Fernando Liguori
Texto
organizado a partir do satsanga ‹‹Kriyā & Kuṇḍalinī›› para os alunos do
Curso de Aprofundamento em Yoga para Professores & Praticantes Avançados realizado
pelo Instituto Kaula na UFJF em maio de 2011.
EMBORA existam uma variedade de
práticas para despertar a força interior, a maioria delas colocam o homem em
conflito com sua mente. Desde o início da caminhada, o homem não tem sido capaz
de fazer qualquer progresso tangível na vida espiritual porque grande parte de
seu tempo foi gasto no combate, controle e repressão das tendências mais
grosseiras da mente. Mesmo que ele seja capaz de controlar e pacificar a mente
por um período de seis meses, isso não garante que ela, posteriormente, não vá se
perder em vendavais mais uma vez. Depois de muitos anos de silêncio (mouna), a mente torna-se inquieta
novamente sobre as questões mais mesquinhas. Portanto, é necessário descobrir uma técnica que não envolva o confronto com a
mente.
Com este propósito em vista, os antigos
yogīs projetaram um caminho para
contornar a natureza da mente na prática espiritual. Este caminho ou método é conhecido como kriyā-yoga. É uma combinação de práticas
poderosas com base no haṭha-yoga. Na
prática do kriyā-yoga, tentamos
influenciar a mente através do corpo, assim como influenciamos a mente através
da ingestão de determinadas substâncias alucinógenas.
Todos nós sabemos que a mente pode ser
influenciada. No Yoga, quando tentamos
influenciar a mente através da mente, estamos praticando um metodo conhecido como pātañjala-yoga (o Yoga Clássico de Patañjali). Quando influenciamos a mente através
da auto-investigação, utilizamos o método
conhecico como jñana-yoga. Quando
transformarmamos a mente através da emoção, estamos praticando bhakti-yoga. Quando tentamos mudar a
mente através do serviço abnegado e desprendimento, executamos karma-yoga. Quando expandimos a mente e liberamos a energia, praticamos tantra-yoga.
Quando influenciamos a mente ajustando e equilibrando as substâncias químicas no
corpo, o que fazemos é haṭha-yoga.
Na prática do kriyā-yoga não nos preocupamos com as distrações da mente. Se sua
mente não é concentrada, é facilmente influenciada por paixões, fica deprimida
por preocupações psicóticas e neuróticas, ou até mesmo se você estiver perdido nos
meandros do plano mental, isso não faz diferença no kriyā-yoga. Se você é da natureza de tamas, rajas ou sattva, não importa.
No pātañjala-yoga
você tem que estar constantemente atento às funções da mente. Existe a
necessidade de se manter a mente constante em uma direção, caso contrário, haverá
falhas. Mas no kriyā-yoga a
constância da mente não é importante; você está apenas preocupado com a
prática. As práticas são feitas no plano físico e a mente tem um envolvimento
mínimo. Não é necessário ser constante e uma direção, entretanto, os kriyās têm de ser executados de forma correta,
segundo as orientações de um professor qualificado.
Viparītakaraṇī-mudrā
Por exemplo, em viparītakaraṇī-mudrā, a primeira prática de kriyā-yoga, você deve ser capaz de manter a postura correta. Ao
praticar a postura física, em ujjāyī-prāṇāyāma
inala-se do maṇipūra-cakra até
o viśuddhi, por
um momento a energia permanece ali e depois exala-se sem qualquer preocupação
com a passagem psíquica. Em viparītakaraṇī-mudrā,
a inspiração tem uma rota definida pela passagem psíquica que vai do maṇipūra até o viśuddhi, mas a expiração
não segue por uma passagem psíquica definida. Você pode expirar da maneira que quiser
e então começar o segundo ciclo da prática, por 11 vezes.
Agora, qual é a ciência por trás desta
prática? Os textos sobre haṭha-yoga
dizem que o néctar da lua é consumido pelo sol. Dessa maneira, o yogī perde seu poder espiritual e transpassa
o portal da morte. Através da prática, enviamos o néctar de volta à lua a fim
de nos tornarmos imortais, resgatando nossa herança yogī. De forma simples, esta é o processo de viparītakaraṇī-mudrā.
