sexta-feira, 11 de abril de 2014




Bruno P. Burddon


Prāṇāyāma, a expansão do prāṇa ou energia vital, ocorre através das práticas de prāṇa-nigraha ou o controle do prāṇa1. Este artigo examina várias práticas prāṇa-nigraha que contribuem inicialmente para alterar o estado fisiológico do cérebro e são ditas para despertar o prāṇa no reino dos cakras ou centros psíquicos dentro do corpo humano. Um comentário é feito sobre o efeito que as práticas de prāṇa-nigraha tiveram sobre o autor. Uma revisão de um exame médico de um adepto yogī está incluído, o que confirma a capacidade do prāṇāyāma para influenciar a atividade do cérebro um indivíduo. A conclusão é que extensas práticas de prāṇa-nigraha podem influenciar significativamente os aspectos físicos, prânicos, mentais e psíquicos do ser humano.

Na apostila do curso Oficina de Prāṇāyāma, onde o Prof. Fernando apresentou o T. P. P. (Treinamento Pré-Prāṇāyāma), a energia vital ou prāṇa é definida como a essência de todos os seres criados, as formas que se manifestam, sejam animadas ou inanimadas, a força que determina a existência da matéria e os elementos.2 Prāṇa-nigraha é a manipulação da respiração para controlar o prāṇa. Quando praticado com regularidade, prāṇa-nigraha leva ao prāṇāyāma ou expansão da energia vital.

Prāṇāyāma é o controle dos upa-prāṇas ou sub-prāṇas, onde atinge-se a harmonização do corpo fisiológico e leva-se ao despertar do prāṇa no corpo psíquico ou cakras. Uma vez que o prāṇa é despertado nos cakras, prāṇāyāma começa. O ponto culminante é a fusão de apāna, samāna e prāṇa na região do maṇipūra que, por sua vez, leva à ativação de udāna e vyāna. Quando os cinco prāṇas estão operando simultaneamente, a kuṇḍalinī (energia espiritual ou potencial evolutivo)3 é despertada e o processo de auto-realização começa.4

Prāṇāyāma é dividido em três etapas: i. a consciência do prāṇa, ii. prāṇa-nigraha, e iii. a expansão do prāṇa. Prāṇa em si tem dois aspectos. Um deles é prāṇa-śakti, que é a força vital e consiste dos cinco prāṇas menores.5 O outro é manas ou cit-śakti, a força mental ou consciente, centrado no cérebro. Sem prāṇa o corpo e a mente estão mortos.

A ciência moderna afirma que existem dez áreas no cérebro e que estamos usando apenas uma em nosso atual estágio de evolução. Para usarmos os outros 90% precisamos distribuir o prāṇa por toda região cerebral. A mente subconsciente e sua relação com a mente consciente são tratadas na ciência do prāṇāyāma pelo estabelecimento de uma interface entre o consciente e o subconsciente na área cerebral denominada sistema de ativação reticular.6

O sistema de ativação reticular é o gatilho para outras partes do cérebro. O homem é capaz de afetar o sistema de ativação reticular através da respiração apenas. Nenhuma outra função do sistema nervoso autônomo pode ser controlada pela atividade humana consciente. O controle cerebral através do sistema de ativação reticular, por meio da respiração consciente, é um método pelo qual outras funções do corpo podem ser controladas; por exemplo, a freqüência cardíaca, a pressão arterial, a digestão, a excreção e absorção. Portanto, o controle do subconsciente é alcançado através da atividade consciente do prāṇa-nigraha e depois do prāṇāyāma.7

Quatro práticas de prāṇāyāma são examinadas por seus efeitos sobre o cérebro ou outras partes do corpo. Estas práticas foram selecionadas com base em sua importância na prática do Yoga e sua influência sobre os corpos psíquicos.

Kapālabhāti

Swami Kuvalayananda afirma que kapālabhāti influencia a circulação do sangue dentro do cérebro. Kapālabhāti altera o volume do cérebro de acordo com o ritmo respiratório e, portanto, aumenta a irrigação do tecido cerebral. A respiração normal consiste de 12 a 18 massagens por minuto, enquanto kapālabhāti pode envolver até 120 massagens por minuto, o que leva a um aumento significativo no volume de sangue e, assim, melhora a irrigação do cérebro.

Os capilares são abertos e as células do cérebro relacionadas com as glândulas pineal e pituitária recebem estímulos significativos.8 É lógico concluir que a irrigação cerebral aumentada é acompanhada por níveis prânicos elevados, o que garante a distribuição uniforme e harmoniosa do prāṇa por todo o corpo.

