domingo, 20 de julho de 2014



Fernando Liguori


Um aspecto importante do Tantra se baseia nos mantras, yantras e maṇḍalas e até mesmo na Índia existem diferentes categorias. Comprovadamente na vida de muitos sādhakas, sempre que eles se aprofundam no mantra-sādhanā é notado que suas mentes se tornam mais pacíficas. Uma vez que as agitações, os vṛttis, se pacificam, uma nova percepção e energia na mente se desenvolve de forma poderosa. Com essa força, torna-se possível transmitir pensamentos e sentimentos, energias de cura, a imagem de uma pessoa e até desenvolver a projeção astral. Existem aqueles que abusam dos mantras a fim de manipular e ganhar controle sobre outras pessoas, por razões egoístas, não para a iluminação. Este é o lugar onde os mantras tântricos são equiparados à magia.

O conceito clássico de magia nos diz que é possível causar mudanças na natureza que estejam em concordância com nossa vontade. O conceito comum e aceito pela grande maioria das pessoas é que a magia pode nos dar controle sobre outras pessoas de acordo com nossos desejos, subjugá-las e mantê-las sob nosso controle. Mas a magia de um nível superior sempre propicia o natural, o dharma, de maneira que as forças cósmicas sejam benevolentes e nos ajudem a evoluir. Sempre que mantras são praticados na ausência de direção correta, na ausência de um guru ou professor qualificado, na ausência de uma fundação espiritual adequada, as energias da mente se manifestam de forma desajustada. Nesse caminho, de acordo com a nossa evolução e mentalidade, vamos fazer uso dessa energia de forma negativa ou positiva. Geralmente é de forma negativa, pois nossos motivos são egoístas e orientados a satisfação de nossos desejos mais vulgares.

Hoje, no mercado, estas coisas são projetadas como Tantra: mantras para superar diferentes males, para ganhar debates, para vencer no tribunal, para uma vida conjugal feliz. Há uma grande coleção à disposição. Mas o objetivo real é usar as faculdades da mente para evoluir, não por motivos pessoais, mas para propiciar e harmonizar as energias que estão desajustadas e descontroladas em nós como na natureza e no cosmos.

O segundo aspecto do Tantra é o yantra. Yantras são símbolos. Na verdade, o mundo inteiro, toda a criação nada mais é do que uma expressão simbólica do poder cósmico. O corpo é um yantra. As construções são yantras. O desenho de uma flor é um yantra. O lugar das estrelas e dos planetas no universo forma um yantra. Toda a criação é um yantra. Yantra também significa algo que está em constante evolução e que se torna um veículo, um meio, uma ferramenta para a evolução da consciência cósmica de que um indivíduo faz parte.

A invocação do poder dos yantras é outro aspecto importante do Tantra. Existe um potencial, uma possibilidade de manifestação em cada símbolo. Tome a semente por exemplo. Externamente uma semente não representa nada, mas dentro dela existe o potencial para o crescimento de uma árvore enorme. Do mesmo modo, os símbolos são as possibilidades de maior expressão. Se uma semente é plantada, alimentada e nutrida, há a possibilidade de que ela vá brotar e nascer uma grande árvore. Em um terreno árido uma semente não poderá se desenvolver.

A mesma coisa acontece com o corpo e aqui me refiro também a toda personalidade. Se cuidamos do corpo, as energias, os prāṇas, a mente, a natureza, tudo receberá cuidados. Mas se ignoramos o corpo, ele torna-se uma casa de sofrimento: problemas mentais, físicos, emocionais, psíquicos, sociais etc., o mau gerenciamento da vida. Tudo pode acontecer. De certa forma, o Yoga é um processo onde o corpo e toda personalidade tornam-se aptos ao crescimento, desenvolvimento e evolução. A meditação é um processo que propicia a psique torna-se apta a experiência de crescimento, desenvolvimento e iluminação. Da mesma forma, o Tantra lida com despertar potencial dos yantras, que são de natureza física e cósmica.


O terceiro aspecto do Tantra é a maṇḍala. Depois de termos identificado às sementes individuais, tentamos ver toda a criação de uma visão mais ampla, na forma de uma maṇḍala. A maṇḍala é uma figura muito complexa que engloba muitas ideias, conceitos, teorias e sistemas, de modo que se torna uma parte da realidade microcósmica e macrocósmica. Por exemplo, nos tankhas budistas é possível encontrar céu, terra, inferno, demônios, seres humanos, divindades, animais e elementos naturais retratados em uma maṇḍala. Nas maṇḍalas tântricas também é possível encontrar os conceitos de céu, terra, inferno, demônios, deuses, elementos, natureza e as diferentes formas de criação de insetos até o divino. O sādhanā da maṇḍala nos permite – já que somos a realidade microcósmica – estar unidos a realidade macrocósmica. Em resumo, podemos dizer que mantra, yantra e maṇḍala são os três componentes principais do Tantra. 

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