Bruno
P. Burddon
Prāṇāyāma, a expansão do prāṇa ou energia vital, ocorre através das práticas de prāṇa-nigraha ou o controle
do prāṇa1. Este artigo examina
várias práticas prāṇa-nigraha que
contribuem inicialmente para alterar o estado fisiológico do cérebro e são
ditas para despertar o prāṇa no reino
dos cakras ou centros psíquicos dentro do corpo humano. Um comentário é
feito sobre o efeito que as práticas de prāṇa-nigraha
tiveram sobre o autor. Uma revisão de um exame
médico de um adepto yogī está
incluído, o que confirma a capacidade do prāṇāyāma
para influenciar a atividade do cérebro um indivíduo. A conclusão é que
extensas práticas de prāṇa-nigraha podem influenciar
significativamente os aspectos físicos, prânicos, mentais e psíquicos do ser
humano.
Na
apostila do curso Oficina de Prāṇāyāma,
onde o Prof. Fernando apresentou o T. P. P. (Treinamento Pré-Prāṇāyāma), a energia vital ou prāṇa é definida como a essência de todos os seres criados, as
formas que se manifestam, sejam animadas ou inanimadas, a força que determina a
existência da matéria e os elementos.2 Prāṇa-nigraha é a manipulação da respiração para controlar o prāṇa. Quando praticado com regularidade, prāṇa-nigraha leva ao prāṇāyāma ou expansão da energia vital.
Prāṇāyāma é o
controle dos upa-prāṇas ou sub-prāṇas, onde atinge-se a
harmonização do corpo fisiológico e leva-se ao despertar do prāṇa no corpo psíquico ou cakras. Uma vez que o prāṇa é despertado nos cakras, prāṇāyāma começa. O ponto culminante é a fusão de apāna, samāna e prāṇa na região
do maṇipūra que, por sua vez, leva à ativação de udāna e vyāna. Quando os cinco prāṇas estão operando simultaneamente, a
kuṇḍalinī (energia espiritual ou
potencial evolutivo)3 é despertada e o processo de auto-realização
começa.4
Prāṇāyāma é
dividido em três etapas: i. a consciência do prāṇa, ii. prāṇa-nigraha,
e iii. a expansão do prāṇa. Prāṇa em si tem dois aspectos. Um deles é prāṇa-śakti, que é a força vital e consiste dos cinco prāṇas menores.5 O outro é manas
ou cit-śakti, a força mental ou
consciente, centrado no cérebro. Sem prāṇa
o corpo e a mente estão mortos.
A ciência moderna afirma que existem dez áreas no cérebro e que estamos
usando apenas uma em nosso atual estágio de evolução. Para usarmos os outros
90% precisamos distribuir o prāṇa por
toda região cerebral. A mente subconsciente e
sua relação com a mente consciente são tratadas na ciência do prāṇāyāma pelo estabelecimento de uma
interface entre o consciente e o subconsciente na área cerebral denominada sistema de ativação reticular.6
O sistema
de ativação reticular é o gatilho para outras partes do cérebro. O
homem é capaz de afetar o sistema de ativação reticular através da
respiração apenas. Nenhuma outra função do
sistema nervoso autônomo pode ser controlada pela atividade humana consciente.
O controle cerebral através do sistema de ativação reticular, por meio da
respiração consciente, é um método pelo qual outras funções do corpo podem ser
controladas; por exemplo, a freqüência cardíaca, a pressão arterial, a
digestão, a excreção e absorção. Portanto, o
controle do subconsciente é alcançado através da atividade consciente do prāṇa-nigraha e depois do prāṇāyāma.7
Quatro práticas de prāṇāyāma
são examinadas por seus efeitos sobre o cérebro ou outras partes do corpo. Estas práticas foram
selecionadas com base em sua importância na prática do Yoga e sua influência sobre os corpos psíquicos.
Kapālabhāti
Swami Kuvalayananda afirma que kapālabhāti
influencia a circulação do sangue dentro do cérebro. Kapālabhāti altera o volume do
cérebro de acordo com o ritmo respiratório e, portanto, aumenta a irrigação do
tecido cerebral. A respiração normal consiste de 12 a 18 massagens por minuto,
enquanto kapālabhāti pode envolver até 120 massagens por minuto, o que
leva a um aumento significativo no volume de sangue e, assim, melhora a
irrigação do cérebro.
Os capilares são abertos e as células do cérebro
relacionadas com as glândulas pineal e pituitária recebem estímulos
significativos.8 É lógico concluir que a irrigação cerebral
aumentada é acompanhada por níveis prânicos elevados, o que garante a
distribuição uniforme e harmoniosa do prāṇa
por todo o corpo.
