Swāmi Niranjanānanda Saraswatī
Iniciação é como abrir as portas de outra realidade, de outro cômodo da
casa. Vivemos em uma casa com muitos quartos e muitos deles ainda estão
fechados. Os cakras são as fechaduras destes cômodos. O que foi definido
na terminologia religiosa como «remover os véus» e na terminologia do yoga
como «despertar os cakras» sinaliza para o fato de que ainda há muitos
quartos fechados. Existem diferentes formas de iniciação para abrir diferentes
portas. Uma porta se abre quando você é iniciado no mantra, outra quando
você é iniciado em saṃnyāsa e uma outra com śaktipāt.
Mantra-dīkṣā, a iniciação no mantra,
é a primeira e mais simples iniciação. Alguns mantras exercem um controle muito
poderoso no ājñā-cakra. Ājñā-cakra é o cakra
da sensitividade, o cakra que deve se tornar ativo antes que o mūlādhāra-cakra
possa ser despertado — isto segundo afirma a teoria e a filosofia do kuṇḍalinī-yoga.
Assim, a primeira iniciação, mantra-dīkṣā, abre uma porta. Esta é uma de
suas funções, além de outros efeitos.
Nos Tantras, ênfase tem sido dada ao uso de mantras para a
transformação interior, enquanto os Vedas enfatizam o uso dos mantras
para favorecer a natureza e os elementos. Desta forma os mantras védicos
e os mantras tântricos são diferentes. No yoga fazemos uso dos mantras
tântricos para a purificação e transformação interior. Depois de se adquire a
maestria sobre isto é que se pode avançar por outras práticas.
O nome espiritual indica um objetivo a se seguir e a se alcançar na vida.
Ele deve funcionar como uma cenoura pendurada na frente de um burro. Enquanto a
cenoura está à vista, o burro continua andando em direção a ela. Você deve
tornar-se como o burro e seguir a cenoura. A única diferença é que a cenoura
que você persegue não será ilusória. Ao caminhar alguns passos na direção dela,
você poderá saborear a cenoura. O nome espiritual indica o foco e o objetivo a
se alcançar. Um nome espiritual está relacionado com um aspecto de sua natureza
e de seu espírito, que pode ser percebido, de forma intuitiva, por algumas
pessoas que estão conscientes disso. Esse nome representa a necessidade, a
aspiração do espírito humano nesta vida — o que aspira tornar-se e atingir.
Sendo sânscrito, o nome também evoca uma resposta vibratória especial, porque
o sânscrito combina sons que criam uma mudança de frequência vibratória no
aspecto da nossa personalidade. Quando dizemos o nome espiritual, em sânscrito,
usando uma combinação de sons que tem o poder de harmonizar, alterar e mudar o
padrão de nossas ondas vibratórias — spandan —, então, esta qualidade do
espírito pode ser vivida. Ele não só permanece como um objetivo a se atingir,
mas nos tornamos o próprio nome — sua essência. Claro, isso tem que ser tomado
como um sādhanā e não como algo concedido. Se um prato de comida é
colocado na sua frente, você pode comê-lo e satisfazer-se ou, se você preferir
pode ignorá-lo. Da mesma forma você pode usar o nome espiritual somente como um
rótulo ou uma griffe, ou pode usar o mantra como uma ajuda para
aprofundar a meditação, que pode ser excelente, mas cujas potencialidades são
muito maiores.
Saṃnyāsa-dīkṣā abre outra porta — outro cakra.
Karma-saṃnyāsa-dīkṣā é a convicção para viver como um karma-saṃnyāsin,
e não apenas ser iniciado — mas, na verdade, deliberadamente viver desta forma
—, abre uma outra porta. Isto cria harmonia entre as várias dimensões de sua
expressão e experiência. Ao tornar sua mente mais sensível, você se faz capaz
de perceber e se torna consciente de muitas outras situações, eventos e
acontecimentos que, anteriormente era ignorado. A iniciação,
definitivamente, não deve ser uma forma de escapismo, pelo contrário, é
fazer-se consciente de áreas que você ignorou no passado e que criaram algumas
obstruções nos níveis emocional, intelectual, psíquico ou espiritual de sua
personalidade.
A terceira forma de iniciação após saṃnyāsa é o śaktipāt.
Aqui também temos uma forma védica e uma forma tântrica. Existem diferentes
tipos de śaktipāt: drig-dīkṣā, iniciação através da visão, sparṣa-dīkṣā,
iniciação através do toque, kūrma-dīkṣā, iniciação pelo pensamento, swāpna-dīkṣā,
iniciação por sonho. Só o guru pode decidir para que tipo de iniciação o
discípulo está qualificado. Se existe uma aspiração pela elevação espiritual,
então a escolha deve ser definida pelo guru.
Tradução livre de Maurizzio Canali.
Correção diacrítica de Fernando Liguori.
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