Eu tenho recebido algumas mensagens sobre «viagem» ou «desdobramento»
astral. Sempre tenho a mão este texto quando o tema «corpo astral» é relevante.
Existe uma noção equivocada sobre viagem astral. Um corpo astral bloqueado
impede o acesso a qualquer desdobramento ou prática espiritual mais intensa.
O prāṇamaya-kośa ou corpo de luz é a estrutura energética por trás do
corpo físico, o annamaya-kośa. Devido
ao estilo de vida e a superestimulação dos sentidos orientados para satisfação
dos desejos, o prāṇamaya-kośa
encontra-se bloqueado na maioria das pessoas. Esse bloqueio energético e
psíquico afeta todos os outros kośas,
principalmente o annamaya-kośa e o manomaya-kośa, impedindo a experiência
dos kośas superiores. Um prāṇamaya-kośa bloqueado é um perigo até
mesmo para práticas de Yoga mais
avançadas, principalmente o prāṇāyāma.
Por este motivo as práticas de prāṇāyāma
sempre foram mantidas em segredo e passadas adiante somente de boca a ouvidos,
de guru para discípulo. Se alguém com sérios bloqueios no prāṇāmaya-kośa tenta executar prāṇāyāma
sem a devida orientação, pode agravar de maneira significativa o vāta, provocando distúrbio de energia no
sistema nervoso. Por isso os sistemas mais tradicionais de Yoga e a Āyurveda
aconselham que o prāṇāyāma seja
orientado segundo as condições particulares de cada praticante.
Existem cinco chaves para
desbloquear a percepção e a experiência do prāṇāmaya-kośa.
Estas chaves são: respiração psíquica,
passagem psíquica, centros psíquicos, som psíquico e símbolo
psíquico. Mas antes de examinarmos cada uma destas chaves, vamos fazer uma
pequena retrospectiva acerca do prāṇāmaya-kośa.
O prāṇāmaya-kośa
Muitos anos atrás, os ṛṣis (videntes) e munis (sábios) disseram que o prāṇa
não está confinado no corpo físico grosseiro, mas em um corpo refinado e sutil
conhecido como prāṇamaya-kośa ou
invólucro prânico. Este corpo, eles descreveram como tendo uma aparência
anuviada, em constante atividade em seu interior. Deste corpo refinado, muitas
cores são emitidas, dependendo da dieta, pensamento, estado de consciência no
momento da meditação e até mesmo do ambiente externo.
De acordo com o Yoga, o prāṇamaya-kośa forma uma rede sutil através do qual o prāṇa flui. Ele também é conhecido como
corpo etério, bioplasmático, prânico ou astral. Possui a mesma forma que o
corpo físico. Contudo, através de certas técnicas yogīs, concentração e visualização, o praticante é capaz de fazê-lo
se expandir ou se contrair, especialmente através da técnica de prāṇa-vidyā. Se nossa percepção estiver
firmemente sintonizada com o corpo prânico, seremos capazes de vê-lo com suas
milhares de estruturas delicadas que conduzem a śakti ou energia. Estas delicadas estruturas são as nāḍīs, fluxos de energia prânica.
Existem milhares e milhares de nāḍīs
dentro do corpo grosseiro e elas distribuem a consciência e o prāṇa a cada átomo.
Este campo prânico é às
vezes chamado de psi-plasma, devido
ao fato de estar conectado ao plasma (gases carregados) estudados na física.
São vapores carregados com partículas que podem ser afetadas internamente pela
mente e externamente pela eletricidade e campos magnéticos ou eletromagnéticos.
A densidade do corpo
prânico naturalmente gravita e é atraída a regiões mais sutis, devido à
interação das partículas em seu interior. Portanto, existe atividade constante
dentro do corpo prânico. Sob a ação de diferentes práticas yogīs tais como o prāṇāyāma,
mudrā, bandha, os ṣaṭ-karmāṇis
do haṭha-yoga e prāṇa-vidyā, essa interação é largamente acelerada. Os diferentes
campos prânicos são forçados a se unirem, provocando calor ou frio no corpo,
leveza na região da cabeça, introversão, apetite, percepção sutil de cores e
sons nas práticas de concentração (dhāraṇā)
e abstração sensorial (pratyāhāra).
