Fernando
Liguori
[A prática do haṭha-yoga,* em sua forma clássica, opera fundamentalmente através
do prāṇa, visando canalizar e conter
esta força vital, progressivamente aumentando a duração do tempo em que ela
permanece retida no corpo sutil. Através da kumbhaka
(retenção do prāṇa) e da mudrā (selamento, i.e. o ato de conter o prāṇa), o haṭha-yogin se
esforça em intensificar o calor interno,
despertando assim a kuṇḍalinī-śakti.
Na medida em que seu poder serpentino
ascende através de suṣumna-nāḍī, o haṭha-yogin fixa sua consciência em seu
som sibilante (nāda), o que leva sua
mente a ser absorvida e suportada pelo estado silencioso da identidade com Brahman.
Neste texto iremos abordar uma esquecida prática do haṭha-yoga denominada nāda-ānusandhāna,
o cultivo do som interior. Esta prática aparece na quarta lição (caturthopadeśa) da Haṭhapradīpikā como a meditação que leva ao último objetivo do Yoga, o samādhi, total absorção cognitiva.]
मुक्तासने स्थितो योगी मुद्रां सन्धाय शाम्भवीम्
शृणुयाद्दक्षिणे कर्णे नादमन्तास्थमेकधीः
muktāsane sthito yogī mudrāṁ sandhāya śāmbhavīm
śṛṇuyāddakṣiṇe karṇe nādamantāsthamekadhīḥ
O yogī,
sentado em muktāsana, concentrado em śāmbhavī-mudrā, deverá ouvir atentamente
o nāda que soa em seu ouvido direito.
Haṭhapradīpikā, IV: 67
Palavras iniciais
Brahmānanda em seu comentário da Haṭhapradīpikā,
o Jyotsnā, descreve o processo do haṭha-yoga nos termos de uma gradual
cessação da atividade humana ordinária. Os āsanas
(posturas) engendram o controle sobre o corpo físico, capacitando o praticante
a assumir uma postura estável por um longo período de tempo. Pela execução da kumbhaka, o haṭha-yogin regula e, eventualmente, contém o fluxo do prāṇa em seu interior, o que, em contra
partida, facilita a concentração requerida para silenciar os vṛttis da mente. Do ponto de vista haṭha, é aumentando e prolongando a duração
de kumbhaka que se atinge os estágios
finais do aṣṭāṅga-yoga, i.e. pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e saṃprajñāta-samādhi (Jyotsnā, IV: 11). Eventualmente, diz
Brahmānanda, até mesmo as atividades de
buddhi [o mais refinado aspecto da mente] se tornam estáveis e o que permanece é o puruṣa apenas (idem).
A quarta lição da Haṭhapradīpikā
contém instruções, em palavras bem claras, sobre a fusão da mente com o prāna. Esse processo é denominado como laya, estado no qual a percepção das
dualidades fenomênicas cessa. A expiração e a inspiração ficam suspensas, um
estado conhecido como kevala kumbhaka
(suspensão absoluta do processo respiratório) que ocorre naturalmente, o que,
por conseguinte, suspende os processos cognitivos do pensamento e as atividades
mentais. Na Haṭhapradīpikā (IV: 31-34),
Śrī Svātmārāma Yogīndra diz: Quando a inspiração e a expiração cessam, o
desfrute dos sentidos é aniquilado, ocorre a imobilidade e imutabilidade, o
yogī atinge laya. Todos os desejos proeminentes são findos definitivamente e se
permanece imóvel. Laya torna-se acessível, que é apenas vivenciado, não há
palavras que explique. Onde há visão, laya ocorre e controla os eternos órgãos
dos sentidos. Os dois elementos, śakti e jīva, partem invisíveis para laya. [...]
