segunda-feira, 23 de junho de 2014




Fernando Liguori


Texto extraído da apostila do curso «Oficina de Meditação», edição 2011, ministrado pelo Instituto Kaula.


Quando você fecha os olhos o que acontece? Vê um espaço frente aos seus olhos fechados. Durante toda sua vida você vê esse espaço, mas é muito provável que não dê a ele a devida atenção. Geralmente esse espaço é negro, mas em muitas pessoas ele pode parecer em inúmeras cores distintas. O que é certo mesmo é que ele existe, bem na frente de seus olhos fechados. Essa é sua tela mental.

É nessa tela que você irá, com a devida prática e relaxamento, ver os mais incríveis eventos psíquicos através da prática meditativa. Por conta da tensão em demasia, você pode não ver nada durante algum tempo. Mas na medida em que for se sensibilizando, relaxando e retraindo seus sentidos para o interior, subitamente você será confrontado com imagens e eventos projetados nessa tela.

Imagine que você acaba de descobrir uma caverna bem profunda. Ao entrar nessa caverna não consegue ver nada. Tudo é negro, irreconhecível. Mas na medida em que seus olhos forem se acostumando com o ambiente, você será capaz de identificar pedras, caminhos, estalactites, estalagmites e, quem sabe, até um eremita meditando em algum canto. Na medida em que sua percepção vai se tornando mais refinada, você começa a perceber coisas que antes não deu atenção. O mesmo ocorre com sua caverna mental. No início, quando observa a caverna mental, não consegue ver nada. Você chega a pensar que não há nada para ser visto ali. Mas quando olha profundamente na escuridão da caverna começa a ver coisas que, até o momento, eram inconcebíveis. Coisas que não aparecem magicamente, mas que já estavam ali sem o seu conhecimento, sem que tivesse consciência delas. Você começa a acessar extratos que estavam profundamente enraizados nos recessos mais profundos de seu inconsciente e na medida que isso ocorre, você começa a desenvolver a consciência de seu Ser Interior. Isso é cidākāśa-dhāraṇā.

Cidākāśa Dhāraṇā

Essa é uma das técnicas meditativas mais utilizadas no Yoga. Geralmente ela é combinada com outras práticas e trata-se da observação da tela mental, onde é possível se acessar o espaço (cidākāśa) quando se fecha os olhos. A palavra dhāraṇā significa concentração ou estar consciente. Portanto, um dos nomes dados a essa técnica é estar consciente do espaço interno da consciência.

Para se alcançar estados meditativos profundos o praticante deve desenvolver uma concentração determinada. Cidākāśa-dhāraṇā é uma poderosa técnica de visualização interna que desenvolve a capacidade de concentração e o refinamento da percepção. Swamijī Satyananda diz que cidākāśa-dhāraṇā é uma forma particular de meditação que desperta a consciência e leva o praticante a estados profundos de auto-percepção.

Cidākāśa é uma palavra formada a partir de duas palavras: cit e ākāśa. Cit significa consciência, lucidez e ākāśa significa espaço. Portanto, a tradução literal do termo é espaço da consciência. É a tela negra do ājñā-chakra projetada atrás dos olhos fechados. É a manifestação mais externa da existência abstrata, impercebível e inconsciente do Ser Interior que encontra expressão e manifestação na forma da solidão que habita a consciência sombria mais profunda. Cidākāśa-dhāraṇā é uma técnica meditativa que abre os portais dos reinos secretos do inconsciente mais profundo.

Quando nos sentamos para praticar, o que encontramos é uma escuridão que nebula a luz da alma. É preciso transcender esta escuridão para que possamos atingir a luz eterna do espírito. Com a prática, da escuridão gradualmente começamos a ter visões de nevoeiros, estrelas, sóis, fogo, pássaros voando, vaga-lumes e até visões grotescas, monstruosas. Podemos ver qualquer coisa a partir das impressões que temos profundamente arraigadas em nós, impressões que por incontáveis períodos de tempo têm sido acumuladas em nosso inconsciente. Todas essas visões são formas que se concentram na mente inferior e esta mente se manifesta de maneiras distintas, sempre em concordância com o conteúdo mental suprimido do praticante.

