Fernando Liguori
Texto retirado da apostila do Curso de Formação em Yoga,
edição 2010, do Centro de Estudos Védicos Ananda Chandra, módulo Yoga para
Crianças, ministrado pelo Instituto Kaula, Juiz de Fora, Minas Gerais.
Você
é o oceano infinito
Em
que todas as coisas do mundo
Surgem
e desaparecem como ondas.
Oh
criança,
Não
há nada a ganhar,
Nada
a perder,
Você
já é pura consciência.
Aṣtavakragītā I: 23
O que se segue são algumas orientações gerais acerca do Yoga para Crianças. São apontamentos que
acreditamos servir de base para construção de um trabalho efetivo com crianças
dos dois aos quatorze anos. Todo trabalho demanda adaptação e muita atenção.
Trabalhar com crianças é entrar em um universo único, mágico e exige de nós, professores,
muita imaginação, carinho e alegria. Mas, acima de tudo, competência de
trabalho!
Preparando a mente
Quando você quer preparar um jardim, criar flores e árvores, o que você
faz? Você só espalha as sementes? Muitas pessoas podem fazer isso, mas
raramente verão as plantas crescerem. Primeiro você tem que preparar o solo.
Você terá de fazê-lo macio e retirar as ervas daninhas. Quando semear as
sementes, elas se transformarão em lindas flores e árvores frutíferas. Esta
mesma lei se aplica a mente humana. A mente assim como a terra precisa ser
preparada para aceitar as sementes.
A mente assume vários estágios. O importante no Yoga é a transformação da qualidade da nossa consciência. Então,
qualquer coisa pode ser plantada na mente sem obstrução.
No Yoga, a glândula pineal é
considerada como o monitor de estação do cérebro. Assim como você tem um
controle de torre no aeroporto, o cérebro humano também tem sua torre
direcionadora, reguladora e bloqueadora que controla todas as faculdades
cerebrais. No Yoga, nós chamamos esse
controle da estação de ājñācakra; a
palavra ājñā em si, significa monitorando, comandando ou regulando.
Quando a glândula pineal começa a degenerar, a glândula pituitária entra em
ação e as emoções afloram rapidamente. Essa é a razão pela qual muitas crianças
tornam-se emocionalmente desequilibradas e perturbadas durante a
pré-adolescência e adolescência. A glândula pineal tem uma influência equilibrante
nas atividades cerebrais, que mantém todo o cérebro numa ordem receptiva.
Portanto, as crianças cuja glândula pineal ainda comanda ou monitora são muito
mais receptivas que àquelas cuja pineal não está mais ativa.
Outro ponto fundamental observado é a influência das glândulas adrenais no
comportamento moral das crianças. Usualmente, jovens com tendências criminais
possuem um sistema hiperestimulado. Em termos de educação da criança, isso tem
uma implicação muito importante.
Na ciência do Yoga, há centros
definidos que controlam o funcionamento, comportamento e receptividade do
cérebro. Ainda que o cérebro seja um instrumento de conhecimento altamente
capaz, algumas vezes, essa capacidade passa por períodos de recessão. Em certos
casos, o cérebro está trabalhando muito devagar. Em outros, o cérebro está
evoluído, mas disperso.
Portanto, você encontrará algumas crianças com dificuldades de
aprendizagem e crianças muito inteligentes, mas com a mente dispersa. Você
encontrará também crianças que oscilam: num momento são muito inteligentes e em
outro momento se comportam tolamente. E por fim, você encontrará outra
categoria de crianças que são muito inteligentes e consistentes. Embotamento, dissipação, oscilação e
concentração são diferentes estágios na evolução do cérebro.
A cada momento de nossa vida, desde o nascimento, estamos recebendo
impressões constantemente, mas elas não são registradas da mesma forma quando
foram vivenciadas. Elas são registradas em forma de vibrações simbólicas.
O princípio do yoganidrā pode
ser aplicado para aumentar o conhecimento ou desenvolvimento do cérebro em
crianças com dificuldades.
