O Sādhanā da Bhagavadgītā
Parte . I I .
Swāmi Niranjanānanda Saraswatī
Satsanga realizado em
Paduka Darśan Saṃnyāsa Pītha, Munger, 17 e 18 de fevereiro de 2012.
Pratyāhāra
Śrī Kṛṣṇa instrui Arjuna
no processo de pratyāhāra. Ele diz: «A fim de estabilizar a mente, recolha
seus membros e os sentidos internamente, da mesma forma que uma tartaruga recolhe
seus membros para dentro do casco.» O estado de pratyāhāra é definido
aqui. A tartaruga tem seis membros saindo do casco: dois braços, duas pernas,
uma cauda e uma cabeça. Os seres humanos funcionam com cinco sentidos e a mente
– seis sentidos no total. A mente representa a cabeça da tartaruga e ela tem
que ser recolhida para o interior. Os cinco sentidos representam os braços,
pernas e a cauda da tartaruga, puxe-os para dentro. Retire os sentidos de seus
respectivos objetos e retraia-os para dentro de si mesmo. Esta é a prática de pratyāhāra,
tal como definida por Patañjali e também como ensinada por Śrī Swāmijī.
Pratyāhāra começa acalmando os sentidos físicos através [da prática
de] kāya-sthairyam e regulando a respiração. A respiração é o espelho da
mente e as condições mentais e os humores são refletidos na respiração. Quando
a mente é hiperativa, a respiração é rápida e superficial, mas se a mente está
em repouso, a respiração é longa, profunda e lenta.
Portanto, a fim de acessar
a mente, regule a respiração. Se você pode regular a respiração equilibrando inspiração
e expiração através da prática do nāḍī-śodhana-prāṇāyāma, então poderá
acessar a mente através da respiração. Para estabilizar os sentidos físicos,
pratique kāya-sthairyam. Para acalmar a mente use um agente
físico, a regulação da expansão da respiração e, em seguida, foque a mente na
consciência do Eu superior.
Mas antes que possamos
nos focar na consciência do Eu superior, as camadas da mente têm de ser transpassadas.
Da mesma maneira que para se chegar ao fundo do oceano temos de nadar através
de muitos, muitos e muitos metros d’água, da mesma maneira temos de passar por
muitas camadas da mente para, eventualmente, perceber e ver a presença de uma
consciência mais elevada dentro de nós. A parte mais profunda do oceano é a que
fica a seis quilômetros de profundidade e você tem de nadar até o fim. Da mesma
maneira, terá de andar seis quilômetros da mente antes de vir a perceber a
presença do Eu superior dentro de você.
Identifique-se
com o karma sattvíco
Quando você caminhar através
dos seis quilômetros de sua mente, encontrará diferentes experiências que são
instigadas por inseguranças, ansiedades e paixões, kāma. Ao cultivar a
consciência e conhecimento, você aprenderá a gerenciar o comportamento e as
manifestações de insegurança, ansiedade e paixão. Śrī Kṛṣṇa instrui Arjuna a
continuar a centrar-se no desempenho de seu karma de forma diligente,
eficaz, criativa e perfeita. Se você é capaz de realizar o karma
criativamente, perfeitamente, de forma diligente, eficaz, sem qualquer motivo
egoísta, logo se libertará das garras dos saṃskāras e os comportamentos
da mente.
Se você continuar a
executar o karma com razões egoístas, sem cultivar a consciência e a
compreensão, então eles irão limitá-lo no estado de consciência bruta.
Portanto, continue executando seus karmas, mas se identifique com o karma
sattvíco e não com o karma tamásico ou rajásico. Não se identifique com os
efeitos limitados, condicionados, prejudiciais e confinados do karma,
mas com o aspecto sattvíco, luminoso, criativo e perfeito do karma.
Tente manter-se desapegado dos karmas, sem expectativa do resultado.
Tente manter o equilíbrio da mente enquanto está engajado no mundo e nos karmas.
Sucesso ou falha não estão
sob seu controle. O que você pode controlar é a forma como age, de modo a
tentar agir da melhor maneira possível, utilizando o melhor das situações. Não faça
caras e bocas. Tente manter equilíbrio na mente tanto para o sucesso quanto
para o fracasso. Śrī Kṛṣṇa diz: «Mantenha o equilíbrio mental permanecendo fixo
em minha memória. Qualquer um dos sentidos pode perturbar a mente, da mesma
maneira que um barco a vela no meio do oceano é movido pelo vendaval, o furacão
ou uma brisa suave. Mesmo a brisa suave dos sentidos pode atrair a mente, não
apenas o vendaval e furacão. Consciência absoluta tem de ser mantida como uma
jornada através das camadas da mente, aperfeiçoando pratyāhāra e executando
o karma».
