quinta-feira, 26 de junho de 2014




Fernando Liguori


Texto retirado da apostila do curso «Oficina de Meditação», edição 2010, ministrado pelo Instituto Kaula.

Depois de selecionar uma postura estável e confortável, uma consciência constante, uniforme, calma e tranqüila, nesta postura, deve ser conquistada. Kāya sthairyam é uma técnica para se atingir este estágio e ela deve ser praticada pelo menos cinco minutos antes de se iniciar as práticas de meditação. Kāya significa corpo e sthairyam significa estabilidade. Portanto, estabilidade corporal. A prática envolve a consciência total na estabilidade e serenidade de todas as partes do corpo. Por sua vez, a técnica também traz a estabilidade da consciência, o que é necessário e essencial para qualquer sessão de meditação.

Se você inicia uma sessão de meditação logo após a agitação de seu trabalho ou estudo, entre os afazeres domésticos ou depois de alguma refeição, com certeza os resultados irão lhe desapontar. Você irá sentar, mas a respiração estará precipitada; ajustará e reajustará a postura a cada minuto e a mente irá flutuar em todos os eventos triviais do dia. Você irá pedir que a mente pare e aí sim ela ficará pulando de um lado para o outro como uma criança rebelde. Você tentará se esquecer do corpo e se concentrar na prática, mas este desejo por si mesmo fará com que você esteja mais envolvido com o corpo e suas sensações. Portanto, em primeiro lugar é necessário se acalmar, estabilizar a postura e a mente.

A mente pode ser estabilizada utilizando a técnica de se tornar vividamente consciente de cada parte do corpo. Primeiro na forma de rotação da consciência, depois no corpo como um todo. Essa consciência deve ser total. Ela deve integrar os aspectos mentais e as sensações corporais. Isso pode ser feito pela repetição mental de cada parte do corpo. Então, vagarosamente o corpo se torna estável e quieto. A mente se torna introvertida. Quando a consciência do corpo se esvai, é possível então experimentar as práticas mais elevadas de meditação.

Desconforto

Quando se mantém um āsana estável por longos períodos de tempo, o desconforto físico e a dor podem se transformar em uma distração para os iniciantes, a concentração se torna difícil, se não impossível. Esta é uma experiência comum a todos até que o corpo esteja harmonizado o bastante para manter o relaxamento, o conforto e a estabilidade na postura.

Contudo, a prática constante é o único remédio, particularmente a prática diária de kāya sthairyam por um período de pelo menos vinte minutos por sessão, podendo se estender conforme a experiência do praticante. Durante a prática, as sensações de dor e desconforto não devem ser ignoradas. Conflitos irão surgir entre a tendência de se livrar da dor e permanecer na postura. Ao invés de ignorar as sensações, esqueça tudo
mais e dirija sua atenção para ela, sempre com uma atitude de aceitação e não de resistência. Às vezes isso é o suficiente para que a dor e o desconforto desapareçam.

Entretanto, se isso não for o suficiente, aplique a seguinte técnica. Ela é simples, mas efetiva:

Técnica
Respire naturalmente.
Quando inalar, imagine que o ar está fluindo para área afetada. Com ele, leve o conforto e a serenidade.
Quando exalar, sinta toda dor e desconforto fluindo para fora do corpo, sendo carregadas pelo ar que sai.

Alguns minutos desta prática um completo conforto e relaxamento.

Atitude mental

Uma vez que a atitude correta para com o estado físico tenha sido efetivada, o próximo passo é criar uma correta atitude em relação à mente. Ninguém pode esperar atingir uma completa estabilidade mental logo no início de uma sessão de meditação. As práticas em si mesmas proporcionarão isso. Contudo, uma certa atitude pode ajudar a criar uma atmosfera mental correta para um maior desenvolvimento e apreciação da prática de meditação. Tente cultivar conscientemente uma atitude relaxada e receptiva. Este estado mental é conquistado quando se diminui o ciclo de flutuações mentais de beta para alpha. Isso é acompanhado pela ação induzida do sensível fluxo da respiração quando se inala e exala vagarosamente. Na medida em que a respiração se torna lenta e mais regular, a mente se torna harmônica e calma. Estas duas atitudes intensificam uma a outra e aumentam a sensibilidade do alento, ação esta que deve ser mantida durante toda prática de meditação.