Bases
fisiológicas do Yoga
A composição do cérebro da criança deve ser influenciada por certos
métodos práticos de Yoga. Através das
práticas de yoganidrā, prāṇāyāma, sūrya namaskār e canto de
mantra, os componentes internos do
cérebro podem ser regulados.
O Haṭhayoga fala sobre iḍā e piṅgalānāḍī, os canais frios e quentes. Ele expõe claramente que
estes dois canais são fisiológicos por natureza. Eles não são abstratos ou
simbólicos, eles são reais. Esses dois importantes canais existem na estrutura
da coluna vertebral. Um canal controla o cérebro e suas faculdades de
consciência e o outro canal controla a força da vida e seu impacto na
existência humana. Portanto esses dois canais deveriam ser regulados
propriamente para assegurar o desenvolvimento equilibrado da criança.
Através da prática de prāṇāyāma,
o prāṇa é estendido a cada parte do
cérebro, aumentando e despertando sua total capacidade. A circulação do prāṇa é muito importante não somente
para atividades físicas, mas também para atividades mentais.
Bloqueio
hormonal
Outro fator importante que deve ser notado ao educar o cérebro da criança
é que os bloqueios devem ser removidos do sistema hormonal. Algumas vezes a
glândula tireóide não está funcionando apropriadamente e isso pode ser a causa
da lentidão mental. Ou talvez as gônadas estejam em estado de desarmonia que
podem estar relacionadas à lentidão. Muitas crianças são muito inteligentes até
a idade de 12 ou 13 anos e então de repente retrocedem. Isso pode ocorrer
particularmente quando as gônadas estão em desarmonia. O corpo assimila certo
número de hormônios, então certas toxinas são eliminadas pelo corpo e isso
afeta o funcionamento do cérebro.
Libertando
as mentes das crianças
As crianças não são estimuladas a serem livres. Elas são reprimidas e
controladas. Elas são colocadas em modelos comportamentais que não são
naturais. O que acontece é que projetamos a sombra da nossa personalidade sobre
as crianças. Temos uma imagem de nós mesmos e nossa criança tem outra. Quando
elas são pequenas, são indefesas, não têm escolhas e podem aceitar nossa sombra
em suas mentes, mas elas se revoltam contra isso quando crescem.
Na verdade, a criança não se revolta contra os pais, mas contra a
estrutura que foi colocada em suas mentes. Se há alguma mobília inútil no seu
quarto, você a joga fora, não porque você não gosta da manufatura, mas porque
ela bloqueia o quarto. Da mesma forma, as crianças não querem estas impressões.
Elas querem se ver livres e capazes de pensar e agir de acordo com sua própria
natureza e escolha. Além do mais, os pais são também pessoas simples. Os pais
brigam porque há um fator emocional que não pode ser sempre controlado. Eles
estão satisfeitos ou insatisfeitos com suas crianças, porque é da natureza dos
pais e porque eles não sabem o que afeta o cérebro da criança.
O que pode ser feito pelas crianças nessa situação? Através da prática de antar mouna as impressões que estão nas
mentes das crianças devem ser eliminadas. As crianças deveriam estar aptas a
visualizarem, fantasiarem e operarem suas mentes em absoluta liberdade, mas
primeiro elas devem estar conscientes do que está se passando em suas mentes. Elas
devem praticar esta técnica com sua ajuda e somente por um período curto de
tempo. Então, gradualmente, passo a passo, elas jogarão para fora as impressões
que elas não gostam ou não necessitam.
Mantra
e memória
Para desenvolver a memória, as crianças devem ser guiadas através do
caminho do mantra. O mantra trabalha imediatamente sobre os
planos subconsciente e inconsciente. Com a ajuda do mantra, antar mouna e yoganidrā, uma memória clara pode ser
desenvolvida na criança.
Yoga
e os problemas das crianças
Como dissemos anteriormente, na Índia as crianças são tradicionalmente
introduzidas para a prática do Yoga
na idade de oito, nove ou dez anos. A tradição védica tem uma cerimônia para crianças nessa idade no qual, elas
são introduzidas no sūrya namaskār, nāḍī śodhana prāṇāyāma
e gāyatrī
mantra. Esta é a tradição. Continua ainda até hoje em menor escala,
mas é necessário incluir o Yoga no
sistema educacional formal também.
