segunda-feira, 7 de julho de 2014




Fernando Liguori


A série de artigos «Vida de Yoga» está sendo escrita para responder inúmeras perguntas enviadas pelos leitores do blog Yoga Dṛṣṭi. Temas como o propósito do Yoga na vida, a integração de suas práticas no dia-a-dia de forma equilibrada para que atuem na mente, corpo e espírito, a relação entre o guru e o discípulo, sādhanā, disciplina e estilo de vida yogī etc. Nessa direção, o Yoga Dṛṣṭi apresenta o Yoga na forma de uma medicina sagrada, um remédio em cápsulas a ser tomado todos os dias. Para nós, Yoga é prática, Yoga é sādhanā, Yoga é estilo de vida, Yoga é cultura.


Āsana e prāṇāyāma antes do café da manha

A segunda dose do remédio prescrito pelo Dr. Yoga é āsana e prāṇāyāma. Após fazer sua higiene pessoal e executar suas purificações diárias, execute āsana e prāṇāyāma antes do café da manha. A maioria dos estudantes têm dúvida sobre quais as posturas executar no curso do sādhanā. Como aprendem muitas posturas do básico ao avançado, apresentam dificuldades e escolher as posturas corretas para sua prática. A grande maioria escolhe algumas posições – nem sempre adequadas a sua estrutura – e as praticam por algum tempo. Cansados da monotonia da repetição, em pouco tempo escolhem outras posturas e se esquecem de terminar o trabalho com as anteriores. Isso é falta de continuidade no programa do sādhanā. Na falta de continuidade, os efeitos são apenas físicos, atuando nos músculos e articulações.

De uma perspectiva yogī, apenas cinco āsanas são consideradas importantes para uma pessoa normal que busca por bem-estar geral e que não esteja tentando superar alguma dificuldade, problema ou doença. Imagine, por um momento, todos os movimentos essenciais que seu corpo faz ao longo do dia. De quantas maneiras distintas é possível movimentar o corpo durante as atividades do dia? Alongamento, flexão para frente, para trás e para os lados. Torção. Estes são os movimentos essenciais que seu corpo executa durante o dia. Existem posturas que auxiliam a equilibrar o corpo e elas deveriam ser praticadas bem cedo pela manha. Quando dormimos a noite, devido à falta de movimento, certos ácidos como o láctico se acumulam em diferentes partes do corpo e esse acúmulo provoca rigidez. O corpo precisa ser liberado e para isso seus movimentos essenciais devem ser executados.



Tadāsana

Comece com a tração de tadāsana. Ela irá alongar os músculos e as articulações. Essa postura elimina a tensão física gerada pelas compressões da coluna e das articulações: joelhos, quadris, cintura, pés e tornozelos. Posturas de tração são muito úteis para abrir as articulações, alongar os músculos, expandir os nervos e os órgãos internos e aumentar a circulação sanguínea. Nessa expansão, a respiração torna-se mais fácil e a rigidez nas articulações, ombros e costas se dissipa. O movimento dessa postura deve ser feito em dez repetições no mínimo, de maneira lenta, controlada e regulada. A cada novo movimento o corpo deve tentar alongar um centímetro a mais.

Lembre-se, se você quer benefícios físicos, os āsanas têm de ser executados dinamicamente. Quando as posturas são feitas de forma dinâmica, afetam a estrutura muscular, óssea e nervosa. Se você busca resultados mais sutis, prânicos, então os āsanas têm de ser executados de maneira vagarosa, com concentração e consciência. Cada movimento deve ser observado e compreendido. Nenhuma postura deve ser executada mecanicamente.



Tiryaka-tadāsana

A segunda postura, seguindo o movimento anterior inclinando-se para os lados esquerdo e direito, é tiryaka-tadāsana. No movimento de tiryaka-tadāsana ocorre ao mesmo tempo no corpo compressão e alongamento. A compressão em um dos lados do corpo cria um efeito esponjoso nos órgãos. Quando apertamos uma esponja ela retorna a sua forma original. E se apertamos de novo, ela novamente retorna a sua forma. Da mesma maneira, quando se inclina no movimento de tiryaka-tadāsana, os órgãos de um lado do corpo são comprimidos enquanto que os órgãos do outro lado são estendidos, bem como os músculos e nervos. Esse movimento de expansão e compressão massageia os órgãos, o que provoca inúmeros benefícios como, por exemplo, o sangue estagnado em algum órgão rapidamente é liberado, permitindo sua renovação com o sangue fresco. Toda a lateral do corpo, dos braços as pernas, é alongada.