Muitas destas experiências ocorrem mais rápido através da prática do prāṇāyāma, que é muitas vezes muito
poderoso para iniciantes no Yoga.
No Yoga, o conceito de prāṇa
é científico. Quando nós falamos de prāṇa
não queremos dizer respiração, ar ou oxigênio. Precisamente e cientificamente falando, prāṇa é a força de vida origial subjacente a toda criação. Prāṇa é uma palavra sânscrita formada
por duas sílabas: pra e an. An
significa movimento e pra é um prefixo cujo significado é constante. Portanto, prāṇa significa movimento constante. Esse movimento constante se inicia logo quando
somos concebidos no ventre de nossas mães.
No corpo físico nós temos
dois tipos de energia. Uma é conhecida como prāṇa-śakti
e a outra é conhecida como manas ou citta-śakti. Prāṇa-śakti representa a energia vital ou o dinamismo enquanto que manas-śakti representa a energia mental.
Isso significa que em cada órgão do corpo existem dois canais de abastecimento
energético. A fisiologia moderna descreve dois tipos de sistemas nervosos, o
sensorial ou sistema informativo e o sistema motor, em adição aos dois sistemas
simpático e parassimpático. Estes dois sistemas estão interconectados com cada
órgão do corpo. Da mesma maneira, cada órgão é abastecido com energia prânica e
mental.
Respiração psíquica
A respiração psíquica é a
primeira chave para consciência prânica. É a integração da respiração física
com a consciência. A experiência da respiração pode ser tanto grosseira quanto
sutil. A base da respiração psíquica é a
respiração física grosseira, na forma do ar movendo-se pelas narinas,
aproximadamente quinze vezes por minuto, 21, 600 vezes a cada vinte e quatro
horas, estando você consciente ou não deste processo. A experiência grosseira
da respiração é o processo de sugar o ar para dentro dos pulmões e então
expeli-lo através das narinas. A
manipulação deste processo respiratório grosseiro através do poder da vontade e
da concentração é um aspecto do prāṇāyāma; o segundo aspecto é a respiração
psíquica.
Nos estágios iniciais da
respiração psíquica o único requisito é a consciência psíquica da respiração.
Ou seja, tornar-se consciente da
respiração sem afetar o fluxo natural do ciclo respiratório. Uma vez que
isso seja conquistado, o movimento da respiração através da inspiração e
expiração deve ser experienciado na forma do ujjāyī-prāṇāyāma. Consciência profunda do som e vibração criado
durante a execução do ujjāyī-prāṇāyāma
e seu movimento durante a inspiração e expiração completa o processo inicial da
respiração psíquica.
Ujjāyī-prāṇāyāma envolve a prática da consciência,
concentração e contração fisiológica dos músculos da garganta. Durante a prática de ujjāyī-prāṇāyāma,
que pode ser executado junto com khecarī-mudrā
e nasikagra-dṛṣṭi, deve haver consciência do movimento e do som
da respiração na medida em que ela passa através da garganta.
Como esta experiência
abre a percepção do prāṇamaya-kośa? É
simples. Quando se pratica a respiração psíquica e se coloca a consciência
total no movimento e som da respiração na garganta, a mente começa a relaxar e
novas experiências ocorrem dentro do padrão da personalidade. Quando praticamos
ujjāyī, a experiência fisiológica
imediata é o relaxamento, a tranqüilidade e o unidirecionamento da mente. Essa
é a experiência grosseira de ujjāyī,
então ocorre à experiência psíquica.
