segunda-feira, 16 de junho de 2014



Fernando Liguori


Texto retirado da apostila do «Workshop Ajapa Dhāraṇā», ministrado pelo Instituto Kaula, edição 2011.


Palavras iniciais

A Oficina de Meditação, sempre buscando oferecer programas de treinamento de qualidade com a finalidade de aprimorar e aprofundar os conhecimentos de seus participantes, como foi o caso do T. P. P. (Treinamento Pré-Prāṇāyāma) da Oficina de Prāṇāyāma, um programa da Oficina de Meditação, inaugura uma série de workshops na prática avançada de dhāraṇā (concentração). Nestes workshops serão apresentadas práticas de concentração retiradas das escrituras do Yoga, Tantra e Upaniṣads. Elas representam um nível avançado de ensinamentos que até o presente não foram elucidados para o público em geral. Estas técnicas estão agora sendo apresentadas pela urgente necessidade de praticantes sérios que ansiavam por um fio condutor nas dimensões mais profundas da meditação. O estudo sistemático e a prática destes ensinamentos irá ajudar os praticantes a construírem uma ponte sobre o abismo entre as técnicas preliminares de meditação oferecidas por muitas escolas e as técnicas avançadas que tradicionalmente são ensinadas por transmissão direta de guru a discípulo.

Nestes primeiros workshops apresentamos técnicas de ajapa-dhāraṇā de uma maneira muito detalhada como parte integral do mantra-yoga e que tiveram grande proeminência nas Upaniṣads. São dez práticas de ajapa-dhāraṇā descritas na Haṃsa-upaniṣad distribuídas ao longo de cinco workshops.

Existem dois níveis de ajapa-japa. No nível de pratyāhāra, o método envolve o aspecto externo e grosseiro da atividade física, o processo respiratório, para internalizar a consciência. O mantra é utilizado para impedir a auto-indução de flutuações mentais. No nível de dhāraṇā, contudo, a prática é gradualmente intensificada. Existe a concentração profunda no mantra, nos cakras e nas nāḍīs para que até mesmo a manifestação causal, experiências inerentes aos sentidos e ao mundo exterior, gradativamente se dissipem.

Estas dez práticas disponibilizadas nestes cinco primeiros workshops representam um nível avançado de ajapa-japa classificadas no grupo de dhāraṇā. Deve ficar bem claro que este grupo de ajapa-dhāraṇā que agora estamos inaugurando somente será executado com perfeição após a prática proficiente do grupo de ajapa-pratyāhāra estudado e praticado nos encontros da Oficina de Meditação. As práticas de ajapa-japa aqui oferecidas foram organizadas de tal maneira para que a concentração na respiração e no mantra nos caminhos de suṣumṇā, iḍā e piṅgalā abram os cakras e proporcionem um estado de dhāraṇā espontâneo, sem esforço para controlar ou estabilizar a mente.

Estes workshops oferecem aos alunos da Oficina de Meditação uma prática mais profunda e refinada, na esperança de que um nível mais avançado na meditação possa ser alcançado.

Ajapa-dhāraṇā

A palavra japa pode ser definida como repetição contínua do mantra. Quando o sufixo a é adicionado a palavra, implica que o processo de repetição mântrica ocorre espontaneamente. Assim, ajapa é a contínua repetição espontânea do mantra e dhāraṇā é a concentração unidirecionada. Ajapa-dhāraṇā é, portanto, a concentração unidirecionada na repetição contínua e espontânea do mantra. Em outras palavras, japa se transforma em ajapa nos estágios mais profundos de dhāraṇā onde o mantra é repetido de forma espontânea sem nenhum tipo de esforço. Na medida em que a concentração se torna mais focada e absorvida na repetição espontânea do mantra, todo o ser pulsa com a vibração mântrica. A isso nós damos o nome de mantra-spanda. Japa requer um esforço contínuo e consciente na repetição do mantra, seja na forma verbal ou mental, bem como na contagem das contas na mālā. Mas ajapa não requer nenhum tipo de esforço. É dito que japa vem da boca enquanto ajapa vem da respiração e do coração. Japa é a prática preliminar da repetição mântrica e ajapa é a perfeição desta prática.

