Fernando Liguori
Texto extraído da
apostila do curso «Oficina de Meditação», edição 2011, ministrado pelo
Instituto Kaula.
Quando você fecha os olhos o que acontece? Vê um espaço frente aos seus olhos fechados. Durante toda sua vida você
vê esse espaço, mas é muito provável que não dê a ele a devida atenção.
Geralmente esse espaço é negro, mas em muitas pessoas ele pode parecer em
inúmeras cores distintas. O que é certo mesmo é que ele existe, bem na frente
de seus olhos fechados. Essa é sua tela
mental.
É nessa tela que você irá, com a devida prática e relaxamento, ver os mais
incríveis eventos psíquicos através da prática meditativa. Por conta da tensão
em demasia, você pode não ver nada durante algum tempo. Mas na medida em que
for se sensibilizando, relaxando e retraindo seus sentidos para o interior,
subitamente você será confrontado com imagens e eventos projetados nessa tela.
Imagine que você acaba de descobrir uma caverna bem profunda. Ao entrar
nessa caverna não consegue ver nada. Tudo é negro, irreconhecível. Mas na
medida em que seus olhos forem se acostumando com o ambiente, você será capaz
de identificar pedras, caminhos, estalactites, estalagmites e, quem sabe, até
um eremita meditando em algum canto. Na medida em que sua percepção vai se
tornando mais refinada, você começa a perceber coisas que antes não deu
atenção. O mesmo ocorre com sua caverna mental. No início, quando observa a
caverna mental, não consegue ver nada. Você chega a pensar que não há nada para
ser visto ali. Mas quando olha profundamente na escuridão da caverna começa a
ver coisas que, até o momento, eram inconcebíveis. Coisas que não aparecem
magicamente, mas que já estavam ali sem o seu conhecimento, sem que tivesse
consciência delas. Você começa a acessar extratos que estavam profundamente
enraizados nos recessos mais profundos de seu inconsciente e na medida que isso
ocorre, você começa a desenvolver a consciência de seu Ser Interior. Isso é cidākāśa-dhāraṇā.
Cidākāśa Dhāraṇā
Essa é uma das técnicas meditativas mais utilizadas no Yoga. Geralmente ela é combinada com
outras práticas e trata-se da observação da tela mental, onde é possível se
acessar o espaço (cidākāśa) quando se
fecha os olhos. A palavra dhāraṇā
significa concentração ou estar consciente. Portanto, um dos nomes
dados a essa técnica é estar consciente
do espaço interno da consciência.
Para se alcançar estados meditativos profundos o praticante deve
desenvolver uma concentração determinada. Cidākāśa-dhāraṇā
é uma poderosa técnica de visualização interna que desenvolve a capacidade de
concentração e o refinamento da percepção. Swamijī Satyananda diz que cidākāśa-dhāraṇā é uma forma particular
de meditação que desperta a consciência e leva o praticante a estados profundos
de auto-percepção.
Cidākāśa é uma palavra formada a partir de duas
palavras: cit e ākāśa. Cit significa consciência, lucidez e ākāśa significa
espaço. Portanto, a tradução literal
do termo é espaço da consciência. É a
tela negra do ājñā-chakra projetada
atrás dos olhos fechados. É a manifestação mais externa da existência abstrata,
impercebível e inconsciente do Ser Interior que encontra expressão e
manifestação na forma da solidão que habita a consciência sombria mais
profunda. Cidākāśa-dhāraṇā é uma
técnica meditativa que abre os portais dos reinos secretos do inconsciente mais
profundo.