Execute este movimento no mínimo dez vezes. A cada inclinação tente descer um pouco mais, alongar um pouco mais até seu limite máximo, permanecendo até que esteja confortável. É uma postura que trabalha diretamente sobre o fígado, rins, estômago, intestino delgado e grosso.



Kati-cakarāsana

A próxima postura é kati-cakarāsana, uma torção. Quando uma toalha está encharcada, a torcemos para tirar o excesso de água. Da mesma maneira, nessa postura torcemos o corpo para os dois lados, promovendo um movimento de deslocamento das vértebras da coluna sobre seu próprio eixo.

Da mesma maneira que pilastras e estruturas de metal suportam um edifício, a coluna suporta o corpo. Para que as pilastras suportem o edifício, elas devem estar completamente eretas. Se houver alguma pilastra fora do eixo, o edifício virá a baixo. As pessoas têm o hábito de permanecerem curvadas a maior parte do tempo, sentando-se de forma inapropriada na maioria das vezes. Seu pilar principal se encontra «torto». É necessário endireitar o pilar, mantê-lo ereto e isso não acontece sentando-se de forma correta somente, pois mesmo tentando sentar-se corretamente, ainda sim, a postura pode ser inapropriada. Você pode puxar os glúteos para endireitar os ísquios, projetar o peito para fora e expandir as vértebras dizendo, «agora estou sentado corretamente, com as costas eretas», mas em verdade isso não é uma tarefa tão fácil assim porque ninguém tem a estrutura da coluna completamente ereta.

Devido ao movimento da torção, kati-cakarāsana realinha toda coluna para que seu alinhamento natural seja devolvido. Uma vez que a espinha retorna a sua forma natural, seus complexos nervosos carregam os impulsos aos órgãos e cérebro de maneira muito branda. A postura promove uma conexão e coordenação perfeita entre os impulsos nervosos, o cérebro e os órgãos.

É possível criar diferentes efeitos na espinha mantendo as pernas fechadas ou abertas. Quando as pernas estão afastadas, o efeito da torção é mais intenso na parte de baixo da coluna, na região da cintura. Quando as pernas estão próximas, o efeito da torção abrange toda extensão da coluna, afetando o corpo todo. Com o tempo, é possível sentir os músculos e articulações sendo torcidos e comprimidos. A postura provê quantidade extra de sangue fresco em todas as partes do corpo, proporcionando uma sensação de leveza e energização.

Seguindo na sequência dos movimentos essenciais da coluna, passamos a flexão e retroflexão, que podemos executar através do sūrya-namaskāra.

Sūrya-namaskāra

O sūrya-namaskāra é um sādhanā completo é pois contém āsana, prāṇāyāma, mantra e pode ser considerado uma técnica meditativa. É um excelente grupo de posturas para se praticar pela manhã, pois tem um direto efeito vitalizante sobre a energia solar no corpo «piṅgalā-nāḍī». A prática sistemática regula piṅgalā-nāḍī, esteja ela hipoativa ou hiperativa. Sua regulação conduz ao equilíbrio do sistema energético, tanto no nível físico quanto no nível mental. É uma maneira efetiva de relaxar, alongar, massagear e tonificar todas as articulações, músculos e órgãos internos do corpo. Sua versatilidade e aplicação o torna um dos mais usados métodos para induzir uma vida saudável, vigorosa e ativa, ao mesmo tempo em que nos prepara para o despertar espiritual e expansão da consciência.

Na medida em que o corpo flexiona para frente e para trás, toda a extensão do corpo é alongada, aplicando pressão em diferentes plexos nervosos. Por exemplo, na segunda postura, hasta-uttānāsana, o corpo inclina-se para traz, criando ao mesmo tempo compressão e alongamento na região do pescoço, atuando sobre o viśuddhi-cakra. Em seguida, na terceira postura, pādahastāsana, o corpo inclina-se para frente, estimulando o maṇipūra-cakra. Dessa maneira, cada postura, cada movimento, afeta, influência e altera o fluxo prânico nos cakras.

Na quarta e nona postura, aśwa-saṃcalanāsana, quando ocorre a contração de um lado do corpo e o alongamento do outro, iḍā e piṅgalā-nāḍīs são estimuladas. Quando estes canais de energia estão regulados e equilibrados é possível sentir a energia e o vigor aumentando porque os prāṇas se tornam mais ativos e operam nos seus respectivos lugares. O mais impressionante é que o sūrya-namaskāra provê um aumento considerável na energia, por tornar mais ativo o prāṇa-śakti.