Mas qual a característica de laya? Laya é
quando as vāsanās não retornam, é o lugar do esquecimento. Mais a frente,
falando sobre o poder do nāda sobre a
mente (IV: 91-92), ele diz: O ferrão
afiado do nāda pode efetivamente controlar o elefante furioso de manas quando
quer passear no jardim dos prazeres dos objetos dos sentidos. Quando manas se
despediu de sua natureza caprichosa e foi agrilhoada pelo nāda, então citta
torna-se totalmente imóvel como um pássaro sem asas. Quando a mente se
funde com prāna, o estado de laya é obtido, resultando no cidānanda ou mokṣa, diz a Haṭhapradīpikā
(IV: 30).
Na disciplina do haṭha-yoga,
segundo as instruções de Śrī Svātmārāma Yogīndra,
é importante compreender que as práticas preliminares de prāṇāyāma (kumbhaka) são
um meio efetivo de preparo para uma perfeita execução de nāda-ānusandhāna. Na verdade, prāṇāyāma
é a técnica – do haṭha-yoga – par
excellence, e seu aspecto mais importante, a chave de todo o processo, é a kumbhaka. De acordo com a filosofia haṭha, o yogī experiente é capaz de controlar o ciclo respiratório e
aumentar o volume do alento dentro de si, de maneira que possa suspendê-lo por
horas a fio. Isso ele faz com a intenção de reter o prāṇa na profundeza mais recôndita de seu Ser – a suṣumnā-nāḍī – abrindo o infinito
reservatório da kuṇḍalinī-śakti. Yogīndra discute o prāṇāyāma, o processo de conter
a energia vital através da retenção (kumbhaka), na segunda lição (dvirtāyopadeśa) de seus apontamentos.
Nāda-Ānusandhāna
Como falei acima, a kumbhaka é a
principal técnica do haṭha para se
conter o prāṇa dentro do corpo,
instigando o profundo calor interno e
excitando a kuṇḍalinī adormecida a
sair de seu sono. Enquanto a kuṇḍalinī
ascende através da citriṇī-nāḍī e
penetra os cakras e granthis, o yogin em profunda introspecção é capaz de escutar um som sutil e interno (nādam-anta) com o
ouvido direito – ou seu equivalente sutil (Haṭhapradīpikā
IV: 67). O nāda (ou śabda) é considerado ser a própria kuṇḍalinī-śakti manifestada como som ou
vibração, tendo como um de seus títulos o termo śabda-brahman (a palavra
ou som de Brahman). Na medida em que ela ascende pelo canal axial, seu som se
torna incrivelmente mais refinado e a mente do yogin completamente absorvida no sibilo que ela produz.
Anusandhāna, às vezes pronunciada anusaṃdhāna, é traduzida como atingir algo, ter a intenção de, observar ou
prestar a atenção. Portanto, a
prática de nāda-ānusandhāna (nāda + ānusandhāna) sugere a fixação
da atenção no som interior. O propósito final da prática é equivalente ao
propósito final proposto no kriyā-yoga
de Patañjali, i.e. reduzir e dissolver a turbulência da consciência (citta-vṛtti). O resultado final sendo
conhecido como laya (absorção). De
acordo com a Haṭhapradīpikā (IV: 66),
o número de métodos para se conquistar o estado de laya conforme deliberados por Ādinātha (Śiva) é 1,25 milhões (sapāda-koṭi),
nāda-ānusandhāna sendo considerado o
mais refinado de todos.
O método envolve sentar-se na postura
de liberação (muktāsana, também
conhecida como siddhāsana) enquanto
se assume śāmbhavī-mudrā, i.e. a
concentração no objeto interior (Haṭhapradīpikā,
IV: 66). A atenção mental deve estar retraída das informações sensoriais
externas, completamente focada no nāda,
um processo que é conquistado, segundo a Jyotsnā
(IV: 68), fechando os ouvidos com os polegares de cada mão e utilizando os
outros dedos para fechar os olhos, as narinas e a boca. Isso implica que,
inevitavelmente, ocorra kevala kumbhaka.
A mente (citta), diz a Haṭhapradīpikā (IV: 90), deve estar
absorta no nāda assim como uma abelha
está absorta no trabalho de colher o néctar das flores, não se distraindo com
seus perfumes, i.e. as experiências
sensoriais externas.