Quando nos sentamos para praticar, o que encontramos é uma escuridão que nebula
a luz da alma. É preciso transcender esta escuridão para que possamos atingir a
luz eterna do espírito. Com a
prática, da escuridão gradualmente começamos a ter visões de nevoeiros,
estrelas, sóis, fogo, pássaros voando, vaga-lumes e até visões grotescas,
monstruosas. Podemos ver qualquer coisa a partir das impressões que temos
profundamente arraigadas em nós, impressões que por incontáveis períodos de
tempo têm sido acumuladas em nosso inconsciente. Todas essas visões são formas
que se concentram na mente inferior e esta mente se manifesta de maneiras
distintas, sempre em concordância com o conteúdo mental suprimido do
praticante.
Pratica-se cidākāśa-dhāraṇā para
um apuramento mais refinado da consciência. Portanto, quando se retrai a
consciência do campo grosseiro da percepção exterior, símbolos e visões começam
a ocorrer. Este é o processo em que as impressões depositadas nos recessos mais
profundos do inconsciente vagarosamente vêm à tona. Na medida em que esta
experiência ocorre, paulatinamente uma consciência mais refinada e sutil vai se
desenvolvendo. Aí ocorre a percepção do espaço infinito, eterno e
unidimensional do cidākāśa como a
plataforma da manifestação da consciência.
Visualização do Cidākāśa
O cidākāśa é visualizado como um
quarto negro de quatro paredes, piso e teto. No piso do quarto, próximo ao
centro, há um pequeno orifício condutor que vai para baixo. Esta é a suṣumnā-nāḍī que perpassa os cakras inferiores. Na parede frontal se
encontra a tela onde visões serão projetadas se o praticante estiver preparado
para relaxar as tensões e os complexos que as inibem.
Para localizar o cidākāśa,
coloque sua consciência na cavidade craniana atrás da testa. Tenha uma
concentração resoluta sobre o ponto onde sua consciência se direciona enquanto
fecha os olhos. Freqüentemente o cidākāśa
é imaginado como um buraco negro dentro da cavidade craniana. Portanto,
enquanto se concentra no cidākāśa, o
espaço atrás da testa deveria servir como um sustentáculo material onde pode
centrar sua consciência.
Requerimentos para
prática
Um dos primeiros requerimentos para prática é o domínio de uma postura
meditativa. As melhores posturas para meditação em ordem de preferência são: siddhāsana, sidha-yoni-āsana, padmāsana
e swastikāsana. Escolha uma destas
posturas e pratique freqüentemente, dessa maneira você irá superar a dor e
poderá permanecer facilmente na postura durante o período da prática.
A elasticidade e flexibilidade dos ossos e coluna são, em grande medida,
os maiores responsáveis por um āsana
bem feito. A rigidez e falta de flexibilidade dos ossos, músculos, tendões e
ligamentos afetam a saúde e a qualidade da meditação. Mas essas dificuldades
serão automaticamente removidas pela prática regular de āsana e prāṇāyāma.
Muitos alunos perguntam se podem mudar a posição durante a prática da
meditação. É claro que sim, não há nenhum impedimento nisso. Mas o que deve
ficar claro é que quando alguém se movimenta na postura, seja trocando as
pernas, se coçando ou movimentando os dedos, sua consciência é imediatamente
arremessada para o exterior; com isso perde-se o fio condutor da prática e ele
terá de se esforçar para alcançar aquele estado interior que anteriormente
havia adquirido. A sensação de dor nos membros inferiores pode lhe levar a
mudar de uma postura a outra, desconfortavelmente. Isso é um obstáculo para a
jornada interna da consciência. Não é possível ficar em uma postura por um
longo período de tempo se não há proficiência em pelo menos um āsana meditativo. Por isso a necessidade
de se aperfeiçoar na prática física postural (kāya-sādhanā) antes de executar cidākāśa-dhāraṇā.
É importante também ter um conhecimento prévio da anatomia do Yoga para uma execução bem feita da
prática e um melhor entendimento do que é cit.
De acordo com a filosofia do Yoga, a
natureza humana consiste de vinte elementos diferentes: cinco karmendriyas (órgãos de ação), cinco jñānendriyas (órgãos dos sentidos), os
cinco prāṇas, os quatro elementos que
constituem o antaḥ-karaṇa e a
consciência ou espírito.
