Fernando Liguori
Mantra é a quinta prática de Yoga descrita nas Upaniṣads do Yoga. Muitas vezes, a palavra mantra é traduzida como vibração sonora, mas o significado
literal da palavra mantra é a força que liberta a mente de sua
escravidão. Em sânscrito, a palavra mantra
é derivada de algumas raízes: mananāt
(escravidão da mente), trayate
(liberado, libertado) e mantraḥ
(força da vibração). O que é essa força que liberta a mente de sua escravidão?
De acordo com o Yoga, a mente
grosseira ou a natureza mental possui dois atributos que a mantém escravizada.
A primeira é mala que significa impureza e a segunda é vikṣepa que significa dispersão.
Portanto, a mente grosseira é composta
por impurezas e é predominantemente dispersa.
O que são essas impurezas? Elas são a causa de nossa atração às qualidades
tamásicas e rajásicas da vida, o que limita as faculdades da mente, fazendo com
que ela atue, experiencie e se comporte de maneira programada. Uma natureza tamásica ou rajásica é expressa
por uma mente obscurecida e apegada. Portanto, a atração por essas
qualidades na vida é chamada mala. Vikṣepa é o sentimento de dispersão
atuando na vida. Nós sempre queremos algo mais, algo diferente, algum tipo de
diversão. Isso é uma distração da mente, vikṣepa.
A mente só salta de um lado para o outro como um macaco bêbado porque ela quer
se divertir. Se não existe o desejo pela diversão, a mente se torna
absolutamente quieta, estável, tranquila e pacifica. Se olharmos todos os
aspectos da vida sob este prisma, notaremos a importância de se cultivar um
estilo de vida mais natural e saudável, um estilo de vida yogī. Este desejo por diversão é vikṣepa. O propósito do
mantra é libertar a mente do padrão de diversão e dissipação que ela
constantemente busca, da atração às qualidades rajásicas e tamásicas da vida
que satisfazem as ambições e desejos que fortalecem a identidade egóica.
Mantra é vibração. O mantra supremo é conhecido como anāhada-nāda,
o som não estruturado ou a vibração interior do átomo. É a vibração do som sem
som. Aqui reside a ciência da física yogī.
Onde quer que haja movimento também há o pulsar da vibração que cria, em contra
partida, um som ainda mais sutil. Os átomos estão constantemente em movimento,
criando uma série de vibrações. Mas como
nos tornamos conscientes destas vibrações sutis? Através do processo de
sensibilização da consciência e do aprofundamento no corpo psíquico.
A mente é somente um aspecto do mantra-yoga.
O corpo psíquico e a vibração sonora são os outros dois aspectos.
Aspecto mental
Vamos primeiro considerar a mente que, na terminologia yogī, é uma força sutil, não uma força física. Com o propósito de ilustrar o
funcionamento da mente como uma força não-física, o Yoga provê o exemplo da ameba, uma criatura unicelular. A ameba não
possui cérebro ou nervos, mas mesmo assim responde a estímulos. Se um grão de
arroz é colocado em sua frente, ela irá consumi-lo. Mas se uma gota de ácido é
colocada em sua frente, ela irá circundar a gota e continuará seu caminho. O
que permite que a ameba aceite o arroz e recuse o ácido?
O Yoga vê essa faculdade como
uma força que dirige todo tipo de energia vital e expressão manifesta. Ela é
chamada de mahat, a mente cósmica. Mahat é dividida em quatro princípios: manas, buddhi, citta e ahaṃkāra. Mahat é vista como uma energia que permeia toda estrutura humana,
mas que se manifesta e se expressa dinamicamente em manas (a mente inferior e seu aspecto racional), buddhi (a mente superior e seu aspecto
discriminativo, analítico e compreensivo), citta
(a consciência que registra e armazena) e ahaṃkāra
(o ego ou princípio de egoidade da identidade individual). Estes quatro
princípios interagem com o mundo dos sentidos: nome, forma, ideia, tempo,
espaço e objeto. Em síntese, essa é a visão yogī
da mente.
Aspecto psíquico
O corpo psíquico é a manifestação densa do corpo sutil e causal ou do subconsciente
e inconsciente. A área subconsciente é conhecida com o corpo sutil e o
inconsciente é o corpo causal. A zona limite entre o subconsciente e o
inconsciente é o corpo psíquico. O que o corpo psíquico significa? Os quatro
estados da consciência: grosseiro, sutil, causal e transcendental que, por sua
vez, são conhecidos como dois tipos de experiência no Yoga. O grosseiro e o sutil representam as experiências externas da
mente. O causal e o transcendental representam as experiências internas da
mente ou consciência. O corpo psíquico é a zona onde ambas as experiências
externas e internas ocorrem.
O corpo psíquico se torna o elo entre as experiências externas (físicas e
mentais) e os profundos níveis internos de vibração de toda a personalidade.
Toda a teoria do kuṇḍalinī-yoga, que
abrange os cakras, as nāḍīs e o despertar e ascensão da kuṇḍalinī, é experienciada no corpo
psíquico. Portanto, os cakras são
conhecidos como centros psíquicos. Mūlādhāra, swādhisṭhāna, maṇipūra e anāhata são os quatro centros psíquicos
relacionados ao reino das experiências externas, tanto grosseiras quanto sutis.
Viśuddhi, ājñā, bindu e sahasrāra se relacionam com as dimensões
internas da psique.
Mūlādhāra representa a auto-identidade e a
segurança; swādhisṭhāna representa os
saṃskāras profundos; maṇipūra nos impulsiona a um dinamismo
externo, muitas vezes exacerbado e o anāhata
emoções e sentimentos, grosseiros ou sutis. Indo além deles, ao aspecto
transcendental, refinado, a expansividade e a abertura sincera está viśuddhi. A faculdade intuitiva,
trazendo sempre algo do desconhecido e traduzindo em termos conhecidos, está o ājñā. No bindu existe a consciência da fonte, o ponto onde as experiências
macro e o microcosmicas se fundem em uma só. Finalmente, no sahasrāra, ocorre a iluminação. Estes
quatro últimos centros psíquicos estão relacionados às experiências internas.
Todas estas experiências ocorrem no campo psíquico, que é constituído por
diferentes formas vibratórias. Estas formas vibratórias produziram o som que
pode ser compreendido pela mente inferior (manas,
buddhi, citta e ahṃkāra). Estes
sons são cinquenta em número e cada som ou forma vibratória é representado
simbolicamente nas pétalas dos cakras
como as letras do alfabeto sânscrito. Cada
cakra é ativado pela repetição destas vibrações sonoras. Contudo, deve haver intensidade de concentração e
consciência na repetição, do contrário serão palavras vagas, sem valor real.
Seja entoando uma sílaba mântrica ou recitando uma página inteira de mantras, o
efeito da prática será nulo sem concentração, consciência e intensidade mental.
A faculdade desenvolvida aqui é a concentração, a consciência, a
intensidade e visualização do corpo psíquico em sua contraparte física. Os cakras não existem no corpo físico, mas
é nele que eles são visualizados. Eles têm sido alocados em diferentes partes
do corpo: mūlādhāra na região do
períneo, swādhisṭhāna na região
sacral, o maṇipūra na região lombar, anāhata na região torácica, viśuddhi na região da garganta, ājñā
no centro do cérebro, bindu no
topo atrás da cabeça e o sahasrāra na
coroa da cabeça. Estas são áreas no corpo físico que correspondem à localização
dos cakras no corpo psíquico. A
experiência da kuṇḍalinī e dos cakras ocorre no corpo psíquico que é
uma passagem secundária para
experiências mais profundas e níveis mais sutis de consciência. Portanto, kuṇḍalinī-yoga é considerado um dos
métodos de Yoga mais rápidos através
do qual o sādhaka (praticante) pode
queimar muitas etapas. Contudo, isso requer uma atitude diferente e um
entendimento mais refinado da personalidade humana, e não é qualquer pessoa que
pode fazê-lo.
Aspecto sonoro da
vibração
O terceiro aspecto do mantra é a
vibração sonora que foi dividida em cinquenta sons. Diferentes combinações
destes sons produziram diferentes formas de mantras.
Por exemplo, o mantra oṃ namaḥ śivāya
(eu saúdo a Śiva) é uma forma
intelectual de se compreender ou uma tradução literal do mantra. Muitas pessoas mal interpretam o mantra, achando que ele é somente relativo à determinada deidade.
Neste momento o cambapé mental se inicia: Estou
sendo convertido? Eu terei que acreditar em alguma coisa que não conheço ou não
entendo? Como posso acreditar nesse Śiva nu adornado com serpentes? Esse
tipo de interpretação intelectual não é esperado ao se praticar mantra.
A repetição dos sons contidos no mantra
oṃ namaḥ śivāya estimula e desperta as faculdades de diferentes cakras associados aos sons do mantra. Quando utilizamos a palavra som aqui, nos referimos à vibração sonora das letras do alfabeto
sânscrito que, quando conjugadas, formam os mantras.
Ṇaṃ é uma letra associada a um cakra, assim como ḍhaṃ, yaṃ ou ṣaṃ são outras letras associadas a
outros cakras. Sahasrāra, o cakra mais
elevado, contém mil pétalas, cada uma representando diferentes combinações dos
cinquenta sons (ou letras) no plano cósmico. Assim, uma consoante pode ser
entoada de doze maneiras diferentes: ka,
kā, ki, kī, ke, kai,
ku, kū, kou, kuṃ ou kaḥ. Portanto, as mil pétalas representam diferentes combinações
destas cinquenta letras ou sons e o sahasrāra
contém toda essa informação. Este é o DNA do corpo psíquico que armazena todas
as informações que somente podem ser acessadas após dissecar e isolar a
molécula do DNA.
Estes são os três aspectos do mantra-yoga:
mente, corpo psíquico e vibração sonora. Agora, discutiremos os seguintes
pontos:
·
Como são os diferentes
tipos de mantra?
·
Como o mantra altera e afeta a personalidade
mental?
·
Como o mantra desperta a personalidade
psíquica?
Tipos de mantra
Vamos lidar agora com alguns tipos diferentes de mantras. Geralmente, mantras
são sílabas ou palavras específicas que têm sido usadas por yogīs, sadhus, pesquisadores e pensadores para criar uma mudança em seu padrão energético. Tradicionalmente,
dois tipos de mantras são
reconhecidos: o mantra universal e o mantra individual.
Os mantras universais são
largamente conhecidos e têm sido adotados por diferentes tradições para o uso
em práticas meditativas e contemplativas. Exemplos de mantras universais são:
·
Mahā-mṛtyujaya-mantra:
oṃ
trayambākaṃ yajāmahe
sugandhiṃ
puṣṭivardhanam
urvārūkamivābandhanān
mṛtyor
mukṣiya māmṛtāt
·
Gāyatrī-mantra:
oṃ
bhūr bhuvaḥ svaḥ
tat
savitur vareṇyaṃ
bhargo
devasya dhīmahi
dhiyo
yo naḥ prachodayāt
Estes mantras são compostos como
um fio que conecta diferentes sons. Em cada um há a ênfase em um determinado
tipo de som. No mahā-mṛtyujaya-mantra
o som predominante é am, enquanto que
no gāyatrī o som predominante é ha. É desta maneira que estas
combinações foram realizadas pelos sábios yogīs
com a finalidade de criar uma alteração energética e vibratória na consciência
ativa e periférica.