O sādhanā védico

O sādhanā (prática espiritual) de ajapa é tão antigo quanto as Upaniṣads. Em algumas Upaniṣads do Yoga como a Yogaśikṣa, encontramos certas passagens que declaram que a inspiração é acompanhada pelo som so e a expiração é acompanhada pelo som haṃ. Este é o ajapa-gāyatrī que o jīva (alma encarnada) repete continuamente durante sua vida corpórea. Valmiki foi iniciado por Narada em Ulta Nama, essa forma de ajapa. Até os dias de hoje os adeptos do Nirguṇa Panṭh (sampradāya) como Radhaswami Panṭh, Kabir Panṭh etc., praticam ajapa, da mesma maneira que os antigos sábios fizeram.

Gandhi observou que esta prática deveria vir do coração e não da boca. Um santo mulçumano se referiu à prática de ajapa da seguinte maneira: Nela eu experencio a quanta dimensão da consciência. A experiência de haṃ se inicia no nabhi-cakra. Depois de atingir o ápice, ela é revertida.1 Assim, você produz o som haṃ a partir do nabhi-cakra. Quando ele for completado, então é revertido em so. Dessa maneira ele se torna haṃso.

Na Bhagavadgītā, existe uma referência clara sobre ajapa-japa. Ela diz: Alguns integram prāṇa em apāna, outros apāna em prāṇa e ainda existem outros que integram prāṇa em prāṇa. Prāṇa é a inspiração, apāna é a expiração. So representa o prāṇa e haṃ representa apāna. Assim, alguns aspirante integram prāṇa em apāna, i.e. eles integram so com haṃ e essa integração torna-se sohaṃ. Alguns aspirante integram apāna com prāṇa, i.e. haṃ com so e essa integração torna-se haṃso. Existem outros sādhakas que integram prāṇa com prāṇa, o que será tema de um estudo posterior.

A importância de ajapa-dhāraṇā

Na Gītā existe ainda outra referência a prática de ajapa. Ela diz: Tendo igualado o movimento de prāṇa e apāna na região nasal, deixe que o fluxo do ar que entra e sai pelas narinas seja igual em comprimento e duração. Esta técnica de ajapa foi identificada nos śāstras como viloma-ajapa. É uma prática completa em si mesma e através dela o praticante pode entrar nos reinos espirituais mesmo sem a orientação de um guru. Na execução bem sucedida de trāṭaka o adepto conquista a visualização interna do objeto sobre o qual está meditando. Mas depois desta conquista, o caminho está fechado. Portanto, não é possível conquistar o estágio de samādhi por si mesmo sem o auxílio de outras práticas yogīs. É necessário um guru para lhe indicar o caminho e a prática espiritual a ser executada nele. Mas no caso de ajapa, contudo, o guru não é necessário.

Existem certas práticas no Yoga que introvertem a mente e provocam a suspensão automática da respiração. O problema aqui consiste no fato dos aspirantes se tornarem rapidamente extrovertidos porque a capacidade de seus pulmões não é adequada. Essa dificuldade é experienciada por muitos buscadores. Na prática de ajapa-japa, contudo, ela é eliminada por conta da contínua rotação da respiração. Ainda, ajapa-dhāraṇā é uma série completa de exercícios espirituais pelos quais o praticante pode obter a experiência do samādhi. Com a finalidade de se conquistar o samādhi, em todas as outras práticas yogīs, a respiração tem de ser controlada. Quando a respiração é suspensa, kumbhaka ocorre. Contudo, a respiração permanece contínua durante a prática de ajapa-japa e até mesmo no samādhi ela não sofre alteração.

As Upaniṣads atestam que o buscador deveria praticar anahad-japa, i.e. a japa que não tem fim. A japa tem de coestender o infinito. Nós não conhecemos nenhum mantra desta natureza, portanto, esse método de repetição mântrica não é necessário. Mas de qualquer forma, isso é conquistado através da prática de ajapa-japa quando o mantra é ajustado ao processo respiratório, o que permite que a consciência repouse sobre seu fluxo espontâneo sem esforço.

