domingo, 6 de abril de 2014




Swāmi Muktibodhānanda Saraswatī

. Primeira Parte .


UM ramo do Yoga sobre o qual muito pouco foi revelado é o swara-yoga. A palavra swa significa si mesmo enquanto que swara significa respiração e se refere ao som da respiração. Portanto, swara-yoga é a ciência da própria respiração.

Mas por que a respiração é algo tão importante ao ponto de uma ciência ter se desenvolvido a partir dela? Muitos filósofos e cientistas concordam que, no ato da respiração, energias cósmicas são atraídas para o corpo. Dessa maneira, a respiração passa a ser um elo entre o homem e o universo, entre os reinos grosseiros e sutis da existência. O Tantra nos ensina que tudo o que existe no macrocosmo existe no microcosmo. Assim, o corpo individual é apenas uma réplica do corpo cósmico e a respiração é o mediador entre os dois.

É dito nos swara-śāstras que a análise e manipulação da respiração traz a consciência para os reinos transcendentais e, finalmente, para iluminação. No entanto, antes que isso ocorra, existe um sādhanā especial que necessita ser aperfeiçoado: lidar com as funções fundamentais da respiração. Swara-yoga explica o significado da energia que pulsa através do corpo e como utilizar, direcionar, controlar e equalizar essa força por meio da respiração. Quando o controle é estabelecido e todos os aspectos do ser operam em perfeita harmonia, um poder muito maior do que a mera energia física pode se manifestar.

O significado filosófico da respiração

Os śāstras tântricos e as Upaniṣads atestam que a energia vital, prāṇa e a energia mental, citta, são absorvidos pelo corpo por meio da inspiração. A respiração também é referida como o veículo da energia cósmica conhecida como Śiva ou Brahman de acordo com a Taittitya, Brahmana e Maitrī-Upaniṣads. Na Praṣnopaniṣad (cap. 3) é dito: Prāṇa brota do ātman e é inseparável do self como a sombra daquele que se opõe ao sol.

Mesmo na Bíblia (Gen. 2:10) é dito: E o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e infundiu em suas narinas o fôlego da vida, dessa maneira ele se tornou uma alma vivente. Isso significa que o corpo físico recebe consciência e energia através da respiração. A respiração em si, sendo transmitida pela Entidade Cósmica, contém a força cósmica da criação.

O Taoísmo também expressa a mesma opinião de que através da meditação sobre a respiração, as divindades ou forças cósmicas se manifestam dentro do corpo. Ao sustentar-se na respiração ao invés da comida, pode-se ser purificado e fortalecido. Assim a consciência é capaz de ascender aos céus, onde a vida eterna é sentida pelo corpo e alma.

Nos swara-śāstras está escrito que, se a respiração pode ser analisada e seu significado compreendido, um profundo conhecimento do cosmos irá surgir e o entendimento dos Vedas será obtido. Estes śāstras declaram que a ciência do swara-yoga foi transmitida pelo próprio Senhor Śiva a sua discípula, Pārvatī, dizendo que em todos os sete lokas não havia tesouro ou sabedoria maior do que swara. Śiva é o guru que representa a consciência pura, enquanto que Pārvatī simboliza a consciência individual ou jīva. Isso implica que a consciência individual pode perceber a consciência cósmica por meio do swara-yoga.

Assim, diz-se que a respiração, um veículo tanto para o prāṇa (energia vital) quanto para citta (consciência), vibra com as forças destas energias e essa vibração produz um som. O Yogachudamani-Upaniṣad (V: 31-33) explica que a expiração sai e produz o som haṃ, a inspiração entra e produz o som so. O jīva produz o som haṃso continuamente 26.000 vezes, 24 horas por dia. Isso é chamado de ajapa-japa. Se alguém escuta atentamente sua respiração, pode ouvir o som haṃso ou sohaṃ. Além disso, as Upaniṣads declaram que a consciência constante nesta japa da respiração pode libertar o homem de todos os karmas. Este é o significado filosófico do poder de swara.

Prāṇa – a luz de todos os tempos

Todas as escrituras antigas dão nome a energia vital ou sutil de prāṇa, que é descrito como sendo de natureza semelhante a um relâmpago. Unicamente devido ao prāṇa, todo universo existe e sem sua presença nenhuma criatura pode viver. Apesar do prāṇa existir no ar e em todas as formas materiais, não é nenhum deles. O prāṇa também não é a respiração, mas está contido no ar, sendo uma parte de swara.

Prāṇa mantém toda vida orgânica. Assim como uma bateria armazena energia elétrica, é essencial que cada organismo armazene prāṇa, a fim de permitir sua atividade e mobilidade. Ao praticar swara-yoga, o estoque de prāṇa pode ser aumentado, ativando todas as áreas latentes do cérebro. Swara-yoga controla diretamente a entrada e saída do prāṇa, capacitando-nos a regular todo o sistema fisiológico.