Exemplos de mantras universais
de comprimento razoável são:
·
Oṃ Namaḥ Śivāya
·
Oṃ Namo Bhāgavate Vāsudevaya
·
Oṃ Namo Nārāyāna
Mantras comuns mais curtos são o oṃ e o sohaṃ. Todos estes estão na categoria de mantras universais e podem ser recitados por qualquer pessoa,
principalmente aquelas que procuram por uma compreensão mais profunda da
personalidade mental, sutil e psíquica.
O segundo conjunto de mantras
são os pessoais ou individuais. São mantras
utilizados para propósitos específicos em ocasiões necessárias. Eles podem ser
monossílabos (conhecidos como bīja-mantras)
ou combinações de vários sons. O Yoga
reconhece ambos os tipos de mantras.
Diferentes tradições espirituais têm criado seus próprios mantras que despertam centros psíquicos particulares ou proveem o
entendimento de determinadas faculdades mentais. Por exemplo, mantras tântricos como hrīṃ e klīṃ são combinações de diferentes
consoantes e vogais unidas para criar uma mudança vibratória dinâmica dentro do
padrão energético da personalidade. Mantras
védicos como ahaṃ brahmasmi ou tattvamasi
alteram o estado normal da consciência e
retraem os sentidos internalizando as faculdades mentais.
Qualquer pessoa pode assumir uma prática com um mantra universal e mantê-la sem a guia de um professor mais
experiente ou guru. Contudo, os mantras
individuais são dados aos aspirantes por um professor de acordo com a
personalidade e o tipo de mudança ou estímulo necessário para despertar os
diferentes compartimentos da personalidade.
Como o mantra altera o
padrão mental
Primeiro, seja lá qual a tradição que utilize e ensine mantra, o fator mais importante é perceber como ele altera os padrões da mente.
O Yoga vê a estrutura mental como uma
consciência predominantemente ativa cuja energia está adormecida; da mesma
forma, o Yoga vê o padrão psíquico da
personalidade como uma energia ativa cuja consciência se encontra adormecida.
Embora a quantidade de energia e consciência possa ser igual, em um aspecto a
consciência é mais ativa e em outro, a energia é mais ativa. Portanto, no
padrão mental, a consciência é mais ativa. As faculdades de buddhi, manas, citta e ahaṃkāra são diferentes expressões de
nossa consciência ativa. Prāṇa, cakras e kuṇḍalinī são diferentes manifestações da energia ativa. Essa é a
principal diferença entre o corpo mental e psíquico.
Seja qual mantra for, quando
começamos a repeti-lo com fixação mental, ocorre à concentração unidirecionada.
Esse é o primeiro passo. Outras horas, quando não conseguimos nos concentrar, a
mente pula de um ponto ao outro em busca de estímulo e diversão. Dessa maneira,
as faculdades mentais e energia são dissipadas. A repetição do mantra interrompe a dissipação destes quatro
compartimentos mentais. Uma vez que a dissipação cessa, a estabilidade
ocorre nestas áreas. Elas se aquietam, suas atividades são interrompidas. A dissipação é como a janela aberta por onde
passa o sopro do vento que levanta as cortinas e espalha os papéis da sala.
Nossa personalidade é assim o tempo todo. Tudo fica bagunçado na sala de buddhi, manas citta e ahaṃkāra. Quando as janelas estão
fechadas, a calma e a estabilidade ocorrem espontaneamente. O mesmo ocorre com mantra, i.e. a estabilidade mental é a primeira indicação da concentração mântrica.
Segundo, a prática de mantra-yoga
equilibra ou nivela os processos mentais na medida em que as faculdades e
energias que existem dentro de cada compartimento são equilibradamente
distribuídas. O que isso significa? Novamente, vamos utilizar o exemplo do
vento soprando pela janela aberta. Se você estiver na direção do vento poderá
sentir sua força. Se não estiver em sua direção, pode não sentir o efeito
intenso de sua força, mas ele continuará ali. A única diferença é que você não
está sendo afetado diretamente pelo vento, pois não está em sua direção.
Contudo, quando a janela se fecha, você pode andar por toda sala e sentir a
calma e a estabilidade em todo ambiente. Não importa a direção que tome,
sentirá por toda a parte a calma e estabilidade atmosférica. Não há nenhum
vento soprando em qualquer parte da sala. É isso que queremos dizer com distribuir as energias e faculdades dentro
de cada compartimento da mente. Neste estágio da prática do mantra-yoga, ocorre o equilíbrio e
nivelamento das atividades mentais em cada compartimento, dessa maneira a mente
se torna mais homogenia.
O terceiro passo no processo da repetição mântrica é a eliminação de
tensões mentais. Quando somos confrontados a experiências particulares, ideias
ou até mesmo no veículo de consciência, existe tanto tensão quanto relaxamento,
como o efeito de ondas perpendiculares. Isso é o que normalmente ocorre quando
experimentamos um fluxo contínuo de ideias, impressões ou situações em qualquer
um dos quatro compartimentos mentais. Às vezes um desejo, uma emoção ou ambição
ganha, momentaneamente, intensidade, isso cria tensão e desequilíbrio. Quando
tais distrações ou desequilíbrios ocorrem, a tensão toma forma em um aspecto da
consciência. Isso pode ser feito por um pensamento apenas. Pessoas caem em depressão pela má assimilação de seus próprios
pensamentos e emoções. As pessoas têm ataques de ansiedade só porque algo
está mudando. Por conta da tensão, cresce o sentimento de eu não consigo competir com isso. Portanto, a eliminação da tensão
ou a atividade máxima da consciência ocorre no terceiro estágio do mantra-yoga. As ondas perpendiculares e
seus efeitos se transformam em suaves ondas horizontais.
Neste processo, se há fraqueza em certos aspectos da consciência,
resultando na inabilidade de enfrentar as situações da vida e a perda de
auto-estima e auto-confiança, até mesmo aquelas fraquezas mais íntimas da personalidade
se tornarão equilibradas pela prática de mantra.
As atividades da consciência diminuem, se tornando mais lineares. Isso aumenta
a auto-confiança, aperfeiçoa as atividades no dia-a-dia e podemos sentir a
força e a energia crescerem desde o interior. Se existe problemas com o sono,
com a prática de mantra uma pessoa
pode voltar a dormir normalmente na medida em que as ondas da consciência
deixam de subir e descer, tornando-se mais estáveis e lineares. Da mesma
maneira, há um aumento de memória, concentração, expressão e interação. O
aperfeiçoamento das faculdades da consciência que normalmente são expressas
através da personalidade é o terceiro aspecto do mantra.
O quarto aspecto do mantra é
sensibilizar a mente de tal maneira que seu alcance se torne como um radar capaz
de detectar as vibrações mais sutis das pessoas, lugares e situações do
dia-a-dia. Essa sensibilidade mental é criada através de uma harmonia interna e
na medida em que esta harmonia e equilíbrio interno aumentam, as ondas e
vibrações do ambiente exterior que não estão na mesma sintonia rapidamente se
tornam mais harmônicas e equilibradas. Em outras palavras, as vibrações
externas se harmonizam com as vibrações internas emanadas pelo praticante. Se
alguém está zangado perto de você, rapidamente poderá perceber essa torrente de
energia. Se você estiver na mesma sintonia, talvez não perceba, pois seus
escudos psíquicos estão levantados. Se alguém estiver desanimado ou indisposto
mentalmente, você perceberá porque estendeu seus poderes receptivos para o
exterior. A sensibilização da consciência é o quarto aspecto do mantra-yoga. Com essa sensibilização da
mente, internalizamos as faculdades da consciência para acessarmos o corpo
psíquico, onde a energia é desperta com a ajuda do mantra.
É assim que mantra-yoga altera e
reequilibra a personalidade mental. Agora, vamos tratar dos efeitos da prática
em um nível psíquico.
Como mantra desperta a
personalidade psíquica
Após as faculdades da consciência terem sido equilibradas e harmonizadas, a intensidade e sensibilidade da concentração
que foi desenvolvida através das práticas iniciais, enquanto perpassa o corpo
mental, se torna o meio de entrada no corpo psíquico. No corpo psíquico, a
primeira consciência é do prāṇa e o
uso do mantra intensifica essa
consciência. Estamos sempre expressando
nosso prāṇa de uma maneira ou de
outra, dinâmica ou passivamente, externa ou internamente, mas nem sempre temos
consciência desta expressão prânica.
Essa expressão prânica inconsciente pode causar desequilíbrios que são
filtrados ao nível do corpo mental e se tornam a causa dos bloqueios prânicos.
Estes bloqueios são experimentados na forma de falta de energia física, fadiga
mental, letargia ou má vontade para fazer qualquer coisa, até mesmo pensar.
Essa má vontade não é um processo consciente, é parte da atividade prânica
filtrada para baixo no nível do corpo mental, o que resulta no sintoma da
letargia etc. Portanto, bloqueios
prânicos são o primeiro aspecto de desequilíbrios psíquicos que a prática de
mantra ajuda a corrigir.
A experiência inicial de mantra-yoga
traz paz e relaxamento. Este relaxamento não é letárgico, mas dinâmico. Neste
estado, a estrutura prânica é reequilibrada. Após o reequilíbrio desta
estrutura prânica, impressões visuais e mentais do corpo psíquico na forma de cakras, yantras e símbolos são criados a partir da concentração focada. Nós não despertamos nossos cakras, eles
despertam a si mesmos devido à combinação de impressões visuais, a influência
vibratória do mantra e a intensidade de concentração na imagem mental ou visual.
Tome como exemplo o ājñā-cakra.
A meditação começa com um mantra e
quando a consciência se sensibiliza, o ājñā
é visualizado. No momento em que começamos a visualizar o yantra do ājñā-cakra, o
direcionamento total da percepção e as faculdades da consciência são dirigidas
imediatamente para aquele ponto no corpo psíquico. A impressão visual é um
apoio, da mesma maneira que utilizamos binóculos para trazer objetos que estão
longe para perto de nossa visão. Da mesma maneira, a impressão visual é utilizada
como um auxílio para nos deixar conscientes da experiência psíquica. Mas apenas
ver não ajudará. É harmonizando a visão com as vibrações do mantra que podemos sentir o estímulo
dentro do cakra. Queimação na área do
cakra, sensações particulares e a experiência
do vórtice energético podem ser sentidas com maior facilidade. A cabeça flutua por outras dimensões. Portanto, mantra e intensidade de concentração operam juntos no corpo psíquico.
Com o relaxamento do prāṇa
ocorre o estímulo ou o despertar das nāḍīs,
dos cakras ou de alguma faculdade
psíquica relacionada a um cakra. As
faculdades de cada cakra começarão a
se manifestar com maior facilidade se seus respectivos bīja-mantras forem utilizados. Por exemplo, se você utiliza o bīja-mantra yaṃ enquanto se concentra no
anāhata-cakra, definitivamente
começará a sentir algo na região deste cakra.
Se você utiliza o bīja-mantra oṃ com
concentração no ājñā-cakra, sentirá
algo despertando naquela região. Contudo, se você utilizar o bīja-mantra laṃ do mūlādhāra-cakra tentando trabalhar o cakra viśuddhi, nada acontecerá. Você pode tentar, mas não haverá
estímulo. Até mesmo a concentração – neste caso – não ocorrerá porque o mantra não se relaciona ao cakra. É como direcionar a visão para
uma direção tentando ver o que tem na outra direção.
