terça-feira, 22 de julho de 2014




Fernando Liguori


A série de artigos «Vida de Yoga» está sendo escrita para responder inúmeras perguntas enviadas pelos leitores do blog Yoga Dṛṣṭi. Temas como o propósito do Yoga na vida, a integração de suas práticas no dia-a-dia de forma equilibrada para que atuem na mente, corpo e espírito, a relação entre o guru e o discípulo, sādhanā, disciplina e estilo de vida yogī etc. Nessa direção, o Yoga Dṛṣṭi apresenta o Yoga na forma de uma medicina sagrada, um remédio em cápsulas a ser tomado todos os dias. Para nós, Yoga é prática, Yoga é sādhanā, Yoga é estilo de vida, Yoga é cultura.


No aṣṭāṅga-yoga de Patañjali, yama e niyama vêm antes de āsana e prāṇāyāma. É possível executar com impunidade as outras técnicas sem antes ter adquirido proficiência em yama e niyama? De acordo com o pensamento mais tradicional não. Yama e niyama são requerimentos essenciais para execução proficiente dos outros aṅgas: āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra, dhāraṇā, dhyāna e samādhi. Contudo, nos aspectos práticos da vida em que vivemos nos dias de hoje, yama e niyama somente podem ser executados apropriadamente após um nível considerável de integração mental e psíquica, quer dizer, somente após as práticas de āsana, prāṇāyāma, pratyāhāra e dhāraṇā.

Quando Patañjali foi questionado sobre «o que é yoga?», em seu primeiro sūtra ele disse: «é uma disciplina». Quando foi questionado novamente sobre «que tipo de disciplina», ele respondeu no segundo sūtra: «é o controle das modificações da mente». Portanto, certo grau de disciplina espiritual deve ser adquirido, tanto externo quanto interno, a fim de superar as tendências flutuantes da mente, conhecidas como vṛttis. Até que certa integração e purificação ocorram, a prática do yoga está incompleta.

É urgente compreender que a inspiração para seguir yama e niyama não é algo que deva ser imposto ou até mesmo buscado, mas deve ser formulada de dentro para fora a partir de certa integração entre a mente e o espírito. No percurso nos é aconselhado sermos mais compassivos e verdadeiros, não causar dano ao próximo etc., mas nos encontramos incapazes de seguir estas instruções por conta das várias situações que enfrentamos como sociedade na vida, situações prejudiciais ao crescimento de nossas faculdades positivas. Yama e niyama representam o aspecto positivo de nossa personalidade.

As pessoas vêm até o yoga pelas mais distintas razões. Nem todos se aproximam interessados em controlar as flutuações da mente ou evoluir espiritualmente. Cada indivíduo tem suas próprias necessidades de acordo com seu estágio evolutivo. Algumas pessoas necessitam manter a saúde do corpo. Outros precisam de equilíbrio, tranquilidade e paz na mente. Alguns necessitam de contentamento, satisfação e bem-aventurança. Portanto, as necessidades de um indivíduo são categorizadas como físicas, psicológicas e espirituais. Isso não é uma regra, mas a maioria das pessoas segue nesse curso.

Portanto, para as necessidades atuais, a ordem do aṣṭāṅga-yoga de Patañjali passa por uma peque alteração: āsana para um entendimento do annamaya-kośa, a experiência da matéria e prāṇāyāma para um entendimento do prāṇamaya-kośa, a experiência da energia. O equilíbrio entre matéria e energia é conquistado através de āsana e prāṇāyāma. Depois vem pratyāhāra e dhāraṇā a fim de elevar a mente ao ponto onde o processo de integração ocorra: a auto-observação consciente do panorama da vida e o processo de aprendizado e maturação das faculdades mentais a fim de, concentradas, interromper as flutuações da mente. Pratyāhāra e dhāraṇā auxiliam no equilíbrio das atividades do manomaya-kośa, a experiência da mente e do vijñānamaya-kośa, a experiência do intelecto superior. Assim, a partir desses quatro aṅgas, esperançosamente algum tipo de integração e purificação ocorrerá.

Quando certo nível de purificação e integração é adquirido na personalidade e portanto na vida, os próximos aṅgas naturalmente se tornam yama e niyama, onde as qualidades positivas começam a se manifestar gradualmente, naturalmente e espontaneamente. Quando se conquista um senso de equilíbrio, disciplinas superimpostas não são mais necessárias. Na verdade, a disciplina ocorre por si mesma quando o equilíbrio interior é conquistado. Nesse sentido, yama e niyama se tornam expressões espontâneas da vida, o resultado final de uma personalidade integrada. Quando essas qualidades e energias se manifestam de forma espontânea, a mente naturalmente entra em estado meditativo que, posteriormente transforma-se em samādhi. Assim, o sistema de yoga prescrito por Patañjali sofre uma pequena alteração de acordo com as diferentes necessidades e demandas dos dias atuais.

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