Raphaela Ramos
Sinusite e rinite são
doenças que atingem muitas pessoas atualmente. De difícil tratamento por meio
da medicina tradicional, as patologias possuem causas psicológicas e alérgicas,
como explica Sanjeev Krishnan. Segundo a ciência yogī, a cura desses problemas
baseia-se na reorganização do corpo e da mente. Para conquistar-se o equilíbrio entre os caminhos de energia (nāḍīs) e a eliminação dos
bloqueios mentais, Krishnan apresenta ferramentas de
alto valor, como: meditação, yoga-nidrā, sūrya-namaskāra, āsana, prāṇāyāma e
jala-neti, além de dieta e jejum. A partir de uma experiência pessoal, este
artigo pretende analisar o impacto de tais práticas na rotina de um indivíduo
alérgico.
CONSIDERÁVEL número de
pessoas no mundo já experienciou doenças respiratórias como a sinusite e a
rinite. A primeira pode ser definida como um estado de inflamação da membrana
secretora de muco que reveste os seios da face. Dores de cabeça e atrás dos
olhos, sensação de pressão nas bochechas e catarro drenado para a garganta são
alguns dos sintomas ocasionados pela sinusite.1
Segundo Sanjeev Krishnan,
em seu artigo Sinusite e rinite, tal
enfermidade pode tornar-se crônica caso hábitos alimentares equivocados sejam
mantidos de forma contínua e temperaturas baixas permaneçam negligenciadas. O
frio, aliás, é um dos principais impulsionadores da inflamação – que também
traz inchaço e sensibilidade nas maçãs do rosto e na testa. A sinusite crônica
acaba por atuar como uma fonte constante de outras doenças respiratórias.2
A rinite é a inflamação
aguda da mucosa do nariz. Nela, uma reação violenta tem início quando o
indivíduo sensível entra em contato com alérgenos como pólen e poeira de casa
ou outros ingeridos por meio da dieta. Ela afeta nariz, olhos e seios da face,
causando espirro, coceira, aumento da secreção e obstrução nasal.3
A medicina tradicional
enfrenta dificuldades para curar tais problemas das regiões respiratórias. Em
geral, conforme observa Krishnan, o tratamento é sintomático e não oferece
perspectivas de eliminação das causas. Usualmente, são indicados analgésicos para alívio da dor,
anti-histamínicos para supressão da reação alérgica e antibióticos para
prevenir infecção bacteriana secundária (KRISHNAN, p. 75). Porém,
apresentando efeitos colaterais indesejados, como sonolência, os
anti-histamínicos apenas secam temporariamente as secreções.4
A respeito das causas, os
médicos asseguram que tais distúrbios do trato respiratório superior são
causados por vírus ou falhas do sistema imunológico. Eles não ignoram, porém,
que o estresse nervoso e as inconstâncias emocionais possuem papel de destaque no
desencadeamento desses problemas. Os
médicos notam que os ataques de espirros e irritação nasal muitas vezes
acompanham os períodos de instabilidade emocional (KRISHNAN, p. 74).
A visão da ciência yogī
Segundo os estudos yogīs, como menciona Sanjeev Krishnan,
sinusite e rinite possuem uma razão subjacente: o excesso do elemento mucoso no
organismo. O Yoga também entende que
as impressões subconscientes e o sistema imunológico estão profundamente
ligados, o que dificulta a separação das causas psicológicas e alérgicas dessas
doenças. Não raro, uma hipersensibilidade tem início em eventos traumáticos e
associações infantis. Sendo assim, uma pessoa que desencadeia espirros diante
de uma tensão ou quando exposta à poeira doméstica, por exemplo, manifesta,
essencialmente, a mesma reação.5
A ciência yogī explica as reações de hipersensibilidade como
a excitação de uma impressão mental previamente desenvolvida, que deixou uma
memória profunda-definida e uma
impressão na psique e na memória celular (sistema de vigilância).6
De qualquer forma, de
acordo com Krishnan, os problemas de respiração podem ser deixados para trás
com uma rotina saudável e disciplinada. Muitas vezes, ainda que o indivíduo
tenha contato com alérgenos por meio da respiração ou da dieta, se os órgãos
digestivos e as membranas nasais estiverem com boa saúde, esses elementos não
podem afetá-lo.7
O tratamento do Yoga, portanto, baseia-se na
reorganização do corpo e da mente do doente. Conforme aponta Krishnan,
existem duas maneiras de alcançar a cura para sinusite e rinite. A primeira
seria o equilíbrio entre os caminhos de energia do corpo (nāḍīs), e a segunda, a eliminação dos bloqueios mentais.8
Para isso, pode-se recorrer a ferramentas de alto valor, como: meditação, yoga-nidrā, sūrya-namaskāra, āsana, prāṇāyāma
e jala-neti, além de dieta e
jejum.