Swami Kuvalayananda sustenta essa conclusão da seguinte maneira: Com a aceleração da circulação sanguínea no corpo estimula-se do cérebro e, assim, do sistema nervoso central produz o ‘material’ especial do corpo que revigora e tonifica cada célula.9

Kapālabhāti reduz a relação entre a inspiração e expiração. Isso aumenta o controle da respiração, estendendo-a até o limite. Os efeitos do dióxido de carbono, produtos químicos, ácidos e álcalis no sangue diminuem.10 O dióxido de carbono é o disparo para inspiração e, portanto, o corpo é muito sensível aos níveis de dióxido de carbono.

Kumbhaka

Na prática de kumbhaka ou retenção da respiração, que pode ser antar (interna) ou bahir (externa), a tolerância à necessidade de oxigênio e o acúmulo de dióxido de carbono ocorrem. Kumbhaka, quando praticada por um longo período de tempo, permite que o corpo retenha dióxido de carbono e se acostume com níveis reduzidos de oxigênio, promovendo um hipometabolismo, ou seja, um abrandamento da taxa metabólica. A taxa de produção de dióxido de carbono é reduzida, o que provoca um efeito sutil pelo controle consciente da respiração. Esse efeito influencia o cérebro e a química corporal, reduzindo a necessidade de respirar quando ocorre o acúmulo de dióxido de carbono.11

Bahir-kumbhaka também afeta o corpo fisiologicamente, fazendo com que o processo mental pare, por causa do vácuo criado no interior do corpo. Esta ação é muito útil na prática de pratyāhāra, a retração sentidos e dhāraṇā, a concentração, como um pré-requisito para alcançar o estado de meditação, dhyāna.

Kumbhaka pára os ritmos vitais do corpo e afeta as ondas cerebrais. O controle das ondas cerebrais é a chave para controlar todos os ritmos do cérebro.12 Embora os efeitos de bahir-kumbhaka sejam inúmeros, em termos gerais, o corpo e a mente aprendem a manter a calma sob pressão.

Nāḍī-śodhana

Kumbhaka também é praticada em nāḍī-śodhana-prāṇāyāma ou a respiração alternada. Nāḍī-śodhana é a prática do equilíbrio perfeito13 que estimula também os lados esquerdo e direito do cérebro e do corpo. Iḍā e piṅgalā-nāḍīs, os principais canais prânicos, são equilibrados, o que, por sua vez, modifica o processo do pensamento para equilibrar a introversão e extroversão do comportamento. Os antigos yogīs ensinaram que uma vez que iḍā e piṅgalā são equilibradas e purificadas, a nāḍī central, suṣumṇā, começa a fluir, levando a uma maior sensibilização e ao estado de meditação.14

Nāḍī-śodhana impõe um ritmo sobre o cérebro e as nāḍīs, sobre o estado irregular que normalmente existe. A vida moderna eliminou os ritmos regulares da natureza e do corpo humano e nāḍī-śodhana reverte este processo levando ao corpo e a atividade cerebral o equilíbrio necessário através do aumento do prāṇa. Pesquisas demonstraram que nāḍī-śodhana afeta as ondas cerebrais sobrepondo uma onda senoidal regular sobre a atividade do cérebro irregular, impondo uma disciplina sobre as irregularidades do processo mental e, eventualmente, os ritmos do organismo autônomo.

A kumbhaka em nāḍī-śodhana bloqueia momentaneamente os ritmos do corpo, mudando o padrão no relacionamento dióxido de carbono/oxigênio, afetando todo o sistema. Antar-kumbhaka opera com oxigênio e bahir-kumbhaka com dióxido de carbono.15

Ujjāyī

Ujjāyī ou a respiração psíquica, produzido por uma ligeira contração da garganta, tem um efeito sutil sobre a atividade cerebral através de quatro processos:

1.    Aumenta a pressão de ar nos pulmões e expande o uso eficaz deles. Isso garante a transferência de oxigênio para cada célula dentro dos pulmões, ao invés de uma porcentagem significativamente menor utilizada durante a respiração normal.
2.    O aumento da transferência de oxigênio nos pulmões regula o fluxo sanguíneo por todo o organismo, enquanto o corpo está em um estado relaxado. O efeito é semelhante ao obtido quando o corpo está fisicamente ativo, com a vantagem de estar em um estado de relaxamento.
3.    A percepção consciente é transferida para a mente inconsciente que afeta o sistema nervoso que, por sua vez, regula a respiração. Um ritmo suave é estabelecido sobre o sistema nervoso, provocando um efeito profundo no nível psíquico.
4.    A contração da garganta em ujjāyī afeta os seios carotídeos que regulam a pressão sanguínea nas artérias. Ujjāyī exerce uma leve pressão sobre os seios da carótida que, ao longo do tempo, reduz a pressão arterial, o que reduz a tensão e retarda os processos de pensamento na mente.16