Arjuna pergunta a Śrī Kṛṣṇa:
«Com o que eu me identifico para que eu possa executar o karma corretamente?»
Śrī Kṛṣṇa responde que o karma que está de acordo com o dharma e com
a justiça natural do ser humano deve ser executado. O karma que está em
concordância com o dharma deve ser realizado, pois ele sempre vai elevar
o indivíduo e tudo a sua volta. Aprenda a se identificar com essas ações,
percepções e atitudes que ajudarão a trazer a criatividade na vida. Arjuna
pergunta: «Como posso melhorar os karmas?» Śrī Kṛṣṇa responde: «Não existe
dúvidas acerca de melhorar nada. Apenas dedique seus karmas a mim.»
O mesmo ensinamento foi
dado a Śrī Swāmijī quando ele perguntou ao seu guru, Swāmi Śivānanda: «O que
faço depois que eu tomar [os votos de] saṃnyāsa?» Swāmi Śivānanda
respondeu: «Você tem que continuar fazendo as mesmas coisas que tem feito até
hoje. Você tem feito a limpeza diária do aśram? Você tem cuidado do
escritório, da renda, das despesas, da cozinha, da imprensa e da correspondência?»
Śrī Swāmijī respondeu: «Sim». Swāmi Śivānanda disse: «Continue fazendo o mesmo.
Não há nenhuma mudança em seus deveres ou karma.» Então Śrī Swāmijī
disse: «Bem, então eu posso voltar para casa e continuar a fazer o meu karma.»
Swāmi Śivānanda
respondeu: «Não, a diferença é que quando você executa o karma pensando ser
a causa da ação e espera por seu resultado, então este karma está lhe
escravizando. No aśram você está executando o karma, mas não é
responsável pelo resultado. Seu dever é agir da melhor maneira possível, mas o
resultado seja positivo ou negativo pertence ao Guru. Faça o seu melhor e não
tenha nenhuma expectativa pelo resultado de suas ações.»
Portanto, de acordo com a
tradição de um aśram, um saṃnyāsin tem de viver por doze anos no aśram
do Guru, executando guru-seva. Não é sādhanā, mas guru-seva,
que é obrigatório, pois o Guru é capaz de nos conectar com a maneira certa de
agir. No karma, quando a criatividade e perfeição são expressas, então
torna-se karma-yoga. Você tem de se manter consciente e tem de gerenciar
as respostas e reações que o karma gera.
Se você fizer bem a sua
parte, outras pessoas irão ficar com inveja e tentarão puxá-lo para baixo,
tentarão diminuí-lo. Se você fizer mal a sua parte, as pessoas ainda vão
reclamar e tentarão puxá-lo para baixo. Essa é a lei da vida. Ninguém fala mais
uma sequer palavra boa acerca de qualquer pessoa, são sempre queixas. A melhor
maneira é não reagir aos elogios ou as injúrias. Se alguém lhe diz: «Você é um
cachorro», ao invés de ficar com raiva e latir para a pessoa, dizendo: «Como
você pode me chamar disso?» ou «você me chamou de que?», diga: «Maravilha,
apenas um cão reconhece outro cão», [então] o momento passa de forma clara, sem
raiva. Desta forma as reações têm de ser gerenciadas e, em vez de tornarem-se a
causa da dor, elas se tornam a causa do riso.
Faça-se
a tua vontade
Se você adquirir essa capacidade,
então todas as suas ações estarão oferecidas a Brahman, o Ser supremo, pois se
torna como um instrumento que é tocado. O harmônio pode tocar belas músicas,
mas não por si mesmo. O músico tem de tocá-lo. Da mesma forma, a compreensão de
que não sou eu quem faz a ação no mundo e nem desfruto dela eventualmente ocorre.
Enquanto a atenção for desviada por razões, motivos e propósitos egoístas, sempre
serei eu quem faz a ação, bem como sempre serei eu o desfrutador de seus
resultados – eu faço e desfruto. Mas uma vez que a atitude, identificação e
percepção muda o foco do ego para a compreensão que não sou eu o autor, renunciando
o ego limitado, então [a realização] do Absoluto começa.