Durante a última metade do século passado, muitos cientistas de renome investigaram a natureza do fenômeno prânico, e parece que eles finalmente chegaram a uma explicação palpável. Estudos demonstraram que a atmosfera é coberta de íons eletromagnéticos a partir dos quais todos os organismos absorvem energia vital, essencial para preservação de qualquer forma de vida. O funcionamento destes íons tem sido observado e uma correlação tem sido feita com a antiga ciência do prāṇa-yoga. Portanto, a fim de nos ajudar a entender swara-yoga, o estudo do prāṇa e seu controle, vamos examinar a teoria dos íons.

Campos eletromagnéticos e íons

Parece que o equivalente a transmissão prânica são os campos eletromagnéticos que perpassam todo o corpo. Estes são referidos por cientistas e médicos com um tipo de bio-energia ou bio-eletricidade. Já no Séc. XVIII, Luigi Galvani observou a existência de campos de energia quando ele ligou a perna de um sapo em duas hastes. O que ele testemunhou foi que um tipo de energia pulsava entre elas. Em tempos mais recentes, a descoberta da foto Kirlian permitiu aos cientistas verem a coroa destes campos.

Hoje estamos todos conscientes de correntes elétricas que fluem através de cabos de fios, mas essa energia foi artificialmente aproveitada pelo homem. A energia é inerente à atmosfera, o que os geofísicos só recentemente começaram a explorar. Embora a descoberta de íons eletromagnéticos tenha ressuscitado o interesse na antiga ciência do swara-yoga, os ṛṣīs que outrora a desenvolveram já estavam conscientes dos campos de energia sem a necessidade de ajuda tecnológica.

O advento da exploração do espaço tem chamado a atenção da ciência para os campos eletromagnéticos na atmosfera. Estes campos consistem de fragmentos positivamente e negativamente carregados de moléculas conhecidas como íons, em que a vida é dependente para produção de energia. Um íon negativo tem a carga de um elétron e um íon positivo a carga de um próton. Dos dois, os íons negativos são os mais ativos eletricamente.

Os íons negativos são produzidos pelas radiações solares nas camadas superiores da atmosfera e são atraídos para terra por íons positivos. Durante sua descida, eles ficam presos por oxigênio ou partículas de nitrogênio e, assim, unem-se com eles. À medida que respiramos, nossas células são automaticamente energizadas pelas cargas elétricas destes íons no ar.

Dessa forma podemos visualizar a Terra como um enorme ímã, gerando campos eletromagnéticos de seus pólos opostos. Os hemisférios norte e leste são carregados positivamente, enquanto os hemisférios sul e oeste são carregados negativamente. Estes campos tanto atraem e repelem os íons, fazendo com que uma corrente de movimento em torno do plano terrestre ocorra. Só recentemente foi descoberto que estes campos podem vibrar através do corpo físico também, criando um fluxo de energia de um órgão para o outro.

Pólos positivo e negativo

O corpo também assume propriedades eletromagnéticas e pode ser dividido em pólos opostos. De acordo com textos de Yoga, a parte superior do corpo corresponde ao pólo positivo, norte e parte inferior ao pólo negativo, sul. O lado direito e as costas são positivas e o lado esquerdo e frente do corpo são negativos.

Isso é foi bem ilustrado em uma revista teosófica americana que trazia um artigo sobre um menino de dez anos, de Minnesota, cujo corpo desenvolvera propriedades magnéticas. Os médicos ficaram espantados ao testemunhar que leves objetos metálicos eram atraídos pelo lado esquerdo do menino, particularmente a mão esquerda, enquanto o lado direito de seu corpo permanecia inalterado. Claro que, para o yogī, isso não é estranho. Ele está consciente de que o prāṇa entrando pelo lado esquerdo, especialmente pela mão esquerda, atrai substâncias magnéticas enquanto que o lado direito, especialmente a mão direita, expulsa, repele. Ordinariamente, no entanto, a corrente não é tão forte.

Estas cargas positivas e negativas de energia são a base de swara-yoga. Os antigos ṛṣīs chamam de fluxo negativo de iḍā e o fluxo positivo de piṅgalā. Ao controlar essas correntes, a tecnologia moderna desenvolveu os meios de gerar enormes quantidades de energia elétrica e até a capacidade de ionizar o ar artificial.

Da mesma maneira, os ṛṣīs de outrora conheciam as técnicas para canalizar a bio-energia ou prāṇa por todo o corpo. Assim como a energia elétrica está à nossa disposição, ligando um interruptor como conexão a linha de alimentação principal, também os ṛṣīs sabiam como ligar os interruptores e circuitos de energia do corpo. Eles entenderam que o fluxo de energia, seja interno ou externo, está constantemente sendo distribuído dos centros mais altamente carregados aos menores, a fim de criar um equilíbrio entre os pólos positivo e negativo. Swara-yoga nos ensina a manipular o fluxo de ar pelas narinas, controlando assim os interruptores de energia em nosso próprio corpo, regulando o fluxo das correntes positiva e negativa. É através do equilíbrio entre estes dois pólos de energia que o yogī desperta a kuṇḍalinī, o gerador de alta potência que ilumina as fabulosas e até então inexploradas ares do cérebro responsáveis pela genialidade humana, conhecimento transcendental e auto-realização.


Tradução livre de Fernando Liguori.

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