Lidar com o crescimento emocional em relação ao crescimento físico é o objetivo
quando se trata de trazer estabilidade à criança. Para fazer isso, temos que
manter a saúde da glândula pineal, para isso, a prática do śāmbhavī mudrā (concentração dos olhos no espaço entre as
sobrancelhas) é muito importante. Para tornar esta prática mais interessante,
podemos pedir à criança para visualizar ao mesmo tempo. Nomeamos mais ou menos
cinco itens e deixamos que a criança visualize um por um. Ela mantém sua
consciência se movimentando, dizendo para si mesmo e visualizando: um carro movendo-se, um aeroplano voando, uma goiaba, uma igreja etc.
Há três classes de objetos para visualizar: aqueles os quais as crianças
já viram, aqueles que elas não viram e conceitos abstratos como amor e ódio.
Esta prática não somente ajuda a criança a manter um equilíbrio psicoemocional,
mas também desenvolve sua habilidade de visualizar. Mais tarde, quando ela
estiver na escola estudando geografia, história e matemática, ela terá uma
mente tanto visualizadora quanto pensante.
Yoga
na pré-escola
Como apresentar Yoga para as
crianças entre dois e seis anos de idade? A experiência com Yoga para a criança dessa idade não deve
ser através de lições, mas através de jogos e brincadeiras. O jogo não é a
forma predominante de atividade da criança, mas é, em certos casos, uma fonte
de desenvolvimento nos anos pré-escolares. Brincar é intencionalmente uma
atividade para a criança. Brincadeira para a criança nas primeiras culturas
sempre retratou o que os pais faziam na vida real. No jogo, a criança cria uma situação
imaginária e esse fato pode ser visto como significativo no desenvolvimento
abstrato do pensamento.
Ou conhecemos onde estamos indo e porque, ou estamos simplesmente
distraindo as crianças. Enquanto apreciando o brincar com a criança, o
professor não quer simplesmente entendê-la, mas propiciar um ambiente para
utilização das atividades do Yoga
para estimular e equilibrar sua personalidade como um todo. Assim que a criança
cresce, a apresentação do Yoga pode
se tornar mais estruturada.
·
Respiração
Bhramari
prāṇāyāma (respiração do zumbido
da abelha):
Para encorajar a inspiração profunda, a
criança tem que ter consciência de fazer primeiro uma longa e vagarosa
expiração. No bhramari, elas são
solicitadas a emitir um zumbido tão longo quanto possível, ouvindo o som todo o
tempo. Isto encoraja uma inalação profunda depois de ter praticado algumas
vezes, assim como, desenvolve a concentração e a audição.
Respiração
abdominal:
Com a criança deitada, coloque um
pequeno barco de papel feito por ela no seu umbigo. Explique que quando ela
inspira, uma onda é criada pelo estômago que se expande; quando ela expira a
onda se encolhe. Sendo capaz de observar o barco nas ondas, a criança
desenvolve a consciência do abdômen e da respiração abdominal que normalmente
faz inconscientemente.
·
Relaxamento,
visualização e atenção criativa
Não se deve esperar que a criança desta
idade permaneça imóvel por um longo tempo. Yoganidrā
é uma poderosa forma de relaxamento, apesar dele ser apenas um sub-produto da
técnica. Uma importante parte da técnica é a rotação da consciência, que têm de
ser modificada para crianças desta idade. Ao invés de pedir às crianças para
sentirem o corpo sem movê-lo, elas fazem desta maneira:
Técnica:
Primeiro seja uma estátua imóvel até eu
contar até dez. Dobre seus cotovelos, agora coloque-os retos. Dobre seus
joelhos, agora, endireite-os outra vez. Contorça os dedos dos pés, deixe-os
imóveis. Eleve sua cabeça, abaixe-a. Mova o globo ocular com os olhos fechados,
pare agora. Mova os lábios como se fosse assobiar, depois, relaxe-os.
