sexta-feira, 1 de agosto de 2014




Swāmi Niranjanānanda Saraswatī


Iniciação é como abrir as portas de outra realidade, de outro cômodo da casa. Vivemos em uma casa com muitos quartos e muitos deles ainda estão fechados. Os cakras são as fechaduras destes cômodos. O que foi definido na terminologia religiosa como «remover os véus» e na terminologia do yoga como «despertar os cakras» sinaliza para o fato de que ainda há muitos quartos fechados. Existem diferentes formas de iniciação para abrir diferentes portas. Uma porta se abre quando você é iniciado no mantra, outra quando você é iniciado em saṃnyāsa e uma outra com śaktipāt.

Mantra-dīkṣā, a iniciação no mantra, é a primeira e mais simples iniciação. Alguns mantras exercem um controle muito poderoso no ājñā-cakra. Ājñā-cakra é o cakra da sensitividade, o cakra que deve se tornar ativo antes que o mūlādhāra-cakra possa ser despertado — isto segundo afirma a teoria e a filosofia do kuṇḍalinī-yoga. Assim, a primeira iniciação, mantra-dīkṣā, abre uma porta. Esta é uma de suas funções, além de outros efeitos.

Nos Tantras, ênfase tem sido dada ao uso de mantras para a transformação interior, enquanto os Vedas enfatizam o uso dos mantras para favorecer a natureza e os elementos. Desta forma os mantras védicos e os mantras tântricos são diferentes. No yoga fazemos uso dos mantras tântricos para a purificação e transformação interior. Depois de se adquire a maestria sobre isto é que se pode avançar por outras práticas.

O nome espiritual indica um objetivo a se seguir e a se alcançar na vida. Ele deve funcionar como uma cenoura pendurada na frente de um burro. Enquanto a cenoura está à vista, o burro continua andando em direção a ela. Você deve tornar-se como o burro e seguir a cenoura. A única diferença é que a cenoura que você persegue não será ilusória. Ao caminhar alguns passos na direção dela, você poderá saborear a cenoura. O nome espiritual indica o foco e o objetivo a se alcançar. Um nome espiritual está relacionado com um aspecto de sua natureza e de seu espírito, que pode ser percebido, de forma intuitiva, por algumas pessoas que estão conscientes disso. Esse nome representa a necessidade, a aspiração do espírito humano nesta vida — o que aspira tornar-se e atingir.

Sendo sânscrito, o nome também evoca uma resposta vibratória especial, porque o sânscrito combina sons que criam uma mudança de frequência vibratória no aspecto da nossa personalidade. Quando dizemos o nome espiritual, em sânscrito, usando uma combinação de sons que tem o poder de harmonizar, alterar e mudar o padrão de nossas ondas vibratórias — spandan —, então, esta qualidade do espírito pode ser vivida. Ele não só permanece como um objetivo a se atingir, mas nos tornamos o próprio nome — sua essência. Claro, isso tem que ser tomado como um sādhanā e não como algo concedido. Se um prato de comida é colocado na sua frente, você pode comê-lo e satisfazer-se ou, se você preferir pode ignorá-lo. Da mesma forma você pode usar o nome espiritual somente como um rótulo ou uma griffe, ou pode usar o mantra como uma ajuda para aprofundar a meditação, que pode ser excelente, mas cujas potencialidades são muito maiores.

Saṃnyāsa-dīkṣā abre outra porta — outro cakra. Karma-saṃnyāsa-dīkṣā é a convicção para viver como um karma-saṃnyāsin, e não apenas ser iniciado — mas, na verdade, deliberadamente viver desta forma —, abre uma outra porta. Isto cria harmonia entre as várias dimensões de sua expressão e experiência. Ao tornar sua mente mais sensível, você se faz capaz de perceber e se torna consciente de muitas outras situações, eventos e acontecimentos que, anteriormente era ignorado. A iniciação, definitivamente, não deve ser uma forma de escapismo, pelo contrário, é fazer-se consciente de áreas que você ignorou no passado e que criaram algumas obstruções nos níveis emocional, intelectual, psíquico ou espiritual de sua personalidade.

A terceira forma de iniciação após saṃnyāsa é o śaktipāt. Aqui também temos uma forma védica e uma forma tântrica. Existem diferentes tipos de śaktipāt: drig-dīkṣā, iniciação através da visão, sparṣa-dīkṣā, iniciação através do toque, kūrma-dīkṣā, iniciação pelo pensamento, swāpna-dīkṣā, iniciação por sonho. Só o guru pode decidir para que tipo de iniciação o discípulo está qualificado. Se existe uma aspiração pela elevação espiritual, então a escolha deve ser definida pelo guru.

Tradução livre de Maurizzio Canali.

Correção diacrítica de Fernando Liguori.

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