quarta-feira, 9 de abril de 2014



Swāmi Muktibodhānanda Saraswatī


. Segunda Parte .


Por milênios os yogīs têm-nos dito que o ser humano se estende muito além do que o olho nu pode perceber. É claro que estamos conscientes do corpo e da mente empírica através da nossa capacidade de pensar e conhecer. Mas o homem é mais do que o intelecto, ele é mais do que uma massa de matéria. Se fomos capazes de experimentar a natureza do corpo através de nossos olhos sutis, o que vemos? Os swara-yogīs descobriram que dentro da estrutura física do homem existe uma rede subjacente de correntes de energia positiva e negativa, responsáveis por todas as atividades do corpo e da mente. Prāṇa-śakti é a energia positiva que dá vida e motiva todas as funções vitais e manas-śakti dá origem aos aspectos conscientes e estimula as faculdades mentais. Embora estas energias gêmeas tenham suas propriedades únicas, nenhuma delas pode operar de forma independente. Onde quer que a vida ou prāṇa se manifesta, há também a consciência ou a mente e vice-versa. Os desejos nascem da mente e, inevitavelmente, levam à ação. Esta constante interação de forças anima o corpo e a mente com a vida.

Correntes prânicas de ar

De acordo com o swara-yoga, a estrutura de energia positiva | negativa motiva as diversas funções físicas do corpo por meio de correntes prânicas de ar ou prāṇa-vāyus. Os dez vāyus regulam a distribuição de energia em todo o organismo. Destes, os cinco vāyus principais, ou seja, prāṇa, apāna, samāna, udāna e vyāna, têm maior influência.

Primeiro, prāṇa-vāyu, situado na região torácica, absorve elementos do ar na inspiração e cria oscilações nergéticas para cima. A ação oposta de apāna faz a energia oscilar para baixo na eliminação da urina, fezes e as secreções hormonais nos órgãos reprodutivos. A produção de energia começa com prāṇa-vāyu e termina com apāna. Entre eles há vários estágios intermediários que são determinados pela ação primária de prāṇa e apāna.

O próximo vāyu é samāna, que estimula a assimilação dos nutrientes no trato digestivo. Udāna-vāyu se manifesta na garganta e na face, permitindo a expressão facial e a deglutição. O quinto maior vāyu, vyāna, regula todos os movimentos físicos, controlando a circulação de alimentos e nutrientes por todo o corpo.

De todos os vāyus, prāṇa e apāna são extremamente poderosos e seus efeitos se estendem sobre todas as fases da produção de energia. Na verdade, nas upaniṣads e em outros textos yogīs está escrito que quando as ações opostas do prāṇa e apāna estão unidas, todos os outros vāyus são automaticamente harmonizados.

Os efeitos positivos e negativos dos íons na vida

Os ṛṣīs explicaram que a carga de energia positiva e negativa na atmosfera e no corpo revigora os dez vāyus e invoca respostas fisiológicas e psicológicas especiais. Pesquisas científicas recentes chegaram à mesma conclusão. Pesquisadores expuseram pessoas saudáveis e dinâmicas em um ambiente com uma quantidade elevada de íons positivos e chegaram a conclusão que elas apresentaram muito mais letargia e sonolência. Alguns dos candidatos ao teste ainda reclamaram de fortes dores de cabeça ou congestão respiratória. A exposição prolongada a íons positivos produz euforia e agitação mental. Por outro lado, também se provou que após a exposição a uma alta concentração de íons negativos, capacidades físicas e mentais foram revitalizadas e revigoradas.

Em outras investigações, cientistas mantiveram plantas e animais em um ambiente de ionização baixa, o que resultou na inibição de seu crescimento. Quando os íons foram completamente removidos do ar, as plantas e animais morreram. Isso indica que, assim como para estimular as funções do corpo, um certo grau de ionização é necessário apenas para manter a vida.

A influência de cargas positivas e negativas é claramente observada nos efeitos de nossa civilização tecnológica sobre o comportamento humano. Os ecologistas têm apontado que a poluição criada pela tecnologia moderna está destruindo íons negativos essenciais. Isso aumenta a carga de íons positivos, o que causa uma taxa crescente de depressão física e mental. Isso levou cientistas da Europa, América e antiga União Soviética a conceberem máquinas ionizantes para reequilibrar as cargas iônicas da atmosfera. Na verdade, o uso dos famosos «ionizers» tornou-se tão difundido que eles passaram a ser considerados essenciais para a sobrevivência no ambiente urbano.

