Fernando Liguori
Texto extraído da
apostila do curso «Oficina de Meditação», edição 2011, ministrado pelo
Instituto Kaula.
O objetivo inicial de todas as práticas meditativas é estabelecer um
estado de concentração mental como prelúdio a meditação profunda. Para
conquistar este estado, diferentes métodos são adotados. Um dos mais diretos,
simples e efetivos é a técnica de trāṭaka.
A mecânica da prática é fácil de aprender e pode ser praticada por qualquer
pessoa. Os benefícios serão enormes. Até mesmo iniciantes, com pouco esforço e
persistência, podem passar por experiências profundas em curto período de
tempo. E o mais importante, ela leva diretamente a experiência da meditação.
Nesta lição e nas duas que seguem nos próximos módulos nós iremos
introduzi-lo nos três estágios de trāṭaka,
avançando progressivamente do mais simples aos mais avançados. A palavra trāṭaka significa olhar ou focar fixamente.
A prática consiste em olhar fixamente um ponto ou objeto sem piscar os olhos. É
o método de focar os olhos e, portanto a
mente em um ponto, excluindo todos os outros a sua volta. O objeto de
fixação da consciência pode ser externo ao corpo, quando a prática ganha o nome
de bahir-trāṭaka (fixação externa),
ou pode ser interno, quando a prática ganha o nome de antar-trāṭaka (fixação interna). Através deste método, toda atenção
e poder da mente pode ser canalizado como uma torrente contínua. Isso permite
que o potencial latente da mente espontaneamente desperte.
Trāṭaka como um método
amplamente difundido
Trāṭaka é descrita em muitas escrituras,
embora seja usualmente conhecida por outros nomes, sempre em concordância com a
tradição que está inserida. Na Gheraṇḍasaṃhitā,
um texto clássico do haṭha-yoga, essa
técnica é classificada como um dos ṣaṭ-karmāṇi
(seis técnicas de purificação corporal). As outras cinco técnicas do conjunto
de práticas são notoriamente práticas de purificação corporal e entre elas, trāṭaka – a última prática – parece
estar fora do contexto. Entretanto, deve ser levado em consideração que trāṭaka não foi incluída como última
prática do grupo a toa. Pelo contrário, existe uma boa razão para ela ocupar
esse lugar. Ela atua como uma passagem entre as técnicas fisicamente orientadas
e as práticas meditativas que levam aos estados mais elevados de consciência.
Neste sentido, podemos dizer que trāṭaka
constitui uma ponte entre o haṭha-yoga
e os níveis avançados de rāja-yoga.
Tantra, provavelmente o sistema espiritual
mais abrangente, considerado a base do Yoga
que hoje conhecemos, utiliza trāṭaka
em ampla escala em suas muitas práticas, seja usando diagramas simbólicos,
deidades e objetos como foco de adoração ou consciência. Trāṭaka é utilizada de uma forma ou de outra por quase todos os
sistemas espirituais e religiosos. No hinduísmo, uma parte importante da
prática religiosa é se sentar na frente da imagem ou estátua de Kṛṣṇa, Rāma,
Śiva, o símbolo do auṃ etc. Isso é
uma forma de adoração e se ela é sincera, o adorador está praticando trāṭaka, pois seu objetivo é concentrar
sua mente na deidade externa. Isso provoca o estado meditativo e a paz mental.
Muitos hindus, por praticarem este método com perseverança, possuem a
habilidade de criar visualizações internas de objetos externos a vontade,
executando assim antar-trāṭaka.
No cristianismo ocorre a mesma coisa, mas de uma maneira menos óbvia. Nas
igrejas encontramos imagens de Cristo, candelabros e a cruz, nas suas mais
diversas formas. Estes objetos agem como foco de apoio para trāṭaka, embora esse não seja o nome
utilizado pelos cristãos. Todas essas formas possuem um significado simbólico
profundamente aterrado na mente ocidental que normalmente atua abaixo do nível
normal da consciência. Em outras palavras, estes símbolos estimulam
experiências e memórias que estão contidas naquilo que Jung denominou inconsciente coletivo. Portanto, esses
objetos de suporte para consciência invocam experiências e conhecimentos que
normalmente você desconhece.