Observação:
Esta prática ajuda as crianças a
localizarem sua consciência em diferentes partes do corpo.
Variação:
As crianças podem imaginar a porta de suas
próprias casas, ver as cores e os detalhes, ver o animal de estimação, o carro
da família, seus próprios sapatos etc., ou podem combinar isto com o antar mouna.
·
Antar Mouna
É uma técnica para aprender a tornar a
mente quieta e receptiva. Em um curto estágio da prática, o praticante deve ser
solicitado a estar completamente consciente de todas as experiências externas.
No entanto, ao invés de simplesmente pedir as crianças para ouvirem todos os
sons, elas devem ser solicitadas a ouvir os sons que o professor aponta no
ambiente que a circunda. Ele deve dizer: ouça
o pássaro cantando. Ouça o ônibus descendo a rua. De que modo ele está
circulando? Quantos sons diferentes você pode ouvir? Quantos sons podem ser
ouvidos ao mesmo tempo? Localize de onde o som está vindo.
Yoga
e as crianças
Os cenários e as sessões são dois importantes aspectos a considerar quando
se apresenta o Yoga, especialmente,
se ele está sendo incorporado nas atividades recreativas do grupo.
Local da prática: é necessário espaço livre de móveis
ou objetos pontiagudos. Colchonetes ou pequenas toalhas adequadas para as
crianças sentarem são suficientes.
Tempo de prática: a prática não deve ser imediatamente
após uma refeição. Usualmente, devem ser permitidas, duas horas entre comer e
praticar Yoga.
Duração da prática: crianças da pré-escola normalmente
têm um lapso razoável de concentração. Desta forma, é preciso cronometrar o
tempo de acordo como ritmo delas, sempre observando o seu envolvimento. O
constante movimento de braços e pernas, o fato de não serem capazes de
permanecer imóveis por certo período de tempo, súbitos esguichos de exasperadas
atividades, impulsionados por movimentos repetitivos sem objetivos e inúteis,
que tomam lugar no sistema nervoso da criança – são as maiores diferenças entre
o comportamento dos adultos e o das crianças. Usualmente as sessões de Yoga com crianças duram cerca de uma
hora, o que não significa que elas estão fazendo somente uma atividade ao longo
desta hora. Se o professor é capaz de criar uma atmosfera interessante e manter
diferentes posturas por um razoável tempo, a sessão só de āsana pode durar de 30 a 40 minutos, com a criança aproveitando
cada minuto.
Aṣṭāṅgayoga:
orientações para o ensino de crianças
Aṣṭaṅgayoga é o nome que se dá, no sistema de Yoga codificado por Patañjali, aos oito membros ou ferramentas que constituem o coração da prática. Através destas ferramentas, o pequeno yogī irá se desenvolver de forma
integral, o que garantirá a construção sadia e harmoniosa de uma personalidade
equilibrada. Todavia, o ensino destas oito ferramentas
para crianças deve ter uma abordagem distinta. Deve-se excluir a possibilidade
de aulas teóricas. Todo o escopo da tradição deve ser transmitido de maneira
informal, lúdica e criativa. A criança deve se sentir em um universo mágico e
principalmente familiar a sua idade psicológica. Vejamos alguns exemplos bem
simples:
O primeiro membro ou ferramenta do aṣṭāṅgayoga é denominado yama.
Este é o cerne da prática yogī é foi
denominado por Patañjali como o grande
voto (mahā vrata). Ele é
constituído de cinco preceitos universais. A maneira mais eficaz de ensinar
estes preceitos universais as crianças é através do simbolismo de histórias
conectadas a tradição. Por exemplo, o primeiro preceito universal é chamado ahiṁsā, i.e. não-ferir, não-violência:
Certa vez, Buddha andava por uma rua, seguido por diversos
discípulos. Seu primo Devadatta, que possuía muito ciúme dele, assim que o viu
soltou o elefante embriagado em sua direção, esperando que o animal pisoteasse
Buddha até a morte.