Swāmi Niranjan conta que em sua juventude, vivendo com seu guru, Swāmi Satyānanda, durante um bom tempo seu sādhanā era apenas a execução do sūrya-namaskāra, 108 vezes. Ele diz que no início, quando as atividades do aśram estavam em seus primórdios, a vida era muito difícil, todos passavam muita dificuldade e às vezes não tinham o que comer. Nesse período, Swāmi Satyānanda colocava todos os saṃnyāsins para executarem, duas vezes ao dia, 108 ciclos do sūrya-namaskāra. Sua intenção era suplantar a necessidade de energia e vigor físico por conta da falta de alimento. Swāmi Niranjan relata que essa prática era o suficiente para mantê-los no seva o dia todo, sem a necessidade de muita alimentação. Nas suas palavras: «Não me pergunte como, mas aumentando o caudal de prāṇa no corpo nos permitia suportar todo o dia sem comer nada. Eu pude comprovar em meu corpo, mente e emoções o poder revigorante do sūrya-namaskāra

Até aqui nós seguimos os movimentos essenciais da coluna por estas posturas: tração, inclinação lateral, torção, flexão e retroflexão. Para finalizar esse conjunto de posturas para pessoas normais, inclui-se a parada sobre os ombros ou, mais corretamente, postura de todos os membros, sarvāṅgāsana.



Sarvāṅgāsana

Essa é uma postura invertida. Durante todo o dia nos encontramos sobre os pés. Nessa posição o sangue flui o tempo todo para baixo. Quando executamos sarvāṅgāsana, o fluxo sanguíneo se reverte, aumentando as capacidades cerebrais e o foco da mente. Comece com alguns minutos apenas, contando sua respiração. Com o tempo conseguirá se manter na postura ao ponto do sangue fresco inundar o cérebro. Geralmente, cinco minutos são o suficiente.

Cuidado: iniciantes devem permanecer na postura por apenas onze fôlegos. Pessoas com tendência a hipertensão, problemas cardiovasculares, espondilite ou ombros e pescoço frágeis não devem executar essa postura.

Estas são as posturas adequadas a uma pessoa comum a fim de se manter o bem-estar e a saúde física. Para essas pessoas não há a necessidade de outras posturas. A execução delas não passa de quinze minutos. Essa é a prática diária de āsanas. Outras posturas podem ser inclusas e isso fica a seu critério. Mas para manutenção da estrutura física, remoção de tensões, rigidez e dores, regulação do fluxo sanguíneo e ativação do fluxo energético nos cakras, essas posturas são o suficiente.

Embora o Yoga não seja terapia, ele promove saúde e bem-estar, proporcionando um corpo energizado e leve. Quando a saúde aumenta, inúmeras doenças podem ser evitadas.

Após a execução dos āsanas inicia-se os prāṇāyāmas. No senso comum, exercícios respiratórios são chamados de prāṇāyāma, mas isso é incorreto. Prāṇāyāma é um nível, um estágio onde o yogī despertou e tem controle total sobre o prāṇa. A práticas respiratórias oferecidas pelo Yoga são chamadas de prāṇa-nigraha. A palavra nigraha significa controle. Portanto, controle do prāṇa. Como a respiração é a conexão mais próxima que temos com o prāṇa, podemos dizer que prāṇa-nigraha eleva a capacidade pulmonar e o controle da extensão da respiração. Veja o artigo Prāṇa, Prāṇa Nigraha & Prāṇāyāma.

Seguindo a prática de posturas, dois exercícios respiratórios são importantes.



Nāḍī-śodhana-prāṇāyāma

A primeira prática respiratória é o nāḍī-śodhana-prāṇāyāma, a respiração alternada pelas narinas. Algumas pessoas chamam essa prática de anuloma-viloma. Anuloma significa inspirar e anuloma significa expirar. Portanto, anuloma-viloma é o que todos nós fazemos o tempo todo, não um prāṇāyāma. Inspire pela narina esquerda e expire pela direita; inspire pela narina direita e expire pela esquerda. Isso é um ciclo. Pratique dez ciclos dessa respiração e a cada vez tente aumentar a inspiração e expiração. Os yogīs consideram que o nāḍī-śodhana-prāṇāyāma está perfeito quando a extensão da inspiração equivale à recitação do gāyatrī-mantra. Isso leva mais ou menos trinta segundos e somente praticantes avançados chegam a esse ponto.

