Fernando Liguori
Texto retirado da
apostila da Oficina de Meditação, edição 2013.
Bhrāmarī significa aquilo que pertence à abelha (ou besouro), no que se refere ao seu som. A
técnica recebe este nome porque sua execução é acompanhada por um zumbido
semelhante ao de uma abelha (Haṭhapradīpikā,
II: 68). Este prāṇāyāma é praticado
em conjunto com a ṣaṇmukhī-mudrā,
explicada logo abaixo. Isso intensifica o efeito do zumbido. Na Gheraṇḍasaṃhitā (V: 78-79), contudo, bhrāmarī denota um dos sons internos que
espontaneamente se tornam audíveis através da prática contemplativa do prāṇāyāma em um local calmo e tranqüilo.
É utilizado no nāda-yoga para
despertar a consciência dos sons psíquicos. A vibração deste prāṇāyāma produz um efeito calmante na mente
e no sistema nervoso, diminuindo o vāta
agravado.
Técnica
1: Método básico
Sente-se de
preferência em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana. A coluna vertebral deve estar ereta, a cabeça no
prolongamento da coluna e as mãos descansando sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Feche os olhos e
descanse todo o corpo por algum tempo.
Os lábios devem
permanecer fechados e os dentes levemente separados durante toda a prática.
Isso faz com que a vibração sonora seja escutada e sentida de maneira distinta
pelo cérebro.
Eleve os braços
lentamente e flexione os cotovelos, trazendo às mãos de encontro às orelhas.
Use o dedo indicador ou o médio para fechar os ouvidos.
Foque a consciência no
centro da cabeça, onde ājñā-cakra
está localizado e mantenha o corpo absolutamente estável.
Inspire pelas
narinas. Expire lentamente de forma controlada, fazendo um profundo e contínuo
zumbido semelhante ao de abelhas.
Este zumbido deve ser
regular, modulado e contínuo durante toda a expiração. O som deve ser suave e
agradável, fazendo reverberar a parte frontal do crânio.
Ao final da
expiração, as mãos podem ser mantidas na posição ou retornar aos joelhos até a
próxima execução.
A inspiração e
expiração devem ser prolongadas e controladas.
Isso é uma execução.
Repita de cinco a dez vezes.
Técnica 2: Com ujjāyī-prāṇāyāma
A
inspiração pode ser executada pela contração da garganta em ujjāyī-prāṇāyāma. Nesta técnica o zumbido pode ser produzido
tanto na inspiração quanto na expiração.
Técnica 3: Com jālaṃdhara-bandha
Uma
vez que o método básico tenha sido dominado, jālaṃdhara-bandha pode ser incorporado
em conjunto com a retenção interna do ar.
Após inspirar,
execute jālaṃdhara-bandha.
Não force ao executar
a kumbhaka, um ou dois segundo é o
suficiente.
Desfaça jālaṃdhara-bandha, feche os ouvidos e
expire executando o zumbido da abelha.
Repita de cinco a dez
vezes.
Quando esta técnica
for executada com conforto, ujjāyī-prāṇāyāma
pode ser integrado durante a inspiração.
Nota prática: Se você estiver
sentado em nāda-ānusandhāna-āsana não
será necessário executar jālaṃdhara-bandha.
Técnica 4: Com jālaṃdhara
e mūla-bandha
Após
a inspiração, retenha a respiração e execute jālaṃdhara e mūla-bandha.
Desfaça
primeiro mūla e depois jālaṃdhara-bandha, feche os ouvidos e expire executando o
zumbido da abelha.
Ujjāyī-prāṇāyāma pode ser executado durante a inspiração.
Técnica 5: Nāda-ānusandhāna-āsana
& bhrāmarī-prāṇāyāma
Sente-se em cócoras
sobre uma manta enrolada. Coloque os pés bem apoiados no solo, os joelhos
elevados e os cotovelos apoiados sobre os joelhos. Feche os ouvidos com os
dedos polegares e deixe os outros dedos tocando a cabeça.
Essa posição dá
bastante estabilidade sem esforço algum quando se pratica por um longo período
de tempo.
Nesta técnica,
respire como acima indicado ao executar bhrāmarī-prāṇāyāma.
Consciência: Físico - durante a
prática, mantenha sua consciência na reverberação do som dentro da cabeça.
Espiritual - no bindu-visarga-cakra.