Uma resoluta fé e devoção ao guru também é um requisito básico. Sem a
confiança necessária nos ensinamentos do mestre e a firmeza em seu conhecimento
não há como se desenvolver na prática. Há um ditado yogī popular que diz que o resultado na meditação é 90% a graça do
guru e 10% o esforço do praticante.
Benefícios da prática
Cidākāśa-dhāraṇā desenvolve a concentração e promove a
expansão da consciência. A imaginação é aperfeiçoada e a memória fotográfica
aprimorada.
A habilidade de se concentrar, de focar a atenção em um ponto por um
período de tempo, é diretamente proporcional a quantidade e qualidade de
aprendizagem verdadeira que se está experimentando. Isso significa que se uma
pessoa é realmente capaz de concentrar sua atenção, sem a interferência de
nenhum pensamento, logo desenvolverá uma percepção refinada e a habilidade de
ver verdades que se encontram ocultas atrás das aparências fenomênicas.
Portanto, cidākāśa-dhāraṇā é
basicamente uma prática que, com o auxílio da visualização, intensifica a concentração
e torna a mente direcionada a um ponto. A perfeição destes sentidos internos
leva o praticante a estados meditativos profundos e desperta o potencial
latente da clarividência.
A remoção de problemas
mentais
Cidākāśa-dhāraṇā é uma poderosa ferramenta que auxilia
na remoção de bloqueios, traumas e medos. Antes de remover algum problema
mental, você precisa primeiro reconhecê-lo. A maior parte dos problemas mentais
das pessoas se encontra na camada subconsciente da mente, justamente embaixo da
percepção consciente. Em outras palavras, um pouco além do véu da escuridão que
se levanta quando você fecha os olhos. É neste nível que as raízes ou sementes
dos problemas mentais que acometem as pessoas do mundo moderno de hoje residem.
Estas sementes causam a infelicidade e o desequilíbrio quando se manifestam
subitamente no nível consciente mais externo. A maioria das pessoas permanecem
por toda a vida completamente inconscientes das raízes de sua insatisfação e
infelicidade. Contudo, com a prática de cidākāśa-dhāraṇā,
pode-se encontrar a fonte dos problemas mentais para assim dissolvê-los.
O subconsciente não funciona por meio da lógica, por meio da palavra. Ele
se comunica através de símbolos e imagens psíquicas, seja no sono ou através
das práticas meditativas. Os problemas mentais que residem na camada
subconsciente da mente são armazenados na forma de símbolos. Quando estes
símbolos são confrontados pelo praticante em um estado de consciência relaxada, eles podem ser removidos. Mas é
fundamental – e aqui é necessário a redundância – que estes símbolos sejam
confrontados quando o praticante estiver em um estado de relaxamento consciente. Ele deve estar completamente desperto quando defrontar estas
manifestações psíquicas. Essa é a função do cidākāśa-dhāraṇā.
Para que essa técnica tenha efeitos profundos e verdadeiros, é necessário
uma grande capacidade de desapego e uma atitude de testemunha. A indiferença e
a falta de resposta emocional a estas visões psíquicas em estados profundos de
consciência relaxada devem também ocupar lugar frente aos problemas do
dia-a-dia como manifestações destes estratos subconscientes. Dessa maneira,
medos e conflitos que anteriormente causavam desarmonia na vida cessam. Do
contrario, sem a devida atitude correta perante a prática, não há como fazer um
trabalho bem feito.
Existe ainda uma razão muito importante para se manter uma atitude de
testemunha com relação às ocorrências da tela mental: é somente assistindo, sendo uma testemunha de cada visão, de maneira
desinteressada, que você permitirá que os recessos subconscientes se precipitem
livremente até a percepção consciente. É
somente dessa maneira que as bolhas mentais do subconsciente podem
espontaneamente chegar à superfície. Se existir alguma expectativa de sua
parte, ocorrerá um retardamento em todo processo.