Na medida em que
praticamos ujjāyī começamos a
movimentar o prāṇa. A primeira
manifestação de mahā-prāṇa é o prāṇa localizado na região do peito. A
primeira experiência fisiológica que surge do movimento e despertar do prāṇa é na forma de uma torrente de luz
branca ou como um tipo de cócegas ou sensação de queimação na garganta, peito e
pulmões. Contudo, na medida em que a concentração se torna mais profunda e
intensa, experienciamos o prāṇa de
forma mais penetrante. É quando ele satura as células de energia.
Passagem psíquica
A segunda chave para
consciência prânica é a passagem psíquica. Esta é qualquer passagem no corpo
através do qual a consciência, a respiração e o prāṇa são dirigidos em um jorro de força combinada. Não é um
conceito limitado porque podemos fazer uma passagem psíquica em qualquer lugar
ou parte do corpo, de um lado ao outro. Uma vez que a passagem é visualizada, a
respiração psíquica pode se movimentar para qualquer lugar no corpo através do ujjāyī-prāṇāyāma. Isso provocará uma
transferência prânica. A respiração psíquica é uma parte integral do prāṇa e ela deve ser aperfeiçoada ao
ponto de se tornar extremamente sutil e espontânea.
Na prática do prāṇa-vidyā, por exemplo, muitas
passagens psíquicas são criadas, uma após a outra, para que o prāṇa possa ser distribuído para todas
as partes do corpo. Algumas são rotas longas e complexas, outras são curtas e
simples. Contudo, para o propósito de despertar o prāṇa, três passagens psíquicas são as mais importantes e elas
devem ser purificadas e abertas antes de se iniciar as práticas de prāṇa-vidyā.
A primeira passagem
psíquica usualmente experienciada é a passagem
frontal que se estende do maṇipūra-kṣetraṃ
na região do umbigo ao viśuddhi-kṣetraṃ
na cavidade da garganta. Esta é a passagem usada nos primeiros estágios de ajapa-japa e ajapa-dhāraṇā. A passagem
frontal completa, como a suṣumṇā-nāḍī na espinha, se estende do mūlādhāra ao ājñā-cakra. Os cakra-kṣetraṃs
ou pontos de disparo para ativação dos cakras
na espinha se encontram nesta passagem.
A passagem mais poderosa
é a suṣumṇā-nāḍī que se ergue ereta, para cima, por dentro da coluna espinhal.
Este é o caminho através do qual a kuṇḍalinī
desperta viaja do mūlādhāra ao sahasrāra e é representado simbolicamente
pelo rio sarasvatī. Os cakras principais e a experiência de seu
despertar estão situados ao longo desta passagem. Os pontos localizados ao
longo da espinha são conhecidos como cakra-śarīra
(corpo do cakra).
Após a suṣumṇā, iḍā e piṅgalā-nāḍīs são
os canais psíquicos mais importantes, embora apenas piṅgalā seja usada como passagem psíquica. Isso porque quando iḍā é utilizada como canal psíquico, a
força mental se torna dominante, o que pode causar a perda da vitalidade
prânica e da estabilidade mental. Piṅgalā,
também conhecida como sūrya-nāḍī, a nāḍī do sol, é representada
simbolicamente pelo rio yamunā. Iḍā é conhecida como candra-nāḍī, a nāḍī da lua, e é representada pelo rio gaṅga.
O ājñā-cakra é representado simbolicamente pelo prayaga, o local exato de encontro entre o rio gaṅga (iḍā-nāḍī), o rio yamunā (piṅgalā-nāḍī) e o rio sarasvatī
(suṣumṇā-nāḍī). Do ājñā, eles
prosseguem como um rio apenas, um fluxo de consciência. Após o ājñā não existe diferença entre prāṇa e consciência. Existe
apenas uma consciência cósmica se movendo para cima.
A prática de prāṇa-vidyā capacita o praticante a
experienciar o fluxo e a cor do prāṇa
na medida em que ele flui para o alto através da piṅgalā-nāḍī. Às vezes estas passagens são vistas como fios
transluzentes de uma grande teia de aranha que brilham no amanhecer. Uma pessoa
pode ver pequenos pontos luminosos ou jóias cintilantes penduradas em um cordão
prateado. Estes são os sutis e misteriosos cakras
situados ao longo da suṣumṇā-nāḍī. Estas experiências ocorrem gradativamente
na medida em que nos purificamos através das práticas yogīs. Elas são indicações de que estamos fazendo progresso e
começando a ficar proficientes na técnica do prāṇa-vidyā.