No corpo psíquico, as vibrações sonoras têm um papel importante. Elas
dependem de como são repetidas, cantadas ou entoadas. Por exemplo, existe uma
técnica meditativa onde se emprega a entoação do oṃ de diferentes maneiras. Na primeira entoação o oṃ é curto e acentuado, na segunda, ele
é curto e suave, na terceira vez ele é de duração média e murmurante, na quarta
entoação ele é longo e alto. A cada entoação um resultado ou experiência é
produzido. Este é um aspecto muito importante do mantra.
A tradição do Yoga atesta que é
possível despertar os cakras e a kuṇḍalinī somente através do mantra, sem ser submetido ao treinamento
básico de haṭha ou pātañjala-yoga. A tradição atesta também
que é possível atingir o samādhi
seguindo o caminho direto do mantra
apenas. Contudo, leva-se tempo para atingir o estado de intensidade requerida e
são poucos os que a possuem para assumirem uma prática efetiva. Assim, com a
finalidade de se construir essa intensidade e concentração, o praticante necessita
passar por diferentes estágios de preparação. É por essa razão que não podemos nos envolver com mantras logo no
início da jornada. Aqueles que tentaram sem passar pelos processos necessários
de preparação falharam na prática do mantra-yoga.
Os mantras estimulam as energias
que normalmente temos dificuldades para canalizar. Às vezes o mūlādhāra-cakra se torna tão ativo que é
quase impossível controlar o sentimento de insegurança. Sob essas circunstâncias,
uma pessoa pode ser lançada em uma profunda depressão. Os impulsos sexuais
tornam-se difíceis de controlar. Não existe nenhum controle sobre a expressão
dessa energia a não ser que exista um guru muito poderoso sentado ao lado.
Portanto, não abuse das práticas e nem espere respostas imediatas com os mantras.
De acordo com a tradição, o mantra universal mais importante para
despertar e entrar nos reinos do corpo psíquico é o ajapa-mantra sohaṃ alinhado conscientemente com a respiração. Três
das maiores upaniṣads discutem a
técnica ajapa-japa como o passo final
antes da iluminação. As experiências com o corpo psíquico variam de uma pessoa
para outra, de acordo com seu nível de evolução psíquica e mental e de acordo
com os cakras que estão mais ativos
na personalidade. Este é o conceito de mantra
alterando a estrutura psíquica.
Como mantra é praticado
O processo de utilização do mantra
chama-se japa-yoga ou a prática de repetição mântrica. Portanto,
japa-yoga faz parte da ciência do mantra-yoga. Quatro estágios diferentes
de repetição mântrica foram classificados: 1. baikharī, 2. upanśu ou madhyāma, 3. manasi ou paśyanti e 4. pāra.
1. Baikharī ou repetição verbal é o estágio
inicial de japa-yoga. Quando o mantra é pronunciado verbalmente, deve
haver clareza de fala e entonação, concentração e consciência. A pronúncia
correta é muito importante. Se há intensidade, concentração e clareza na
prática, o mantra irá operar
efetivamente e irá alterar a estrutura da mente (atitude e comportamento
mental). Isso se aplica ao kīrtan
também. Às vezes nós fazemos modificações nos kīrtans que estejam em concordância com a maneira que estamos mais
acostumados a cantar. Portanto, preste atenção no que se segue.
Baikharī pode ser realizado de cinco maneiras
diferentes, como se segue:
·
Repetição verbal e
contínua em voz alta;
·
Repetição verbal
conjugada com a respiração;
·
Repetição verbal
conjugada com a mālā;
·
Repetição verbal
conjugada com atividade física;
·
A prática de kīrtan, cantando e entoando mantras em diferentes tons ou rāgas.
No primeiro método existe a repetição
verbal contínua em um tom estável desprovido de oscilações. Quando o mesmo mantra é cantado em coro, com diferentes
tipos de entonação, ele se torna um kīrtan.
O segundo método é a repetição verbal conjugada com a respiração. Nós não
podemos repetir o mantra enquanto
inspiramos, mas somente quando expiramos. Assim, a inspiração é normal e o mantra é entoado em voz alta enquanto se
expira. O terceiro método é a repetição verbal conjugada com a mālā. Essa prática é similar ao primeiro
método, à repetição verbal contínua, mas a consciência é fixada no movimento de
cada conta, o que mantém a mente alerta e a atenção no mantra. O quarto método é a repetição mental conjugada com
atividade física, que pode ser uma caminhada, o sentar-se pacificamente,
trabalhar no jardim ou na cozinha, viajar etc.
2. Upanśu ou madhyāma
é o próximo estágio de japa-yoga. Upanśu significa som murmurante. Em baikhirī-japa
a repetição do mantra pode ser
executada em grupo ou solitariamente. Nestas duas situações o mantra é entoado
em voz alta. Contudo, se existem pessoas presentes na hora da execução do mantra que não entendem o que você está
fazendo ou que não têm a mesma disposição mental, então a entoação deve ser
murmurante. O murmúrio auxilia a manter a consciência no mantra quando a mente se introverte, mas ainda existindo alguma
atividade nela.
Upanśu-japa pode ser realizado de quatro maneiras
diferentes, como se segue:
·
Repetição murmurante
contínua;
·
Repetição murmurante
conjugada com a respiração;
·
Repetição murmurante
conjugada com a mālā;
·
Repetição murmurante
conjugada com atividade física.
Neste estágio, não há canto em grupo ou
kīrtan.
3. Manasi ou paśyanti
é o estágio da japa (repetição)
mental. Manasi significa mental e paśyanti significa ver
através dos olhos da mente. Manasi-japa
pode ser realizado de cinco maneiras diferentes, como se segue:
·
Repetição mental
contínua;
·
Repetição mental
conjugada com a respiração;
·
Repetição mental
conjugada com a mālā;
·
Repetição mental
conjugada com a concentração em um símbolo;
·
Repetição mental
conjugada com escrita psíquica no cidākāśa;
·
Repetição mental
conjugada com atividade física.
Estes são os cinco métodos de manasi-japa. A repetição mental
conjugada com a concentração em um símbolo, yantra,
imagem de deidade ou do guru é algo claro para todos. A repetição mental
conjugada com escrita psíquica no cidākāśa
é raramente utilizada. Aqui não ocorre a visualização de símbolos ou yantras, mas a forma escrita do mantra, seja em caracteres latinos ou
sânscrito, não importa. Neste processo você pode escrever, por exemplo, oṃ namaḥ śivāya no cidākāśa enquanto repete o mantra
mentalmente na medida em que a visão se movimenta pelas letras que formam o mantra. A mente segue a repetição se
concentrando nas letras escritas no cidākāśa.
4. Pāra ou repetição transcendental é o último
estágio de japa-yoga. Pratica-se pāra apenas de uma maneira: ajapa-japa (repetição contínua e
espontânea ou sem esforço). Ela frequentemente ocorre quando interrompemos a
repetição do mantra conscientemente.
Em outras palavras, a repetição continua de forma involuntária na mente,
permanecendo nela, vibrando todo o tempo. Isso
ocorre quando o mantra energiza a mente pela sua repetição constante. Este
estado não é atingido apenas por mantras,
bījas etc., mas com kīrtan ou outra composição musical. A
vibração continua na mente, sem nenhum tipo de esforço consciente ou controle
mental por parte do praticante. A repetição torna-se como uma obsessão mental. Este é o aspecto do mantra conhecido como pāra-japa
e nós o experienciamos de acordo com a sensibilidade e o envolvimento de nossa
mente com o mantra. Estes são os
quatro estágios de japa-yoga.
Regras para
mantra-sādhanā
Japa-yoga auxilia com que a repetição mântrica
se torne um processo meditativo. Portanto, um āsana apropriado deve ser selecionado e um tempo e hora devem ser
fixados, seja na manhã, tarde ou à noite. Tente manter sempre o mesmo tempo e
hora de início para sua prática de mantra.
Se a hora que você fixou foi 6:00h em ponto, então deve se esforçar para manter
essa disciplina todos os dias. Se algum dia você não conseguir, tudo bem, mas
mantenha o esforço e a regularidade da prática.
Se não conseguir concluir toda a prática no tempo proposto ou se perder a
regularidade, não se preocupe, você poderá compensar o tempo perdido em outro
momento. A idéia por trás de se estabelecer um tempo fixo e regular é que nas
vinte e quatro horas de atividade inconsciente, seja dormindo ou caminhando,
deve existir uma hora fixa em que a mente possa ser sintonizada com o Ser Interior. Esse tempo fixo é seu tempo pessoal
e não deve haver nenhum tipo de distração ou perturbação durante ele. Nas vinte
e quatro horas de atividade, deve haver dez minutos, talvez quinze, meia ou uma
hora todos os dias devotada ao seu processo de refinamento da consciência. Se
um tempo é fixado, inicia-se o processo de educação mental.
Se está acostumado a comer às 19:00h todos os dias, quando essa hora vai
chegando, você sempre começa a ter apetite. Se costuma deitar para dormir às
22:00h, quando essa hora chega, você começa a relaxar, sentir-se sonolento e
rapidamente se dirige a cama. Quando a necessidade ou o desejo de comer ou de
dormir se manifesta, você não precisa nem pensar nele. Deve ocorrer da mesma
maneira com mantra-sādhanā. O
objetivo é criar uma necessidade ou um desejo pela prática que ocorra
espontaneamente na hora fixada, sem esforço consciente por sua parte.
Uma postura apropriada deve ser selecionada e sustentada durante a prática
de maneira que não haja movimentos que distraiam a concentração. Não inicie japa logo que se sentar. Permita que o
corpo e a mente se tornem estáveis e quietos. Uma vez que esteja confortável e
o corpo e a mente estejam estabelecidos em um estado de tranqüilidade e
estabilidade, então inicie sua prática de manasi-japa.
Se você estiver utilizando um símbolo, se concentre e visualize-o primeiro.
Quando ver o símbolo, comece o mantra.
Não tente trazer o símbolo através do mantra.
Se você está praticando com mālā,
inicie a prática de mantra com ela.
É importante também fixar um número de voltas na mālā por dia, até que apareça um chamado interior para que aumente
o número de voltas. Contudo, você não deve iniciar a prática com dez voltas na mālā e depois vir reduzindo este número
gradualmente. Comece com uma volta na mālā
e na medida em que seu envolvimento com a prática crescer, aumente mais uma
volta. Com o tempo, três voltas... dez voltas.
Inicialmente, nós não temos controle sobre o estado de alerta da mente.
Nós podemos nos tornar estáveis, mas não conseguimos manter o mesmo grau de
vigília durante a prática. Na intensificação da concentração, se existe
qualquer sonolência ou preguiça, mude a prática de manasi para upanśu-japa,
a repetição murmurante do mantra.
Como o murmúrio é uma atividade física, a mente se torna novamente consciente
do processo físico e retoma o estado de alerta. Se, depois de algum tempo,
devido ao processo de acomodação ou habituação da mente, ocorrer a
internalização descontrolada da consciência através do sono, mude para baikhirī-japa: entoe o mantra em voz alta.
Dispersão é diferente de sonolência. Quando a mente se torna dispersa,
você sabe que ela está fora de seu controle. Você não está inconsciente,
portanto, deve ser capaz de retornar o estado mental e continuar sua prática.