Lembre-se sempre que o propósito fundamental de técnicas meditativas como
o cidākāśa-dhāraṇā não é apenas a
remoção dos problemas mentais mais grosseiros, mas um mergulho profundo nos
rincões da mente. A manifestação psíquica dos problemas mentais subconscientes
emerge somente das camadas mais superficiais da mente e estes problemas existem
em forma seminal abaixo da superfície plana do oceano da mente. Você irá
confrontá-los logo nos primeiros estágios das práticas meditativas. Mas o
objetivo é ir mais fundo nas profundezas da mente. Uma vez que as camadas mais
externas vão sendo experienciadas e ultrapassadas, você passará por um abalo
nas fundações de sua vida. Este abalo não será catastrófico, mas sim de bem-aventurança
e regozijo.
A prática do Cidākāśa
Dhāraṇā
Cidākāśa-dhāraṇā é uma poderosa técnica de visualização
interna desenvolvida a partir de fontes antigas de conhecimento como os Vedas e os Tantras. Antes de executar cidākāśa-dhāraṇā,
faça de cinco a vinte minutos de kāya-sthairyam
e cinco a vinte minutos de prāṇāyāma.
Escolha uma técnica que utilize nasagra-mudrā,
como nāḍī-śodhana ou bhastrikā-prāṇāyāma. Quando levamos o
dedo médio no ponto entre as sobrancelhas em nasagra-mudrā, fica mais fácil se concentrar no cidākāśa. Aqueles que em seu yoga-sādhanā se entregam a alguma
prática devocional (bhakti), cidākāśa-dhāraṇā pode ser executado com
a visualização do iṣtā-devatā.
A prática que se segue é uma preparação para os estágios mais avançados da
técnica.
Técnica 1: Cidākāśa Dhāraṇā
(observação do espaço da consciência)
Sente-se confortavelmente em uma
postura meditativa.
Mantenha as costas eretas e a cabeça no
prolongamento da coluna.
Relaxe os músculos do abdômen, os
ombros e os músculos da face.
Mantenha os olhos fechados e descanse
as mãos em cin ou jñāna-mudrā sobre os joelhos.
Relaxe todas as tensões do corpo e
mente. Mantenha seu corpo completamente imóvel e firme na postura. Não deve
haver movimento físico de nenhum tipo. Assim como é a estabilidade corporal,
também é a estabilidade mental (pausa).
Torne-se completamente consciente do
processo natural de sua respiração. Não imponha ritmo. Apenas observe o
processo natural de sua respiração (pausa).
Dirija sua consciência para o cidākāśa, o espaço na frente de seus
olhos fechados. Recolha sua mente e se concentre internamente na parte de trás
de sua testa, como se estivesse olhando para uma parede negra. Essa é sua tela
mental. Vagarosamente vá tornando-se consciente desse espaço interior, o cidākāśa (pausa).
Sua consciência deve estar relaxada.
Não tencione seu corpo ou seus olhos na tentativa de ver alguma coisa. Deixe
que as experiências ocorram por si mesmas. Permita que tudo ocorra
vagarosamente, espontaneamente e naturalmente (pausa).
Tente ver uma abobada, um piso e quatro
paredes neste espaço frente a seus olhos fechados. Qualquer visão que apareça
deve ser observada com uma atitude de testemunha desinteressada. Torne-se um
observador imparcial (pausa).
Inspire e expire. Vagarosamente vá
retomando a consciência do exterior na medida em que movimenta os dedos das
mãos. Leve as mãos na frete do peito em namaskāra-mudrā. Mantenha os olhos
fechados e finalize a prática entoando três vezes o mantra oṃ.
A seguinte técnica adaptada, pode ser conjugada com práticas mais
profundas como antar-mouna e pode ser
utilizada em sessões de Yoga Terapia.