Aqui, não apenas o fluxo do néctar e do
prāṇa, mas até mesmo a circulação
sanguínea é revertida para o cérebro. Se enriquecemos o cérebro com um excesso
destas três substâncias, podemos perceber o Ser divino em nós, é o advaita-jñana (sabedoria da unidade) por
meio da prática. Viparītakaraṇī-mudrā
é um meio de enriquecer o cérebro preparando-o para práticas mais intensas.
Pela prática de viparītakaraṇī-mudrā, somos capazes de estimular o cakra sahasrāra,
conhecido na ciência moderna como o corpo pituitário, localizado no maior
centro do cérebro. De diferentes áreas da hipófise, são secretados poderosos
hormônios que controlam todas as outras glândulas do corpo, de forma a
influenciar o funcionamento de todos os órgãos e sistemas, bem como a mente e
as emoções.
Dos múltiplos hormônios no corpo, os
mais importantes são os sexuais. No Yoga
eles são conhecidos como retas e é
dito que são responsáveis pelo cativeiro e degeneração. Enquanto o corpo está
saturado com retas, permanece jovem e
emite um odor agradável. A preservação desses hormônios é conhecida como brahmacarya. Quando esses hormônios caem
na região do umbigo, se transforma em vīrya
ou sêmen, deixando o corpo por emissão. Como resultado deste desperdício, cria-se
a inquietação na mente e o adepto se torna mentalmente e fisicamente débil.
Este ciclo de degeneração é impedido pela prática de viparītakaraṇī-mudrā. Antes do retas
se transforma em vīrya, pode-se inverter
todo o processo enviando estes hormônios e o prāṇa de volta ao cérebro.
A fim de se tranquilizar em mente, é
necessário ter força suficiente no cérebro. Quando há força suficiente no
cérebro, a mente pára e a kuṇḍalinī desperta.
Quando o cérebro é fraco e não possui prāṇa,
a mente fica inquieta. Muitas pessoas se sentam para praticar meditação, mas ao
invés de se tornarem pacíficas, suas mentes ficam ansiosas, medrosas e nervosas.
A razão disto é muito simples: não há śakti-prāṇa nos centros superiores do cérebro.
A prática de viparītakaraṇī-mudrā
durante nove minutos todos os dias reverte o processo do prāṇa. Não há nenhuma razão pela qual a mente deva parar. Portanto,
viparītakaraṇī-mudrā é a primeira
prática do Kriyā-yoga.
Cakra-ānusandhāna
Este é outro exemplo de como a
consciência pode despertadar sem envolver a mente. Nesta prática a consciência percorre
todos os cakras e seus pontos de
contato. Todos os cakras, exceto o mūlādhāra e o bindu têm pontos de contato na parte da frente do corpo, que são
paralelos aos pontos dos cakras na
coluna vertebral. Do mūlādhāra ao bindu a consciência sobe através dos
pontos de contato, e do bindu ao mūlādhāra ela desce através dos cakras na coluna vertebral. O terminal
superior é bindu e o terminal
inferior é o mūlādhāra.
Na medida em que ascendemos através dos
pontos de contato na passagem psíquica frontal, dizemos o nome de cada um dos cakras mentalmente: mūlādhāra (no períneo), swādhisṭhāna (no osso púbico), maṇipūra (no umbigo), anāhata (no esterno), viśuddhi (na garganta), ājñā (no centro entre as sobrancelhas), bindu
(no topo da cabeça).
Na medida em que descemos a consciência
através dos cakras na coluna
vertebral, mais uma vez dizemos o nome de cada um mentalmente: bindu (parte de trás da cabeça), ājñā (parte superior da coluna), viśuddhi (cavidade da garganta) anāhata (atrás do esterno), maṇipūra (atrás do umbigo), swādhisṭhāna (cóccix) e mūlādhāra (períneo).