श्रवण पुट नयन युगल घ्राणमुखानां निरोधनं कार्यम्
शुद्ध सुषुम्णा सरणौ स्फुटममलः श्रूयते नादः
śravaṇa puṭa nayana yugala ghrāṇamukhānāṁ nirodhanaṁ kāryam
śuddha suṣumṇā saraṇau sphuṭamamalaḥ śrūyate nādaḥ
Fechando os ouvidos, nariz, boca e
olhos, então ouvirá claramente o nāda
se movendo na suṣumṇā purificada.
Haṭhapradīpikā, IV: 68.
Ṣaṇmukhī-mudrā
Esta técnica de fechar os orifícios da cabeça com as mãos chama-se ṣaṇmukhī-mudrā (fechamento das sete
portas). A palavra é composta por duas raízes: ṣaṇ que se refere ao número sete e mukhī que significa porta
ou faces. Ṣaṇmukhī-mudrā envolve o direcionamento da consciência para dentro,
através das sete portas da percepção do mundo exterior, i.e. olhos, ouvidos,
narinas e a boca. Esta prática também é conhecida como baddha-yoni-āsana (posição da fonte fechada), devī-mudrā (atitude da grande deusa), pāraṇgmukhī-mudrā (gesto de foco interior) e śāmbhava-mudrā (gesto da equanimidade).
Técnica
Sente-se em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. Se essa posição não
lhe for confortável, escolha outro āsana
de meditação que lhe seja confortável e coloque uma pequena almofada debaixo do
períneo para fazer pressão nessa área.
Mantenha a cabeça e a coluna alinhadas.
Feche os olhos e coloque as mãos sobre
os joelhos.
Relaxe todo o corpo.
Dobre os braços à altura do rosto com
os cotovelos apontados para as laterais.
Feche os ouvidos com os dedos
polegares, os olhos com os indicadores, as narinas com os dedos médios e a boca
colocando os dedos anulares e mínimos nos lábios superior e inferior
respectivamente.
Abra as narinas, desfazendo a pressão
dos dedos médios. Inspire lenta e profundamente, usando a respiração yogī completa.
Ao final da inspiração, feche as
narinas com os dedos médios.
Retenha a respiração pelo tempo que for
confortável.
Depois de algum tempo, desfaça a
pressão dos dedos médios, abrindo novamente as narinas e expire. Isso é uma
execução. Imediatamente faça uma nova inspiração para começar uma outra
execução.
Continue realizando a prática por
algumas execuções.
Para finalizar, volte às mãos sobre os
joelhos e mantenha os olhos fechados. Lentamente comece a exteriorizar sua
consciência, percebendo os sons externos e o corpo físico.
Respiração: Esta técnica produz
grandes benefícios quando o yogin é
capaz de reter a respiração (kumbhaka)
por um longo período de tempo.
Consciência: Sua consciência deve
estar principalmente focada no bindu-visarga,
mas também pode ser colocada no ājñā
ou anāhata-cakra, entretanto, nos
momentos iniciais da prática, o mais importante é o recolhimento dos sentidos
Nota prática: Ṣaṇmukhī-mudrā é uma prática usada em nāda-yoga para observação das manifestações internas do som sutil
na região de bindu-visarga. No alto
da cabeça, na porção posterior, onde os brâmanes hindus deixam um tufo de
cabelo, está o ponto conhecido como bindu.
A palavra bindu significa ponto ou gota e visarga significa verter gota por gota. Este centro
psíquico também é conhecido como soma-cakra.
Bindu é o centro do nāda e é utilizado para concentração no
som psíquico que se manifesta nesta área. Ṣaṇmukhī-mudrā
e bhrāmarī-kumbhaka são praticados
com a concentração no bindu-visarga
para desenvolver a percepção do nāda.