Quando o elefante enfurecido entrou pelas ruas, as pessoas
correram desordenadamente. Os discípulos de Buddha também imploraram que seu
mestre fugisse. Este, contudo, permaneceu calmo e recusou-se a sair correndo. O
elefante furioso ficou ainda mais enraivecido ao ver que Buddha permanecia
imperturbável e foi direto para cima dele.
Buddha calmamente levantou a mão em um gesto de
não-violência. Seu poder de não-violência era tão grande que o animal
enfurecido parou de imediato e, humildemente, ajoelhou-se diante dele.
O segundo membro ou ferramenta do aṣṭāṅgayoga é denominado niyama.
Trata-se também de um conjunto de cinco princípios universais concernentes a
disciplina pessoal do yogī. Dos cinco
princípios que correspondem à prática de niyama,
śauca, i.e. pureza, é o primeiro.
Trata-se de uma pureza não só de pensamentos, mas também de emoções, ações e
engloba os princípios de limpeza corporal, conforme expostos na prática dos ṣaṭkarma-s. O banho e a higiene pessoal
constituem a limpeza externa. Ṣaṭkarma,
āsana e prāṇāyāma constituem a limpeza interna, eliminando as toxinas e
impurezas dos órgãos e limpando a mente dos pensamentos impuros. Qualquer tipo
de sādhanā (prática yogī) é precedida por purioficações
externas e internas.
Há muito tempo havia na Caxemira um rei muito poderoso que
contraiu lepra. Foram chamados médicos e curandeiros dos mais longínquos
lugares para tentar curar o rei, mas nenhum deles teve sucesso.
O rei decidiu então fazer uma peregrinação. Ele viajou para
muito, muito longe, encontrou homens santos e sábios, mas nenhum deles pôde
ajudá-lo. Finalmente o rei chegou a um templo dedicado a Śiva na cidade de
Chidambaram e, para purificar-se antes de entrar, mergulhou nas águas do tanque
do templo.
Quando saiu da água, o rei notou que seu corpo estava livre
de feridas da doença. As deformidades haviam desaparecido e todo seu corpo
resplandecia em saúde e vigor.
A alegria do rei não tinha limites. Com o corpo e a mente
purificados, ele ofereceu seus agradecimentos ao Senhor Śiva e fez uma generosa
doação com a qual o velho templo foi ampliado, tornando-se glorioso.
Todas estas histórias possuem um profundo significado simbólico que fala
ao subconsciente. Este significado simbólico toca diretamente o âmago da
criança, fazendo com que ela se identifique e assimile com facilidade o
significado espiritual destes princípios.
O terceiro membro ou ferramenta do aṣṭāṅgayoga é denominado āsana,
i.e. postura. Escrituras do Haṭhayoga
como a Haṭhayogapradīpikā, a Gherandasaṁhitā e a Śivasaṁhitā nos ensinam que Śiva
foi o responsável pela criação das inúmeras formas de āsana-s existentes no escopo da tradição. Em seu Yogasūtra, Patañjali ensina que āsana deve ser firme (sthira) e confortável (sukham) e que sua correta execução leva
a um sentimento de bem-estar. Quando ensinamos a prática de posturas as
crianças, devemos frisar o aspecto lúdico e criativo da história da postura.
Por exemplo, ao se ensinar o sūrya
namaskār (saudação ao sol), o professor pode contar uma história associada
a seqüencia de posturas:
Sūrya, o deus Sol, é considerado fonte de luz, calor e
conhecimento. Ele atravessa o céu em uma carruagem puxada por sete cavalos
brilhantes.
Certa vez, Hanuman, o deus macaco, aproximando-se de Sūrya e
curvando-se diante dele pediu: por favor senhor, aceite-me como um humilde
discípulo, de forma que eu possa crescer em conhecimento e sabedoria. O Sol
concordou: eu o aceito como meu aluno, mas você não pode sentar-se em minha
carruagem. Deve caminhar a frente dela, estudando as escrituras.
