segunda-feira, 9 de junho de 2014




Swāmi Satyasanganānanda Saraswatī


Texto extraído do livro «Tattwa Shuddhi», Yoga Publications Trust, 2000.


Objetivo do tantra

A mente que usamos no dia-a-dia na percepção e cognição ordinária atua através dos sentidos. Mas se pudermos introverter os sentidos e dirigirar a mente para o interior, ela se manifesta através da experiência interna como uma mente expandida. Dessa maneira a matéria se separa da energia, liberando o princípio energético conhecido como Śakti, que se une com Śiva «consciência», criando assim uma consciência homogênia.

Da mesma maneira que um rio ao se encontrar com o oceano perde suas limitações e restrições, simularmente, a mente finita se expande na mente cósmica ou infinita e se torna receptora e transmissora da verdade. Quando isso ocorre, o resultado é uma explosão de energia que liberta a consciência da matéria. Isso pode ser comparado a experiência da kuṇḍalinī. Esse é o objetivo do Tantra.

Outras filosofias chegaram a mesma conclusão, utilizando uma linguágem e método diferente. Na filosofia do Vedānta existe o conceito de Brahman ou consciência indivisível, homogênia, que a tudo permeia. A palavra Brahman deriva da raiz brihan, que significa «expandir» e pode, portanto, ser compreendida como «a expansão da consciência». Essa é a «consciência-bramânica», presente em cada um de nós, responsável pelo conhecimento superior. Ele existe como um ou como o todo, para o qual estamos constantemente nos esforçando a unir.

No Tantra, este conceito é interpretado como Śiva ou consciência incondicional, que existe como uma testemunha silenciosa no interior de cada um de nós. Seja Brahman no Vedānta, Puruṣa no Sāṃkhya ou Śiva no Tantra, o conceito é o mesmo. Contudo, a diferença entre o Tantra e a maioria das outras filosofias reside no fato delas estabelecerem muitas restrições na vida do aspirante, exigindo aderência estrita as regras. O Tantra, ao contrário, dá mais espaço para o desenvolvimento de cada indivíduo, independente de seu estágio evolutivo. O Tantra diz que, sendo você um sensualista ou espiritualista, um ateu ou um crente, forte ou fraco, rico ou pobre, existe um caminho adequado a sua natureza e que deve ser descoberto.

Este é o objetivo do Tantra, não magia-sexual e nem magia negra; não é a aquisição das siddhis «poderes psíquicos» e nem a prática de uma vida licenciosa. Estes nunca foram o objetivo do Tantra. O Tantra foi equivocadamente mal interpretado dessa maneira por inúmeros indivíduos no globo, mas isso é um assunto completamente diferente. Além disso, dificilmente podemos confiar naqueles que falharam em conquistar uma consciência homogênia para apresentar uma verdadeira análise do Tantra.

Tradução livre de FernandoLiguori.


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