Swami Kuvalayananda sustenta essa conclusão da seguinte
maneira: Com a aceleração da circulação
sanguínea no corpo estimula-se do cérebro e, assim, do sistema nervoso central
produz o ‘material’ especial do corpo que revigora e tonifica cada célula.9
Kapālabhāti reduz a
relação entre a inspiração e expiração. Isso aumenta o controle da respiração,
estendendo-a até o limite. Os efeitos do dióxido de carbono, produtos químicos,
ácidos e álcalis no sangue diminuem.10 O dióxido de carbono é o disparo para inspiração e, portanto, o corpo é
muito sensível aos níveis de dióxido de carbono.
Kumbhaka
Na prática de kumbhaka ou
retenção da respiração, que pode ser antar
(interna) ou bahir (externa), a
tolerância à necessidade de oxigênio e o acúmulo de dióxido de carbono ocorrem.
Kumbhaka, quando praticada por um longo período de tempo,
permite que o corpo retenha dióxido de carbono e se acostume com níveis
reduzidos de oxigênio, promovendo um hipometabolismo, ou seja, um abrandamento
da taxa metabólica. A taxa de produção de dióxido de carbono é reduzida, o que
provoca um efeito sutil pelo controle consciente da respiração. Esse
efeito influencia o cérebro e a química corporal, reduzindo a necessidade de
respirar quando ocorre o acúmulo de dióxido de carbono.11
Bahir-kumbhaka também
afeta o corpo fisiologicamente, fazendo com que o processo mental pare, por
causa do vácuo criado no interior do corpo. Esta ação é muito útil na prática de pratyāhāra, a retração sentidos e dhāraṇā, a concentração, como um
pré-requisito para alcançar o estado de meditação, dhyāna.
Kumbhaka pára os ritmos vitais do
corpo e afeta as ondas cerebrais. O controle das ondas cerebrais é a chave para
controlar todos os ritmos do cérebro.12 Embora os efeitos de bahir-kumbhaka
sejam inúmeros, em termos gerais, o corpo e a mente aprendem a manter a calma
sob pressão.
Nāḍī-śodhana
Kumbhaka também
é praticada em nāḍī-śodhana-prāṇāyāma
ou a respiração alternada. Nāḍī-śodhana é a prática do equilíbrio perfeito13 que estimula também os
lados esquerdo e direito do cérebro e do corpo. Iḍā e piṅgalā-nāḍīs, os principais canais prânicos, são equilibrados, o
que, por sua vez, modifica o processo do pensamento para equilibrar a
introversão e extroversão do comportamento. Os antigos yogīs ensinaram que uma vez que iḍā e piṅgalā são
equilibradas e purificadas, a nāḍī central, suṣumṇā, começa a fluir, levando a uma maior sensibilização e ao estado
de meditação.14
Nāḍī-śodhana impõe um ritmo sobre o
cérebro e as nāḍīs, sobre o estado irregular que
normalmente existe. A vida moderna eliminou os
ritmos regulares da natureza e do corpo humano e nāḍī-śodhana reverte este processo levando ao corpo e a atividade
cerebral o equilíbrio necessário através do aumento do prāṇa. Pesquisas demonstraram que nāḍī-śodhana afeta as ondas cerebrais sobrepondo uma onda senoidal
regular sobre a atividade do cérebro irregular, impondo uma disciplina sobre as
irregularidades do processo mental e, eventualmente, os ritmos do organismo
autônomo.
A kumbhaka em nāḍī-śodhana bloqueia momentaneamente os
ritmos do corpo, mudando o padrão no relacionamento dióxido de carbono/oxigênio,
afetando todo o sistema. Antar-kumbhaka
opera com oxigênio e bahir-kumbhaka
com dióxido de carbono.15
Ujjāyī
Ujjāyī ou a respiração
psíquica, produzido por uma ligeira contração da garganta, tem um efeito sutil
sobre a atividade cerebral através de quatro processos:
1.
Aumenta a pressão de ar nos pulmões e
expande o uso eficaz deles. Isso garante a
transferência de oxigênio para cada célula dentro dos pulmões, ao invés de uma
porcentagem significativamente menor utilizada durante a respiração normal.
2.
O aumento da
transferência de oxigênio nos pulmões regula o fluxo sanguíneo por todo o
organismo, enquanto o corpo está em um estado relaxado. O efeito é semelhante ao
obtido quando o corpo está fisicamente ativo, com a vantagem de estar em um
estado de relaxamento.
3.