Pratica-se cidākāśa-dhāraṇā para um apuramento mais refinado da consciência. Portanto, quando se retrai a consciência do campo grosseiro da percepção exterior, símbolos e visões começam a ocorrer. Este é o processo em que as impressões depositadas nos recessos mais profundos do inconsciente vagarosamente vêm à tona. Na medida em que esta experiência ocorre, paulatinamente uma consciência mais refinada e sutil vai se desenvolvendo. Aí ocorre a percepção do espaço infinito, eterno e unidimensional do cidākāśa como a plataforma da manifestação da consciência.

Visualização do Cidākāśa

O cidākāśa é visualizado como um quarto negro de quatro paredes, piso e teto. No piso do quarto, próximo ao centro, há um pequeno orifício condutor que vai para baixo. Esta é a suṣumnā-nāḍī que perpassa os cakras inferiores. Na parede frontal se encontra a tela onde visões serão projetadas se o praticante estiver preparado para relaxar as tensões e os complexos que as inibem.

Para localizar o cidākāśa, coloque sua consciência na cavidade craniana atrás da testa. Tenha uma concentração resoluta sobre o ponto onde sua consciência se direciona enquanto fecha os olhos. Freqüentemente o cidākāśa é imaginado como um buraco negro dentro da cavidade craniana. Portanto, enquanto se concentra no cidākāśa, o espaço atrás da testa deveria servir como um sustentáculo material onde pode centrar sua consciência.

Requerimentos para prática

Um dos primeiros requerimentos para prática é o domínio de uma postura meditativa. As melhores posturas para meditação em ordem de preferência são: siddhāsana, sidha-yoni-āsana, padmāsana e swastikāsana. Escolha uma destas posturas e pratique freqüentemente, dessa maneira você irá superar a dor e poderá permanecer facilmente na postura durante o período da prática.

A elasticidade e flexibilidade dos ossos e coluna são, em grande medida, os maiores responsáveis por um āsana bem feito. A rigidez e falta de flexibilidade dos ossos, músculos, tendões e ligamentos afetam a saúde e a qualidade da meditação. Mas essas dificuldades serão automaticamente removidas pela prática regular de āsana e prāṇāyāma.

Muitos alunos perguntam se podem mudar a posição durante a prática da meditação. É claro que sim, não há nenhum impedimento nisso. Mas o que deve ficar claro é que quando alguém se movimenta na postura, seja trocando as pernas, se coçando ou movimentando os dedos, sua consciência é imediatamente arremessada para o exterior; com isso perde-se o fio condutor da prática e ele terá de se esforçar para alcançar aquele estado interior que anteriormente havia adquirido. A sensação de dor nos membros inferiores pode lhe levar a mudar de uma postura a outra, desconfortavelmente. Isso é um obstáculo para a jornada interna da consciência. Não é possível ficar em uma postura por um longo período de tempo se não há proficiência em pelo menos um āsana meditativo. Por isso a necessidade de se aperfeiçoar na prática física postural (kāya-sādhanā) antes de executar cidākāśa-dhāraṇā.

É importante também ter um conhecimento prévio da anatomia do Yoga para uma execução bem feita da prática e um melhor entendimento do que é cit. De acordo com a filosofia do Yoga, a natureza humana consiste de vinte elementos diferentes: cinco karmendriyas (órgãos de ação), cinco jñānendriyas (órgãos dos sentidos), os cinco prāṇas, os quatro elementos que constituem o antaḥ-karaṇa e a consciência ou espírito.

Uma resoluta fé e devoção ao guru também é um requisito básico. Sem a confiança necessária nos ensinamentos do mestre e a firmeza em seu conhecimento não há como se desenvolver na prática. Há um ditado yogī popular que diz que o resultado na meditação é 90% a graça do guru e 10% o esforço do praticante.

Benefícios da prática

Cidākāśa-dhāraṇā desenvolve a concentração e promove a expansão da consciência. A imaginação é aperfeiçoada e a memória fotográfica aprimorada.

A habilidade de se concentrar, de focar a atenção em um ponto por um período de tempo, é diretamente proporcional a quantidade e qualidade de aprendizagem verdadeira que se está experimentando. Isso significa que se uma pessoa é realmente capaz de concentrar sua atenção, sem a interferência de nenhum pensamento, logo desenvolverá uma percepção refinada e a habilidade de ver verdades que se encontram ocultas atrás das aparências fenomênicas.

Portanto, cidākāśa-dhāraṇā é basicamente uma prática que, com o auxílio da visualização, intensifica a concentração e torna a mente direcionada a um ponto. A perfeição destes sentidos internos leva o praticante a estados meditativos profundos e desperta o potencial latente da clarividência.