Swara e suṣumṇā

As Upaniṣads contam uma parábola sobre dois pássaros, um branco e outro preto. Eles permaneciam unidos por um fio que não os deixava se separar de uma base construída em uma árvore. Eles tentavam voar inúmeras vezes, mas sempre tinham de voltar porque estavam amarrados a base na árvore. Depois de muitas tentativas, eles repousavam sonolentamente cansados em seu cárcere. Essa parábola ilustra iḍā e piṅgalā. O fluxo da narina direita corresponde a piṅgalā ou sūrya-nāḍī e o fluxo da narina esquerda corresponde a iḍā ou candra-nāḍī. O funcionamento alternado de iḍā e piṅgalā mantém o homem longe de sua consciência interior. Enquanto elas operam alternadamente, samādhi não pode ser conquistado. É apenas quando os dois pássaros (iḍā e piṅgalā) cansados aproximam-se do centro, i.e. o coração ou o Ser, que suṣumṇā desperta e o processo de meditação ocorre espontaneamente.

De acordo com swara-yoga, quando ambas as narinas estão fluindo igualmente, isso indica que suṣumṇā está fluindo. Neste momento, todo trabalho deveria ser interrompido e a meditação deveria se iniciar. Muitos aspirantes passam por uma experiência comum onde parece que a meditação foi extraordinária. Isso ocorre porque durante a prática meditativa todo o sistema estava completamente em harmonia. Quando suṣumṇā não está funcionando apropriadamente não é possível se concentrar, mesmo com muito esforço. Portanto, é importante que o funcionamento de iḍā e piṅgalā seja harmonizado pela meditação nelas. Isso torna possível que suṣumṇā se abra e comece a funcionar sem impedimentos.

A fim de interromper a torrente de pensamentos você precisa observar a respiração. Você precisa ver o movimento da respiração conscientemente. Durante a prática de ajapa é necessário ter consciência total e ininterrupta daquilo que você está fazendo. Deixe que a sua consciência seja contínua como um fio de óleo que não se interrompe. Isso se chama svādhyāya. Aqui svādhyāya não significa estudo das escrituras. Significa consciência contínua daquilo que se está fazendo.

A consciência respiratória

O primeiro ponto a ser observado em ajapa-japa é a consciência de sua respiração natural. Você respira 15 vezes por minuto, 900 vezes por hora e 21.600 vezes por dia (24 horas), mas nunca se encontra consciente disso. Você se encontra consciente de inúmeras coisas, menos deste processo tão importante. A respiração é a base da vida e o alicerce de dhāraṇā (concentração) e dhyāna (meditação).

O segundo ponto a ser observado é a consciência das quatro dimensões da respiração: i. natural; ii. profunda; iii. relaxada; e iv. suspensa. Você pode observar essas dimensões da respiração quando vai para cama. Assim que se deita sua respiração se torna natural. Com o sono, a respiração natural se torna mais profunda. Quando está quase dormindo a respiração se torna bem relaxada e um suave ronco pode ser ouvido. Às vezes, durante o sono profundo, a respiração pode ser suspensa, fazendo com que você acorde subitamente.

Estas mesmas quatro dimensões da respiração também ocorrem durante a meditação. Se você se concentrar em sua respiração natural por meia hora ou mais sem nenhum esforço, notará que ela se torna cada vez mais profunda. Eventualmente ela se tornará relaxada e um tênue ronco poderá ser escutado na garganta. Na meditação profunda, a suspensão da respiração também ocorre. Durante a inspiração ou expiração, a respiração pára por meio ou um minuto.

O movimento da respiração

O terceiro ponto a ser observado em ajapa-japa é a consciência do movimento da respiração na medida em que ela flui através do corpo. Por exemplo, se torne consciente do movimento natural de sua respiração do umbigo a garganta enquanto inspira e da garganta ao umbigo enquanto expira. Após alguns minutos você notará que a dimensão da respiração mudou. Você notará que ela ficou mais profunda na medida em que inspira e expira.