Nesta prática a concentração não é
necessária, mas a consciência deve se manter em movimento de cakra a cakra o mais rápido possível. Do contrário, a mente pode vagar.
A
tradição
Kriyā-yoga é
uma compilação de práticas retiradas do haṭha-yoga
e diferentes fontes tântricas. Por exemplo, viparītakaraṇī-mudrā
é uma postura do haṭha-yoga, mas no haṭha-yoga não ensinamos estes detalhes.
Da mesma forma, mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā, os dois kriyās
mais importantes, também são ensinados no haṭha-yoga,
mas não em detalhes. Também, naumukhi-mudrā é ensinado no haṭha-yoga, mas não em sua forma completa. No haṭha-yoga ele é chamado de ṣaṇmukhī-mudrā ou yoni-mudrā, no qual os sete portões são
fechadas: as duas orelhas, os dois olhos, as duas narinas e da boca. Em naumukhi, no entanto, todos os nove
portões, incluindo os orifícios urinário e excretor estão fechados. Isto deixa
apenas o décimo portão aberto para a passagem do prāṇa e da kuṇḍalinī.
Assim, o kriyā-yoga nos ensina um
pouco mais do que o haṭha-yoga.
Atualmente, as práticas de kriyā-yoga estão sendo ensinadas por
muitas pessoas, muitos mestres e tradições, mas elas foram simplificadas em
grande medida. Entretanto, tomamos a postura de não simplificar estas práticas,
pois se assim o fizermos, a posteridade não saberá o que kriyā-yoga realmente é. Embora muitas pessoas hoje não consigam
praticar o kriyā-yoga em sua forma
completa e original, em sua forma clássica, com o devido preparo, podem estar
prontas para a prática em um ano ou dois, desde que sejam instruídas
devidamente.
A
relação entre os kriyās e a kuṇḍalinī
Kuṇḍalinī-yoga não
é uma prática, mas um sistema, assim como haṭha-yoga
não é uma prática, mas um sistema. Kriyā-yoga
é uma parte do kuṇḍalinī-yoga, é uma
prática e não um sistema.
A palavra kuṇḍalinī tem de ser explicada corretamente. De acordo com os
escritores modernos, a kuṇḍalinī é
uma serpente enrolada, mas de acordo com o Tantra,
a palavra kuṇḍa significa um lugar mais profundo. Quando fazemos
um sacrifício (yajña) de fogo, abrimos
um buraco quadrado no chão em que colocamos fogo. Quando o fogo está queimando
oferecemos oblações. Quando oferecemos oblações as chamas do fogo, estamos
trabalhando externamente com o kuṇḍa,
portanto, essa palavra significa literalmente uma chama em um buraco. A kuṇḍalinī
é a śakti, o fogo é a śakti. Kuṇḍalinī-yoga é a ciência do fogo no kuṇḍa, o local profundo onde o fogo arde em forma potencial. É a kuṇḍalinī adormecida. Este fogo não é
físico, é conhecido como o Fogo do Yoga,
que também é gerado através do prāṇāyāma.
O fogo no exterior é apenas um símbolo.
No lugar
mais profundo no mūlādhāra-cakra
existe um liṅga astral na forma oval.
A palavra liṅga tem dois
significados, falo e corpo causal, mas a maioria das pessoas
só conhecem o primeiro significado. O liṅga
no mūlādhāra é o corpo causal ou o
inconsciente. É a libido total. No kuṇḍalinī-tantra
e no kriyā-yoga, nós concebemos três
lugares para o śiva-liṅga: o mūlādhāra, o ājñā e o sahasrāra-cakra.
No mūlādhāra o liṅga é nebuloso, no ājñā
é esfumaçado e no sahasrāra é luminoso.
A palavra Śiva, aqui, significa a alma individual. Esta é a relação entre kuṇḍalinī-yoga e kriyā-yoga. Kriyā-yoga é
uma prática do kuṇḍalinī-yoga.
O kuṇḍalinī-yoga
possui inúmeras práticas, não apenas o kriyā-yoga.