Neste momento você não precisa mudar de upanśu
para baikhirī. Isso é feito somente
quando você cai em um estado de inconsciência, onde perde completamente a
consciência do mantra devido à
profunda internalização sobre a qual não possui controle. Você pode controlar a
dispersão mental em alguns minutos, mas não pode controlar as forças do
inconsciente nestes mesmos minutos. Pelo contrário, ele se tornará mais
intenso. Assim, no processo meditativo do mantra,
nós começamos com manasi-japa e,
dependendo do estado mental, vamos para upanśu
ou baikhirī-japa.
A purificação mental é outro aspecto importante de japa-yoga. Inicialmente, a prática de mantra desencadeia um processo de afloramento do lixo mental. É o
processo de limpeza ou purificação proporcionado pelo mantra antes do equilíbrio e estabilidade mental adquiridos pela
prática. Os aspectos superficiais dos pensamentos, emoções ou desejos, que não
são necessários na mente, mas que precisam ser expressados porque ganharam
intensidade, ou saṃskāras vindos das
profundezas da consciência na forma de desejos ou emoções, serão varridos pelo mantra. Na medida em que são eliminados,
vê-se ver nuvens de desejos ou medos manifestados. Pode ser um desejo ardente
por comida ou uma vontade intensa de dormir. Assim, o mantra vai de um lado ao outro da mente, purificando-a antes de
equilibrá-la.
Este processo de purificação e reequilíbrio da mente não ocorre mais
rapidamente aumentando o número de voltas na mālā ou intensificando mais as práticas. Seu curso normal de sādhanā deve ser seguido enquanto você
pratica mantra por uma hora, três
horas ou cinco minutos. Não é a repetição
que importa, mas a consciência no ritmo e no processo da vibração. Não será
fácil permanecer firmemente focado no mantra
por toda prática. Existe um ressalto de dispersão natural na mente. Ela ficará
para lá e para cá, seguirá seu curso natural.
Som psíquico, respiração
psíquica e símbolo psíquico
Existem três importantes aspectos da meditação mântrica:
1. Consciência contínua e ininterrupta do
som psíquico ou mantra;
2. A ligação do som psíquico com a
respiração psíquica;
3. A combinação do som psíquico com a
respiração psíquica e a visualização do símbolo psíquico.
A consciência do som psíquico ou mantra
é algo claro para nós. Contudo, nós temos de compreender o que significa conectar o som psíquico com a respiração
psíquica. Consciência da respiração
psíquica começa com a consciência da respiração física. Nós inspiramos e
expiramos através das narinas, mas nós podemos experimentar a respiração em
outras partes do corpo e por caminhos diferentes. Por exemplo, na prática de ajapa-japa (que abordaremos em breve), a
respiração é vista dentro co canal
psíquico que vai do umbigo até a garganta. Depois, ela é vista dentro deste
mesmo canal psíquico, só que desta
vez ele vai do umbigo ao ājñā-cakra.
Em estágios mais avançados da prática, a respiração é vista no canal psíquico da espinha dorsal. Assim,
o movimento da respiração que está sendo experienciada, imaginada ou
visualizada em diferentes partes do corpo é a respiração psíquica.
O terceiro aspecto, a combinação do som psíquico com a respiração psíquica
e a visualização do símbolo psíquico é um processo mais avançado. No início é
quase impossível para qualquer um ver o símbolo psíquico. Portanto, é preciso imaginar o símbolo.
Gradualmente, na medida em que a concentração se intensifica, o símbolo começa
a tomar forma, muitas vezes como uma imagem sombria, depois o seu contorno, em
seguida o símbolo em uma só cor e finalmente o símbolo completamente colorido.
Quando essa imagem colorida do símbolo for vista espontaneamente, ocorre a
visualização pura. Inicialmente ela começa com a imaginação e a repetição do mantra.
Estes três aspectos são absolutamente necessários. Se o mantra é repetido sem ser ajustado a
respiração e sem consciência do símbolo, freqüentemente, devido a concentração
e internalização intensa, o controle sobre o corpo é completamente perdido. Por
exemplo, muitas vezes a mālā cai de
sua mão sem que esteja dormindo, mas a consciência saiu do corpo e foi para
outra dimensão. Quando sua mālā cai
você se torna consciente de que seus dedos pararam de se movimentar e que ela
está no chão. O chão é o último lugar em que sua mālā deveria estar. Isso ocorreu porque você perdeu controle ou
consciência voluntária do corpo.
Mesmo nessa ausência de consciência existe um estado onde as faculdades da
mente se esgotam por conta de sua dispersão mental. O exemplo do pássaro que
voa sobre o oceano em busca de um local para repousar ilustra isso. Quando o
pássaro vê um pedaço de madeira sobre as águas, ele pousa e descansa ali por
algum tempo. Após ter descansado, o pássaro levanta vôo e continua sua jornada,
mas se recordando do lugar onde descansou para que, se novamente precisar,
voltar e descansar. Assim como o pássaro recorda de seu lugar de descanso, no
processo de meditação profunda, onde pode ocorrer a internalização intensa da
mente, deve haver uma base na qual podemos retornar, descansar e recuperar a
consciência, o sentido de alerta e a vitalidade antes de voltarmos as dimensões
sutis da mente.
O símbolo e a respiração atuam como uma plataforma. Eles formam a base na
qual a mente é repetidamente trazida de volta para se restabelecer, para
despertar e para afastar qualquer tipo de dispersão sutil que force sua estagia
inconsciente nos recessos da mente. Após se restaurar e consolidar seu estado
de consciência, a mente pode voltar a sua jornada pelo mantra com claridade mental.
Japa
Muitas pessoas estão ansiosas por alguma experiência meditativa genuína.
Isso é compreensível, embora nenhuma pressa ou até mesmo aspiração tornará essa
experiência possível, a não ser que a mente enganadora, tempestuosa e cheia de
truques seja acalmada. A meditação é um
processo espontâneo que ocorre somente quando a mente atingiu certa harmonia,
equilíbrio e unidirecionamento. Isso se aplica – quer dizer, essa harmonia
e calma na mente – tanto por tempos prolongados quanto por curtos períodos de
tempo. Ela precisa ser harmonizada. Sem
esse requisito prévio, a meditação não ocorre. Uma prática meditativa sistemática,
segura e simples para adquirir essa harmonia na mente é a japa. É um método apropriado para qualquer pessoa, sem exceção.
A primeira preocupação
para a maioria das pessoas deveria ser confrontar e exaurir os conflitos
internos e desejos suprimidos. A prática de japa é um método
excelente que vagarosamente extrai os aspectos negativos da parte subconsciente
da mente, com pouca probabilidade de efeitos desagradáveis. A prática relaxa a arena pessoal da mente, o que
possibilita a experiência natural da meditação. Japa é uma excelente técnica preparatória para os estágios
avançados de kriyā-yoga, pois ela refina a mente, o que possibilita
uma experiência mais profunda e verdadeira. Na verdade, japa integra muitas práticas do kriyā-yoga. Portanto, se você pratica japa, está alicerçando uma valiosa
fundação para técnicas e estágios mais avançados na meditação.
A palavra sânscrita japa
significa rotação, repetição. A prática é assim chamada
porque ela envolve a rotação contínua da mālā
e a repetição, também contínua, do mantra.
Geralmente, executa-se japa por um
período fixo de tempo e um número determinado de repetições. A entoação do mantra pode ser alta, baixa ou
silenciosa. Japa também pode ser
definida como entoação mântrica ritmada
com a rotação da mālā e um fluxo contínuo de consciência. Para um benefício
máximo, pratique com regularidade.
Um sistema universal
Japa é provavelmente o sistema de meditação
mais universalmente difundido. É uma parte integral tanto do Yoga quanto do Tantra e do hinduísmo como um todo. Muitas escrituras tradicionais
descrevem os métodos e os méritos da prática de japa, principalmente os textos tântricos que trazem imagens de yogīs ancestrais executando japa. De acordo com a tradição, Brahmā,
Criador do Universo, deu início à criação de tudo o que existe através da
prática contínua de japa com o mantra auṃ. Tal é a importância da japa na vida espiritual.
A prática de japa não se confina
a Índia. Os budistas da escola Mahāyana
utilizam uma mālā de 108 contas mais
três extras que representam o refúgio em Buda, no Dharma e em Sangha. Os
sistemas mais ortodoxos de cristianismo também executam japa. Qualquer pessoa que visitar um monastério católico romano
notará que seus monges ou freiras fazem a rotação de seus rosários em suas
práticas espirituais diárias. Qualquer pessoa que tenha visitado a Grécia ou
outros países Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa Grega é predominante notou que
todos os homens carregam consigo um rosário. Seja lá o que eles façam, estão
sempre circulando seus rosários, o máximo que podem, em todas as ocasiões. Eles
praticam uma forma de japa todo dia.
Racional
Um genuíno estado de concentração é muito difícil de ser alcançado pela
maioria das pessoas, pois os distúrbios internos e externos são muitos. Durante
a prática meditativa podemos ser completamente subjugados pela torrente
contínua do murmúrio mental interior, aborrecimentos, tristezas etc. e, por
outro lado, nos encontramos incapazes de frear e impedir o alarde, inquietação
e confusão exterior. Estas duas circunstâncias impedem a meditação. É claro, a
inabilidade em se abstrair do alarde
exterior é o fruto de uma desordem interna. Da mesma forma, se existe paz
interior, o praticante pode automaticamente desligar-se das influências externas.
Outra cilada na prática meditativa é o sono. É muito fácil conquistar um
estado profundo de relaxamento e como isso é raro, o praticante pode começar a
entrar em um estado de sonolência e dormir. O relaxamento deve ser conquistado,
como sempre estamos enfatizando, mas a consciência deve ser cultivada para que
o praticante não caia no sono. Nós já discutimos essa questão do sono
anteriormente, mas frisamos esse ponto repetidamente porque o sono é uma
armadilha que engana a maioria das pessoas que empreendem a prática meditativa.
Mas outra armadilha, em contra partida, é a concentração forçada. Muitas
pessoas já compreenderam a importância da concentração, mas infelizmente tentam
forçá-la, o que causa tensão, impedindo o verdadeiro
estado da concentração (dhāraṇā).
A concentração verdadeira naturalmente
ocorre quando a mente está relaxada.
Nós temos um dilema aqui:
1. O praticante não se preocupa em se
concentrar. Isso normalmente leva a cilada mencionada acima, o sono, absorção
nas interferências externas ou se esquecer de si mesmo enquanto se encanta pelo
incessante murmúrio dos pensamentos.
2. O praticante força a concentração no
esforço de impedir o sono ou a tendência de perder ou esquecer de si mesmo
enquanto se encanta pelo mundo externo ou pelos construtos de pensamento
gerados pela mente. Isso geralmente leva a tensão mental.
Portanto, estas duas abordagens perante a prática da meditação estão
incorretas e elas irão levar o praticante para bem longe dos resultados e
benefícios reais da meditação. A resposta
para este dilema, como já enfatizamos anteriormente, não é tentar se
concentrar, mas permanecer consciente. Japa
é um sistema maravilhoso para se manter a consciência individual. Além do mais,
ela evita que o praticante se perca tanto nos acontecimentos externos quanto no
mundo interno dos pensamentos, além de frustrar o sono, o torpor e a preguiça.
Vamos ver como isso é conquistado.
Durante a prática de japa, o
meditante tem de fazer duas coisas: entoar o mantra e circular a mālā.
