terça-feira, 10 de junho de 2014



Swāmi Satyasanganānanda Saraswatī


Texto extraído do livro «Tattwa Shuddhi», Yoga Publications Trust, 2000.


Tantra: um caminho de liberação para liberar a mente

De tempos em tempos, os tântricos experimentaram vários métodos a fim de conquistar esse objetivo. Eles acreditavam que os homens não poderiam trilhar o mesmo caminho pois cada pessoa se encontra em um nível diferente na evolução. Frequentemente é dito que «o que é alimento para um pode ser veneno para outro». Os tântricos perceberam a necessidade de um caminho adequado a cada ser humano, seja ele um sensualista grosseiro, um filósofo profundo ou um yogī evoluído.

Os tântricos experimentaram métodos que poderiam parecer extremamente grosseiros e sensuais aos olhos da pessoa comum. Essas práticas foram consideradas bizarras porque envolviam meditação ao lado de mulheres nuas ou cadáveres e muitas outras práticas «tentadoras». Muitos se opuseram e criticaram o Tantra por essa razão, argumentando que estes métodos não passavam de uma desculpa para indulgência e não para a experiência espiritual induzida.

Contudo, a inerente sinceridade e firmeza dos tântricos prova o contrário. Se eles fazem experimentos com o coito sexual, álcool e drogas, não é sua atitude que deve ser julgada, mas a sua consciência, estado mental, ação e propósito pelos quais eles executam aquela prática. Se eles invocam espíritos, realizam rituais e cerimônias que poderiam ser chamadas de «magia negra», não devemos julgá-los com base em suas atitudes, mas com base nos motivos que os levam a executar essas práticas.

Essa é a fiferença essencial entre um tântrico e um indivíduo ordinário grosseiro que utiliza e pratica as mesmas coisas, mas com a única finalidade de satisfação sensual e ganho pessoal. Através dessas práticas o tântrico sistematicamente explode a poderosa força potencial de energia que existe em seu interior. Paixão, medo, ódio, amor, raiva etc. são forças de energia e ele as encara face a face. Se apropriadamente domadas, essas forças de energia podem conduzí-lo a experiências elevadas. Durante a meditação, sendo ele capaz de manter sua concentração, elas aparecem na forma de visões, sonhos, sons variados, vozes, diferentes tipos de música e até mesmo objetos, animais e seres humanos.

A prova de talento do tântrico reside na sua habilidade de permanecer irredutível, implacável, sem se intimidar. Ele não se confunde com a experiência e nem é solapado pelo medo. Um homem com a mente enferma, distraída e com as emoções erráticas pode sofrer um ataque psicótico, uma depressão nervosa ou até a insanidade total. Estaria ele preparado para se aventurar em tais práticas?

O que são os medos e as paixões senão forças de energia? As emoções que experimentamos na vida diária são o bastante para conduzir qualquer pessoa a loucura. O equilíbrio não pode ser mantido e as pessoas se lançam em atitudes insanas como assassinato, estupro e outros crimes. O que acontecerá se a sua mente for confrontada com a força total do medo ou da paixão que existe em seu interior? Você poderia gerenciar isso? Mas o tântrico, ao contrário, é capaz de explodir a experiência direto do interior de seu inconsciente; ele é capaz de dominar as poderosas forças que existem em seu interior e convertê-las em uma força muito maior e mais sutil, a qual é capaz de dirigir à vontade.

Contudo, foi acreditado que muitas dessas práticas resultariam na experiência do «sopro da mente» a partir das dimensões inexploradas da mente, as quais uma pessoa comum é incapaz de suportar. Assim, os tântricos desenvolveram outras práticas que poderiam levar o aspirante sem maiores transtornos, de forma suava e gradativa através das experiências associadas a seu nível de consciência, de acordo com suas capacidades. Práticas extremas foram deixadas de lado por aqueles que são fortes e resolutos diante das poderosas experiências internas. Essas técnicas mais suaves, que formam a fundação para práticas mais avançadas, incluem haṭha-yoga, kriyā-yoga e japa, bem como tattwa-śuddhi.

Tradução livre de FernandoLiguori.


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