Pañca Makāra Sādhanā
Swāmi Niranjanānanda Saraswatī
Texto retirado
do livro «On The Wings of Swan», Volume I, Yoga Publications Trust, 2012.
Se o Yoga faz parte integral do Tantra, por que a Haṭha-yoga-pradīpikā
condena a utilização do vinho, carne, peixe e cópula enquanto que outros textos
tântricos dizem que estas substâncias são essenciais na obtenção das siddhis?
O Yoga faz parte sim do Tantra. Nessa tradição fala-se muito dos
5Ms ou pañca-makāra-sādhanā: mādya (vinho), matsya
(peixe), mudrā (grãos tostados), mansa (carne) e maithunā
(cópula orientada). Mas isso não deve ser interpretado literalmente. Os textos
dizem que ao beber vinho uma pessoa se torna auto-realizada. Neste caso, todo
bêbado no mundo deveria ser um mestre iluminado. Se comendo carne uma pessoa
pode se tornar auto-realizada, quer dizer que a maioria da população mundial já
se iluminou, com exceção do povo da Índia, é claro. Se o intercurso sexual
fosse o método mais eficaz de se obter a iluminação, então cedo ou tarde todos
nos estaremos auto-realizados. Mas infelizmente essa não é a realidade. Assim,
temos de rever ou ao menos repensar sobre o significado de peixe, vinho, carne,
grãos e cópula. Existe um simbolismo por trás disso e vou falar sobre ele
brevemente.
Este tipo de sādhanā foi proibido no Yoga porque não sabemos
o correto procedimento para executá-lo. Sem um sistema apropriado não é
possível progredir corretamente na vida espiritual. Um exemplo: já que citou a Haṭha-pradīpikā,
você deve estar ciente que nela existe uma descrição completa do amṛta,
que goteja do bindu-visarga-cakra para o viśuddhi, lalana e depois maṇipūra-cakra. Este amṛta é conhecido como madhu. No Tantra, não se trata de beber o vinho ou licor externo, mas sim o
licor interno ou amṛta, que goteja do bindu-visarga-cakra.
Na Haṭha-pradīpikā também é mencionado que existem dois
peixes que se movimentam pelo rio do corpo. Se você estuda Yoga, então
sabe que iḍā e piṅgalā, os canais de energia solar e lunar,
também são chamados de Gaṅga e Yamunā. Estes são os dois rios dentro do corpo
na forma de fluxo energético. Estes dois peixes que nadam nestes rios são os
movimentos da energia. Comer peixe então significa uma prática completa de prāṇāyāma,
quer dizer, a interrupção da inspiração e expiração, ou seja, a kumbhaka.
É sob essa perspectiva que devemos compreender o conceito de tantra-sādhanā
dos 5Ms. Sugiro uma leitura da Haṭha-pradīpikā com uma mente mais
crítica.
Tradução livre de Fernando Liguori.
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