Então você poderá praticar a circulação da respiração em cada parte do corpo: estômago, peito, topo da cabeça etc. Você pode combinar o movi mento da respiração com diferentes formas como um triângulo, um quadrado, um hexagrama ou um círculo. É fácil, imagine dois triângulos entrelaçados na região do anahāta-cakra, um descendente e outro ascendente, e tente uni-los com o movimento de sua respiração.

Passagem psíquica

O quarto ponto a ser observado em ajapa-japa é a passagem psíquica. O movimento da respiração pode ser praticado e percebido de várias maneiras diferentes, mas o mais importante é a consciência da respiração na passagem psíquica. Existe um número infinito de passagens psíquicas pelo corpo, mas a mais importante é suṣumṇā-nāḍī na coluna espinhal. As outras três mais importantes são iḍā e piṅgalā e a passagem frontal.

De acordo com a filosofia yogī, o prāṇa flui através de 72.000 nāḍīs ou canais prânicos. Nāḍī significa fluxo ou corrente. Fora estas 72.000 nāḍīs através das quais o prāṇa flui, dez são as mais relevantes e destas, três são as mais importantes. Destas três, uma é a chave e ela é conhecida como suṣumṇā, que flui através do canal central da espinha dorsal. As outras duas são localizadas a esquerda e direita de suṣumṇā e são chamadas de iḍā ou a força mental e piṅgalā ou a força vital. Suṣumṇā é responsável pela consciência espiritual. Iḍā dirige todas as funções mentais e piṅgalā dirige todas as funções vitais. Estas três nāḍīs controlam, portanto, todas as funções corporais.

Iḍā, piṅgalā e suṣumṇā começam no mūlādhāra-cakra, localizado no períneo, entre o ânus e o órgão sexual nos homens e no colo do útero nas mulheres. Do mūlādhāra estas três nāḍīs prosseguem até o cóccix e de lá sobem pela espinha dorsal até o ājñā-cakra, atrás do centro entre as sobrancelhas. Iḍā e piṅgalā vão somente até aqui, mas suṣumṇā prossegue ao sahasrāra, o cakra mais elevado na coroa da cabeça, onde a liberação (mokṣa) ocorre. Suṣumṇā é, portanto, o canal através do qual o despertar espiritual acontece. Por esse motivo ela é a principal passagem psíquica.

Som psíquico

O quinto ponto a ser observado em ajapa-japa é o som psíquico ou mantra a ser integrado com a respiração. Quando você inspira a respiração espontaneamente produz o som so; quando você expira a respiração produz o som haṃ. O mais importante é que o mantra e a respiração devem se tornar um. No início você se torna consciente da respiração entrando e saindo. Depois, contudo, quando você integrar o mantra com a respiração, os dois se tornam um: sohaṃ. Enquanto respira dentro da passagem psíquica, você se torna consciente do movimento da respiração combinado com o movimento poderoso do som: sohaṃ.

Este processo purifica as nāḍīs. Quando o mantra é desperto na respiração todo o corpo é recarregado. Toxinas psíquicas são eliminadas e bloqueios nas nāḍīs – que são as principais fontes de desequilíbrios físicos e mentais – são removidos. O som psíquico – o mantra sohaṃ - deve ser desperto na passagem psíquica e permear cada parte do corpo com sua vibração. Suṣumṇā é o ātma, a mais elevada consciência. Quando suṣumṇā começa a vibrar, a auto-consciência ocorre. Quando iḍā começa a vibrar, as forças mentais se tornam ativas. Quando piṅgalā começa a vibrar, o prāṇa ou a força vital se torna ativa e a energia flui através de todo sistema, se estendendo além do corpo físico.