No budismo tibetano, trāṭaka é
freqüentemente realizada com o suporte de várias deidades, na imagem de Buda e
várias figuras geométricas conhecidas como yantras
ou maṇḍalas. Até mesmo os zen
budistas utilizam trāṭaka, mesmo que
de uma forma mais abstrata, como olhar fixamente o branco da parede. A prática
de trāṭaka não se confina ao Yoga. Ela é universal e tem sido
utilizada por eras como método para se transcender a experiência normal e
cotidiana. Trāṭaka é simples e
poderosa. Por esta razão a maioria dos sistemas espirituais e religiosos utilizam
sua técnica, de uma maneira ou de outra, como mecanismo de elevação espiritual.
Diferentes métodos de trāṭaka
Trāṭaka consiste em três diferentes métodos de
prática ou estágios:
1. Externo (bahir)
2. Externo (bahir) e interno (antar)
combinados
3. Interno (antar)
O método externo pode ser executado sozinho, embora geralmente seja
combinado com o método interno para se obter melhores resultados. A técnica que
iremos discutir nessa e na próxima lição é a combinação de ambas os métodos,
interno e externo. A técnica mais efetiva, embora mais difícil, é antar-trāṭaka, o método interno.
1. Bahir-trāṭaka: Pode ser executada com o foco em
qualquer objeto, como veremos a seguir nesta lição. Agochari-mudrā (fixação na ponta do nariz), é uma forma excelente
de bahir-trāṭaka. As pessoas estão
tão acostumadas a viver fora de si mesmas, completamente extrovertidas em todos
os aspectos de suas vidas, que encontram dificuldades para fechar os olhos por
mais de alguns segundos, a não ser que estejam tentando dormir. Bahir-trāṭaka pode ser usada sob essas
circunstâncias. O propósito fundamental de bahir-trāṭaka
é, contudo, direcionar os olhos com tamanha concentração a um objeto por um
longo período de tempo sem piscar ao ponto de se ver claramente a pós-imagem
interior, objetivo tão cultivado em antar-trāṭaka.
2. Bahir-trāṭaka
& antar-trāṭaka: Essa é a forma de trāṭaka
que iremos tratar nessa lição. Primeiro, fixa-se o olhar em um ponto ou objeto
externo sem piscar por algum tempo; então se fecha os olhos e fixa-se o olhar
na pós-imagem do mesmo objeto. Qualquer objeto pode ser utilizado, embora
objetos claros e luzentes sejam melhores, pois gravam uma imagem clara na
retina dos olhos, o que pode ser claramente observado quando estão fechados.
Embora essa forma de trāṭaka auxilie
no ganho de concentração mental, seu propósito fundamental é produzir uma
imagem interna clara. Essa pós-imagem atua como foco objetivo predominante da
atenção enquanto os olhos estiverem fechados. Se o objeto for claro e luminoso
o suficiente, ele irá seduzir sua consciência de tal forma, que não conseguirá
focar sua atenção em nada mais. E isso é exatamente o que queremos, pois essa
prática refina a concentração, produz força mental e leva a meditação.
A combinação de antar e bahir-trāṭaka é
especialmente útil para pessoas que possuem dificuldades em criar uma imagem
interna à vontade, sem uma contra parte externa. As pessoas que conseguem criar
com facilidade uma imagem interna, distinta e estável, sem o auxílio de nenhum
objeto externo, pode praticar antar-trāṭaka
apenas.