Estágios do nāda-ānusandhāna
A Haṭhapradīpikā (IV: 69 ss)
identifica quatro estágios (avasthā)
principais da experiência intrapsíquica que ocorre com a prática do Yoga. Cada um destes estágios é
caracterizado pela escuta de uma manifestação particular do nāda. Na medida em que o haṭha-yogin avança por estes estágios
sucessivos, um aspecto mais sutil do som é escutado e a absorção da mente se
torna mais intensificada. No primeiro estágio, denominado ārambha, termo que se traduz como começar ou iniciar, o brahma-granthi é perfurado na região do anāhata-cakra,[1] o que engendra um
estado de bem-aventurança, levando o yogin
a experimentar o vazio (śūnya).[2] Simultaneamente, vários sons
musicais são percebidos emanando do interior do corpo como o som de guizos (anāhata-dhvani), de onde o cakra do coração deriva seu nome (Haṭhapradīpikā, IV: 70). Ao se iniciar
este estado de śūnya, o yogin passa a emanar uma deliciosa
fragrância celestial, seu corpo torna-se divinamente radiante (divya-deha) e seu coração completamente
cheio de vida e felicidade (saṃpūrṇa-hṛdaya),
ensina a Haṭhapradīpikā, IV: 71.
O segundo estágio de nāda-ānusandhāna
é nomeado ghaṭa-avasthā, que
significa pote [de água] e é caracterizado pela perfuração do viṣṇu-granthi na região do viśuddhi-cakra
e pelo escutar ou perceber no centro (suṣumnā)
o vazio mais elevado (ati-śūnya) e o
ressoar de um timbale (bherī).
O próximo estágio é paricarya-avasthā
que se traduz como familiaridade
[i.e. compreensão do som], no qual, é
dito, o nāda é como o som de um
tambor (mardala), sendo emanado de mahā-śūnya (o grande vazio), morada de
todas as siddhis, diz a Haṭhapradīpikā,
IV: 74, localizada no ponto entre as sobrancelhas. Aqui o rudra-granthi é perfurado e, no quarto estágio, niṣpatti (imobilidade), um som
semelhante a uma vina é escutado.
Estes quatro estágios (avasthā)
podem ser classificados como diferentes níveis de saṃprajñāta-samādhi, i.e. samādhi
com suporte cognitivo, pois o nāda
provê um foco de atenção para a mente
que, a cada estágio progressivo, testemunha o desvelar de um aspecto mais sutil
e refinado (sūkṣma) do som (Haṭhapradīpikā, IV: 84). O nāda também pode ser caracterizado como
um veículo que carrega a mente
através de sucessivas camadas de auto-identidade até o último estado do som
completamente inaudível (niḥśabda) de
Parabrahman (o Absoluto Supremo), a
realização do mais elevado Ser (paramātman),
Haṭhapradīpikā, IV: 101. Este estado
final, além do som ou qualquer outro fenômeno, é o asaṃprajñāta-samādhi referido por Vyāsa em seu Yoga-Bhāṣya (I: 1) e outro (anya)
estado mencionado por Patañjali em seu Yoga-Sūtra
(I: 18) como a condição em que nenhum novo saṃskāra
é gerado e onde puruṣa ou ātman reside em sua própria natureza.
Nós podemos ver que pela técnica discutida neste texto, o haṭha-yoga é uma disciplina que
compreende em seu escopo os mais elevados ideais do Yoga conforme apresentados nas primeiras Upaniṣads e posteriormente no sistema codificado por Patañjali,
assim como nas Upaniṣads do Yoga[3]
que apareceram após o período conhecido como Yoga Clássico.
Voltando ao tema central de nosso estudo, a prática de nāda-ānusandhāna está muito associada à
execução de bhrāmarī-kumbhaka ou bhrāmarī-prāṇāyāma.
अथ भरामरी
वेगाद्घोष्हं पूरकं भॄङ्ग-नादं भॄङ्गी-नादं रेछकं मन्द-मन्दम |
योगीन्द्राणमेवमभ्यास-योगाछ छित्ते जाता काछिदानन्द-लीला || ६८ ||
atha bhrāmarī
veghādghoṣhaṃ pūrakaṃ bhṝnggha-nādaṃ bhṝngghī-nādaṃ
rechakaṃ manda-mandam
yoghīndrāṇamevamabhyāsa-yoghāch chitte jātā
kāchidānanda-līlā
A Bhrāmarī.
