Swāmi Satyasanganānanda Saraswatī
Texto extraído do livro «Tattwa
Shuddhi», Yoga Publications Trust, 2000.
Objetivo
do tantra
A mente que usamos
no dia-a-dia na percepção e cognição ordinária atua através dos sentidos. Mas
se pudermos introverter os sentidos e dirigirar a mente para o interior, ela se
manifesta através da experiência interna como uma mente expandida. Dessa
maneira a matéria se separa da energia, liberando o princípio energético
conhecido como Śakti, que se
une com Śiva «consciência», criando assim uma consciência homogênia.
Da mesma maneira
que um rio ao se encontrar com o oceano perde suas limitações e restrições, simularmente,
a mente finita se expande na mente cósmica ou infinita e se torna receptora e
transmissora da verdade. Quando isso ocorre, o resultado é uma explosão de
energia que liberta a consciência da matéria. Isso pode ser comparado a
experiência da kuṇḍalinī. Esse é o objetivo do Tantra.
Outras filosofias
chegaram a mesma conclusão, utilizando uma linguágem e método diferente. Na
filosofia do Vedānta existe o conceito de Brahman ou consciência indivisível,
homogênia, que a tudo permeia. A palavra Brahman deriva da raiz brihan,
que significa «expandir» e pode, portanto, ser compreendida como «a expansão da
consciência». Essa é a «consciência-bramânica», presente em cada um de nós,
responsável pelo conhecimento superior. Ele existe como um ou como o todo, para
o qual estamos constantemente nos esforçando a unir.
No Tantra, este
conceito é interpretado como Śiva ou consciência incondicional, que existe como
uma testemunha silenciosa no interior de cada um de nós. Seja Brahman no Vedānta,
Puruṣa no Sāṃkhya ou Śiva no Tantra, o conceito é o mesmo. Contudo, a
diferença entre o Tantra e a maioria das outras filosofias reside no fato delas
estabelecerem muitas restrições na vida do aspirante, exigindo aderência
estrita as regras. O Tantra, ao contrário, dá mais espaço para o
desenvolvimento de cada indivíduo, independente de seu estágio evolutivo. O
Tantra diz que, sendo você um sensualista ou espiritualista, um ateu ou um
crente, forte ou fraco, rico ou pobre, existe um caminho adequado a sua
natureza e que deve ser descoberto.
Este é o objetivo
do Tantra, não magia-sexual e nem magia negra; não é a aquisição das siddhis «poderes
psíquicos» e nem a prática de uma vida licenciosa. Estes nunca foram o objetivo
do Tantra. O
Tantra foi equivocadamente mal interpretado dessa maneira por inúmeros
indivíduos no globo, mas isso é um assunto completamente diferente. Além disso,
dificilmente podemos confiar naqueles que falharam em conquistar uma
consciência homogênia para apresentar uma verdadeira análise do Tantra.
Tradução livre de FernandoLiguori.
0 comentários:
Postar um comentário