Hanuman aceitou o desafio. Com seu livro aberto nas mãos,
cruzou os céus caminhando à frente da carruagem de Sūrya e, em pouco tempo,
passou a dominar todas as escrituras, tornando-se um macaco sábio e instruído.
E ao ensinar virābhadāsana III:
Antigamente, os demônios costumavam hostilizar os deuses e
os sábios; por isso Virābhadra utilizou seu poder para defendê-los.
Certa vez, uma serpente demoníaca engoliu vários deuses.
Virābhadra massacrou a serpente e salvou os deuses.
Outra vez, muitos sábios foram queimados por um fogo
violento. Virābhadra engoliu o fogo e usou seus poderes mágicos para trazer os
sábios de volta à vida.
Por ser destemido e não possuir medo, Śiva concedeu a
Virābhadra muitos pedidos.
O quarto membro ou ferramenta do aṣṭāṅgayoga é denominado prāṇāyāma. O significado da palavra prāṇāyāma é muito confuso para maioria dos estudantes de Yoga. Quase sempre, supõe-se
erroneamente que a palavra se compõe de prāṇa
(energia vital) e yama (controle),
com sentido de controle da energia vital
ou respiração. Entretanto, prāṇāyāma deve ser compreendido como prāṇa e ayama (alongar, esticar, estender). O prefixo prā significa muito bem e
an significa ir ou viajar. Prāṇa, então, é o que viaja bem por todas as partes do corpo, dentro de nós. O fluxo
impróprio do prāṇa no corpo gera
doença.
Certa vez houve uma disputa entre os olhos, os ouvidos, a
língua, a mente e a respiração, para saber quem era o mais importante. Todos
estes sentidos se aproximaram do deus Brahma e pediram: rogamos que nos diga
quem, dentre nós, é o mais importante.
Isso é fácil, disse Brahma. Cada um de vocês deixará o corpo
por um ano. O corpo então decidirá quem de vocês é o maior.
Seguindo o conselho de Brahma, a língua foi quem primeiro
saiu, deixando o corpo sem fala por um ano inteiro. Quando ela voltou, os olhos
saíram, deixando o corpo cego por um ano. Quando os olhos retornaram, os
ouvidos saíram, deixando o corpo surdo por um ano. Quando eles retornaram, a
mente saiu e o corpo permaneceu em um estado simplório por um ano inteiro. Então
a mente retornou.
Em seguida, foi a vez da respiração deixar o corpo. Assim
que ela começou a partir, a língua perdeu o poder da fala, os olhos perderam o
poder da visão, os ouvidos perderam a habilidade de escutar e a mente perdeu a
inteligência. Volte, volte, ó respiração, eles imploraram, pois você é a mais
importante dentre todos nós.
A respiração voltou e o corpo retornou a se recompor.
O quinto membro ou ferramenta do aṣṭāṅgayoga é denominado pratyāhāra. Aqui o yogī permanece em silêncio, não se distraindo ou se perturbando com
aquilo que vê, ouve, toca, cheira, saboreia ou sente.
O grande mestre Cayavana é um exemplo perfeito de alguém que
pratica pratyāhāra. Em sua juventude, ele
retirou-se para um lugar tranqüilo na floresta.
Ele se sentou, fechou os olhos e fixou sua mente em Deus.
Muitos dias, semanas e estações passaram, mas ele não sentia e nem percebia
nada. Permaneceu parado e quieto. Anos se passaram e as formigas brancas
cobriram-no com um grande monte de terra. Plantas e répteis cobriram o monte
das formigas. Pássaros e pequenas criaturas construíram seus lares no meio da
vegetação e mesmo assim ele permaneceu imóvel, alheio a todas as mudanças ao
seu redor.
Assim, o professor deve dar prosseguimento no ensino de forma simples,
objetiva e criativa. Traduzindo a tradição do Yoga e seus ensinos em uma linguagem que atinja o âmago do mundo
infantil.
O professor irá proceder da mesma maneira ao transmitir o significado dos
últimos três membros (aṅga) do aṣṭāṅgayoga, i.e. dhāraṇā, dhyāna e samādhi.
Bibliografia
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SARASWATI, Swāmi
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