Isso atua como um ponto de referência
para consciência. Após algum tempo de prática adquire-se ritmo, o movimento
da mālā se sincroniza com a entoação
do mantra. Ou seja, sua mente e corpo
têm de fazer alguma coisa juntos. Isso evita as ciladas acima mencionadas da
seguinte maneira:
1. Sono: se você tende a cair no sono, a
repetição do mantra e o movimento da mālā perderão o ritmo ou irão parar.
Isso fará com que retome o estado de vigília. Nessa hora é bom se levantar e
lavar o rosto com água fria. É claro, se cair em sono profundo, à quebra no
ritmo não irá ajudá-lo. Você estará morto para o mundo. Provavelmente deve
estar cansado e precise dormir. Não há mal nisso. Mas o ponto a ser frisado é
que a quebra no ritmo do mantra e na
rotação da mālā pode ajudá-lo a ficar
consciente da sonolência para que possa ajustar sua situação na prática.
2. Preocupação
com o mundo externo: a rotação da mālā e a entoação do mantra rapidamente farão com que sua
consciência se introverta. Isso ocorre com mais facilidade se a entoação do mantra for feita com sentimento (bhava) e intensidade (tapaḥ).
3. Absorção
no processo interno de cognição: não suprima seus pensamentos. Deixe que eles apareçam na superfície da
mente, mas esteja completamente consciente deles. Não se perca nos pensamentos.
Não se identifique com eles. Observe-os como uma testemunha. Japa é um excelente método que nos capacita
a observar os pensamentos sem nos identificarmos com eles. O método segue: você
deve, em um sentido, dividir sua consciência. Quer dizer, você deve estar
simultaneamente atento ao contínuo fluxo de pensamentos, na rotação da mālā e na entoação do mantra. Deixe que os pensamentos surjam,
mas mantenha-se consciente da prática de japa.
Se você começar a se perder em seus pensamentos, interrompa a rotação da mālā, pois a entoação do mantra e a rotação da mālā se tornarão descoordenados. Seja lá
o que aconteça, você perceberá a perda de consciência na japa e rapidamente poderá equilibrar a divisão da consciência. Você
precisa continuar neste processo, o tempo todo.
Eventualmente, se a prática estiver
sendo executada corretamente por um período prolongado de tempo, o contínuo
fluxo de pensamentos diminuirá e rapidamente irá se exaurir espontaneamente,
por si mesmo. O tumulto mental irá se acalmar. A mente é carregada, magnetizada
e imantada pela repetição do mantra,
ao invés de se envolver com os construtos de pensamento. Portanto, a mente
rapidamente se acalma e se torna unidirecionada. A consciência se reveste do mantra e isso é exatamente o que queremos.
Neste estado a mente se torna relaxada, não pela supressão, mas pela exaustão
dos pensamentos que se precipitam na superfície da mente e a gradual tendência
de se perder nos devaneios do processo cognitivo. O estado natural de mente
relaxada sem o tumulto intenso dos pensamentos é um prelúdio a meditação
profunda.
Contudo, o contínuo borbulhar de
pensamentos na superfície da mente é um processo positivo, especialmente quando
eles vêm dos profundos reinos da mente subconsciente. Estes são os seus problemas internos. É observando-os que você poderá removê-los. Infelizmente, os
pensamentos que seduzem a maioria das pessoas durante a prática meditativa são,
muitas vezes, superficiais. Estes devem ser removidos pela prática de japa para que você possa ver
profundamente. Assim, a japa atua
sistematicamente limpando a mente destes pensamentos superficiais que são mera
distração.
Quando sua mente se tornar
unidirecionada e você estiver profundamente absorvido no mantra, subitamente poderá se confrontar com visões ou pensamentos
que surgem inesperadamente. Estes representam seus problemas mais profundos que
precisam ser removidos. A mera
consciência deles irá fazer isso. Neste estágio, quando você estiver
explorando as camadas abaixo da superfície mental, é à hora de iniciar a
purificação destes problemas enraizados nos rincões inacessíveis da mente.
4. Concentração: isso ocorrerá automaticamente na
medida em que continuar bombardeando o contínuo fluxo de pensamentos através da
japa. Quer dizer, consciência leva a concentração da mente.
Quando exaurir os pensamentos deruptivos da mente, não terá alternativa senão
se concentrar. Em ou-
tras palavras, será quase que forçado a
se concentrar.
Japa é um método simples e efetivo de
superar todas as armadilhas que mencionamos anteriormente. É por isso que é
amplamente praticado. Ele provê um equilíbrio entre a absorção no mundo externo
e seu oposto, a perda total no mundo dos pensamentos. Auxilia a cultivar a
consciência através da concentração e vice versa. Acalma o murmúrio da mente,
não pela supressão, mas permitindo que os pensamentos surjam enquanto se ancora a consciência no mantra e
na rotação da mālā. É útil principalmente para pessoas que não conseguem se
concentrar.
Qual o mantra utilizar
Existem inúmeros mantras. Os
mais comuns são: auṃ, krīṃ, hrīṃ, śrīṃ, aiṃ, dūṃ,
hūṃ, auṃ namaḥ śivāya, rāma, kṛṣṇa, durgā, auṃ mani padme hūṃ
e muitos outros. O som ou padrão vibratório do mantra estimulará certos efeitos na natureza mental e psíquica de
cada praticante. Cada mantra irá
criar ou evocar um símbolo específico na psique.
Idealmente, o mantra deveria ser
recebido diretamente do guru ou uma pessoa de consciência elevada, como se diz
no Kulārṇava-tantra (XV: 19): Somente o mantra recebido pelo guru irá
realizar seu poder.
Se você recebeu o mantra através
da iniciação, continue sua prática de japa.
Não mude o mantra, exceto por uma boa
razão. O que se segue são as razões pelas quais você deveria mudar seu mantra:
1. Seu guru lhe deu outro mantra;
2. Atingindo um elevado estado de
consciência você recebeu outro mantra que carrega sua mente de tal
maneira que não tem dúvida de que aquele é seu mantra. Isso às vezes acontece e neste caso você deveria mudar o mantra;
3. Você recebeu o mantra em um sonho. Neste caso, você deveria consultar seu guru
para a análise do mantra e se ele é
conveniente realmente para você na atual fase de sua vida. É muito fácil se
auto-sugestionar em um sonho e receber um mantra.
Definitivamente, este não é um mantra
correto.
Se você não recebeu um mantra
pessoal de um guru ou se você não o recebeu em um insight, é melhor que use o auṃ ou qualquer um dos acima citados
para finalidades específicas. Não revele seu mantra a ninguém, mesmo que seja o auṃ.
Anuṣṭhana-sādhanā
A palavra sânscrita anuṣṭhana
significa voto de execução ou execução de um ato específico. Anuṣṭhana-sādhanā ou anuṣṭhana-japa é um método largamente
utilizado. Nesta prática, o meditante se propõe a executar japa por um período fixo de tempo ou um número específico de
repetições do mantra. O propósito é
disciplinar o praticante e ao mesmo tempo imantar sua psique para que ele
realize o que deseja com a prática. Muitas pessoas começam um projeto com
intensidade e bastante interesse, mas infelizmente, com o tempo, se cansam e
desistem. Elas falham em conquistar seu objetivo. Isso ocorre com a japa também. O entusiasmo desaparece e o
meditante não continua a execução de sua prática. Portanto, este voto auxilia na superação desta
tendência letárgica.
Este sādhanā é muito comum na
Índia e é usualmente prescrito para pessoas cuja mente é fraca. A prática pode
ser executada em um dia, uma semana, um mês, um ano ou o tempo necessário para
finalizar (ou realizar) o objetivo da prática. A duração, contudo, deve ser
realista. Deve haver sinceridade neste ponto. Tradicionalmente, anuṣṭhana é associada a algumas regras:
1. Silêncio total ou pelo menos a redução
do hábito de se falar em demasia;
2. Corte total do contato com a família,
amigos e responsabilidades;
3. Restrições na dieta.
Existem inúmeras outras regras, mas são impossíveis de serem praticadas
por pessoas de mente comum ou ocupadas com os trabalhos do dia-a-dia.
Se você deseja executar anuṣṭhana-sādhanā
seriamente, sugerimos que busque os conselhos de um professor competente em um
nível pessoal para que ele possa prescrever as regras mais adequadas a sua
natureza e circunstâncias. De qualquer maneira, o que aconselhamos é que
primeiro o praticante assuma o voto
de meditar e praticar Yoga todos os
dias, por uma, duas ou três horas e praticar karma-yoga por todo o dia. Esta não é uma anuṣṭhana árdua, mas irá assegurar que você pratique todos os dias.
No que concerne a prática de japa,
você pode formular uma resolução que irá entoar seu mantra um certo número de vezes por um período de tempo. Por
exemplo, você pode entoar 100,000 vezes o mantra
auṃ no período de 50 dias. Para executar esta anuṣṭhana, o mantra deve
ser entoado 2000 vezes todos os dias. Se você entoa um auṃ por segundo, entoará 60 vezes a cada minuto. Portanto, o tempo
requerido para entoar 2000 vezes é a divisão de 2000/60, que dará 35 minutos
diários. Isso, é claro, dependerá sempre do tamanho do mantra. Você pode assumir também o voto de entoar o mantra 1080 vezes em dez dias, o que
dará 10 rotações na mālā de 108
contas, uma por dia. Outra possibilidade é entoar 50,000 vezes, praticando uma
hora por dia, pelo tempo requerido para finalizar o voto. Existem muitas
possibilidades e combinações. Você deve escolher o método mais apropriado para
a fase em que se encontra.
Anuṣṭhana-japa é um excelente método para acalmar e
purificar a mente. Sempre recomendamos anuṣṭhana
em combinação com japa, embora isso
não seja absolutamente essencial. Se você não quer se submeter a um voto, pode
então continuar a praticar japa todos
os dias. Isso, é claro, trará muitos benefícios.
Posição para prática de
japa
Qualquer postura meditativa confortável pode ser utilizada para prática de
japa. Tradicionalmente, você deveria
ficar de frente para o norte ou leste.
Variações de japa
Existem inúmeras variações de japa.
Não pretendemos abordar todas, mas somente aquelas que acreditamos serem úteis
e efetivas. Os métodos precisam de pouca explicação, pois são muito simples,
uma vez que já descrevemos ao longo do capítulo muitos detalhes essenciais.
Japa: estágio 1
Método 1: vak-śuddhi
Assuma uma postura confortável.
Mantenha a coluna e a cabeça eretas,
mas sem esforço.
Esteja consciente de seu corpo. Sinta
como estável e relaxado ele está.
Não se apresse.
Imagine que é livre de preocupações ou
que pelo menos elas não irão lhe incomodar enquanto executa a prática.
Inicie a repetição do mantra e a rotação da mālā. Comece pela conta após o sumeru.
Movimente cada conta sincronizadamente
com a entoação do mantra.
Esteja consciente do mantra e da rotação da mālā simultaneamente enquanto observa os
pensamentos na medida em que eles aparecem.
Não rejeite qualquer pensamento; deixe
que os pensamentos surjam na superfície da mente, mas esteja consciente deles.
Tudo o que você precisa fazer é
observar o processo da mente enquanto mantém a prática de japa: consciência total na repetição do mantra, na rotação da mālā
e nos pensamentos que surgem na superfície da mente (pausa).