A percepção consciente é transferida
para a mente inconsciente que afeta o sistema nervoso que, por sua vez, regula
a respiração. Um ritmo suave é estabelecido
sobre o sistema nervoso, provocando um efeito profundo no nível psíquico.
4.
A contração da garganta em ujjāyī afeta os seios carotídeos que
regulam a pressão sanguínea nas artérias. Ujjāyī
exerce uma leve pressão sobre os seios da carótida que, ao longo do tempo,
reduz a pressão arterial, o que reduz a tensão e retarda os processos de
pensamento na mente.16
Exame de um yogī
Todos os efeitos das práticas de prāṇa-nigraha descritas acima foram comprovados em parte através do
trabalho realizado durante a convenção anual da Associação Internacional de Religião e Parapsicologia do ano de
1977. A pesquisa revelou que Ramananda Yogī, que havia praticado prāṇāyāma por muitos anos, possuía a
capacidade de controlar o músculo cardíaco e as funções do coração. Durante sessões de prāṇāyāma, ele era capaz de reduzir sua
taxa de pulso de 100 a 65-80 batimentos por minuto, embora tais mudanças sejam
perigosas para a maioria das pessoas. Concluiu-se também na conferência,
através de testes biológicos, que Ramananda Yogī era capaz de controlar sua
taxa metabólica através da prática de prāṇāyāma.17
Os efeitos do prāṇāyāma
no cérebro como detalhados pelo Prof. Fernando na Oficina de Prāṇāyāma, e os resultados dos ensaios clínicos
realizados pela Associação Internacional
de Religião e Parapsicologia, serviram para justificar o preparo deste
ensaio.
Experiência do autor
Enquanto a execução extensa do prāṇāyāma
leva a um controlo significativo sobre o cérebro, as práticas de prāṇa-nigraha realizadas pelo autor
afetaram, de forma bem sutil, sua habilidade de controlar a respiração e
energia dentro do corpo. É difícil detectar
qualquer efeito importante sobre a fisiologia do corpo, mas tem havido uma
mudança significativa no estado de unidirecionamento e calma da mente ao longo
dos últimos dois anos como resultado das práticas de kapālabhāti, nāḍī-śodhana,
bhāstrika e ujjāyī.
Os antigos textos yogīs falam da
capacidade do prāṇāyāma em controlar
a mente. A Haṭhapradīpikā,
por Śrī
Svātmārāma Yogīndra, afirma que restrição prânica pode controlar a mente: Quando o prāṇa se move, citta [a força
mental] se move, quando o prāṇa para seu
movimento, citta também para. Por
esta [firmeza do prāṇa], o yogī alcança a firmeza do espírito e
isso restringe o vāyu [ar].18
Em conclusão, escritos de yogīs contemporâneos e pesquisas sobre os efeitos das práticas de prāṇāyāma apóiam a antiga visão de que o
prāṇāyāma-yoga exerce profundos efeitos sobre o cérebro humano. A experiência
limitada do autor também suporta a visão de que as práticas de prāṇāyāma podem ter efeitos sutis no
cérebro, bem-estar e a uma influência surpreendente no nível individual de
espiritualidade.
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Anotações bibliográficas
1.
LIGUORI, Fernando. Oficina de Prāṇāyāma. Apostila do T. P. P. (Treinamento Pré-Prāṇāyāma). Kaula Yoga
Publicações, 2011.
2. Idem,
p. 14.
3. Idem,
p. 36.
4. Idem,
p. 42.
5. Idem,
p. 11.
6. Idem,
p. 51.
7. Idem,
p. 52.
8.
KUVALAYANANDA, Swami. Prāṇāyāma. São
Paulo, Brasil. Phorte Editora, 2008.
9. Idem,
p. 130.
10.
LIGUORI, op cit, p. 60.
11.
Idem, p. 65.
12.
Idem, p. 65.
13.
Idem, p. 66.
14.
Idem, p. 68.
15.
Idem, p.69.
16.
Relatos científicos estabelecidos no T. P. P.
17.
MOTOYAMA, Hiroshi. Estudos Ocidentais
& Orientais de Medicina acerca do Pranayama e o Controle do Calor, em Pesquisa de Religião e Parapsicologia.
Tóquio, Japão. Associação Internacional de Religião e Parapsicologia, 1977.
Texto em português pela Editora Vozes, 1981. Prefácio e apresentação por Prof.
Hermógenes.
18. LIGUORI, Fernando. Haṭhapradīpikā: Candeia sobre o Haṭha Yoga. Manuscrito do autor.
Bruno estuda Yoga e
Tantra com
Fernando Liguori. Dirige
uma
empresa de reciclagem em
Paraíba do Sul – RJ.
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