3. Antar-trāṭaka: Essa forma de trāṭaka é mais conducente a introspecção e a exploração da mente,
pois não existe contato com o exterior como nos dois outros métodos. Contudo,
os dois estágios anteriores são mais adequados para prática em geral e
principalmente para iniciantes. Muitas pessoas têm uma mente perturbada que
está sempre em conflito e desordem. Sob essas circunstâncias é difícil criar
uma imagem interna suficientemente carregada que capture a atenção da mente. Se
existe tumulto mental e você pratica antar-trāṭaka,
notará que a mente sempre vagante rapidamente esquece a imagem interna e vai em
direção a outros pensamentos. Como resultado, você falhará em obter o máximo de
benefício da prática. Sob essas condições é melhor praticar somente bahir-trāṭaka ou antar com bahir-trāṭaka,
pois quanto mais tangível e claro for o objeto exterior, maior será o foco da
mente e a exclusão de pensamentos intrusos.
Pratique antar-trāṭaka quando puder criar uma imagem interna clara e quando
sentir que sua mente atingiu um grau razoável de equanimidade e estabilidade.
Se praticar Yoga e meditação com
sinceridade e entusiasmo, rapidamente alcançará sua meta. Antar-trāṭaka é um método poderoso para se desenvolver a
consciência dos estados mais profundos da mente e despertar seu máximo potencial.
A escolha de um veículo
para consciência
Qualquer objeto pode ser escolhido para prática. Você deve escolher aquele
que é mais adequado a sua natureza. Mas novamente enfatizamos que o objeto
tenha algum significado especial. Dessa maneira, será mais fácil manter o fluxo
de sua consciência durante a prática. O que se segue é uma lista de objetos ou
pontos mais utilizados em nossas técnicas meditativas:
·
Chama de uma vela
·
Cruz
·
Símbolo do auṃ
·
Flor (rosa ou lótus)
·
Ponto preto em uma folha
de papel
·
Nascer do sol
·
Lua
·
Estrela
·
Śiva-linga
·
Ponta do nariz
·
Ponto entre as
sobrancelhas
·
Nos olhos de outra pessoa
·
Céu
·
Água
·
Iṣtā-devatā (deidade pessoal)
·
Símbolo do yin e yang
·
Cristal
·
Yantra ou maṇḍala
·
Sombra
·
Escuridão
·
Imagem ou estátua de Buda
·
Imagem ou estátua de
Cristo
·
Reflexo dos olhos no
espelho
Existem inúmeras possibilidades. Mas uma vez selecionado o veículo para
consciência, não mude, pois isso pode diminuir a efetividade da prática. Em
outras palavras, se você investe seu tempo no desenvolvimento de sua
consciência direcionada a um objeto e depois muda o foco para outro objeto,
estará começando do início novamente a fim de permitir que sua mente assimile
um novo objeto. A mente precisa se modular ao objeto de maneira que seja
automaticamente atraída por ele. Isso leva tempo e seria um desperdício de
esforço se a mente de repente começasse a modular-se em outro objeto. Portanto,
escolha cuidadosamente e mantenha sua decisão. Se você sente que precisa mudar
após um período de tempo, e essa é uma tentação comum, procure um
aconselhamento mais experiente antes de fazer a troca.
A fixação na chama da vela tem sido a melhor introdução a essa técnica,
principalmente para iniciantes. A razão disso é que sua luminosidade fixa a
atenção. Tem um efeito magnético sobre os olhos e desperta a consciência.
Ademais, a chama da vela deixa uma pós-imagem muito clara quando se fecha os
olhos. Até mesmo as pessoas que possuem dificuldade em criar uma pós-imagem com
objetos externos, com um pouquinho de prática já conseguem ver a imagem interna
da chama. Portanto, usaremos a chama da vela como veículo para consciência na
prática que iremos descrever.
Postura
Trāṭaka deve ser praticada em uma postura
clássica de meditação. Deve se levar em consideração o conforto e a
estabilidade corporal, portanto, pratique kāya-sthairyam
e prāṇāyāma antes de iniciar trāṭaka.