Mas as práticas de kriyā-yoga são as melhores,
mais fáceis e mais poderosas. Além disso, kriyā-yoga
é a prática mais adequada para as pessoas dos dias de hoje, porque não
estabelece quaisquer restrições sobre alimentos, hábitos, vida conjugal, etc.
Seguindo o caminho do kuṇḍalinī-yoga
e praticando o kriyā-yoga, o yogī pode despertar a sua personalidade espiritual, sem a interferência
de sua mente. Deixe suas paixões, ciúmes, orgulhos e preconceitos, apenas
continue com a prática. Viva com suas depressões, prazeres, alegrias e dores. Estes
elementoas grosseiros da personalidade não se apresentam como obstáculos no
caminho do despertar espiritual quando levamos em consideração a prática de kriyā-yoga.
Satsanga
sobre kriyā-yoga
O kriyā-yoga é de origem hindu professor?
O kriyā-yoga
é uma prática antiga que já existia muito antes das religiões de hoje. Somos em
número de quinze aqui aprendendo kriyā-yoga.
Amanhã, alguns de vocês se tornarão cristãos (ou já são), outros mulçumanos e
outros vão adotar o hinduísmo como mecanismo de crença religiosa, não importa.
Daqui a 500 anos as crianças vão perguntar: o
kriyā-yoga é mulçumano, hindu ou
cristão? Eu, se estivesse lá, responderia: Eu ensinei kriyā-yoga da forma clássica e tradicional aos seus
antepassados, antes de se tornarem seguidores desta ou aquela religião.
Como podem ver, as práticas de Yoga que despertam a kuṇḍalinī e a personalidade superior não
se limitam às fronteiras de qualquer religião. A religião nos prepara, nos
ensina a orar, jejuar e direcionar nossa consciência para Deus, desenvolvendo a
fé etc. Estas são pedras muito importantes que constrõem o caminho a ser
trilhado. O kriyā-yoga, no entanto, é
o método pelo qual o despertar realmente ocorre.
O kriyā-yoga é apenas mensionado nas
escrituras tântricas?
Eu não sei se todos vão aceitar isso
que vou falar, mas de uma maneira muita particular, pode se dizer que o kriyā-yoga foi citádo na Bíblia. No
Gênese, há uma passagem que fala sobre o sonho de Jacó. Ele viu uma escada que
descia do céu até a terra. Nela, havia anjos subindo e descendo. Essa escada é
mencionada em outras partes do Antigo Testamento onde se diz que temos que subir até a metade do caminho com os olhos
abertos e a outra metade com os olhos fechados.
Quando praticamos kriyā-yoga, executamos alguns kriyās
iniciais com os olhos abertos e os finais com os olhos fechados. A escada do
sonho de Jacó é a suṣumṇā-nāḍī. Sua extremidade inferior repousa no mūlādhāra-chakra que, de acordo com o Tantra, é o elemento terra; o topo da
escada que atinge o céu é o sahasrāra. Os
anjos subindo e descendo a escada representam o movimento da respiração através
da suṣumṇā.
Portanto, esta é uma semelhança muito marcante entre as instruções insinuadas
na Bíblia e as práticas detalhadas nas escrituras tântricas.
Por
que executamos algumas práticas de kriyā-yoga
com os olhos abertos e outras com os olhos fechados?
Quando se inicia a prática do kriyā-yoga mantendo os olhos fechados a
consciência pode se perder na aglomeração de problemas e preocupações. Quando
os olhos estão fechados, o cérebro é mais silencioso e as forças subconscientes
entram em erupção com mais facilidade. Quando se mantém os olhos abertos, o
cérebro funciona mais dinamicamente e os conflitos subconscientes ficam fora da
aréa de atuação da consciência.