O foco aqui está em projetar na tela mental medos e traumas de forma consciente
para que estes sejam trabalhados e eliminados. Para execução desta técnica é
exigido certa proficiência em técnicas meditativas como japa, ajapa-japa, cakra-dhyāna e antar-mouna.
Técnica 2: Cidākāśa Dhāraṇā
(consciência do cidākāśa)
Sente-se confortavelmente em uma
postura meditativa: siddhāsana, siddha-yoni-āsana ou padmāsana.
Ajuste a posição de maneira que você
não precise mexer nenhuma parte de seu corpo durante a prática. A coluna deve
estar perfeitamente ereta. A cabeça, o pescoço e os ombros na posição vertical,
bem encaixados. Coloque as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Se torne consciente do cidākāśa, a tela mental que se forma na
frente de seus olhos fechados.
Observe tudo o que é projetado em sua
tela mental.
Você irá ver várias tonalidades de cor,
espectros de luz, estrelas e símbolos.
Tome a firme resolução de permanecer em
um estado de testemunha ao experienciar estas visões. Não se identifique (pausa).
Se você está acostumado a meditar
profundamente, projete seus medos e traumas subconscientes no cidākāśa (pausa).
Se distancie de cada pensamento que apareça,
mas esteja consciente de cada um. Afaste qualquer pensamento intruso.
Esteja completamente consciente do que
acontece dentro de você (pausa).
Se você chegou até aqui, com
concentração, está preparado para meditar profundamente.
As projeções psíquicas de sua mente
irão segui-lo.
Você está de pé diante de um portal,
observando seus pensamentos emergindo das profundezas.
Sua câmara interior está aberta de
todos os quatro lados para que suas projeções psíquicas possam emergir de
qualquer lado.
Você tem de estar no centro para que
possa observar todos os lados ao mesmo tempo (pausa).
De qual lado vem a projeção? O
pensamento?
Quando perceber qualquer pensamento a
espreita, impeça-o de se manifestar.
Esteja completamente atento ao cidākāśa.
Observe as inúmeras formas psíquicas
que se projetam em sua tela mental.
Deixe que sua consciência se torne
profunda e intensa de tal maneira que sua mente não se afasta do cidākāśa (pausa).
Não deve haver nenhum tipo de análise
sobre qualquer experiência.
Na medida em que você observa o estado
absorção total no cidākāśa, você
entra em um nível de concentração tão intensa que toda a gama de projeções
latentes subconsciente vêm a tona.
Observe estas projeções. Não tenha
medo. Na medida em que vai compreendendo cada projeção, elimine com consciência
o problema.
Inspire e expire. Vagarosamente vá
retomando a consciência do exterior na medida em que movimenta os dedos das
mãos. Leve as mãos na frete do peito em namaskāra-mudrā. Mantenha os olhos
fechados e finalize a prática entoando três vezes o mantra oṃ.
A seguinte técnica é uma prática completa de cidākāśa-dhāraṇā. Antes de executá-la, certifique-se de ter
executado as práticas anteriores com proficiência.
Técnica 3: Cidākāśa Dhāraṇā
(prática completa)
Sente-se confortavelmente em uma
postura meditativa.
Ajuste seu corpo de tal maneira que não
precise se movimentar durante a prática.
Mantenha a coluna ereta, mas sem tensão
excessiva nas costas. Sente-se de maneira confortável, mas com as costas eretas.
Não force.
Feche seus olhos. Vamos começar a
prática.
Estágio 1: consciência
corporal
Pratique kāya-sthairyam.
Mantenha consciência total em seu
corpo.
Deve haver um fluxo contínuo de
consciência perpassando todo o corpo.
Quanto mais consciência fluir por seu
corpo, mais estável sua mente se tornará. A estabilidade corporal induz a
estabilidade mental.
Direcione sua consciência para as
diferentes partes de seu corpo (pausa).
Torne-se consciente de todo seu corpo.