Centros psíquicos
A terceira chave para
consciência do prāṇa são os centros
psíquicos ou cakras. Estes centros
são vórtices sutis de prāṇa
localizados em pontos específicos ao longo da suṣumṇā-nāḍī. Os centros
psíquicos foram descobertos por yogīs,
ṛṣis e munis de várias tradições da Índia e de todo o mundo. Eles têm sido
vistos não pela dissecação física do corpo, mas pela introspecção psíquica. Do
conhecimento destes centros (cakra-vidyā),
a espetacular ciência do kuṇḍalinī-yoga
foi desenvolvida, e ela encerra o segredo do despertar dos cakras.
De acordo com o conceito
de prāṇa-vidyā, o prāṇa é gerado no mūlādhāra, armazenado no maṇipūra,
purificado no viśuddhi e distribuído
pelo ājñā-cakra. Estes são os quatro cakras utilizados na prática de prāṇa-vidyā. Precisamos nos tornar
conscientes de como cada cakra
influencia a atividade da energia prânica e qual a experiência que ocorre
quando os vários cakras são
despertos. Com as técnicas de prāṇa-vidyā,
os cakras podem ser despertos
rapidamente se as práticas forem executadas com diligência. Isso não irá
ocorrer espontaneamente. Precisamos estimular, influenciar e controlar o prāṇa, e isso precisa ser feito
gradualmente e com cuidado.
Som psíquico
A quarta chave para
consciência do prāṇa é o som
psíquico. De acordo com o nāda-yoga,
o som se manifesta tanto dentro de nós quanto fora. As práticas de nāda-yoga envolvem a retração da
percepção auditiva para que, durante sua execução, não escutarmos os sons
externos do ambiente. Quando nossa atenção está completamente retraída no
centro da cabeça, conseguimos desenvolver a consciência do cidākāśa, o espaço psíquico dentro da cabeça. Podemos então
observar qualquer som que surge espontaneamente dentro deste espaço.
As experiências
provenientes do nāda são, para citar
algumas, em um grau elevado de sutileza: o som de sinos, abelhas, trovões,
flautas, tambores ou vina. Normalmente, os sons começam a aparecer de forma bem
sutil, aumentando gradativamente sua intensidade. Sons de sinos ou tambores
podem ser escutados mesmo que não haja sinos ou tambores no ambiente. A
experiência é completamente interna.
Após todos estes sons
internos estarem estabelecidos na consciência, uma profunda vibração (nāda-spandana) sonora pode ser
experimentada, não só nos ouvidos ou cabeça, mas por todo o corpo, como se cada
célula do corpo vibrasse em consonância com todo o universo. No fim desta
experiência, nos tornamos conscientes do nāda
mais recôndito, o som transcendental ou pranava, Oṃ.
Símbolo psíquico
A quinta chave para
consciência prânica é o símbolo psíquico, experienciado durante as práticas de
concentração. O símbolo pode ser qualquer objeto no qual possamos fixar nossa
mente. Pode ser um símbolo abstrato, paisagem, yantra ou maṇḍala, o sol,
a lua, a chama da vela, nuvem ou qualquer coisa que nos atraia. Pela concentração na imagem do símbolo,
gradualmente desenvolvemos a capacidade de ver internamente, de forma clara
como se estivéssemos com os olhos abertos.
Dependendo de nossa
personalidade e signo astrológico, o símbolo é dado no momento do mantra-dīkṣā (iniciação pelo mantra). Ele então deverá ser utilizado
nas práticas de concentração para nos capacitar a ir profundamente aos rincões
de nossa mente. Isso nos auxiliará nas práticas mais avançadas de prāṇāyāma também.
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