A remoção de problemas mentais

Cidākāśa-dhāraṇā é uma poderosa ferramenta que auxilia na remoção de bloqueios, traumas e medos. Antes de remover algum problema mental, você precisa primeiro reconhecê-lo. A maior parte dos problemas mentais das pessoas se encontra na camada subconsciente da mente, justamente embaixo da percepção consciente. Em outras palavras, um pouco além do véu da escuridão que se levanta quando você fecha os olhos. É neste nível que as raízes ou sementes dos problemas mentais que acometem as pessoas do mundo moderno de hoje residem. Estas sementes causam a infelicidade e o desequilíbrio quando se manifestam subitamente no nível consciente mais externo. A maioria das pessoas permanecem por toda a vida completamente inconscientes das raízes de sua insatisfação e infelicidade. Contudo, com a prática de cidākāśa-dhāraṇā, pode-se encontrar a fonte dos problemas mentais para assim dissolvê-los.

O subconsciente não funciona por meio da lógica, por meio da palavra. Ele se comunica através de símbolos e imagens psíquicas, seja no sono ou através das práticas meditativas. Os problemas mentais que residem na camada subconsciente da mente são armazenados na forma de símbolos. Quando estes símbolos são confrontados pelo praticante em um estado de consciência relaxada, eles podem ser removidos. Mas é fundamental – e aqui é necessário a redundância – que estes símbolos sejam confrontados quando o praticante estiver em um estado de relaxamento consciente. Ele deve estar completamente desperto quando defrontar estas manifestações psíquicas. Essa é a função do cidākāśa-dhāraṇā.

Para que essa técnica tenha efeitos profundos e verdadeiros, é necessário uma grande capacidade de desapego e uma atitude de testemunha. A indiferença e a falta de resposta emocional a estas visões psíquicas em estados profundos de consciência relaxada devem também ocupar lugar frente aos problemas do dia-a-dia como manifestações destes estratos subconscientes. Dessa maneira, medos e conflitos que anteriormente causavam desarmonia na vida cessam. Do contrario, sem a devida atitude correta perante a prática, não há como fazer um trabalho bem feito.

Existe ainda uma razão muito importante para se manter uma atitude de testemunha com relação às ocorrências da tela mental: é somente assistindo, sendo uma testemunha de cada visão, de maneira desinteressada, que você permitirá que os recessos subconscientes se precipitem livremente até a percepção consciente. É somente dessa maneira que as bolhas mentais do subconsciente podem espontaneamente chegar à superfície. Se existir alguma expectativa de sua parte, ocorrerá um retardamento em todo processo.

Lembre-se sempre que o propósito fundamental de técnicas meditativas como o cidākāśa-dhāraṇā não é apenas a remoção dos problemas mentais mais grosseiros, mas um mergulho profundo nos rincões da mente. A manifestação psíquica dos problemas mentais subconscientes emerge somente das camadas mais superficiais da mente e estes problemas existem em forma seminal abaixo da superfície plana do oceano da mente. Você irá confrontá-los logo nos primeiros estágios das práticas meditativas. Mas o objetivo é ir mais fundo nas profundezas da mente. Uma vez que as camadas mais externas vão sendo experienciadas e ultrapassadas, você passará por um abalo nas fundações de sua vida. Este abalo não será catastrófico, mas sim de bem-aventurança e regozijo.

A prática do Cidākāśa Dhāraṇā

Cidākāśa-dhāraṇā é uma poderosa técnica de visualização interna desenvolvida a partir de fontes antigas de conhecimento como os Vedas e os Tantras. Antes de executar cidākāśa-dhāraṇā, faça de cinco a vinte minutos de kāya-sthairyam e cinco a vinte minutos de prāṇāyāma. Escolha uma técnica que utilize nasagra-mudrā, como nāḍī-śodhana ou bhastrikā-prāṇāyāma. Quando levamos o dedo médio no ponto entre as sobrancelhas em nasagra-mudrā, fica mais fácil se concentrar no cidākāśa. Aqueles que em seu yoga-sādhanā se entregam a alguma prática devocional (bhakti), cidākāśa-dhāraṇā pode ser executado com a visualização do iṣtā-devatā.

A prática que se segue é uma preparação para os estágios mais avançados da técnica.