A invenção de uma máquina assim tem uma implicação muito significativa. A ciência moderna tem sido capaz de definir as leis da energia em relação ao macro-cosmo com muita precisão. No entanto, em vez de depender de máquinas para a sobrevivência, podemos aprender com o swara-yoga a utilizar os mesmos princípios energéticos em relação ao nosso próprio ambiente interior. É possível viver em total harmonia apenas através da manipulação de nossa própria energia física para coincidir com os ritmos da natureza, aprofundando nosso conhecimento de nós mesmos e todo o cosmos.

O nariz: um bio-detector prânico

Nós estabelecemos que o sustento biológico é dependente da respiração. Muitos textos yogīs apoiam esta conclusão. Talvez a mais clara referência esteja no segundo capítulo da Haṭhayogapradīpikā (v.3), que declara que: «O homem vive apenas enquanto houver vāyu em seu corpo. A morte é quando ele deixa o corpo. Por isto o vāyu deve ser confinado.» Então onde é que vamos começar a regular a respiração para aprender a conter os vāyus? O nariz é um bom lugar para começar, pois é relativamente fácil manipular o fluxo de ar através das narinas. Por esta razão o swara-yoga começa com a análise do fluxo de ar no nariz.

O nariz é muito significativo, pois na raiz da cavidade nasal há um único e distinto dispositivo de detecção do prāṇa. Este é um osso fino e perfurado, conhecido na terminologia médica como a lâmina crivosa do osso etmóide. Dentro destas perfurações residem os filamentos do nervo olfativo. Eles transmitem informações ao cérebro sobre os constituintes do ar. Quando os íons carregados eletricamente entram em contato com esses filamentos, o cérebro e o sistema nervoso central automaticamente tornam-se energizados. Esta carga viaja para o sistema límbico, transformando a percepção em experiência. Assim, a respiração afeta diretamente nossas respostas emocionais à vida e, inversamente, o surgimento de diferentes emoções se refletem na respiração. Quando se respira pela boca, toda a massa de ar e o prāṇa viajam diretamente para baixo da traquéia sem estimular o cérebro e o sistema nervoso. Portanto, a ativação do sistema nervoso inteiro depende da respiração nasal.

Processando os íons no corpo

Uma vez que os elementos do ar foram detectadas na cavidade nasal, serão então processados pelos pulmões. A fim de utilizar plenamente os elementos do ar no corpo, um certo colapso químico tem de ocorrer, caso contrário, é como encher o tanque de um carro esporte com combustível diesel esperando uma alta performance de corrida.

Os íons negativos energizam o corpo, pois agem como catalisadores para a ionização e oxigenação do sangue e a liberação de dióxido de carbono na corrente sanguínea. Eles também ajudam na geração de calor para estabilizar a temperatura do corpo. Então, após serem assimilados pelo sangue, facilitam a digestão através da decomposição química no trato digestivo. Portanto, se há uma predominância de íons positivos, o processo de combustão é retardado. Assim, o termostato do corpo diminui, a oxigenação e ionização do sangue diminuem e os resultados como a má digestão logo aparecem. Em última instância, o bom funcionamento de todo o corpo é inibido. Este padrão de distribuição de energia de órgão para órgão mostra como os prāṇa-vāyus são afetados pelas energias positivas e negativas no corpo.

O código cósmico

Durante a inspiração, o corpo registra e se adapta às condições do universo e durante a expiração, informações são enviadas de volta ao cosmos que descrevem o estado do ambiente interno. Mas as mensagens transmitidas entre os dois reinos estão em código. O swara-yogī sabe como decifrar este código, refinando sua consciência e ganhando controle sobre a entrada de força cósmica. Quando você percebe a importância da respiração pelas narinas direita e esquerda, experimenta o corpo e a mente como instrumentos de energia cósmica. Quando você respira ritmicamente para a síncope de sintonia da natureza, não só para o benefício pessoal, compreende que cada partícula da criação é um pequeno fragmento de um organismo enorme. Portanto, o esforço consciente de cada indivíduo pode ajudar na evolução saudável e harmoniosa de todos os organismos.

Tradução livre de Fernando Liguori.


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