Inspire rapidamente, produzindo o som do zangão. Em seguida, expire fazebdo
delicadamente o som da abelha. A prática regular o torna senhor dos yogīs e citta é absorvida em cidānanda.
Haṭhapradīpikā, II: 68
Bhrāmarī-prāṇāyāma
Bhrāmarī significa aquilo que pertence à abelha (ou besouro), no que se refere ao seu som. A técnica recebe este nome
porque sua execução é acompanhada por um zumbido semelhante ao de uma abelha (Haṭhapradīpikā, II: 68). Este prāṇāyāma é praticado em conjunto com a ṣaṇmukhī-mudrā, explicada acima. Isso
intensifica o efeito do zumbido. Na Gheraṇḍa-Saṃhitā
(V: 78-79), contudo, bhrāmarī denota
um dos sons internos que espontaneamente se tornam audíveis através da prática
contemplativa do prāṇāyāma em um
local calmo e tranqüilo.
Técnica
Sente-se de preferência em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana.
A coluna vertebral deve estar ereta, a cabeça no prolongamento da coluna e as
mãos descansando sobre os joelhos em cin
ou jñāna-mudrā.
Feche os olhos e descanse todo o corpo
por algum tempo.
Os lábios devem permanecer fechados e
os dentes levemente separados durante toda a prática. Isso faz com que a
vibração sonora seja escutada e sentida de maneira distinta pelo cérebro.
Eleve os braços lentamente e flexione
os cotovelos, trazendo às mãos de encontro às orelhas. Use o dedo indicador ou
o médio para fechar os ouvidos.
Foque a consciência no centro da
cabeça, onde ājñā-cakra está
localizado e mantenha o corpo absolutamente estável.
Inspire pelas narinas. Expire
lentamente de forma controlada, fazendo um profundo e contínuo zumbido
semelhante ao de abelhas.
Este zumbido deve ser regular, modulado
e contínuo durante toda a expiração. O som deve ser suave e agradável, fazendo
reverberar a parte frontal do crânio.
Ao final da expiração, as mãos podem
ser mantidas na posição ou retornar aos joelhos até a próxima execução.
A inspiração e expiração devem ser
prolongadas e controladas.
Isso é uma execução.
Nāda-ānusandhāna-āsana
Nāda-ānusandhāna-āsana é uma variação para a prática de bhrāmarī-prāṇāyāma, cujo objetivo é o
aprofundamento no nāda. É uma prática
preparatória para nāda-yoga, sistema
que utiliza as sutis vibrações sonoras internas para conectar o praticante com
sua verdadeira natureza.
Técnica 1:
nāda-ānusandhāna-āsana & bhrāmarī-prāṇāyāma
Sente-se em cócoras sobre uma manta
enrolada. Coloque os pés bem apoiados no solo, os joelhos elevados e os
cotovelos apoiados sobre os joelhos. Feche os ouvidos com os dedos polegares e
deixe os outros dedos tocando a cabeça.
Essa posição dá bastante estabilidade
sem esforço algum quando se pratica por um longo período de tempo.
Nesta técnica 1, respire como acima
indicado ao executar bhrāmarī-prāṇāyāma.
Consciência: Durante a prática, mantenha
sua consciência na reverberação do som dentro da cabeça e no bindu-visarga.
Técnica 2: acrescentando
antara-kumbhaka
Inspire lenta e profundamente.
Retenha o ar nos pulmões com a
consciência focada no bindu-visarga o
quanto for possível.
A expiração deve ser confortável e
prolongada para envolver a mente no som reverberado.
Nota prática: A retenção com ar deve
ser aumentada gradativamente, de forma ajudar ampliar a introspecção e a
concentração. Não force a kumbhaka;
no início, um ou dois minutos são o suficiente e, com o aperfeiçoamento da
técnica, lentamente a duração pode ser aumentada.