Técnica 1: Cidākāśa Dhāraṇā (observação do espaço da consciência)
Sente-se confortavelmente em uma postura meditativa.
Mantenha as costas eretas e a cabeça no prolongamento da coluna.
Relaxe os músculos do abdômen, os ombros e os músculos da face.
Mantenha os olhos fechados e descanse as mãos em cin ou jñāna-mudrā sobre os joelhos.
Relaxe todas as tensões do corpo e mente. Mantenha seu corpo completamente imóvel e firme na postura. Não deve haver movimento físico de nenhum tipo. Assim como é a estabilidade corporal, também é a estabilidade mental (pausa).
Torne-se completamente consciente do processo natural de sua respiração. Não imponha ritmo. Apenas observe o processo natural de sua respiração (pausa).
Dirija sua consciência para o cidākāśa, o espaço na frente de seus olhos fechados. Recolha sua mente e se concentre internamente na parte de trás de sua testa, como se estivesse olhando para uma parede negra. Essa é sua tela mental. Vagarosamente vá tornando-se consciente desse espaço interior, o cidākāśa (pausa).
Sua consciência deve estar relaxada. Não tencione seu corpo ou seus olhos na tentativa de ver alguma coisa. Deixe que as experiências ocorram por si mesmas. Permita que tudo ocorra vagarosamente, espontaneamente e naturalmente (pausa).
Tente ver uma abobada, um piso e quatro paredes neste espaço frente a seus olhos fechados. Qualquer visão que apareça deve ser observada com uma atitude de testemunha desinteressada. Torne-se um observador imparcial (pausa).
Inspire e expire. Vagarosamente vá retomando a consciência do exterior na medida em que movimenta os dedos das mãos. Leve as mãos na frete do peito em  namaskāra-mudrā. Mantenha os olhos fechados e finalize a prática entoando três vezes o mantra oṃ.

A seguinte técnica adaptada, pode ser conjugada com práticas mais profundas como antar-mouna e pode ser utilizada em sessões de Yoga Terapia. O foco aqui está em projetar na tela mental medos e traumas de forma consciente para que estes sejam trabalhados e eliminados. Para execução desta técnica é exigido certa proficiência em técnicas meditativas como japa, ajapa-japa, cakra-dhyāna e antar-mouna.

Técnica 2: Cidākāśa Dhāraṇā (consciência do cidākāśa)
Sente-se confortavelmente em uma postura meditativa: siddhāsana, siddha-yoni-āsana ou padmāsana.
Ajuste a posição de maneira que você não precise mexer nenhuma parte de seu corpo durante a prática. A coluna deve estar perfeitamente ereta. A cabeça, o pescoço e os ombros na posição vertical, bem encaixados. Coloque as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Se torne consciente do cidākāśa, a tela mental que se forma na frente de seus olhos fechados.
Observe tudo o que é projetado em sua tela mental.
Você irá ver várias tonalidades de cor, espectros de luz, estrelas e símbolos.
Tome a firme resolução de permanecer em um estado de testemunha ao experienciar estas visões. Não se identifique (pausa).
Se você está acostumado a meditar profundamente, projete seus medos e traumas subconscientes no cidākāśa (pausa).
Se distancie de cada pensamento que apareça, mas esteja consciente de cada um. Afaste qualquer pensamento intruso.
Esteja completamente consciente do que acontece dentro de você (pausa).
Se você chegou até aqui, com concentração, está preparado para meditar profundamente.
As projeções psíquicas de sua mente irão segui-lo.
Você está de pé diante de um portal, observando seus pensamentos emergindo das profundezas.
Sua câmara interior está aberta de todos os quatro lados para que suas projeções psíquicas possam emergir de qualquer lado.
Você tem de estar no centro para que possa observar todos os lados ao mesmo tempo (pausa).
De qual lado vem a projeção? O pensamento?
Quando perceber qualquer pensamento a espreita, impeça-o de se manifestar.
Esteja completamente atento ao cidākāśa.
Observe as inúmeras formas psíquicas que se projetam em sua tela mental.
Deixe que sua consciência se torne profunda e intensa de tal maneira que sua mente não se afasta do cidākāśa (pausa).
Não deve haver nenhum tipo de análise sobre qualquer experiência.
Na medida em que você observa o estado absorção total no cidākāśa, você entra em um nível de concentração tão intensa que toda a gama de projeções latentes subconsciente vêm a tona.
Observe estas projeções. Não tenha medo. Na medida em que vai compreendendo cada projeção, elimine com consciência o problema.
Inspire e expire. Vagarosamente vá retomando a consciência do exterior na medida em que movimenta os dedos das mãos. Leve as mãos na frete do peito em  namaskāra-mudrā. Mantenha os olhos fechados e finalize a prática entoando três vezes o mantra oṃ.