O mesmo se aplica aos distúrbios
externos: esteja consciente deles, mas mantenha o foco no mantra e na rotação da mālā.
Continue até atingir o sumeru novamente. Não cruze o sumeru. Apenas gire a posição da mālā e reinicie a rotação, conta por
conta (pausa).
Muitas idéias ou distrações irão surgir
na superfície da mente; deixe-as, pois esta é a natureza tempestuosa da mente.
Permaneça como uma testemunha deste processo. Após algum tempo, estes
pensamentos irão diminuir e sua concentração irá aumentar. Se continuar neste
processo, então visões profundas poderão aparecer. Esteja consciente delas.
Deixe que surjam. Apenas observe (pausa).
Após a finalização da rotação da mālā e da entoação do mantra, observe o cidākāśa por alguns minutos.
Método 2: japa e pulso
Existem inúmeras maneiras diferentes de se praticar este método. O que
aqui selecionamos deve ser executado mentalmente (manasi-japa) da mesma maneira que anteriormente, exceto que o mantra e a rotação da mālā deverão estar sincronizados com o
pulso ou as batidas do coração.
Os lugares mais fáceis de sentir o pulso são:
1. O centro entre as sobrancelhas
2. O coração
3. A garganta
4. O umbigo
Você pode escolher qualquer outro lugar, mas deve ser onde sinta
claramente o pulso ou as batidas do coração.
Nos recomendamos especialmente a
consciência do pulso com manasi-japa
após baikharī-japa. Isso intensifica
a sensação do pulso. Para este método, aconselhamos ainda a consciência no
centro entre as sobrancelhas (tṛkuti-japa).
Consciência
Como enfaticamente advertido, a consciência deve repousar na repetição do mantra, na rotação da mālā e nas atividades da mente. Esteja
consciente do pulso se estiver praticando o método 2.
Quando e onde praticar
Você pode praticar japa a
qualquer momento e em qualquer lugar. Contudo, a fim de disciplinar a mente, é
melhor praticar regularmente todos os dias, sempre na mesma hora. Os melhores
horários são logo pela manhã, assim que acordar ou à noite, antes de dormir.
Japa também pode ser executada como uma
prática preparatória para outras técnicas meditativas. Isso irá acalmar a mente
para que você possa ganhar o máximo de benefício na meditação.
Benefícios
Japa garante os mesmos benefícios de outras
técnicas meditativas. Ela acalma a mente turbulenta e auxilia o praticante a
expelir complexos, neuroses, fobias etc. A prática tem o poder de fazer isso
sem desequilibrar a vida. Japa
carrega a mente com positivas vibrações sonoras. Isso é uma terapia maravilhosa
para pessoas cuja mente se encontra em um estado de tumulto e desequilíbrio. Japa provoca o unidirecionamento da
mente sem forçar a concentração. Sua prática promove o despertar de incríveis
faculdades latentes inerentes a todos nós. Finalmente, japa pode lhe levar aos estágios mais profundos de meditação.
Regras gerais e sugestões
A fim de deixar a prática mais clara, vamos sumarizar os pontos básicos
que discutimos:
·
Use o mantra dado por seu guru. Se não possui
um mantra pessoal, utilize um mantra universal.
·
Gire a mālā com o dedo médio, segurando cada
conta com o polegar e dedo anular. Sempre use a mão direita, mesmo que seja
canhoto.
·
Não cruze o sumeru após finalizar a rotação da mālā. Gire ou reverta a mālā e continue da conta que parou.
·
Relaxe a mente e o corpo,
mas não durma.
·
Não force a concentração.
Mas esteja consciente. Na concentração você introverte sua atenção que antes
estava em todas as direções a um único ponto. Utilizando a consciência, você
não irá se focar apenas no ponto de concentração, mas também nos pensamentos
que surgem na superfície da mente. Não lute contra a mente, mas dome-a
mantendo-se como uma testemunha de todas as suas atividades.
·
Se necessário, alterne
sua prática entre baikharī, upanśu e manasi-japa. Se a mente está perturbada, mantenha-se em baikharī; se a mente estiver calma,
mantenha-se em manasi. Se a mente
começa a vaguear enquanto pratica manasi,
retorne a baikharī.
·
Entoe o mantra de forma clara e rítmica. Se a
mente começa a vaguear, aumente a velocidade.
·
Não revele seu mantra a ninguém.
·
Tente praticar japa com regularidade. Será melhor se
combinar sua prática com anuṣṭhana.
·
Reflita sobre o
significado do mantra sempre que
possível.
Na medida em que a mente subconsciente é progressivamente purificada e o
praticante avança nas práticas meditativas, gradativamente ele se confronta com
a enormidade de sua psique e uma quantidade esmagadora de visões, premonições
sobre o futuro e muitas outras experiências. Uma vez que é essencial observar as inúmeras manifestações que
ocorrem na psique como uma testemunha,
o praticante não deve se envolver, não deve se encantar ou se deixar oprimir
por elas. Observe-as de todas as maneiras, mas não se distraia na medida em que
se aprofunda nas camadas mais inacessíveis de sua mente. É possível ir mais
fundo, muito mais fundo do que a imaginação pode conceber.
Não se apegue ao exterior. Observe, experiencie, permaneça sempre como uma
testemunha. Seja desapegado... seja consciente. Essa é a maneira de não se
deixar seduzir ou se distrair na medida em que mergulha nas profundezas de si
mesmo. Pode ser que neste momento você não esteja explorando os níveis mais
profundos de sua psique, mas com força de vontade e continuidade de propósito,
logo estará. Fazemos essa advertência para que você tenha isso em mente quando
iniciar suas investigações nos incríveis reinos da psique que se encontram além
do subconsciente. Não se prenda ao cenário agradável – ele é muito bonito mesmo
– na medida em que caminha em direção ao centro de seu Ser. Sempre se lembre
que o objetivo é explorar e experienciar a essência de seu Ser. Portanto, não
se perca.
Reflexão
A prática de japa pode trazer
benefícios maravilhosos se você reflete sobre o significado do mantra. Isso pode ser feito durante a
prática ou através do dia. Mas a necessidade de se conhecer o verdadeiro
significado do mantra precisa vir do
coração. A prática não trará resultados se a necessidade não vir do interior.
Cada mantra possui inúmeras camadas
de vibração que precisam ser exploradas. Você precisa se fundir com o mantra e experienciar tudo o que ele
evoca. Cada mantra representa algo
que não pode ser explicado em simples palavras. É preciso vivenciar o mantra. É por isso que no início nós não
aconselhamos as pessoas a se apegarem ao significado do mantra. Quando explicamos o significado do mantra para os iniciantes sua prática pode se tornar superficial,
pois o intelecto irá atuar em demasia na prática. Na verdade, você precisa
descobrir o significado do mantra por
si mesmo, pois nenhuma pessoa jamais poderá explicar o significado de um mantra para outra pessoa sem ferir sua
grandeza e profundidade. A explicação jamais transcenderá o abismo que existe
entre o significado verbal e a experiência direta.
O processo de reflexão no significado do mantra intensifica japa-sādhanā.
Mas isso é para os praticantes mais experientes que desenvolveram o poder de
penetração e inquirição da mente. Essas qualidades se apresentam nos
praticantes que possuem uma mente calma e unidirecionada. Portanto, não se
sinta obrigado a refletir sobre o significado do mantra durante a prática de japa.
Japa lhe proverá resultados
maravilhosos sem essa reflexão, mas ela leva aos frutos mais elevados de japa-sādhanā.
Devoção
A devoção é outro método poderoso para se intensificar a prática de japa. Ela deve ser praticada pelas
pessoas naturalmente inclinadas a adoração, pessoas que possuem um notável caráter
emocional.
Cada mantra é uma śakti, uma conexão direta com o divino.
Portanto, quando entoar seu mantra,
sinta que está comungando com a essência divina. Sinta amor em seu coração e ao
mesmo tempo esteja consciente de todas as associações que envolvem o mantra. Deixe que esse sentimento
interior de completude (bhava)
preencha todo seu Ser. Eventualmente seu coração entoará o mantra espontaneamente. Isso intensificará todo processo de japa.
Japa-sahita-dhyāna
A palavra sânscrita sahita
significa junto com ou combinado com. A palavra dhyāna significa meditação. Portanto, essa prática é a combinação de japa com consciência do símbolo interno
(antar-trāṭaka).
Se você entoa o mantra auṃ pode
utilizar seu símbolo correspondente como foco para sua atenção. Se você possui
um mantra pessoal e conhece seu
símbolo, use-o, caso contrário, escolha qualquer outro símbolo que possua
conexão com seu mantra. Se possui um iṣtā-devatā (deidade particular
escolhida para adoração), pode usar sua imagem (trāṭaka). Mas se não chegou neste nível de desenvolvimento, procure
as instruções de um professor qualificado.
Incidentemente, cada mantra está
inseparavelmente associado a um símbolo ou forma definida. Portanto, se sua
mente atinge um profundo estado de relaxamento, unidirecionamento e
receptividade, e se ela estiver completamente preenchida e energizada pela
vibração sonora do mantra, o símbolo
psíquico que possui conexão direta com o mantra
irá surgir espontaneamente na percepção consciente. Indo neste caminho, você
encontrará a forma exata ou o símbolo de seu mantra.
O método é basicamente o mesmo que descrevemos na lição anterior, mas você
deve visualizar o símbolo escolhido na frente de seus olhos fechados. Se for
inclinado a adoração, pode praticar a devoção, conectando o mantra a deidade particular ou pode
refletir sobre o significado do símbolo e do mantra.
Se a sua mente não está direcionada será muito difícil visualizar uma
imagem clara. Portanto, nós primeiro recomendamos que você acalme a sua mente e
remova os construtos de pensamento que a distraem praticando os métodos 1 e 2
descritos acima. Quando a mente se tornar concentrada, então pratique japa-sahita-dhyāna. Esta é uma prática
mais difícil, mas é também mais poderosa. Sua consciência deve fluir junto com
o mantra, o símbolo e a rotação da mālā. Se você encontra dificuldade em
manter uma imagem interior fixa, pratique os métodos apresentados no módulo
anterior.
Likhit-japa
A palavra likhit significa escrever. Portanto essa prática pode ser
chamada de japa ou repetição escrita. Ela envolve a escrita
da forma do mantra inúmeras vezes em
um diário. Por exemplo, você pode escrever o símbolo do auṃ: \\\\\\\. Mas pode também escolher o símbolo
que achar necessário.
As letras devem ser pequenas e bem claras. Isso aumentará a concentração.
Escreva cada símbolo com o máximo de cuidado, proporção e senso de beleza. Faça
com que cada símbolo seja uma obra de arte, pelo menos para você.
Na medida em que escrever cada mantra,
o entoe mentalmente. Isso pode não parecer uma prática meditativa, todavia ela
é. Se você escreve páginas e páginas de símbolos e simultaneamente entoa seus
respectivos mantras, estará induzindo
o equilíbrio e o unidirecionamento da mente. Se você associar a escrita com a
devoção e | ou a reflexão no seu significado, a prática será potencializada.
Essa é uma técnica muito difundida na Índia. Durante o mês de śravana, os hindus tradicionalmente
colhem inúmeras folhas de uma árvore chamada bilva. O mantra Auṃ Namaḥ
Śivāya é escrito nas folhas com pó vermelho e elas são oferecidas ao Senhor
Śiva. Essa prática é executada durante todo o mês e gera grande devoção.