Técnica 3: acrescentando
bandhas
Antes de acrescentar bandha nesta prática, lembre-se de que
eles devem ser aperfeiçoados individualmente.
Uma vez que antara-kumbhaka seja assimilado, jālaṃdhara e mūla-bandha
podem ser incorporados.
A forma completa de jālaṃdhara pode ser realizada se as mãos
retornarem aos joelhos entre as execuções. Se as mãos forem mantidas elevadas,
fechando os ouvidos, pratique a forma simples.
Inspire suave e prolongadamente.
Pratique jālaṃdhara e mūla-bandha
durante a retenção com ar. Desfaça mūla e
jālaṃdhara-bandha e expire executando
bhrāmarī-prāṇāyāma. Isso é uma
execução.
Uma vez que os bandhas possam ser executados com proficiência, aumente a
quantidade de execuções.
Nota prática: Não execute bandhas associados a prāṇāyāmas sem a orientação de um
professor experiente ou guru.
A prática do nāda-yoga
A prática que se segue é um método de se penetrar nas camadas mais
profundas da mente utilizando o som como foco. O Yoga acredita que as diferentes camadas da mente e do corpo são
manifestações de um número incontável de sons e vibrações que se permutam e se
combinam. Em outras palavras, a mente e o corpo são solidificações do som.
Essa prática leva o yogin
progressivamente através das manifestações sutis do som. É um excelente
exercício para se induzir pratyāhāra
(dissociação da mente do ambiente externo e dos sentidos), induzindo o
praticante a estados profundos de meditação. Assim como a música cria estados
alterados na consciência, o nāda
altera o fluxo de percepção interna, penetrando na mente até suas camadas mais
sutis.
Prática preliminar de nāda-yoga
Estágio 1: Preparação
Sente-se em nāda-ānusandhāna-āsana.
Mantenhas as costas eretas e a cabeça
no prolongamento da coluna.
Feche os ouvidos com os polegares.
Relaxe todo seu corpo e sua mente.
Sinta-se completamente em paz. Encontre
dentro de você uma paz silenciosa.
Esteja no presente. Traga a sua
consciência integrada para o aqui e o agora.
Corpo, respiração e mente trabalhando
em uma só sintonia.
Estágio 2: O zumbido da
abelha
Inale profundamente e, enquanto exala
prolongadamente, faça o zumbido da abelha.
Mantenha os dentes levemente separados
e a boca completamente fechada.
Sinta o zumbido da abelha vibrando por
toda sua cabeça, desde sua garganta até o topo.
Prolongue ao máximo sua exalação, de
maneira bem suave.
Mantenha sua mente completamente focada
na vibração sonora do zumbido da abelha.
Continue esta prática por cinco
minutos.
Estágio 3: Percepção
interna do som sutil
Agora, pare o zumbido da abelha.
Tente escutar qualquer som sutil
internamente, qualquer som.
Ouça profundamente.
Quando identificar o som, você notará
que ele se torna mais claro. Se aprofunde nessa concentração.
Mantenha sua mente completamente focada
neste som. Escute-o com cuidado (pausa).
Se sua audição for sensível em demasia,
você poderá escutar outro som, bem no fundo, atrás do som em que você se
concentra.
Ele pode ser bem lânguido, mas ainda
sim bem perceptível.
Desfaça a concentração no primeiro som
e se concentre no som que emerge atrás dele. Transcenda o primeiro som e
experimente percepção calma e tranqüila do segundo som (pausa).
Se você desenvolveu sua sensibilidade e
percepção, novamente pode estar escutando um terceiro som, ainda mais sutil.
Desfaça a concentração no segundo som e
se concentre completamente neste terceiro som, ainda mais sutil.
Consciência total neste terceiro som.
Deixe que ele ocupe toda sua atenção (pausa).
Quando perceber um novo som, ainda mais
sutil, dirija sua consciência para ele.
Quanto mais sutil for o som que você
perceber, mais profundamente você irá adentrar as profundezas de sua mente.