A seguinte técnica é uma prática completa de cidākāśa-dhāraṇā. Antes de executá-la, certifique-se de ter executado as práticas anteriores com proficiência.

Técnica 3: Cidākāśa Dhāraṇā (prática completa)
Sente-se confortavelmente em uma postura meditativa.
Ajuste seu corpo de tal maneira que não precise se movimentar durante a prática.
Mantenha a coluna ereta, mas sem tensão excessiva nas costas. Sente-se de maneira confortável, mas com as costas eretas. Não force.
Feche seus olhos. Vamos começar a prática.
Estágio 1: consciência corporal
Pratique kāya-sthairyam.
Mantenha consciência total em seu corpo.
Deve haver um fluxo contínuo de consciência perpassando todo o corpo.
Quanto mais consciência fluir por seu corpo, mais estável sua mente se tornará. A estabilidade corporal induz a estabilidade mental.
Direcione sua consciência para as diferentes partes de seu corpo (pausa).
Torne-se consciente de todo seu corpo.
Deve haver um estado de consciência homogênea entre todo o corpo sentado no chão. Não as diferentes partes do corpo, mas o corpo por inteiro, como uma unidade (pausa).
Permaneça consciente e sinta a imobilidade corporal.
Sinta que seu corpo é como uma estátua.
Eventualmente não haverá a necessidade de se criar uma sensação de imobilidade corporal; ela ocorrerá espontaneamente.
Continue a prática de kāya-sthayriam por cinco minutos ou pelo tempo que estiver disponível.
Estágio 2: vocalização do mantra auṃ
Vocalize auṃ sete vezes, bem devagar.
Sinta as vibrações ressoando, reverberando através de todo seu corpo.
Esteja completamente absorvido e consciente do som.
Sinta que nada existe além do mantra auṃ.
Estágio 3: consciência respiratória
Mantenha a consciência total no fluxo natural de sua respiração.
Pratique por alguns minutos anuloma-viloma e prāṇa-śuddhi.
Atenção total no fluxo natural de sua respiração.
Deixe que sua respiração seja natural.
Não force ou tente controlar a respiração.
Esteja consciente do ar fluindo por ambas as narinas.
Esteja consciente de que está inspirando.
Esteja consciente de que está expirando.
Quando inspirar, tenha consciência de que está inspirando.
Quando expirar, tenha consciência de que está expirando.
Consciência total na respiração natural e sem esforço (pausa).
Normalmente, a respiração ocorre sem que estejamos conscientes de seu processo. Ela acontece inconscientemente. Agora você deve senti-la. Perceba que ela inunda continuamente seu corpo. Esteja consciente de seu processo respiratório como nunca esteve.
Imagine que é a primeira vez que você está respirando. Sinta a experiência da bem-aventurança respiratória por todo seu ser.
Consciência total e ininterrupta no processo respiratório.
Escute o som da respiração.
Sinta o ar entrando e saindo pelas narinas (pausa).
Tente sentir o ar entrando por cada narina separadamente.
Na medida em que inspira, o fluxo do ar que entra pelas narinas se encontra no ponto entre as sobrancelhas.
Na medida em que expira, o fluxo de ar se distancia do ponto entre as sobrancelhas, se separando e movendo-se para baixo na forma de um V invertido.
O ar que flui pelas narinas forma um triângulo. O topo do triângulo é o ponto entre as sobrancelhas.
Continue a experienciar essa convergência e divergência alternativa da respiração na medida em que inala e exala respectivamente (pausa).
Imagine que está completamente absorvido pela respiração.
Estágio 4: cidākāśa-dhāraṇā
Observe o espaço na frente de seus olhos fechados, o cidākāśa.
Esteja relaxado. Não force ou crie tensão.
Apenas observe.
Seja uma testemunha de tudo o que possa aparecer no cidākāśa, qualquer visão, seja lá o que for.
Não tente interpretar ou analisar.
Veja dentro da caverna de sua mente.
Veja com profundidade.
Ela é muito escura... muito escura. Observe profundamente (pausa).
Você pode não ver nada. Mas não se preocupe, apenas continue a prática.
Não crie expectativa de nada, apenas observe.
Seja uma testemunha (pausa).
Após algum tempo, você pode ver cores, feixes de luz, visões, formas estranhas, memórias vívidas etc. Seja lá o que for projetado, permaneça como uma testemunha desinteressada.
Deixe que as coisas aconteçam. Elas se ajustam por si mesmas. Não antecipe absolutamente nada.
Observe o espaço de seu Ser.
Se aprofunde na escuridão do cidākāśa como se estivesse procurando algo em um quarto escuro.
Veja a totalidade do cidākāśa, não confine sua atenção apenas a um lugar.
Deixe que sua visão se estenda por todo o cidākāśa como se estivesse assistindo um filme no cinema.
Observe... observe... e continue a observar.
Você não tem que fazer nada, apenas observar.
Persevere e encontre as camadas multidimensionais da mente.
Não crie expectativa. Quanto mais desapegado do processo, mais você verá.
Continue a prática por cinco ou dez minutos ou pelo tempo que estiver disponível.
Estágio 5: concentração ou trāṭaka
Este estágio é para aquelas pessoas que conseguem criar mentalmente e com facilidade visualizar um símbolo psíquico na tela da mente.
Visualize e se concentre no símbolo psíquico escolhido e projetado na tela mental.
Escolha qualquer símbolo que tenha significado para você. É importante que se sinta a vontade.
Visualize com exatidão e clareza. Mantenha a imagem do símbolo estável.
Consciência total no símbolo psíquico.
Não existe nada além do símbolo.
Toda sua consciência está confinada no símbolo.
Isso permite que sua mente torne-se unidirecionada e você experimenta os níveis cada vez mais sutis da consciência.
O símbolo é o foguete que lhe leva as profundezas do espaço interior, no éter da consciência.
Continue a prática por cinco ou dez minutos ou pelo tempo que estiver disponível.
Estágio 6: vocalização do mantra auṃ e cidākāśa-dhāraṇā
Vagarosamente vocalize o mantra auṃ sete vezes.
Esteja simultaneamente consciente do som do mantra e do cidākāśa.
Ao final da vocalização, mantenha consciência total no cidākāśa.
Permaneça como uma testemunha de tudo o que é projetado em sua tela mental. Se medos subconsciente e sentimentos reprimidos surgirem na superfície da mente, apenas assinta de forma desapegada.
Se tiver visões extraordinárias, não se excite. Existe muito mais. Chegará à hora em que você verá coisas inacreditáveis que será incapaz de ficar emocionalmente excitado.
Continue por alguns minutos.
Esteja atento ao seu corpo e ao ambiente exterior.
Então abra os olhos.
Este é o fim da prática.