Você deve estar completamente consciente do que está acontecendo durante a sessão de meditação. Ouça o som de sua respiração: ela está sutil ou densa? Sinta a respiração. De onde ela vem? Para onde ela vai? Em que nível de calma e relaxamento você se encontra? Você está tenso ou nervoso? Sua respiração está equilibrada ou ritmada? Ela está fluindo por ambas as narinas? Foque sua mente em todos estes aspectos. A mente adora se focar nos indriyas (sentidos). Portanto, deixe que ela se foque neles, mas com total consciência. Após algum tempo, a mente irá se tornar automaticamente mais estável, calma e concentrada. A partir deste ponto uma total atenção poderá ser dada a prática.

Se pensamentos estão presentes, eles devem ser observados com uma atitude de desapego, como se você estivesse observando as nuvens no céu. Sejam eles positivos ou negativos, não requerem atenção imediata. O foco da consciência deve ser na prática meditativa.

A conclusão da prática deve envolver uma completa observação dos efeitos de sua execução no corpo, na mente e na energia gerada.

Técnica
Sente-se confortavelmente em uma postura. Esteja estável e tranqüilo.
Relaxe no āsana.
Movimente sua consciência por todo o corpo e mentalmente relaxe cada parte dele.
Torne-se consciente de seu corpo como um todo, como uma unidade e esteja atento a sua imobilidade.
Agora visualize o exterior do corpo. Como se você estivesse se vendo num espelho. Veja seu corpo na posição de meditação. Pela frente. Pelo lado direito. Pelo lado esquerdo. Por trás. Por cima. E então, de todos os lados ao mesmo tempo. Esteja consciente do corpo. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade.
Imagine-se como se estivesse crescendo desde o chão. Como uma árvore. Suas pernas são as raízes da árvore. O resto do corpo é o tronco. Você está crescendo a partir do chão, fixando-se no chão. Absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Como se fosse uma árvore enorme e forte. Perceba-se, vivencie-se crescendo a partir do chão. Fixando-se no chão. Unindo-se com o chão. Você está absolutamente estável. Absolutamente imóvel. Consciência intensa.
Tome consciência das sensações físicas que o seu corpo experimenta. Consciência total em todas as sensações físicas. Permita que estas sensações se transformem num foco para a sua concentração. Consciência total.
Conscientize-se das partes do corpo, começando pela cabeça. Visualize a sua cabeça e mantenha consciência total nela. Faça o mesmo com o pescoço. O ombro direito. O ombro esquerdo. O braço direito. O braço esquerdo. A mão direita. A mão esquerda. Permaneça consciente. As costas inteiras. O peito. O abdômen. O glúteo direito. O glúteo esquerdo. A perna direita. A perna esquerda. O pé direito. O pé esquerdo. O corpo inteiro de uma só vez. Consciência total no seu corpo inteiro. O corpo inteiro, como uma unidade.
Agora faça o saṅkalpa: tome a resolução de permanecer absolutamente estável e imóvel durante toda a prática. Repita mentalmente: durante toda a prática fico absolutamente estável, absolutamente imóvel. Absolutamente estável e imóvel. Fique atento aos sinais de desconforto do corpo. Consciência total em todos os sinais de desconforto: dor, coceira, formigamento, necessidade de deglutir saliva, o que for. E permaneça absolutamente firme e imóvel.

Quando você se prepara para permanecer atento e evitar todo e qualquer movimento, o corpo permanece imóvel e rígido como uma estátua. E você percebe uma sensação de levitação astral. Se houver algum movimento inconsciente, tome consciência desse movimento. Torne-o consciente. Consciência total no corpo e na estabilidade. Consciência total no corpo e na imobilidade. Seu corpo está totalmente estável e imóvel. Absolutamente firme e descontraído. Esta é a forma da sua consciência agora.

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