Nota prática: Nāda-ānusandhāna-āsana é uma variação para a prática de bhrāmarī-prāṇāyāma, cujo objetivo é o
aprofundamento no nāda. É uma prática
preparatória para nāda-yoga, sistema
que utiliza as sutis vibrações sonoras internas para conectar o praticante com
sua verdadeira natureza.
Técnica 6: Praṇava-prāṇāyāna
Todas
as técnicas do bhrāmarī-prāṇāyāma podem ser executadas
utulizando-se o mantra auṃ no lugar
do zumbido da abelha. Na pronúncia, os sons A e U são bem curtos e o Ṃ é longo:
m-m-m-m-m-m-m.
Inspire em ujjāyī-prāṇāyāma, ascendendo a
consciência pela passagem psíquica espinhal do mūlādhāra ao ājñā-cakra.
Na expiração, o mantra auṃ desce pela passagem psíquica
espinhal do ājñā ao mūlādhāra-cakra.
Pratique por quinze
minutos.
Ao finalizar, esteja
atento aos sons internos.
Técnica 7: Com ṣaṇmukhī-mudrā
Sente-se em padmāsana, siddhāsana ou siddha-yoni-āsana.
Se essa posição não lhe for confortável, escolha outro āsana de meditação que lhe seja confortável e coloque uma pequena
almofada debaixo do períneo para fazer pressão nessa área.
Mantenha a cabeça e a
coluna alinhadas.
Feche os olhos e
coloque as mãos sobre os joelhos.
Relaxe todo o corpo.
Dobre os braços à
altura do rosto com os cotovelos apontados para as laterais.
Feche os ouvidos com
os dedos polegares, os olhos com os indicadores, as narinas com os dedos médios
e a boca colocando os dedos anulares e mínimos nos lábios superior e inferior
respectivamente.
Abra as narinas,
desfazendo a pressão dos dedos médios. Inspire lenta e profundamente, usando a
respiração yogī completa.
Ao final da
inspiração, feche as narinas com os dedos médios.
Retenha a respiração
pelo tempo que for confortável. Na execução, concentre-se na vibração sutil no
centro da cabeça e em qualquer imagem que apareça na frente dos olhos fechados.
Depois de algum
tempo, desfaça a pressão dos dedos médios, abrindo novamente as narinas e
expire. Isso é uma execução. Imediatamente faça uma nova inspiração para
começar uma outra execução.
Continue realizando a
prática por algumas execuções.
Para finalizar, volte
às mãos sobre os joelhos e mantenha os olhos fechados. Lentamente comece a exteriorizar
sua consciência, percebendo os sons externos e o corpo físico.
Respiração: Esta técnica produz grandes
benefícios quando o yogin é capaz de
reter a respiração (kumbhaka) por um
longo período de tempo.
Consciência: Sua consciência deve
estar principalmente focada no bindu-visarga,
mas também pode ser colocada no ājñā
ou anāhata-cakra, entretanto, nos
momentos iniciais da prática, o mais importante é o recolhimento dos sentidos
Nota prática: Ṣaṇmukhī-mudrā é uma prática usada em nāda-yoga para observação das manifestações internas do som sutil
na região de bindu-visarga. No alto
da cabeça, na porção posterior, onde os brâmanes hindus deixam um tufo de
cabelo, está o ponto conhecido como bindu.
A palavra bindu significa ponto ou gota e visarga significa verter gota por gota. Este centro
psíquico também é conhecido como soma-cakra.
Bindu é o centro do nāda e é utilizado para concentração no
som psíquico que se manifesta nesta área. Ṣaṇmukhī-mudrā
e bhrāmarī-kumbhaka são praticados
com a concentração no bindu-visarga
para desenvolver a percepção do nāda.
Esta técnica de
fechar os orifícios da cabeça com as mãos chama-se ṣaṇmukhī-mudrā (fechamento das sete portas). A palavra é composta
por duas raízes: ṣaṇ que se refere ao
número sete e mukhī que significa porta ou faces. Ṣaṇmukhī-mudrā
envolve o direcionamento da consciência para dentro, através das sete portas da
percepção do mundo exterior, i.e. olhos, ouvidos, narinas e a boca. Esta
prática também é conhecida como baddha-yoni-āsana
(posição da fonte fechada), devī-mudrā
(atitude da grande deusa), pāraṇgmukhī-mudrā
(gesto de foco interior) e śāmbhava-mudrā
(gesto da equanimidade).
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