Despertando a suṣumṇā

Quando a suṣumṇā começa a vibrar com o auxílio da concentração no prāṇa e a respiração e o mantra sobem e descem pela passagem psíquica, ocorre o despertar nos reinos mais elevados da consciência. Os sons internos ou psíquicos, conhecidos como nāda, são produzidos. Com a estabilidade das dimensões interiores, o praticante começa a escutar sons como sinos, conchas, flautas, tambores, músicas celestiais, o bramir das ondas do mar, relâmpagos e trovões. Não apenas um, mas muitos sons podem ser ouvidos. Outras experiências internas também podem acontecer em novas e diferentes dimensões, o que denota que karmas e saṃskāras estão sendo eliminados ou trabalhados.

Quando o despertar de suṣumṇā ocorre com o auxílio do mantra-śakti, a eliminação de karmas começa acontecer. Isso resulta na produção de sons internos e experiências fantásticas. Você pode escutar música e ver cores, animais, símbolos etc. Às vezes você pode sentir o horizonte se aproximando como ondas do mar ou seu corpo se expandindo como um balão inflável. Você pode sentir seu corpo vibrando com cada ser criado na criação e perceber a totalidade do universo como uma unidade.

Estas e muitas outras experiências maravilhosas, magníficas, relevantes, estranhas e extraordinárias podem acontecer. Todas elas surgem de sua consciência mais profunda. Elas lhe pertencem. Você as adquiriu nessa vida ou através da herança hereditária de seus antepassados, gravadas nas moléculas de seu DNA.

Ajapa-dhāraṇā é a base para o kuṇḍalinī-yoga. Com esta prática a concentração real se inicia. Quando ajapa-dhāraṇā é aperfeiçoada e completamente realizada, a mente se torna totalmente unidirecionada. Neste processo, dhyāna ou a meditação espontânea floresce.

Ajapa-dhāraṇā 1
Passagem Frontal: Maṇipūra-Viśuddhi

Na prática de ajapa-dhāraṇā, várias passagens psíquicas têm sido utilizadas a fim de canalizar a consciência, a respiração e o mantra. A primeira a ser explorada aqui é a passagem psíquica frontal que se estende do ponto de disparo do maṇipūra-cakra na região do umbigo ao ponto de disparo do viśuddhi-cakra na garganta. Esta passagem é um poderoso canal psíquico que abarca estes pontos de disparo ou cakras-kṣetraṃ. Estes são centros sutis que refletem a alta voltagem da energia transmitida pelos cakras na espinha para uso em diferentes órgãos e partes do corpo.

Esta passagem frontal é a primeira a ser explorada porque é a mais familiar a todos e, portanto, a mais fácil de ser visualizada. É necessário pouco esforço para visualizar a área entre o umbigo e a garganta porque estamos conscientes dela a maior parte do tempo. Também é fácil alternar a respiração nessa área na medida em que se executa a respiração natural. A rotação da respiração na passagem frontal causa um efeito relaxante no coração e pulmões, remove bloqueios prânicos e edifica o prāṇa nessa área.

Essa prática compreende vários estágios que desenvolvem a consciência da passagem psíquica. Primeiro a respiração se movimenta para cima e para baixo em uma linha ereta do umbigo a garganta e da garganta ao umbigo. Então a passagem psíquica frontal é visualizada como um tubo luminoso e transparente. Posteriormente, a rotação é alternada dentro da passagem psíquica. Quando isso tiver sido aperfeiçoado, a rotação do prāṇa é visualizada dentro da passagem frontal. Essa visualização é seguida pelo mantra sohaṃ e haṃso. Em cada estágio uma crescente energia estabelecida dentro da passagem frontal é experienciada e a concentração se torna mais profunda e unidirecionada. Essa prática segue o princípio de que o despertar da energia traz consigo o despertar da consciência, o que torna mais fácil manter a mente concentrada e focada em um ponto.