Uma experiência
Desde
a infância, a autora deste artigo convive com doenças respiratórias. Moradora
de região fria e úmida nas montanhas, sempre sofreu as consequências do
inverno, passando por algumas pneumonias, inclusive, antes de completar um ano.
Na adolescência, já em Juiz de Fora (MG), não experienciou outras pneumonias,
mas sempre enfrentou a asma, a sinusite e a rinite. Aos 24 anos, descobriu a
homeopatia e deixou de usar remédios alopáticos. A asma foi solucionada, mas os
demais problemas persistiram, ainda que de forma mais branda.
As
enfermidades se manifestam seja no inverno ou no verão. No segundo caso, tanto
pela instabilidade climática quanto pelo uso de ar-condicionado no ambiente de
trabalho e em outros locais frequentados. A rinite costuma incomodar
principalmente antes de dormir, ao acordar, depois do banho e em ambientes
fechados.
Há
dois anos, a autora começou a praticar Yoga.
Aos poucos, foi introduzindo algumas técnicas em sua rotina, a fim de, entre
outras questões, amenizar a sinusite e a rinite. Após seis meses de prática,
passou a realizar diariamente, logo após despertar, dois ou três ciclos de sūrya-namaskāra (saudação ao sol). À
noite, por vezes, recorre ao candra-namaskāra
(saudação à lua). Segundo Swami Satyananda Saraswati (1996), sūrya e candra-namaskāra estimulam e equilibram o sistema respiratório.9
Imediatamente após às séries, a autora percebe a desobstrução das narinas e o
alívio da pressão na testa.
Ainda
no primeiro ano de estudos, o professor Fernando Liguori passou a iniciar as
aulas com ṣaṭ-karmāṇi e prāṇāyāma. O recurso foi fundamental
para uma prática de āsanas mais
concentrada e com adequada respiração. No início, Liguori aplicou apenas o kāpalabhāti. Depois, incluiu o bhastrikā, seguido de mahā-bandha. Tais técnicas oferecem a
limpeza das regiões respiratórias, com eliminação de muco.10
Atualmente,
a autora pratica quase todas as manhãs nāḍī-śodhana-prāṇāyāma, que, conforme Swami
Satyananda (1996), pode remover bloqueios da respiração.11 Apesar de
ainda enfrentar algumas dificuldades pelo fato de as narinas amanhecerem
entupidas, considerável melhora vem sendo percebida. Durante o dia, há menos
entupimentos e dores de cabeça.
Para
facilitar a passagem do ar durante o prāṇāyāma,
a autora realiza anteriormente sūrya-namaskāra
e jala-neti com água e sal. Durante a
limpeza, observa-se a expulsão de muco e uma ligeira ardência em seguida. De
acordo com Swami Satyananda (1996), jala
neti promove a limpeza das passagens nasais, permitindo que o ar flua sem
obstruções, além de ajudar no tratamento de doenças respiratórias.12
Pelas
manhãs e à noite, também são praticadas medição e āsanas (conforme as orientações do professor Fernando Liguori,
seguindo Sanjeev Krishnan). Os momentos meditativos vêm alterando a rotina da
autora, auxiliando-a a permanecer no presente e a diminuir a ansiedade. āsanas como paścimottānāsana, bhujaṃgāsana,
halāsana, dhanurāsana, ardha-matsyendrāsana e parvatāsana são essenciais para a desobstrução e o alívio da pressão
na testa. Em momentos de crise, evita-se śīrṣāsana
e sarvangāsana.
Com relação à
alimentação, foram seguidas algumas orientações de Sanjeev
Krishnan.13 Além de eliminar o leite da dieta, reduziu-se o
consumo de derivados. Ao que parece, para atingir resultados mais
significativos nesse caso, seria ideal a abstinência de laticínios. A autora
também evita sal e bebidas geladas e consome mamão quase todos os dias, além de
comer pouco e de três em três horas.
Raphaela Ramos é
jornalista cultural e atriz.
É aluna de Fernando
Liguori.
Anotações
1. Equipe Editorial Boa Saúde. Rinite
e sinusite:
http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=5047&ReturnCatID=1572.
Acesso em dois de fevereiro de 2012.
2. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. p. 75.
3. Equipe Editorial Boa
Saúde. Rinite e sinusite:
http://boasaude.uol.com.br/lib/ShowDoc.cfm?LibDocID=5047&ReturnCatID=1572.
Acesso em dois de fevereiro de 2012.
4. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e
rinite. p. 75.
5. Idem.
6. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. P. 74.
7. KRISHNAN, Sanjeev. Sinusite e rinite. P. 76.
8. Idem.
9. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana
Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p.
164.
10. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana
Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p.
407 e 411.
11. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana
Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p.
386.
12. SARASWATI, Swami Satyananda. Asana
Pranayama Mudra Bandha. Belo Horizonte: Satyananda Yoga Center, 1996. p.
491.
13. KRISHNAN,
Sanjeev. Sinusite e rinite. p. 77.
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