Em segundo lugar, no kriyā-yoga a ênfase não está na
concentração, mas na prática. Se você conscientemente manter os olhos abertos
por um período de meia hora, pratyāhāra
ocorrerá automaticamente. Por exemplo, se você executa um mantra com os olhos fechados e, em seguida, com os olhos abertos, notará
que o estado de pratyāhāra é muito
melhor com os olhos abertos do que fechados. Em pratyāhāra há uma desconexão temporária entre o sistema nervoso e o
cérebro, que pode ser melhor alcançada mantendo os olhos abertos. Lembrem-se,
estou falando de pratyāhāra
(dissociação) e não dhāraṇā
(concentração). Práticas que levam ao estado de dhāraṇā têm de ser feitas com os olhos fechados. Portanto, no kriyā-yoga as primeiras práticas, que
desenvolvem o estado de pratyāhāra,
são realizadas com os olhos abertos, mas depois de tadan-kriyā, se inicia os kriyā-dhāraṇā,
estes são realizados com os olhos fechados.
Nas
práticas de kriyā-yoga utilizamos os
canais psíquicos frontal e dorsal (arohan
e awarohan), essas passagens são
reais ou são apenas criadas na mente?
O processo ascendente (arohan) e descendente (awarohan) concerne ao despertar do prāṇa-śakti. Não há caminho no corpo que
não se torne uma passagem para o prāṇa
– e não é esse um dos princípios da prática de prāṇa-vidyā? Mas no kriyā-yoga,
ocorre o processo de ascensão do prāṇa
do mūlādhāra até o bindu através da passagem frontal e do bindu até o mūlādhāra através da passagem da coluna vertebral apenas.
O propósito de criar essas passagens é
desenvolver auto-consciência concentrada e intensificada.
A consciência é normalmente dissipada e
esta dissipação é responsável pelo desperdício de energia. Se você tem uma
instalação eléctrica e liga vários aparelhos, a corrente não será suficiente,
mas para um ou dois aparelhos ela será. Da mesma forma, prāṇa-śakti, que é distribuído por todo o corpo, o campo mental e
até mesmo o campo psíquico, deve ser conduzido através de um canal de uma forma
concentrada. Portanto, pela prática de arohan
e awarohan, cria-se um fluxo de energia
da consciência.
Existem
restrições sobre quem deve praticar kriyā-yoga?
Eu não acho que exista alguém impróprio
para a prática de kriyā-yoga. É
diferente para quem não tem tempo ou energia física; esses não podem praticar
todos os kriyās, mas podem
definitivamente praticar alguns deles.
As
mulheres podem praticar durante a menstruação?
Durante o período menstrual, kriyā-yoga é definitivamente útil,
especialmente mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā. Eles ajudam a superar
a depressão que é natural durante o ciclo mentrual e a manter o equilíbrio
emocional que muitas vezes falta durante este período.
Como
posso aprender kriyā-yoga?
Primeiro, torne-se proficientes na
prática de āsana, prāṇāyāma, mudrā e bandha. Dessa
maneira será capaz de aprender kriyā-yoga.
As práticas de kriyā-yoga não são
muito difíceis. Na minha opinião, dhyāna-yoga
é muito mais difícil. Em dhyāna sentamos
em um āsana e tentamos atrair a mente
a um foco para que ela entre em um estado diferente. Poucas pessoas podem fazer
isso com facilidade. Mas no kriyā-yoga,
não é necessário fechar os olhos sempre, não é necessário manter uma postura
firme por todo tempo, não é necessário concentrar a mente em um objeto. A mente
é autorizada a permanecer livre e fazer o que bem entende.
Estas são as características básicas do
kriyā-yoga. Há vinte práticas principais
que podem ser aprendidas sem dificuldade. Elas foram organizadas em uma ordem
especial para induzir sistematicamente pratyāhāra,
dhāraṇā e dhyāna. Não há restrições sociais ou idade para a prática de kriyā-yoga. No entanto, você deve ser
capaz de executar proficientemente prāṇāyāma.
Assim como o sal é o tempero básico nos
alimentos comuns, da mesma forma prāṇāyāma
é a prática básica para o kriyā-yoga.