Estágio 4: Fim da prática
Inspire e expire. Vagarosamente vá
trazendo sua consciência para o exterior.
Torne-se consciente de todo seu corpo e
do ambiente ao seu redor.
A prática está completa.
Hari
Om Tat Sat
Com a prática, esta técnica pode levá-lo diretamente aos estágios mais
profundos de meditação. Se nenhum som for escutado nas primeiras vezes que
executar a técnica, faça um esforço para não desistir. Com o tempo vem o
progresso e você irá transcender os sons exteriores mais grosseiros e até mesmo
os sons internos mais sutis.
Notas:
[*] Na tradição Bihar Yoga, não
se utiliza sinais diacríticos nas palavras em sânscrito ao produzir um texto.
Eles são utilizados somente quando, por exemplo, existe a descrição de um mantra. Nem mesmo na transcrição do devanāgarī para os caracteres romanos
coloca-se os sinais diacríticos. Entretanto, neste escrito, optei por
utilizá-los.
[1] Em outros textos tântricos como o Ṣaṭ-Cakra-Nirūpaṇa,
o brahma-granthi é localizado no mūlādhāra-cakra.
[2] O significado literal de śūnya
é vazio, vácuo, livre. Quando o
termo é aplicado a um estado intrapsíquico, estas traduções falham em capturar
seu verdadeiro significado. Como ākāśa,
śūnya é melhor traduzido como uma expansibilidade ou espaço, que carece de um conteúdo individualmente objetivo.
[3] No que concerne as Upaniṣads,
é uma má compreensão identificar o Yoga
como uma categoria distinta de Upaniṣad,
pois o tema central de todas as Upaniṣads é Yoga, i.e. se entendemos o Yoga
como um meio de união e identidade de ātman
com Brahman e o caminho para se
atingir essa última realização. Entretanto, Upaniṣads
do Yoga é uma maneira conveniente e abreviada de se referir àquelas Upaniṣads menores que tratam mais
especificamente dos canais de energia (nāḍī),
os centros de poder (cakra) do corpo
sutil, a repetição (japa) de mantras, a meditação sobre o sagrado oṃ, bem como práticas de āsana e prāṇāyāma. Estes textos apresentam um conteúdo primordial que foi,
com o passar do tempo, diretamente associado às práticas do haṭha-yoga, tendo sido tratado apenas de
forma oblíqua ou fragmentada nas Upaniṣads
mais antigas. No que se relaciona ao presente estudo, podemos fazer um paralelo
com a Maitri-Upaniṣad, conectada ao Kṛṣṇa-Yajur-Veda (Yajur-Veda negro), pois, de todas Upaniṣads anteriores, ela é a que contém uma descrição mais
explícita da metodologia que se assemelha aquela apresentada nos trabalhos de haṭha que surgiram posteriormente. Nesta
Upaniṣad é considerável notar a
íntima conexão entre o fluxo do prāṇa
e a instabilidade da mente, a ênfase no prāṇāyāma
como o método mais efetivo de concentrar e silenciar a mente (Maitri-Upaniṣad, VI: 19), assim como a
menção de levar a ponta da língua no palato mole atrás da úvula, estancando a
descida do bindu, o néctar sutil e
vital liberado através do soma-cakra.
Atenção é dada a canalização do prāṇa
ao longo de suṣumnā-nāḍī, que é dito
penetrar através do palato mole focado na potente sílaba oṃ, conduzindo a mente a morada de Brahman (Maitri-Upaniṣad,
VI: 21). Imergindo-se no som interior, nesta Upaniṣad referido como śabda-brahman,
o adepto é lançado a condição inaudível do puro Brahman (Maitri-Upaniṣad,
VI: 22). Isso nos parece ser exatamente o mesmo método referido como nāda-ānusandhāna discutido enfaticamente
na Haṭhapradīpikā.
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Meditations from the Tantras. Bihar, Índia: Yoga
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SOUTO, Alicia. A
Essência do Hatha Yoga. São Paulo, SP. Phorte Editora, 2009.
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