Trāṭaka: estágio 1
É importante mencionar algo sobre a posição do objeto escolhido para
prática: Se o objeto estiver muito distante dos olhos, é mais difícil manter o
foco da mente nele; ademais, é quase impossível produzir uma pós-imagem clara e
consistente tão necessária na prática de antar-trāṭaka,
quando fechar os olhos. Se o objeto estiver muito baixo, haverá a tendência de
inclinar o corpo para frente; isso não condiz com uma postura estável e,
portanto, gera desconforto e dor lombar. Se o objeto estiver muito alto, o
pescoço produzirá tensão. Por experiência nós verificamos que a melhor posição
do objeto para prática de bahir-trāṭaka
é na altura dos olhos e um braço de distância.
É claro, você pode ajustar a posição do objeto de maneira que ele fique
mais adequado a sua prática. Nossa sugestão é apenas um guia, pois descobrimos
que essa maneira é mais adequada a maioria das pessoas. Algumas pessoas
preferem o objeto na direção dos olhos, mas muito próximo do rosto. Portanto,
experimente por si mesmo e veja qual o melhor posicionamento do objeto.
Mas isso não se aplica a outros objetos como o sol, as estrelas, a ponta
do nariz ou o ponto entre as sobrancelhas, pois esses veículos para consciência não podem ter sua posição ajustada. No
entanto, a maioria dos objetos citados acima e no capítulo 5 (p. 32) se aplicam
a natureza da prática, desde a chama da vela ao símbolo do auṃ.
Se você sofre de algum defeito nos olhos, deveria tentar posicionar o
objeto de maneira que não haja uma imagem dupla ou distorcida. Você deve ver a
imagem clara do objeto. Seria melhor que evitasse usar apetrechos; utilize-os
apenas se necessário. Por exemplo, se estiver praticando trāṭaka na lua e for míope, somente conseguirá ver uma bola
amarela. Neste caso você deveria utilizar óculos. Contudo, a prática de trāṭaka sem os óculos ajudará a reduzir
a dependência deles, mas isso leva tempo e prática.
O método que executaremos é dividido em duas partes: bahir-trāṭaka na chama da vela e antar-trāṭaka na pós-imagem gerada.
Ascenda a vela e a coloque em um candelabro alto, banco ou bancada,
posicionando-a na altura dos olhos. Sente-se em uma postura meditativa a um
braço de distância da chama da vela.
Técnica
Ajuste sua postura de maneira que se
encontre diretamente na frente da chama.
Ajuste a coluna e a cabeça.
Posicione as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Feche os olhos e relaxe todo o corpo.
Pratique kāya-sthairyam.
Deixe que seu corpo se transforme em
uma estátua.
Tome a resolução de que não movimentará
seu corpo durante toda a prática.
Se você se mexer, imediatamente
distrairá sua consciência para longe da prática.
Preparação é importante. Portanto,
esteja completamente absorvido em seu corpo. Não pense em nada mais (pausa).
Mantendo o corpo estável, abra os
olhos.
Concentre intensamente seu olhar na
chama da vela. Dirija sua atenção para ponta do pavio.
Não olhe para nada mais além da chama e
do pavio.
Tente não piscar ou movimentar os
olhos.
Não force os olhos. Se sente a
necessidade de piscar, então pisque. Com a prática conseguirá manter o olhar
fixo sem piscar os olhos por um longo período de tempo.
Relaxe seus olhos o máximo possível. Se
existe tensão nos olhos, então relaxe-os. É a tensão nos olhos que causa o
tremeluzir das pálpebras.
Mantenha sua consciência na chama da
vela e no topo do pavio.
Direcione sua mente de tal maneira que
você perde completamente a consciência do corpo.
Se sua mente vagar, não se preocupe,
apenas traga a mente novamente para prática.
