Swāmi Satyasanganānanda Saraswatī
Texto extraído do livro
«Tattwa Shuddhi», Yoga Publications Trust, 2000.
Tantra: um caminho
de liberação para liberar a mente
De tempos em
tempos, os tântricos experimentaram vários métodos a fim de conquistar esse
objetivo. Eles acreditavam que os homens não poderiam trilhar o mesmo caminho
pois cada pessoa se encontra em um nível diferente na evolução. Frequentemente
é dito que «o que é alimento para um pode ser veneno para outro». Os tântricos
perceberam a necessidade de um caminho adequado a cada ser humano, seja ele um
sensualista grosseiro, um filósofo profundo ou um yogī evoluído.
Os tântricos
experimentaram métodos que poderiam parecer extremamente grosseiros e sensuais
aos olhos da pessoa comum. Essas práticas foram consideradas bizarras porque
envolviam meditação ao lado de mulheres nuas ou cadáveres e muitas outras práticas
«tentadoras». Muitos se opuseram e criticaram o Tantra por essa razão,
argumentando que estes métodos não passavam de uma desculpa para indulgência e
não para a experiência espiritual induzida.
Contudo, a
inerente sinceridade e firmeza dos tântricos prova o contrário. Se eles fazem
experimentos com o coito sexual, álcool e drogas, não é sua atitude que deve
ser julgada, mas a sua consciência, estado mental, ação e propósito pelos quais
eles executam aquela prática. Se eles invocam espíritos, realizam rituais e
cerimônias que poderiam ser chamadas de «magia negra», não devemos julgá-los
com base em suas atitudes, mas com base nos motivos que os levam a executar
essas práticas.
Essa é a fiferença
essencial entre um tântrico e um indivíduo ordinário grosseiro que utiliza e
pratica as mesmas coisas, mas com a única finalidade de satisfação sensual e
ganho pessoal. Através dessas práticas o tântrico sistematicamente explode a
poderosa força potencial de energia que existe em seu interior. Paixão,
medo, ódio, amor, raiva etc. são forças de energia e ele as encara face a face.
Se apropriadamente domadas, essas forças de energia podem conduzí-lo a
experiências elevadas. Durante a meditação, sendo ele capaz de manter sua
concentração, elas aparecem na forma de visões, sonhos, sons variados, vozes,
diferentes tipos de música e até mesmo objetos, animais e seres humanos.
A prova de talento
do tântrico reside na sua habilidade de permanecer irredutível, implacável, sem
se intimidar.
Ele não se confunde com a experiência e nem é solapado pelo medo. Um homem com
a mente enferma, distraída e com as emoções erráticas pode sofrer um ataque
psicótico, uma depressão nervosa ou até a insanidade total. Estaria ele
preparado para se aventurar em tais práticas?
O que são os medos
e as paixões senão forças de energia? As emoções que experimentamos na vida
diária são o bastante para conduzir qualquer pessoa a loucura. O equilíbrio não
pode ser mantido e as pessoas se lançam em atitudes insanas como assassinato,
estupro e outros crimes. O que acontecerá se a sua mente for confrontada com a
força total do medo ou da paixão que existe em seu interior? Você poderia
gerenciar isso? Mas o tântrico, ao contrário, é capaz de explodir a experiência
direto do interior de seu inconsciente; ele é capaz de dominar as poderosas
forças que existem em seu interior e convertê-las em uma força muito maior e
mais sutil, a qual é capaz de dirigir à vontade.
Contudo, foi
acreditado que muitas dessas práticas resultariam na experiência do «sopro da
mente» a partir das dimensões inexploradas da mente, as quais uma pessoa comum
é incapaz de suportar. Assim, os tântricos desenvolveram outras práticas que
poderiam levar o aspirante sem maiores transtornos, de forma suava e gradativa
através das experiências associadas a seu nível de consciência, de acordo com
suas capacidades. Práticas extremas foram deixadas de lado por aqueles que são
fortes e resolutos diante das poderosas experiências internas. Essas técnicas
mais suaves, que formam a fundação para práticas mais avançadas, incluem haṭha-yoga,
kriyā-yoga e japa, bem como tattwa-śuddhi.
Tradução livre de FernandoLiguori.
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