Exame de um yogī

Todos os efeitos das práticas de prāṇa-nigraha descritas acima foram comprovados em parte através do trabalho realizado durante a convenção anual da Associação Internacional de Religião e Parapsicologia do ano de 1977. A pesquisa revelou que Ramananda Yogī, que havia praticado prāṇāyāma por muitos anos, possuía a capacidade de controlar o músculo cardíaco e as funções do coração. Durante sessões de prāṇāyāma, ele era capaz de reduzir sua taxa de pulso de 100 a 65-80 batimentos por minuto, embora tais mudanças sejam perigosas para a maioria das pessoas. Concluiu-se também na conferência, através de testes biológicos, que Ramananda Yogī era capaz de controlar sua taxa metabólica através da prática de prāṇāyāma.17

Os efeitos do prāṇāyāma no cérebro como detalhados pelo Prof. Fernando na Oficina de Prāṇāyāma, e os resultados dos ensaios clínicos realizados pela Associação Internacional de Religião e Parapsicologia, serviram para justificar o preparo deste ensaio.

Experiência do autor

Enquanto a execução extensa do prāṇāyāma leva a um controlo significativo sobre o cérebro, as práticas de prāṇa-nigraha realizadas pelo autor afetaram, de forma bem sutil, sua habilidade de controlar a respiração e energia dentro do corpo. É difícil detectar qualquer efeito importante sobre a fisiologia do corpo, mas tem havido uma mudança significativa no estado de unidirecionamento e calma da mente ao longo dos últimos dois anos como resultado das práticas de kapālabhāti, nāḍī-śodhana, bhāstrika e ujjāyī.

Os antigos textos yogīs falam da capacidade do prāṇāyāma em controlar a mente. A Haṭhapradīpikā, por Śrī Svātmārāma Yogīndra, afirma que restrição prânica pode controlar a mente: Quando o prāṇa se move, citta [a força mental] se move, quando o prāṇa para seu movimento, citta também para. Por esta [firmeza do prāṇa], o yogī alcança a firmeza do espírito e isso restringe o vāyu [ar].18

Em conclusão, escritos de yogīs contemporâneos e pesquisas sobre os efeitos das práticas de prāṇāyāma apóiam a antiga visão de que o prāṇāyāma-yoga exerce profundos efeitos sobre o cérebro humano. A experiência limitada do autor também suporta a visão de que as práticas de prāṇāyāma podem ter efeitos sutis no cérebro, bem-estar e a uma influência surpreendente no nível individual de espiritualidade.

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Anotações bibliográficas

1. LIGUORI, Fernando. Oficina de Prāṇāyāma. Apostila do T. P. P. (Treinamento Pré-Prāṇāyāma). Kaula Yoga Publicações, 2011.
2. Idem, p. 14.
3. Idem, p. 36.
4. Idem, p. 42.
5. Idem, p. 11.
6. Idem, p. 51.
7. Idem, p. 52.
8. KUVALAYANANDA, Swami. Prāṇāyāma. São Paulo, Brasil. Phorte Editora, 2008.
9. Idem, p. 130.
10. LIGUORI, op cit, p. 60.
11. Idem, p. 65.
12. Idem, p. 65.
13. Idem, p. 66.
14. Idem, p. 68.
15. Idem, p.69.
16. Relatos científicos estabelecidos no T. P. P.
17. MOTOYAMA, Hiroshi. Estudos Ocidentais & Orientais de Medicina acerca do Pranayama e o Controle do Calor, em Pesquisa de Religião e Parapsicologia. Tóquio, Japão. Associação Internacional de Religião e Parapsicologia, 1977. Texto em português pela Editora Vozes, 1981. Prefácio e apresentação por Prof. Hermógenes.
18. LIGUORI, Fernando. Haṭhapradīpikā: Candeia sobre o Haṭha Yoga. Manuscrito do autor.


Bruno estuda Yoga e Tantra com
Fernando Liguori. Dirige uma
empresa de reciclagem em Paraíba do Sul – RJ.


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