Deve haver um estado de consciência
homogênea entre todo o corpo sentado no chão. Não as diferentes partes do
corpo, mas o corpo por inteiro, como uma unidade (pausa).
Permaneça consciente e sinta a
imobilidade corporal.
Sinta que seu corpo é como uma estátua.
Eventualmente não haverá a necessidade
de se criar uma sensação de imobilidade corporal; ela ocorrerá espontaneamente.
Continue a prática de kāya-sthayriam por cinco minutos ou pelo
tempo que estiver disponível.
Estágio 2: vocalização do
mantra auṃ
Vocalize auṃ sete vezes, bem devagar.
Sinta as vibrações ressoando,
reverberando através de todo seu corpo.
Esteja completamente absorvido e
consciente do som.
Sinta que nada existe além do mantra auṃ.
Estágio 3: consciência
respiratória
Mantenha a consciência total no fluxo
natural de sua respiração.
Pratique por alguns minutos anuloma-viloma e prāṇa-śuddhi.
Atenção total no fluxo natural de sua
respiração.
Deixe que sua respiração seja natural.
Não force ou tente controlar a respiração.
Esteja consciente do ar fluindo por
ambas as narinas.
Esteja consciente de que está
inspirando.
Esteja consciente de que está
expirando.
Quando inspirar, tenha consciência de
que está inspirando.
Quando expirar, tenha consciência de
que está expirando.
Consciência total na respiração natural
e sem esforço (pausa).
Normalmente, a respiração ocorre sem
que estejamos conscientes de seu processo. Ela acontece inconscientemente.
Agora você deve senti-la. Perceba que ela inunda continuamente seu corpo.
Esteja consciente de seu processo respiratório como nunca esteve.
Imagine que é a primeira vez que você
está respirando. Sinta a experiência da bem-aventurança respiratória por todo
seu ser.
Consciência total e ininterrupta no
processo respiratório.
Escute o som da respiração.
Sinta o ar entrando e saindo pelas
narinas (pausa).
Tente sentir o ar entrando por cada
narina separadamente.
Na medida em que inspira, o fluxo do ar
que entra pelas narinas se encontra no ponto entre as sobrancelhas.
Na medida em que expira, o fluxo de ar
se distancia do ponto entre as sobrancelhas, se separando e movendo-se para
baixo na forma de um V invertido.
O ar que flui pelas narinas forma um
triângulo. O topo do triângulo é o ponto entre as sobrancelhas.
Continue a experienciar essa
convergência e divergência alternativa da respiração na medida em que inala e
exala respectivamente (pausa).
Imagine que está completamente
absorvido pela respiração.
Estágio 4: cidākāśa-dhāraṇā
Observe o espaço na frente de seus
olhos fechados, o cidākāśa.
Esteja relaxado. Não force ou crie
tensão.
Apenas observe.
Seja uma testemunha de tudo o que possa
aparecer no cidākāśa, qualquer visão,
seja lá o que for.
Não tente interpretar ou analisar.
Veja dentro da caverna de sua mente.
Veja com profundidade.
Ela é muito escura... muito escura.
Observe profundamente (pausa).
Você pode não ver nada. Mas não se
preocupe, apenas continue a prática.
Não crie expectativa de nada, apenas
observe.
Seja uma testemunha (pausa).
Após algum tempo, você pode ver cores,
feixes de luz, visões, formas estranhas, memórias vívidas etc. Seja lá o que
for projetado, permaneça como uma testemunha desinteressada.
Deixe que as coisas aconteçam. Elas se
ajustam por si mesmas. Não antecipe absolutamente nada.
Observe o espaço de seu Ser.
Se aprofunde na escuridão do cidākāśa como se estivesse procurando
algo em um quarto escuro.
Veja a totalidade do cidākāśa, não confine sua atenção apenas
a um lugar.
Deixe que sua visão se estenda por todo
o cidākāśa como se estivesse
assistindo um filme no cinema.