Relaxamento

Como todas as técnicas meditativas, o relaxamento do corpo e da mente é necessário. Sem ele não há possibilidade de se experienciar profundamente a meditação. Se a mente estiver ocupada com as trivialidades da vida, então o ganho será pouco ou quase nada. É por essa razão que a técnica 3 (acima) foi combinada com outras técnicas preliminares, como kāya-sthairyam, a vocalização do mantra auṃ e a consciência respiratória; elas induzem um sistemático relaxamento do corpo e da mente. Portanto, são muito importantes quando conjugadas.

Mas não se sinta obrigado a conjugar estas técnicas como muletas na prática de cidākāśa-dhāraṇā. Você pode combinar a prática com qualquer outra técnica meditativa que domine ou seja mais apropriada para sua natureza pessoal. O importante é que você atinja um profundo estado de relaxamento tão necessário para realização de todo o processo. É somente em estado relaxado que poderemos nos aprofundar na caverna da mente. Se não houver relaxamento físico ou mental, você nunca conseguirá penetrar nas profundezas da mente e ficara só na superfície. Não conseguira rasgar o véu de cidākāśa-dhāraṇā. Portanto, antes da prática, tenha certeza de que está realmente relaxado, seja por outras técnicas meditativas ou pelo processo dos āsanas e prāṇāyāmas.


2 comentários:

  1. olá, você tem referências de textos, manuais, tantras, etc?

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, bom dia.

      Hari Om Tat Sat.

      Grande parte dos textos que posto no blog estão inseridos nas apostilas dos cursos e workshops que ministro. Por conta disso, muitas vezes omito a bibliografia porque é muito extensa, abrangendo todo conteúdo da apostila. Posso enviar a bibliografia para este texto via e-mail. Solicite por: srikulacara@gmail.com.

      Namo Narayan.

      Excluir