Este é o tipo de técnica que pode ser executada aos domingos à tarde, ao
invés de se ler um jornal ou dormir.
Sumirani-japa
Este é um tipo de japa para ser
executada durante todo o dia. É geralmente feita com uma mālā de 27 contas, levada pelo praticante a todos os lugares, em
todas as ocasiões. No Ocidente isso não é nada prático, mas este é o método
tradicional. Para pessoas que empreendem um sādhanā
durante todo o tempo, essa é uma pratica efetuada continuamente. Quer dizer,
seja qual for à circunstância, a mālā
é circulada e o mantra é mentalmente
entoado. Com proficiência, essa prática continua até durante o sono. O objetivo
é fazer com que o mantra eventualmente
surja dos rincões mais profundos de seu Ser. Neste ponto, você não precisará
entoar o mantra, ele estará sendo
entoado o tempo todo espontaneamente. Todo seu Ser irá ressoar com o mantra. A mālā irá girar por si mesma. Isso transformará a mente em um
veículo incrivelmente unidirecionado e poderoso, o que trará frutos
bem-sucedidos a prática espiritual na medida em que induz o estado meditativo
profundo. É um método poderoso, mas não é nada prático a pessoa de mente comum.
É difícil fazer rotações na mālā
enquanto se conversa com o patrão, enquanto dirige um carro etc., mas é uma
prática que você pode tentar em um feriado, quando estiver caminhando ou nas
horas vagas. Se você entoa seu mantra
regularmente durante as horas de folga, eventualmente o mantra se manifestará automaticamente quando estiver executando
suas tarefas. Ele continuará sendo entoado no plano de fundo de todas as suas
ações. Esta é uma técnica poderosa que pode levá-lo a experiências elevadas.
Ajapa-japa
Essa é a repetição (japa) que
ocorre espontaneamente (ajapa) em
harmonia com os ritmos naturais do complexo corpo-mente. Nós lhe introduziremos
ao tema na próxima lição deste módulo.
Nota geral
Japa só se tornará poderosa na medida em
que for praticada com regularidade e sem falha.
Mālā
A mālā é um cordão de pequenas
contas separadas umas das outras por um tipo especial de nó chamado brahma-granthi ou nó da criação. As
contas são delicadamente distribuídas ao longo de um forte filamento de linha e
são em número de 108, mas existem mālās
de 54, 27 e 11 contas para sādhanās
(práticas espirituais) específicas.
Cada mālā tem uma conta extra,
adjacente ao ilhó final. Ela é chamada de sumeru
(junção ou cume de conta) e serve como um ponto de referência para o praticante
saber quando terminou a rotação completa na mālā.
A mālā é parte essencial das
principais técnicas de japa-yoga. Ela
é um instrumento para se manter a
consciência.
Mālās são comumente feitas de sementes de tulsi, sândalo, rudrākṣa ou pequenos cristais. A mālā feita de tulsi é a
mais comumente usada para japa. Tulsi é uma planta sagrada e largamente
venerada que contém muitas propriedades curativas e auxilia no desenvolvimento
de faculdades psíquicas. Ela tem um forte efeito purificante sobre as emoções e
acalma a mente. Os devotos de Viṣṇu utilizam esta mālā pois tulsi é
considerada como uma encarnação de Lakṣmī, esposa de Viṣṇu. Mālās de sândalo são suavemente
perfumadas e possuem vibrações de proteção e também acalmam a mente. Elas
contêm propriedades refrescantes e são ótimas para pessoas que possuem
problemas na pele. Rudrākṣa é a
semente da fruta de uma árvore nativa consagrada a Śiva que só nasce em mata
fechada. A mālā de rudrākṣa é considerada a mais poderosa e
efetiva para a prática de japa e é
utilizada pelos devotos de Śiva. Rudrākṣa
influencia magneticamente a circulação sanguínea, fortalece o coração e é
recomendada as pessoas que sofrem de pressão alta. As mālās de cristal possuem propriedades psíquicas e são utilizadas
por aqueles que adoram Devī.
Mālās não são utilizadas apenas por adeptos
tântricos e yogīs. Os praticantes do Budismo Mahāyana também utilizam mālās de 108 contas em suas meditações.
Entretanto, suas mālās contém três
contas extras representando o refúgio em Buda, Dharma (deveres, código de convivência, caminho espiritual) e Sangha (ordem de monges budistas). Os
católicos romanos utilizam um rosário de 54 contas. Na Grécia e outros países
dos Bálcãs onde a Igreja Ortodoxa Grega é predominante, todos os homens
carregam um rosário onde quer que vão e circulam as contas o máximo que podem.
Sem seus rosários, eles se sentem nus. A razão pela qual eles circulam as
contas do rosário o tempo todo, em todas as atividades, é para manter o fluxo da consciência no que
estiverem fazendo, mantendo a mente focada na atividade.
O propósito da mālā
Muitas pessoas têm curiosidade sobre o porquê da mālā ser usada na prática de meditação com japa e se têm de usar uma e como manuseá-la. Antes vamos falar do
propósito da mālā. Por conta de sua
natureza, a mente não permanece estável por um longo período de tempo.
Portanto, faz-se necessário um mediador
ou uma base de auxílio pela qual
podemos saber se estamos conscientes ou não. Utilizamos a mālā como um mecanismo pelo qual podemos acordar daqueles momentos onde perdemos a consciência e nos
esquecemos daquilo que estamos fazendo. Também utilizamos a mālā para verificar o andamento da
prática e sua qualidade.
Inicia-se a prática de japa a
partir da conta sumeru e segue-se
girando a mālā ritmicamente, conta
por conta. A mālā desliza em um fluxo
contínuo até ser interrompida novamente pelo sumeru.
A partir de determinado estágio de japa,
quando a mente se torna calma e serena, é possível que os dedos fiquem inertes.
Eles ficam momentaneamente paralisados enquanto você permanece completamente
inconsciente do processo. Às vezes a mālā
pode cair no chão. Quando essas coisas ocorrerem, saiba que se distanciou do
objetivo de japa, quer dizer, você
falhou em manter o fluxo da consciência. Se não está com a mālā na mão enquanto pratica japa,
como saberá o que está experimentando. É
a continuidade de foco na mālā que irá demonstrar seu estado de consciência.
Se estiver focado na mālā e nos dedos
a cada conta, então estará consciente. Quando japa for executada corretamente e a concentração ocorrer, a mālā continuará a se movimentar quase
que automaticamente, mas de forma consciente.
A mālā pode ser algo que seu
intelecto não aceita, mas para que haja
sucesso na prática de japa, a mente necessita de uma ferramenta.
O fato da mālā ter 108 contas
precisa de uma explicação. Existem inúmeras teorias
nas escrituras sobre este ponto. Vamos ver alguma coisa. 1 representa a consciência suprema; 8 representa os oito aspectos da natureza, consistindo dos cinco
elementos fundamentais (terra, água, fogo, ar e éter), mais ahaṃkāra (princípio de egoidade), manas (mente) e buddhi (sentido de percepção intuitiva); 0 representa o cosmos, todo o campo da criação. De outra maneira: 0 é Śiva; 8 é Śakti e 1 é sua união
(yoga).
Alguns acadêmicos acreditam que 108 representa o número de crânios na
guirlanda que adorna Kālī, venerada como a Grande Mãe e a Senhora da Realização
yogī, mas por muitos é considerada a
deusa da destruição. É dito também que 108 é o número de encarnações do jīva (a alma ou consciência individual)
antes da realização espiritual
Existem explicações similares para os números 27, 54, 57, 1001 etc., todos
usados em mālās. Mas estes números
possuem profundos significados psíquicos. São números escolhidos que auxiliam a
experiência de estados de consciência auspiciosos enquanto se pratica japa. Eles foram recebidos pelos antigos
videntes (ṛṣīs) e são apropriados
para experiências psíquicas. A explicação destes números serve apenas aqueles
que procuram uma abordagem mais intelectual da prática.
Além das 108 contas da mālā,
existe ainda o sumeru, a conta extra
que representa o topo da passagem psíquica conhecida como suṣumnā-nāḍī. Por esta razão o sumeru
ou meru é às vezes chamado de biṅdu. As 108 contas representam os 108
centros, estações ou campos através dos quais sua consciência viaja até o biṅdu e retorna. Estes centros são cakras menores e eles representam o
progressivo despertar da mente. O biṅdu
é o limite desta expansão mental.
Como usar a mālā
Existe um método especial de segurar a mālā.
Ela deve ser manuseada com a mão direita, suportada péla ponta do polegar unida
ao dedo anular. O polegar não é utilizado para girar a mālā e os outros dedos (indicador e mindinho) não devem tocar na mālā. O dedo médio movimenta as contas.
Quando utilizar a mālā, não
cruze o biṅdu. Inicie a prática a
partir da conta imediatamente posterior ao biṅdu
e quando terminar o rotação total, finalize na conta imediatamente anterior ao biṅdu. Neste ponto, vire a mālā e continue a prática. Sempre gire a
mālā sobre ou na direção da palma da
mão.
Tradicionalmente, japa é
praticada enquanto se mantém a mão direita na frente do peito. Desta maneira o mantra pode ser entoado em sincronia com
as batidas do coração. Manter a mão na frente do peito intensifica o sentimento
de entrega e concentração no mantra.
A mão esquerda deverá estar sobre o colo em cin,
jñāna ou cinmaya-mudrā. A mão esquerda também pode segurar a mālā, evitando que ela oscile ou se
enrole, prejudicando a concentração na passagem das contas pelos dedos. Se
preferir, a mão direita pode ser colocada sobre o joelho direito. Neste caso a mālā descansa no chão.
Pode-se contar o número de rotações na mālā
mentalmente ou utilizando a mão esquerda como se segue: após uma rotação na mālā, coloque a ponta do polegar
esquerdo na linha da primeira junta na base do dedo mindinho. Após a segunda
rotação, escorregue a ponta do polegar para a linha da segunda junta. Após a
terceira rotação, escorregue a ponta do polegar para última linha da junta do
dedo mindinho. Seguindo, após a quarta rotação, leve a ponta do polegar
esquerdo na linha da primeira junta na base do dedo anular esquerdo e assim por
diante. Desta maneira você contará doze rotações na mālā.
A mālā utilizada para prática de
japa não deve ser usada ao redor do
pescoço. Quando não estiver sendo utilizada, deve ser mantida em segredo,
guardada em um pequeno saquinho de pano ou envolta em um pano especialmente
consagrado para guardá-la. Isso evita qualquer mudança ou influência negativa
de vibrações sobre a mālā. Nunca
empreste sua mālā para outras
pessoas. Seja quem for à pessoa, ele nunca deve tocar ou ver a mālā com que executa suas práticas
meditativas. Mālās utilizadas para
decoração não são apropriadas para uma prática séria de japa.
Uma mālā usada diariamente se
tornará, com o tempo, impregnada com vibrações positivas. Após alguns meses, no
momento em que tocar a mālā, irá se
tranqüilizar e terá quietude e estabilidade na mente.
Se você pratica japa-mālā muitas
vezes por dia, poderá ficar com os braços cansados se estiver com a mão na
frente do peito. Neste caso, você pode usar um suporte (eslinga) para o braço.