Observe... observe... e continue a
observar.
Você não tem que fazer nada, apenas
observar.
Persevere e encontre as camadas
multidimensionais da mente.
Não crie expectativa. Quanto mais
desapegado do processo, mais você verá.
Continue a prática por cinco ou dez
minutos ou pelo tempo que estiver disponível.
Estágio 5: concentração
ou trāṭaka
Este
estágio é para aquelas pessoas que conseguem criar mentalmente e com facilidade
visualizar um símbolo psíquico na tela da mente.
Visualize e se concentre no símbolo
psíquico escolhido e projetado na tela mental.
Escolha qualquer símbolo que tenha
significado para você. É importante que se sinta a vontade.
Visualize com exatidão e clareza.
Mantenha a imagem do símbolo estável.
Consciência total no símbolo psíquico.
Não existe nada além do símbolo.
Toda sua consciência está confinada no
símbolo.
Isso permite que sua mente torne-se
unidirecionada e você experimenta os níveis cada vez mais sutis da consciência.
O símbolo é o foguete que lhe leva as
profundezas do espaço interior, no éter da consciência.
Continue a prática por cinco ou dez
minutos ou pelo tempo que estiver disponível.
Estágio 6: vocalização do
mantra auṃ e cidākāśa-dhāraṇā
Vagarosamente vocalize o mantra auṃ sete vezes.
Esteja simultaneamente consciente do
som do mantra e do cidākāśa.
Ao final da vocalização, mantenha
consciência total no cidākāśa.
Permaneça como uma testemunha de tudo o
que é projetado em sua tela mental. Se medos subconsciente e sentimentos
reprimidos surgirem na superfície da mente, apenas assinta de forma desapegada.
Se tiver visões extraordinárias, não se
excite. Existe muito mais. Chegará à hora em que você verá coisas
inacreditáveis que será incapaz de ficar emocionalmente excitado.
Continue por alguns minutos.
Esteja atento ao seu corpo e ao
ambiente exterior.
Então abra os olhos.
Este é o fim da prática.
Relaxamento
Como todas as técnicas meditativas, o relaxamento do corpo e da mente é
necessário. Sem ele não há possibilidade de se experienciar profundamente a
meditação. Se a mente estiver ocupada com as trivialidades da vida, então o
ganho será pouco ou quase nada. É por essa razão que a técnica 3 (acima) foi
combinada com outras técnicas preliminares, como kāya-sthairyam, a vocalização do mantra auṃ e a consciência respiratória; elas induzem um
sistemático relaxamento do corpo e da mente. Portanto, são muito importantes
quando conjugadas.
Mas não se sinta obrigado a conjugar estas técnicas como muletas na
prática de cidākāśa-dhāraṇā. Você
pode combinar a prática com qualquer outra técnica meditativa que domine ou
seja mais apropriada para sua natureza pessoal. O importante é que você atinja
um profundo estado de relaxamento tão necessário para realização de todo o
processo. É somente em estado relaxado que poderemos nos aprofundar na caverna
da mente. Se não houver relaxamento físico ou mental, você nunca conseguirá
penetrar nas profundezas da mente e ficara só na superfície. Não conseguira
rasgar o véu de cidākāśa-dhāraṇā.
Portanto, antes da prática, tenha certeza de que está realmente relaxado, seja
por outras técnicas meditativas ou pelo processo dos āsanas e prāṇāyāmas.
olá, você tem referências de textos, manuais, tantras, etc?
ResponderExcluirOlá, bom dia.
ExcluirHari Om Tat Sat.
Grande parte dos textos que posto no blog estão inseridos nas apostilas dos cursos e workshops que ministro. Por conta disso, muitas vezes omito a bibliografia porque é muito extensa, abrangendo todo conteúdo da apostila. Posso enviar a bibliografia para este texto via e-mail. Solicite por: srikulacara@gmail.com.
Namo Narayan.