Swāmi Satyānanda Saraswatī
Texto extraído
do livro «Dynamics of Yoga: The Foundations of Bihar Yoga», Yoga Publications
Trust, 2002.
Meditação é um método, um caminho para a auto-realização. Sua prática,
quando efetivamente realizada, nos conduz a um processo de autotransformação em
todos os aspectos de nossa vida. No entanto, meditar é muito difícil. Quando
nos sentamos para meditar muitos pensamentos vêm à tona, muitos problemas
aparecem na tela mental e não conseguimos nos desidentificar das emoções e
flutuações da mente que surgem como o resultado do incessante trabalho
cognitivo. Portanto, como meditar pode ser o primeiro problema a ser enfrentado
por qualquer aspirante. Até mesmo os buscadores mais interessados muitas vezes
ignoram as técnicas mais simples de meditação, o que acaba gerando um bloqueio
futuro. É muito difícil se livrar da consciência corporal e dos estímulos
exteriores e forçar a mente focada a permanecer por um tempo prolongado em um
objeto requerido. Assim, desde o início deve estar claro que a maestria sobre a
mente não se consegue em um dia. Nenhuma escola emite um certificado de
proficiência no momento da matrícula. Assim ocorre com a meditação. Meditação é
um termo muito vago para qualquer iniciante, pois ele não se encontra apto a
perceber o escopo total a que o termo implica.
As técnicas meditativas são um exercício para disciplina mental. Elas
dirigem a mente a um propósito desejado. Por meio de técnicas meditativas,
manias, extravagâncias, conflitos internos e emoções divergentes como aflições,
ansiedades, indecisões, medos, bloqueios psíquicos etc., são curados. A prática
meditativa provê a chance de uma introspecção real, o que desbloqueia, limpa ou
clareia a manifestação do Ser,
tirando de seu caminho as doenças psíquicas geradas pelo ego e suas
manifestações na personalidade.
O homem do Séc. XXI permanece com a consciência completamente extrovertida
por todo o dia. Nos dias atuais encontramos pouco tempo para olharmos dentro de
nós mesmos a fim de descobrirmos a Verdadeira Realidade que se encontra além
das manifestações do ego no complexo corpo-mente. Portanto, assim como
encontramos tempo para cuidar de nosso corpo e necessidades pessoais, da mesma
maneira o Ser interior precisa de
alguns minutos de atenção diariamente. Se o corpo físico necessita da
evacuação, do banho, da alimentação e de roupas para vestir, então também o
corpo mental não necessita de algo cuja natureza seja abstrata? A mente, sem
momentos de descanso está fadada a padecer de males como o estresse, uma mazela
que acomete inúmeras pessoas, comprometendo o envolvimento com o mundo.
Portanto, a mente precisa de um zelo cuidadoso. Até mesmo as máquinas descansam
após horas de trabalho. Você pode nomear alguma técnica para remover e tranquilizar
as tensões nos nervos exceto os métodos yogīs
de relaxamento e revitalização? O acúmulo de ondas mentais pode ser
completamente varrido da mente através do processo de meditação.
A meditação é o caminho mais direto para se acessar o Ser interior. Através das técnicas de meditação as faculdades
latentes ou em desuso da mente e dos centros cerebrais3 são
completamente despertos. Se a mente se encontra livre das memórias de
experiências passadas – se estiver livre de tensão e focada – sua energia pode
ser direcionada a exploração de regiões desconhecidas e ocultas. Uma enorme
carga de conhecimento transcendental pode ser canalizada através de uma mente
focada e dirigida. Problemas que anteriormente se encontravam sem solução, cuja
mente trabalhava horas, dias, meses ou talvez anos incessantemente para
conseguir a solução, podem ser sanados através da prática constante das
técnicas meditativas. Elas trazem uma nova luz a consciência. A meditação
profunda, concentrada e focada abre novos horizontes para uma vida cheia de
conhecimento e sabedoria.
Todas as vicissitudes da mente ainda são desconhecidas pela humanidade. Os
maiores cientistas admitem que a verdade última ainda não é conhecida. Através
da meditação, este campo do desconhecido
pode ser completamente explorado, o que traz benefícios em todos os aspectos da
vida. A prática meditativa ajuda na descoberta e cura de inúmeras doenças como
pressão alta, dores etc. Sua aplicação terapêutica já é amplamente difundida
por inúmeros médicos e cientistas.
Freud sustentava que as ocorrências diárias no físico são manifestações de
desejos inconscientes. Se isso for verdade, a raiz de toda miséria, doença e
enfermidade é o sagrado id de Freud.
Os psicólogos hindus, os sábios de eras passadas, sustentavam uma visão
similar, mas com diferença na terminologia. O id de Freud é senão uma fagulha daquilo que conhecemos como citta, o depósito de todos os desejos e
instintos primitivos. Todas as doenças se originam primeiro na mente. A simples
ideia ou medo de que eu posso pegar um
resfriado ou de que eu posso contrair
alguma doença prepara o corpo para recepção de germes, fungos, vírus etc. A
prática regular de meditação desenvolve o poder da vontade e livra a mente do
apego a noções erradas, falsas ideias, bloqueios e medos.
A meditação culmina no samādhi,
a evolução máxima da mente humana. Através da concentração, contemplação e
meditação o praticante pode transcender os limites de sua mente. A mente e o
corpo são os espinhos que cravam a alma humana, causando dor e miséria. Se a
mente e o corpo são transcendidos, não existe mais sofrimento, angústia ou
ignorância; dessa maneira nada pode limitar o poder da alma. Um pássaro livre
do cativeiro pode voar para as mais elevadas altitudes. Da mesma maneira, a
Consciência transcende os limites do complexo corpo-mente, desfrutando de
suprema bem-aventurança, luz e poder. Talvez seja errado dizer desfrutando. Corretamente, não há mais
dualidade, não há mais a existência dual da consciência, do conhecedor e
daquilo que é conhecido. A consciência se torna una com a Consciência Cósmica.
Esse é o objetivo primordial da meditação. Se, através da prática do desapego
aos objetos externos desejados, o praticante sinceramente atingir proficiência
em focar sua mente na direção do divino transcendental, se libertará do hábito
de reagir aos incidentes frívolos da vida.
Tradução livre de Fernando Liguori.
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