Quando pratica-se prāṇāyāma por um
longo tempo, por 15 a 30 minutos todos os dias, cria-se calor no sistema,
secando todo o muco dos pulmões. O metabolismo renal diminui. É muito
importante lembrar que ao realizar prāṇāyāma
o corpo não deve suar ou tremer. Portanto, primeiro execute eficientemente prāṇāyāma antes de tentar a prática de kriyā-yoga. Dessa maneira você vai
dominar facilmente as práticas e obter os benefícios ideais.
O
que acontece se começarmos a prática de kriyā-yoga
antes do preparo com os āsanas, prāṇāyāmas etc.?
Se você está praticando corretamente, o
despertar pode ocorrer. Mas se você não treinou seu sistema nervoso, não dominou
kumbhaka ou não preparou sua mente
para ter experiências de uma dimensão diferente, então provavelmente não será
capaz de gerenciar a prática. Muitas pessoas começam praticar mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā antes de estarem preparadas e têm experiências
fantásticas, mas não sabem compreendê-las. Elas dizem: ei, algo está acontecendo comigo, estou sentindo muita fome nesses dias;
ou eu não sinto fome de jeito nenhum;
algumas pessoas podem dizer: eu tenho
muitos sonhos assustadores, ou eu
sinto que alguém está no meu quarto. Estas experiências ocorrem somente
quando você não se preparou de forma lenta e sistemática.
Devemos
praticar todos os kriyās que
aprendemos hoje ou só alguns?
As práticas de kriyā-yoga requerem um mínimo de 30 minutos por dia. Há uma
seqüência definida de práticas, mas se seu tempo é curto, certos kriyās podem ser omitidos. No entanto,
isto pode ser feito somente após adquirir alguma competência na prática. Há
certos kriyās que são muito
importantes, e eles devem ser praticados todos os dias, independentemente do
tempo.
Viparītakaraṇī-mudrā é
de importância vital. Cakra-ānusandhāna
também, pois desenvolve a consciência dos cakras
e seus pontos de contato. Mas esta prática pode ser omitida completamente após
algum tempo porque é basicamente uma preparação para familiarizá-lo com as
passagens ascendente e descendente. A terceira prática é nāda-sancalana (a
entoação do oṃ como som da
consciência). É um passo importante,
mas depois de algum tempo você pode minimizá-la de treze para três ciclos. A
prática seguinte é pawan-sancalana, onde
se inspira a consciência ascendente e expira de forma descendente. Em seguida,
vem śabda-sancalana com o mantra sohaṃ.
Essas duas práticas podem ser combinadas, minimizado os ciclos para vinte e uma
vezes, depois de ter alcançado uma tranquilidade considerável. As práticas
seguintes são mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā. Elas devem ser
praticadas da maneira como ensinei hoje. Desta forma algumas das práticas
básicas podem ser omitidas, e certas práticas podem ser minimizadas enquanto
outras devem ser praticadas como ensinei.
Mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā são o âmago do kriyā-yoga. Se por algum motivo você não
é pode praticar toda a seqüência de kriyās,
continue mahā-mudrā e mahā-bheda-mudrā sem falhar. É claro,
deve-se usar o bom senso. Se o corpo está fraco ou doente, a prática deve ser
interrompida por algum tempo.
Uma
vez que tenhamos aprendido kriyā-yoga,
devemos continuar a praticar āsanas, prāṇāyāmas etc.?
Kriyā-yoga é a
prática tântrica mais eficaz. Depois de começar a praticá-lo, você não precisa
continuar com āsanas, prāṇāyāmas e assim por diante. Mas um
arranjo na classificação das práticas yogīs
é importante. Por exemplo, quando você entra no ensino fundamental, aprende
geografia, história matemática etc. Quando passa ao ensino médio, esse
conhecimento aprendido no ensino fundamental passa por um refinamento.
Finalmente, entra na universidade para se especializar em alguma área. Lá você
irá ler todo o material que estudou no ensino fundamental e médio? Não! Todo
ato de aprendizagem é uma preparação para o futuro. Portanto, não é sábio praticar
inúmeros métodos de Yoga. Você tem
que organizar todos os métodos de Yoga
em graus e, gradualmente, transcendê-los.
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