Técnica
Estágio 1: Preparação
Sente-se em uma confortável postura meditativa.
Mantenha as costas eretas.
A cabeça, o pescoço e os ombros devem estar levemente para trás, relaxados.
Descanse as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Torne-se consciente de seu corpo e da postura meditativa.
Consciência total em seu corpo do topo da cabeça aos dedos dos pés.
Sinta que a sua postura se torna estável e imóvel.
Consciência total no corpo e na estabilidade; consciência total no corpo e na imobilidade (pausa).
Estágio 2: Consciência respiratória
Mude sua consciência do corpo para respiração (pausa).
Respire vagarosamente e profundamente.
Na medida em que inspira, conte até cinco. Na medida em que expira, conte até cinco (pausa).
Concentre-se na respiração na região da garganta. Quando inspirar e expirar, sinta a respiração se movendo através da garganta. Na medida em que se concentra na respiração rítmica na garganta, gradualmente sentirá a estabilidade da mente e do corpo como um todo (pausa).
Agora, se torne consciente da respiração se movendo do umbigo até a garganta.
Traga sua consciência ao umbigo.
Inspire vagarosamente em uma linha ereta do umbigo até a garganta.
Expire vagarosamente em uma linha ereta da garganta até o umbigo.
Conte até cinco na inspiração. Conte até cinco na expiração (pausa).
Continue respirando para cima e para baixo do umbigo a garganta, da garganta ao umbigo, até que a respiração se mova neste caminho facilmente sem esforço consciente (pausa).
Observe o movimento respiratório com cuidado sem perder a consciência de uma única inspiração, sem perder a consciência de uma única expiração (pausa).
Estágio 3: Visualização na passagem frontal
Deixe a consciência da respiração por alguns momentos e visualize a passagem psíquica entre o umbigo e a garganta, na frente do corpo.
Veja a passagem psíquica como um tubo longo, fino e transparente, conectando o umbigo a garganta.
Este tubo é oco por dentro e aberto nas duas extremidades, como uma flauta. Você pode movimentar a respiração através dele por cima ou por baixo.
Visualize esse tubo luminoso, transparente e movimente sua consciência para cima e para baixo sobre sua superfície exterior.
Tente ver toda extensão do tubo com bastante clareza (pausa).
Leve sua consciência para dentro do tubo e movimente-a para cima e para baixo, visualizando o tubo a partir de dentro (pausa).
Estágio 4: Rotação respiratória dentro da passagem psíquica
Respire profundamente. Respire vagarosamente.
Sinta a respiração se movendo dentro da passagem frontal entre o umbigo e a garganta.
Enquanto inspira, a respiração sobe do umbigo a garganta.
Enquanto expira, a respiração desce da garganta ao umbigo.
Com a subida e descida de cada respiração, visualize claramente o interior da passagem psíquica. Sinta sua consciência subindo e descendo com a respiração dentro da passagem psíquica. Na medida em que a respiração se movimenta dentro da passagem, a consciência se movimenta também (pausa).
Desenvolva a sensação de duas forças distintas, a respiração e a consciência se movimentando dentro da passagem psíquica (pausa).
Estágio 5: A rotação do prāṇa
Esteja consciente da respiração e da consciência se movendo juntas dentro da passagem psíquica.
Sinta o fluxo da respiração e da consciência subindo e descendo dentro da passagem psíquica (pausa).
Gradualmente se torne consciente de uma terceira força, a força prânica, que se move junto com a respiração e com a consciência. É necessário uma observação sutil para perceber o fluxo do prāṇa se movendo com a respiração (pausa).
A respiração se move na forma de ar, o prāṇa se move na forma de energia.
Esteja consciente da energia, do prāṇa, se movendo junto com a respiração (pausa).
É o fluxo do prāṇa entre o umbigo e a garganta que cria a passagem psíquica, da mesma maneira que o fluxo da água forma o rio.
