o Yoga como uma categoria distinta de Upaniṣad, pois o tema central de todas as Upaniṣads é Yoga, i.e. se entendemos o Yoga como um meio de união e identidade de ātman com Brahman e o caminho para se atingir essa última realização. Entretanto, Upaniṣads do Yoga é uma maneira conveniente e abreviada de se referir àquelas Upaniṣads menores que tratam mais especificamente dos canais de energia (nāḍī), os centros de poder (cakra) do corpo sutil, a repetição (japa) de mantras, a meditação sobre o sagrado oṃ, bem como práticas de āsana e prāṇāyāma. Estes textos apresentam um conteúdo primordial que foi, com o passar do tempo, diretamente associado às práticas do haṭha-yoga, tendo sido tratado apenas de forma oblíqua ou fragmentada nas Upaniṣads mais antigas. No que se relaciona ao presente estudo, podemos fazer um paralelo com a Maitri-Upaniṣad, conectada ao Kṛṣṇa-Yajur-Veda (Yajur-Veda negro), pois, de todas Upaniṣads anteriores, ela é a que contém uma descrição mais explícita da metodologia que se assemelha aquela apresentada nos trabalhos de haṭha que surgiram posteriormente. Nesta Upaniṣad é considerável notar a íntima conexão entre o fluxo do prāṇa e a instabilidade da mente, a ênfase no prāṇāyāma como o método mais efetivo de concentrar e silenciar a mente (Maitri-Upaniṣad, VI: 19), assim como a menção de levar a ponta da língua no palato mole atrás da úvula, estancando a descida do bindu, o néctar sutil e vital liberado através do soma-cakra. Atenção é dada a canalização do prāṇa ao longo de suṣumnā-nāḍī, que é dito penetrar através do palato mole focado na potente sílaba oṃ, conduzindo a mente a morada de Brahman (Maitri-Upaniṣad, VI: 21). Imergindo-se no som interior, nesta Upaniṣad referido como śabda-brahman, o adepto é lançado a condição inaudível do puro Brahman (Maitri-Upaniṣad, VI: 22). Isso nos parece ser exatamente o mesmo método referido como nāda-ānusandhāna discutido enfaticamente na Haṭhapradīpikā.


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