Foque completamente sua atenção no topo
do pavio, no centro da chama. Deixe que sua consciência esteja completamente
absorvida pela chama da vela (pausa).
Feche os olhos.
Visualize a pós-imagem da chama da vela
na tela negra na frente de seus olhos fechados.
Se você não consegue ver a pós-imagem,
não se preocupe; tudo o que se requer é prática; entretanto, apenas tente criar
e visualizar a chama.
Existirá a tendência da imagem se
mexer. Para cima, para baixo ou até para os lados. Foque sua atenção e tente
estabilizar a imagem.
Esteja completamente consciente da
pós-imagem. A pós-imagem apenas.
Se visões psíquicas, pensamentos
estranhos ou qualquer tipo de experiência interior ocorrer, permaneça como uma
testemunha. Não reaja sob nenhuma circunstância. Apenas deixe que estas
experiências surjam e observe-as com desinteresse (pausa).
Abra os olhos.
Fixe sua consciência na chama da vela.
Mantenha sua consciência no topo do pavio, no centro da chama.
Mantenha o olhar fixo no centro da
chama da vela. Tente não piscar os olhos ou mesmo movimentá-los. Consciência
total na chama da vela e nada mais (pausa).
Feche os olhos.
Consciência total na imagem interna.
Visualize a pós-imagem da chama da vela
na tela negra na frente de seus olhos fechados.
Se você não consegue ver a pós-imagem,
não se preocupe, apenas tente criar e visualizar a chama.
Foque sua atenção e estabilize a imagem
interna se for necessário.
Esteja completamente consciente da
pós-imagem. A pós-imagem apenas.
Se visões psíquicas, pensamentos
estranhos ou qualquer tipo de experiência interior ocorrer, permaneça como uma
testemunha. Não reaja sob nenhuma circunstância. Apenas deixe que estas
experiências surjam e observe-as com desinteresse (pausa).
Abra os olhos.
Fixe sua consciência na chama da vela.
Mantenha sua consciência no topo do pavio, no centro da chama.
Mantenha o olhar fixo no centro da
chama da vela. Tente não piscar os olhos ou mesmo movimentá-los. Consciência
total na chama da vela e nada mais (pausa).
Feche os olhos.
Observe o espaço negro na frente de
seus olhos fechados.
Observe qualquer atividade que ocorra
no espaço negro. Mas não se envolva. Permaneça com o uma testemunha.
Esteja completamente consciente dos
pensamentos que surgem na mente (Pausa).
Continue por alguns minutos.
Esteja atento ao seu corpo e ao
ambiente exterior.
Então abra os olhos.
Este é o fim da prática.
A estabilidade da fixação
ocular
Como mencionamos anteriormente, é importante que o praticante não pisque
ou movimente os olhos enquanto pratica bahir-trāṭaka.
Isso é necessário para que se produza uma pós-imagem clara para a prática de antar-trāṭaka. Sem uma fixação ocular
estável, é difícil discernir uma imagem interna clara e essa é a maior razão
pela qual os iniciantes freqüentemente falham em perceber a imagem interna.
A estabilidade da fixação ocular está diretamente relacionada à estabilidade
e concentração da mente. Há uma íntima conexão entre elas. Muitos sábios
possuidores de calma e paz mental são distintivamente conhecidos por seu olhar
penetrante. Se você perceber, um mestre nunca pisca muito. Portanto,
estabilizando a fixação ocular em trāṭaka,
a mente é automaticamente relaxada e concentrada.
Freqüentemente, muitas pessoas dizem não piscar ou movimentar os olhos sob
nenhuma circunstância, mesmo que estejam desconfortáveis, mesmo que seus olhos
comecem encher de lágrimas etc. Não concordamos com esta prática, pois ela
apenas cria tensão e isso impede que os olhos se mantenham estáveis de maneira
confortável. Mencionamos que o objetivo é não piscar ou movimentar os olhos,
mas se você precisa fazê-lo por tamanho desconforto, então faça. No início,
iniciantes acham essa prática um pouco difícil e, portanto, fixam seu olhar por
apenas alguns segundos antes de sentirem a necessidade de piscar os olhos. Com
a prática, você conseguirá manter os olhos abertos, com a mente direcionada,
por um período maior de tempo.