Esteja consciente do prāṇa se movendo com a respiração dentro da passagem psíquica. Visualize o fino e cintilante fio de energia, o prāṇa, que flui para cima do umbigo a garganta enquanto inspira. Visualize o prāṇa descendo da garganta ao umbigo enquanto expira. Observe cuidadosamente e experiencie o movimento do prāṇa dentro da passagem psíquica (pausa).
No início você precisará utilizar sua imaginação, mas com a prática, espontaneamente sentirá a poderosa corrente de energia fluindo para cima e para baixo dentro da passagem psíquica. Esteja consciente do prāṇa a cada respiração.
Estágio 6: Rotação do mantra sohaṃ
Agora, concentre-se apenas na respiração.
Escute atentamente o som sutil de cada respiração na medida em que ela sobe e desce na passagem frontal. O som inerente da respiração é o mantra sohaṃ.
Quando inspirar, escute o mantra so.
Quando expirar, escute o mantra haṃ.
Este mantra não se separa da respiração. Ele não é repetido verbalmente. Ele ocorre junto com a respiração. Na medida em que você inspira – so; na medida em que você expira – haṃ. Apenas esteja consciente do mantra e da respiração que sobe e desce (pausa).
Enquanto inspira, cuidadosamente escute o som so-o-o-o. Enquanto expira, escute o som ham-m-m-m.
Concentre-se completamente no processo da respiração junto com o mantra, na medida em que inspira e expira: sohaṃ. Enquanto a respiração se movimenta, o som mântrico sutil também se movimenta (pausa).
Esteja consciente do movimento da respiração e da vibração do mantra sohaṃ dentro da passagem psíquica. Foque toda sua consciência dentro da passagem frontal. Não deve haver nenhum outro pensamento, visão ou experiência (pausa).
Sinta que todo processo respiratório ocorre apenas dentro da passagem psíquica (pausa).
Na medida em que a respiração se tornar mais sutil, a vibração do mantra também se tornará mais sutil. Gradualmente você irá perceber este processo como um movimento psíquico dentro da passagem frontal. A dimensão de sua consciência irá mudar na medida em que a mente se tornar completamente absorvida no movimento psíquico da respiração e na vibração do mantra. Nada existe fora da passagem psíquica. Não existe nada além do mantra e da respiração (pausa).
Estágio 7: Rotação do mantra haṃso
Agora nós trocaremos a consciência do mantra sohaṃ para haṃso.
A consciência respiratória na passagem frontal continua a mesma, contudo, o ponto de início da consciência mântrica muda. Ao invés de iniciarmos o mantra com a inspiração do maṇipūra ao viśuddhi, vamos iniciar com a expiração do viśuddhi ao maṇipūra.
Traga sua consciência ao viśuddhi, na região da garganta.
Expire da garganta (viśuddhi) ao umbigo (maṇipūra) através da passagem psíquica e escute o som ham-m-m-m. Inspire do umbigo (maṇipūra) a garganta (viśuddhi) através da passagem psíquica e escute o som so-o-o-o. O mantra haṃ acompanha a expiração da garganta ao umbigo. O mantra so acompanha a inspiração do umbigo a garganta. Apenas o ponto de início mudou (pausa).
Você inicia cada ciclo a partir do viśuddhi-cakra com a expiração, acompanhada do mantra haṃ, seguida pela inspiração a partir do maṇipūra-cakra, acompanhada do mantra so (pausa).
Mantenha a consciência no mantra haṃso. Intensifique a percepção do mantra sincronizando-o com a respiração dentro da passagem psíquica (pausa).
Com a ênfase na expiração e no mantra haṃ, você sentira um aprofundamento de sua consciência. Neste momento, não se distraia com flashes momentâneos de luz, cores ou visões. Seja lá o que surja na mente, observe com uma atitude de desapego e traga a consciência de volta a respiração e ao mantra dentro da passagem psíquica (pausa).
Estágio 8: Fim da prática
Agora se prepare para o fim da prática.
Recolha sua consciência da passagem frontal e do mantra.
Respire normalmente.
Torne-se consciente de seu corpo físico sentado na postura meditativa.
Sinta o corpo da cabeça aos pés.
Esteja consciente do peso do corpo no chão.
Sinta as mãos repousando sobre os joelhos.
Vagarosamente movimente os dedos das mãos e dos pés.
Respire profundamente e vocalize o mantra oṃ três vezes.


Hari Oṃ Tat Sat

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