Quando existe regularidade na prática e o controle da extensão da inspiração e expiração, nāḍī-śodhana-prāṇāyāma acalma a agitação dos nervos e as ondas cerebrais. Auxilia no controle da ansiedade nervosa e cerebral, além de limpar as passagens nasais. Portanto, esse exercício respiratório deve ser uma prática regular para todos que iniciam o caminho do sādhanā. Swāmi Niranjan diz: «Quando você se sentir confuso, com a mente tumultuada e o cérebro fatigado, pratique nāḍī-śodhana-prāṇāyāma

Swāmijī conta que quando estava vivendo na Austrália, por volta de 1977, participou de alguns testes com a foto Kirlian. Ele conta que durante um tempo um grupo de cientistas faziam visitas no aśram duas vezes por dia, pela manha e a tarde. Nos testes da manha eles mediam o campo psíquico dos saṃnyāsins antes das tarefas e a tarde, após as tarefas. Os saṃnyāsins que executavam nāḍī-śodhana-prāṇāyāma antes da medição da tarde tinham o campo psíquico duas vezes maior do que aqueles que não executavam a prática respiratória.



Bhrāmarī-prāṇāyāma

A segunda prática respiratória é o bhrāmarī-prāṇāyāma, uma técnica de respiração onde nos concentramos em um zumbido que acompanha a expiração. Tampe os ouvidos com os dedos indicadores. Inspire completamente. Ao expirar, mantenha os lábios fechados e os dentes separados. Na medida em que o ar sai, entoe o som «hum», semelhante ao zumbido de uma abelha, concentrando-se na vibração no centro da cabeça. Faça dez vezes.

Bhrāmarī-prāṇāyāma é ótimo para quem sofre de pressão alta ou hipertensão. Sua execução trinta vezes pela manha e mais trinta antes de dormir reduz o doṣa vāta drasticamente. A melatonina, hormônio que regula o sono, é produzida enquanto estamos em sono profundo, por volta das duas e quatro horas da madrugada. Pesquisas científicas com as técnicas do Yoga comprovaram que a execução regular de bhrāmarī-prāṇāyāma ativa e estimula a secreção da melatonina. Este hormônio auxilia no relaxamento das tensões cerebrais e mentais, induzindo um estado de repouso e paz.

Estes foram os āsanas e prāṇāyāmas para execução diária. A prática total não passa de vinte minutos.

O que se segue é uma seção de perguntas e respostas. A maioria das perguntas foram enviadas por e-mail por diversos leitores do blog Yoga Dṛṣṭi. O leitor pode achar o assunto repetitivo, mas procurei não editar a ênfase. Deixei cada pergunta e minha resposta no original. Selecionei perguntas pertinentes aos assuntos tratados nessa série de artigos, Vida de Yoga.

Adendo: perguntas e respostas

Olá professor, li um artigo no seu blog que me intrigou muito: “Supletivo de Yoga”. Sou praticante de yoga e segundo o seu ponto de vista, como faço para viver como um yogi?

Gratidão pela mensagem. O meu ponto de vista é o ponto de vista do Yoga. Primeiro, o que é um yogī? O yogī é exatamente aquilo que ele é, e não precisa fingir que ele é quem ele mesmo não é. Perceber o mundo sem interferência de opiniões alheias (externas e internas) e agir com autenticidade e espontaneidade são características de um yogī. Portanto, se você quer ser um bom yogī, o melhor caminho sempre é seguir o bom senso. O yogī é aquele que utiliza o bom senso e não aquele que segue um padrão de comportamento, pensamento e direção. No Yoga esse bom senso é chamado de viveka, que significa discriminação. Em um estado de presença no agora, «o que é certo?», «o que não é certo?», «o que deve ser feito agora?», «o que pode ser feito depois?», «minha reação pode causar um problema maior?» etc. Mas viveka ocorre somente no seu exercício. Portanto, comece a seguir o bom senso. Isso é mais importante que seguir as instruções do guru ao pé da letra ou executar um sādhanā sistemático e rigoroso.

O Yoga começa com o desenvolvimento de duas qualidades: viveka e vairāgya. Viveka é lucidez, discriminação ou conhecimento, entendimento correto. Vairāgya é desapego ou mais corretamente, consciência objetiva. Vairāgya é um estado de consciência objetiva sobre todos os aspectos da vida: sentimentos, família, emprego, amigos, vizinhos, posses etc. Somente após o desenvolvimento dessas qualidades é que a mente começa a se purificar.

Os celebrados yamas e niyamas de Patañjali são o resultado dessa proficiência yogī no processo cognitivo e no olhar perante a vida. O seva ao guru é o resultado deste alto nível de consciência objetiva e através do exercício do serviço você desenvolverá a habilidade de refletir sobre suas ações e pensamentos que acompanham esse sādhanā e que envolvem todos os aspectos de sua vida. Isso lhe dará a oportunidade de planejar as suas ações e agir em concordância com o dharma. Portanto, viveka e vairāgya devem ser desenvolvidos primeiro. O resto vem por acréscimo. Veja o artigo Pātañjala Yoga: Alguns Aspectos.