Todo o ensinamento a
Arjuna dado por Śrī Kṛṣṇa usa a meditação como uma ferramenta para retrair os
sentidos, desenvolver a consciência e o conhecimento. A meditação não trata de
afastar-se do mundo, mas estar envolvido cada vez mais nele. É desenvolver o
conhecimento da situação, o seu dever, compromisso, obrigação e intenção. É gerenciar
a paixão, o medo, a raiva, a atração e o apego. É torne-se ativo de forma
criativa. É desenvolver e expandir a consciência para que possa aumentar o seu
conhecimento. A meditação é usada para aumentar jñāna, consciência de si
mesmo, de como se comportar em diferentes momentos e situações da vida.
Contenha o movimento
selvagem dos sentidos, fixando a consciência e a atenção, e tente atingir a
experiência do Absoluto passando pelas camadas da mente. Permaneça fiel ao seu
objetivo – a perfeição em pratyāhāra. Não deixe que as diferentes
expressões e experiências da mente desviem sua atenção e consciência. Assim
como um pouco de vento é suficiente para mover um barco a velas pelo oceano, da
mesma maneira, uma diversão simples, em qualquer nível, irá balançar seu barco no
oceano da paz interior.
Então Arjuna coloca uma
questão: «Como faço para controlar a paixão? Você falou de antar mouna
como o processo para gerenciar as condições e estados de medo, ansiedade e
apegos, mas como gerenciar as paixões?» Śrī Kṛṣṇa dá a Arjuna um sādhanā:
fixar a mente no centro entre as sobrancelhas e regular a respiração, fazer com
que a inspiração e expiração durem o maior tempo possível e no espaço entre elas,
manter o foco da consciência no o Ser interior.
Esta é a prática do nāḍī-śodhana-prāṇāyāma.
Ao colocar os dois dedos no centro da sobrancelha, um ponto de pressão é criado
onde a mente é fixada entre elas. Regular a respiração para o mínimo de 24 matras
para cada inspiração e expiração. Cada matra equivale a um segundo.
O gāyatrī-mantra
de 24 matras é usado na prática do nāḍī-śodhana-prāṇāyāma: «oṃ bhūr bhuvaḥ svaḥ tat savitur vareṇyaṃ
bhargo devasya dhīmahi dhiyo yo naḥ prachodayāt», 24 matras em uma
inspiração. Este é o treinamento que Śrī Kṛṣṇa dá para manter a mente focada.
Quando você regula a
respiração as ondas cerebrais são afetadas. Elevadas ondas alfa e teta
predominam e com essas duas ondas predominante, o sistema nervoso e a dimensão
mental experimentam um estado de relaxamento e equilíbrio das energias –
física, sensorial, mental, emocional, psíquica e espiritual. Na medida em que
você pratica lentamente o prāṇāyāma o corpo vai se sentindo diferente.
Com o prāṇāyāma e respiração rápidos, a condição corporal será diferente
também.
A palavra utilizada na Gītā
indica respiração profunda e prolonganda a devida proporção de ar. A respiração
lenta e profunda irá relaxar a estrutura física, o sistema nervoso e o cérebro.
Esta condição relaxada influencia o comportamento mental e psicológico. Muitos
terapeutas usam o prāṇāyāma para proporcionar uma mudança no
comportamento da mente das pessoas com problemas mentais e no início eu também
usava o prāṇāyāma com os detentos de uma prisão e em um centro de
cuidados catatônicos, portanto, posso dizer sobre a eficácia do prāṇāyāma.
Ao equilibrar as energias de īḍā e piṇgalā, as alterações na
personalidade melhoram.
Śrī Kṛṣṇa fala acerca do prāṇāyāma
como um método de gerenciamento do comportamento mental apaixonado e hiperativo.
Paixão não é sempre sensorial, sensual ou sexual. A paixão é qualquer desejo
ou pensamento que domina a mente. Ela representa uma condição de
comportamento mental em que um item torna-se predominante e destaque sobre
todas as reações, respostas, ações, pensamentos e interações que giram em torno
de um pensamento ou ideia particular. Esta função mental sustentada e conhecida
como paixão pode ser dirigida e utilizada em qualquer aspecto da vida! Um
artista pode se tornar um artista apaixonado, um escultor pode se tornar um
escultor apaixonado, um yogī pode se tornar um yogī apaixonado.
Essa energia, consciência e mentalidade pode assumir qualquer forma e padrão,
negativo ou positivo, tamásico ou sattwíco. Regulando prāṇ-śakti, o prāṇāyāma
equilibra o comportamento extremo das paixões e as funções e níveis da mente.
Assim, Śrī Kṛṣṇa ensina
maneiras de gerenciar os diferentes tipos de situações que todos nós
encontramos no dia-a-dia, usando práticas muito simples de Yoga e ideias
para cultivar a compreensão e a consciência.
Tradução livre de FernandoLiguori.
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