O mesmo se aplica a antar-trāṭaka
e a fixação ocular na pós-imagem. No início, a imagem irá se mover devido aos
movimentos do globo ocular enquanto os olhos estão fechados. Com o tempo você
será capaz de manter os olhos fechados, o globo ocular imóvel e a imagem
estável. Lembre-se, a proficiência em trāṭaka
consiste em relaxar os olhos o máximo possível
A duração da fixação
interna e externa
Mantenha a fixação ocular na chama da vela sem piscar os olhos pelo tempo
que puder. Iniciantes deveriam começar com dois ou três minutos. Com o tempo,
aumente para cinco ou dez minutos em uma execução contínua.
Antar-trāṭaka deve ser executada enquanto a
pós-imagem do objeto se mantém clara. Iniciantes que não conseguem ver uma
imagem interna deveriam tentar criar ou perceber uma por alguns minutos e então
abrir os olhos. Praticantes avançados podem ver qualquer imagem
indefinidamente. Neste caso, pratica-se antar-trāṭaka
pelo máximo de tempo disponível ou enquanto a imagem for clara. O objetivo é
ampliar a duração de antar-trāṭaka e
diminuir bahir-trāṭaka. Antar-trāṭaka é mais conducente a
meditação e a consciência das camadas mais profundas da mente.
Duração e tempo da
prática
Para se obter o máximo benefício da técnica, pratique por pelo menos
quinze minutos todos os dias; mais se for possível. Você pode praticar a
qualquer momento, embora cedo pela manhã e antes de dormir sejam os melhores
horários. Se possível, pratique nestes dois horários. Construa seu programa de
práticas para que não seja perturbado.
Advertência
Todas as pessoas armazenam complexos e problemas na mente. O objetivo do Yoga é limpar essas impurezas acumuladas
na mente. Trāṭaka é um método
excelente pois ajuda na conscientização dos problemas mais profundos. Contudo, é
possível que seus problemas se manifestem muito rápido, provocando distúrbios
mentais. Se isso ocorrer, pare a prática e busque aconselhamento adequado.
Benefícios
Trāṭaka desenvolve o poder da concentração, o
que é de muita utilidade em todos os aspectos da vida. Ademais, a fixação da energia mental em direção a um
ponto conduz a estabilidade da consciência, pois suas flutuações são
interrompidas. Trāṭaka é um
excelente método para se obter experiências meditativas genuínas, pois
desenvolve o potencial latente da mente.
O poder da memória é sempre obscurecido pelas perturbações da mente. Essas
nos impedem de acessar nossos arquivos quando bem entendemos. Trāṭaka auxilia no refinamento da
memória a acalma a mente.
Todas as pessoas que padecem de tensão nervosa, insônia etc. são indicadas
a prática de trāṭaka de forma
regular. Pessoas com problemas nos olhos como irregularidades nos músculos
oculares terão muito benefício com a prática de trāṭaka.
Trāṭaka é um meio para se obter poderes
psíquicos (siddhis) como telepatia e
clarividência. Mas não recomendamos sua prática com essa finalidade,
acreditando nestes poderes ou não, pois eles são uma distração no caminho da
consciência mais elevada e do autoconhecimento.
Discutimos trāṭaka utilizando a
chama de uma vela como veículo para consciência. Lembre-se, você pode utilizar
qualquer outro objeto, praticando sempre da mesma maneira indicada.
Essa foi a melhor definição e explicação sobre trāṭaka que tive acesso até hoje. Muito Obrigado.
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