Professor, o yoga oferece muitas práticas. Como faço para escolher as práticas certas? Tenho que aprender direto com um guru?

Existem duas maneiras de se escolher uma prática de Yoga. Se você está consciente das necessidades de seu corpo e mente, então facilmente pode escolher uma prática adequada a sua natureza. As necessidades do corpo podem mudar e o sādhanā deve acompanhar essas mudanças. Contudo, mesmo escolhendo uma prática adequada as nossas necessidades, ainda sim estamos lidando com o aspecto mais superficial do Yoga. Se você quer adentrar aos reinos desconhecidos do Yoga com precisão e profundidade, então terá que procurar a ajuda de um guru. Grosso modo, por exemplo, ele irá lhe indicar as posturas e respirações adequadas para despertar o cakras e prāṇas. O guru irá olhar em seu interior e lhe apontará os prāṇāyāmas adequados ao trabalho com o cérebro, como relaxar as ondas beta e alfa e estimular as ondas theta e delta. Ele lhe indicará a correta prática meditativa, mesmo que você não goste ou não se adapte a ela, pois está mais adequada ao seu desenvolvimento. Assim, a menos que você esteja completamente consciente de suas necessidades mentais, físicas e psicológicas, o guru torna-se indispensável no caminho.

Contudo, se a sua intenção não é este aprofundamento, mas apenas uma prática que possa lhe proporcionar bem-estar, fica mais fácil. Veja hoje quais são as partes do corpo que precisam ser trabalhadas e escolha posturas adequadas a isso. Amanhã o corpo pode precisar de outras técnicas, então mude o programa. Isso você pode fazer sem o auxílio de um guru.

O yoga oferece muitas práticas, qual é a melhor para se começar?

Para responder sua pergunta, recorro aos ensinamentos de Swāmi Niranjan. Segundo ele, nós podemos dizer que um dos objetivos do Yoga é promover um crescimento equilibrado da personalidade humana. Os seres humanos são compostos por cabeça, coração e mãos: a cabeça representa o intelecto, o coração representa as emoções e as mãos representam as ações. Estes três aspectos da personalidade devem ser desenvolvidos simultaneamente. A maioria das filosofias ou até mesmo a ciência desenvolveu apenas um aspecto destes três. Algumas são puramente físicas, outras puramente psicológicas e outras essencialmente emocionais. Inúmeras terapias se desenvolveram a fim de abranger cada um destes campos, mas somente o Yoga se apresenta como uma cultura onde podemos desenvolver estes três aspectos.

A psicologia moderna divide a personalidade humana em quatro grupos: dinâmico, intelectual, emocional e psíquico. O Yoga divide a personalidade em três grupos: tamásico, rajásico e sattvíco. A cada um destes grupos o Yoga prescreve práticas distintas para seu desenvolvimento. Para a personalidade dinâmica o karma-yoga é o mais recomendado; para a personalidade emocional o bhakti-yoga; para personalidade intelectual o jñana-yoga e para a personalidade psíquica o rāja-yoga é o mais indicado. Mas as outras práticas oferecidas pelo Yoga não devem ser negligenciadas. O trabalho do Yoga se dá em um desenvolvimento integrado de suas técnicas.

Primeiro, descubra qual é a sua natureza, a sua inclinação, seja ela dinâmica, intelectual, emocional ou psíquica. Com este conhecimento em mãos selecione as práticas adequadas ao seu crescimento, que estejam em consonância com sua natureza interior. Nesse momento a presença do guru é muito importante, pois ele não deixará que se engane no processo. Ele lhe indicará quais são as práticas corretas para o seu desenvolvimento espiritual.


Geralmente o Yoga começa pelo corpo, alcança a mente e então se inicia o trabalho no campo espiritual. Para o trabalho com o corpo o Yoga oferece os āsanas e prāṇāyāmas; para o trabalho com a mente o Yoga oferece técnicas de relaxamento e concentração como a yoga-nidrā, ajapa-japa, trāṭaka, antar-mouna etc.; para um aprofundamento espiritual o Yoga oferece dhyāna «meditação» e as técnicas de domínio dos ares internos e centros psíquicos. Aprenda essas técnicas e terá conhecimento suficiente para averiguar seu estado interior e definir um sādhanā para seu desenvolvimento.

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