O uso da gomukhi
Se você executa longas práticas de japa
durante o dia, o uso da gomukhi é
recomendado. A palavra gomukhi
significa na forma da boca da vaca. É
um pequeno saquinho que se assemelha a boca de uma vaca. A mālā e a mão direita são colocadas dentro da gomukhi para que estejam longe da visão de outras pessoas. A gomukhi pode ser utilizada enquanto se
caminha ou a qualquer momento, mas é particularmente útil para aqueles que
estão engajados em anusthana-sādhanā
(prática de japa por um período fixo
prolongado). Na verdade, para estas pessoas, o uso da gomukhi é essencial.
A mālā muitas vezes pode não ser
aceita facilmente pelas pessoas ocidentais em um nível intelectual, mas sem que
estejam conscientes disso, elas têm aceitado a mālā intuitivamente. Já passou pela sua cabeça de onde vem essa moda de utilizar colares de pérola
ou outras pedras e adornos decorativos? Nas culturas arcaicas, contas (mālās), anéis e amuletos eram utilizados
para finalidades espirituais e desde aqueles tempos, as pessoas têm sido
atraídas por esses adornos. Nos dias de hoje, em nome da moda, homens e
mulheres utilizam esses adornos com finalidades puramente estéticas.
Mantramālā
Todo aspirante espiritual deveria praticar mantra-sādhanā no início
de cada dia. Mahāmṛtyuñjaya-mantra, gāyatrī-mantra e durgā-mantra
são três mantras auspiciosos para serem entoados todas as manhãs, antes
mesmo de sair da cama e se envolver na rotina diária. Por que? Quando dormimos,
a mente se torna tranquila e passiva, como a superfície de um lago,
imperturbável por qualquer agitação ou movimento. Quando acordamos pela manhã,
a mente está relaxada, os sentidos estão em paz e não há nenhuma distração
mental, emocional ou intelectual. Portanto, a primeira impressão que a mente
deve receber pela manhã é o mantra.
Se lermos notícias nos jornais, escutarmos rádio ou assistirmos TV como
primeira atitude pela manhã, nos impregnamos de impressões acerca de
escândalos, problemas e dificuldades. Isso cria agitação e traz a tona as
tendências e vṛttis da mente, que permanece tensa e perturbada durante
todo o dia. É como jogar uma pedra nas águas calmas do lago, criando
ondulações.
Quando a mente está quieta e em paz, sensitiva e receptiva, sementes
positivas podem ser plantadas no subconsciente. Mahāmṛtyuñjaya, gāyatrī
e durgā-mantras são saṅkalpas ou resoluções para saúde física e
bem-estar mental, sabedoria e clareza interior, e superação das dificuldades na
vida. Praticando mantra-sādhanā como a primeira atividade no dia, você
obterá coragem, força interior e paz. Suas amizades e relacionamentos irão
melhorar. Você crescerá e encontrará equilíbrio. Estará no controle de sua vida
e mente.
Para o mantra-sādhanā, nenhuma preparação é necessária. Praticando
estes três mantras pela manhã, antes de se levantar da cama ou ir ao
banheiro, estará transcendendo sua natureza condicionada. Nos impomos muita
disciplina e expectativas sobre nós mesmos. Deus irá ver a pureza de seu
coração e a força de sua fé e convicção. Comece o dia desta maneira:
Mantra-sādhanā da manhã
Quando acordar pela manhã:
1. Foque o centro entre as sobrancelhas.
Inspire e expire profundamente sete vezes. Relaxe a cada expiração.
2. Entoe o Oṃ três vezes,
concentrando em sua vibração. Sinta como se a entoação estivesse criando um
campo de força ao redor do corpo.
3. Inspire e expire profundamente mais
sete vezes e relaxe o corpo.
4. Faça um saṅkalpa para saúde
física e bem-estar mental e entoe o mahāmṛtyuñjaya-mantra 11 vezes.
5. Faça um saṅkalpa para sabedoria,
clareza interior e conhecimento intuitivo e entoe o gāyatrī-mantra 11 vezes.
6. Faça um saṅkalpa para superação
e remoção das dificuldades da vida e entoe o durgā-mantra 3 vezes.
7. Inspire e expire profundamente sete
vezes e relaxe o corpo.
Repita o mesmo processo a noite, antes de dormir.
महामृत्युञ्जय मन्त्र
ॐ त्र्यम्बकं यजामहे सुगन्धिं पुष्टिवर्धनम्।
उर्वारुकमिव बन्धनात् मृत्योर्मुक्षीय मामृतात्॥
Mahāmṛtyuñjaya Mantra (saṅkalpa para cura, poder, imunidade
e força)
oṃ tryambakaṃ yajāmahe sugandhiṃ puṣṭivardhanam |
urvārukamiva bandhanāt mṛtyormukṣīya māmṛtāt ||
गायत्री मन्त्र
ॐ भूर् भुवः स्वः तत्सवितुर्वरेण्यं।
भर्गो देवस्य धीमहि धियो यो नः प्रचोदयात्॥
Gāyatrī Mantra (saṅkalpa para sabedoria, clareza interior,
conhecimento intuitivo, aprendizado)
oṃ bhūr bhuvaḥ svaḥ tatsaviturvareṇyaṃ |
bhargo devasya dhīmahi dhiyo yo naḥ prachodayāt ||
दुर्गाद्वात्रिंशन्नाममाला
ॐ दुर्गा दुर्गार्तिशमनी दुर्गापद्विनिवारिणी। दुर्गमच्छेदिनी दुर्गसाधिनी दुर्गनाशिनी।
दुर्गतोद्धारिणी दुर्गनिहम्त्री दुर्गमापहा। दुर्गमज्ञानदा दुर्ग दय्तिलोकदवानला।
दुर्गमा दुर्गमालोका दुर्गमात्मस्वरूपिणी। दुर्गमार्गप्रदा दुर्गमविद्या दुर्गमाश्रिता।
दुर्गमज्ञानसंस्थाना दुर्गमध्यानभासिनी। दुर्गमोहा दुर्गमगा दुर्गमार्थस्वरूपिणी।
दुर्गमासुरंहन्त्री दुर्गमायुधधारिणी। दुर्गमाण्गी दुर्गमता दुर्गम्या दुर्गमेश्वरी।
दुर्गभीमा दुर्गभामा दुर्गभा दुर्गदारिणी।
Durgādvātriṃśannāmamālā (saṅkapa para superação de
dificuldades, paz e harmonia na vida)
oṃ durgā durgārtiśamanī durgāpadvinivāriṇī| durgamachchhedinī durgasādhinī
durganāśinī|
durgatoddhāriṇī durganihamtrī durgamāpahā| durgamajñānadā durga
daytialokadavānalā|
durgamā durgamālokā durgamātmasvarūpiṇī| durgamārgapradā durgamavidyā
durgamāśritā|
durgamajñānasaṃsthānā durgamadhyānabhāsinī| durgamohā durgamagā
durgamārthasvarūpiṇī|
durgamāsuraṃhantrī durgamāyudhadhāriṇī| durgamāṇgī durgamatā durgamyā
durgameśvarī|
durgabhīmā durgabhāmā durgabhā durgadāriṇī|
Prática: mantra-yoga
Estágio 1: preparação
Sente-se confortavelmente em uma
postura meditativa.
Coloque as mãos sobre os joelhos em cin ou jñāna-mudrā.
Mantenha as costas eretas e a cabeça no
prolongamento da coluna.
A partir deste momento, feche os olhos.
Mantenha os olhos fechados durante toda a prática.
Mantenha-se firme, estável na postura,
ao mesmo tempo que confortável. Faça o possível para não fazer movimentos
desnecessários. Mantenha-se firme como uma estátua.
Não se preocupe se sua mente vaguear e
nem deixe sua atenção se perder em qualquer tipo de barulho.
A base de nossa meditação e relaxamento
neste momento é a repetição mântrica.
Nesta prática você terá de visualizar
um som particular. Este som será à base dos movimentos no seu plano mental. O
som, o mantra, se tornará o centro de
sua consciência.
Este centro se encontra no ponto entre
suas sobrancelhas, é o ājñā-cakra.
Para nossa prática, utilizaremos a nota
da escala musical dha (o equivalente
indiano do nosso la).
Visualize a imagem da nota dha de forma ritmada no cidākāśa, a tela negra na frente de seus
olhos fechados.
O ritmo não deve ser muito lento ou
rápido. Continue entoando e visualizando o mantra
dha no cidākāśa (pausa).
Interrompa o movimento do ritmo de entoação e visualização
e perceba a vibração pulsante do mantra
no cidākāśa. Fixe sua concentração no
ponto entre as sobrancelhas: dha, dha,
dha, dha..., sem parar, incessantemente (pausa).
Diferentes tipos de pensamento irão
aparecer tentando retirar sua consciência da prática.
Não se preocupe, não reaja a estes
construtos de pensamento. Eles podem exercer grande domínio sobre sua mente.
Mas esteja alerta.
Traga a consciência para o ritmo do mantra no cidākāśa, focando sua atenção no ponto entre as sobrancelhas.
Visualize a imagem da nota dha de forma ritmada no cidākāśa.
O ritmo não deve ser muito lento ou
rápido. Continue entoando e visualizando o mantra
dha no cidākāśa (pausa).
Novamente, pensamentos poderão intervir
no fluxo de sua concentração.
Não reaja, mantenha-se como uma
testemunha de todo processo. Concentre-se no ritmo, no movimento do som no cidākāśa (pausa).
A partir deste momento, como um
exemplo, vamos entoar o mantra oṃ em
voz alta. O mantra deve se tornar tão
claro que, após pararmos de entoar em voz alta, ele continua pulsando
ritmicamente no cidākāśa.
Estágio 2: entoando o
mantra
Entoaremos o mantra oṃ algumas vezes em voz alta. A entoação verbal servirá de
exemplo para entoação mental.
Foque sua mente na vibração do mantra e nada mais. Transfira a vibração
do mantra verbalmente entoado para o
corpo mental, direcionando a consciência no cidākāśa,
exatamente no ponto entre as sobrancelhas, na sua tela mental. A vibração e
vocalização são reforçadas pela projeção do símbolo do oṃ no cidākāśa.
Vocalizamos todos juntos. Inspiramos: oṃ, oṃ,
oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ,
oṃ, oṃ, oṃ, oṃ. Mantenha sua consciência na vibração
do mantra e na projeção se seu
símbolo no cidākāśa (pausa).
Quando nos concentramos nesta prática
por alguns minutos, a consciência é rapidamente introvertida.
A partir deste momento, eu entoarei o mantra oṃ. Me acompanhem mentalmente.
Não vocalizem o mantra. Dirija sua
consciência para o cidākāśa e
mentalmente vibre o mantra com seu
símbolo enquanto eu entôo os mantras: oṃ, oṃ,
oṃ, oṃ, oṃ, oṃ, oṃ,
oṃ, oṃ, oṃ, oṃ (pausa).
Mentalmente continue entoando o mantra e visualizando seu símbolo no cidākāśa.
Entoe ritmicamente o mantra, incessantemente. Não se preocupe
com pensamentos estranhos.
Estágio 3: fim da prática
Levamos as mãos na frente do peito em namaskāra-mudrā.
Entoamos o mantra oṃ três vezes: oṃ,
oṃ, oṃ.
Relaxe a mente e vagarosamente tome
consciência do ambiente ao seu redor.
Espreguice todo o corpo e abra os
olhos.
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